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INTÉRPRETES QUE SE APOSENTARAM NO CARNAVAL - QUEM É QUE VAI NO LUGAR DELES?
     
 
INTÉRPRETES QUE SE APOSENTARAM NO CARNAVAL - QUEM É QUE VAI NO LUGAR DELES?


28 de janeiro de 2025, nº 71

Coluna anterior: Carnaval 2025 pelo Brasil - Desfiles de Florianópolis

Série de coluna anterior: A História do Carnaval na TV Brasileira


Neguinho (no centro da foto) conduz a Beija-Flor no icônico desfile de “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia”, na Sapucaí em 1989. Foto: O Globo/Acervo.

 
Quando o consagrado cantor e sambista Luís Antônio Feliciano Marcondes anunciou que o carnaval de 2025 seria o último em que ele estaria empunhando um microfone como intérprete oficial causou uma comoção geral no mundo do samba.

Foram exatas cinco décadas que ele defendeu sua amada Beija-Flor de Nilópolis e uma carreira musical de tremendo sucesso.

Luís Antônio, ou melhor, Neguinho da Beija-Flor, é um ícone do carnaval e da música popular brasileira. Carismático, ótimo compositor e detentor de várias premiações, como Estandarte de Ouro e discos de ouro na condição de cantor popular, Neguinho pôde escolher quando e como parar, ao contrário de vários de seus colegas “puxadores” que entoaram seu canto na passarela do samba. E fica também a pergunta: quem é que vai no lugar dele?

Isso faz lembrar dos versos de “Camisa 10”, samba composto por Hélio Matheus (1940 - 2017) e Luís Vagner (1948 - 2021), que fez sucesso na voz do cantor Luiz Américo, às vésperas da Copa do Mundo de 1974, quando a Seleção Brasileira disputou pela primeira vez, em 16 anos, um torneio mundial de futebol sem a presença do Rei Pelé. A música perguntava ao então técnico Mario Jorge Lobo Zagallo (1931 –2024), em tom de humor – mas também de preocupação – quem seria o substituto para Pelé, que se despediu da Seleção em 1971 (“Dez é a camisa dele, quem é que vai no lugar dele”).

Vamos recordar alguns nomes que se aposentaram (voluntariamente ou não) como intérpretes na avenida. E em alguns casos, não houve ninguém à altura para entrar no lugar deles...

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Após cinco décadas dedicadas ao carnaval e à Beija-Flor, Neguinho decide que é hora de pendurar o microfone

 

ALMIR SAIN’T CLAIR


Almir Sain’t Clair (ao microfone), na época em que cantava na Império da Tijuca, no programa “Rio Dá Samba” (TV Bandeirantes, 1981), apresentado por João Roberto Kelly (à esq. de branco)
 

- Alô, meu povão da Império da Tijuca!

Era assim que se iniciavam as faixas dedicadas à verde e branco do Morro da Formiga nos discos de samba-enredo na primeira metade da década de 80. A voz potente e bem timbrada era de Almir Sain’t Clair, cantor, ator, produtor e um verdadeiro showman internacional.

Ele começou nos anos 50, cantando nos programas de auditório da legendária Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Na década seguinte, gravou discos com um repertório que reunia sambas e canções românticas. Nas telas de cinema, atuou em diversos filmes mostrando sua versatilidade como ator.

Nos palcos, integrou as companhias teatrais de Tônia Carreiro (1922 – 2018), Bibi Ferreira (1922 – 2019) e Fernanda Montenegro. Trabalhou na produção de shows musicais grandiosos percorriam diversos países da Europa. Graças a esses espetáculos que Almir ingressou no universo carnavalesco. Em 1975 foi convidado a cantar o samba com que a Em Cima da Hora se apresentou no Grupo Especial daquele ano.

Em 1980, Almir foi parar na Império da Tijuca, por lá permanecendo por cinco anos. Por coincidência, foi uma fase profícua da escola tijucana, em que a verde e branca se mantinha entre as grandes agremiações e apresentava lindas obras.

Após o carnaval de 1984, primeiro ano do Sambódromo da Sapucaí, o cantor se afastou dos desfiles de carnaval e retomou a produção e o trabalho em shows musicais pelo Brasil e pelo mundo. No ano de 2003, lançou o CD independente “Revivendo Noel Rosa”, dedicado à obra do grande compositor de Vila Isabel.

Em dezembro de 2024, Almir Sain’t Clair completou bem vividos 89 anos de vida (desculpem a redundância).

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Almir, na comemoração de seus muito bem vividos 89 anos em 2024
 

        MARCOS MORAN

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Marcos Moran, em clipe da TV Globo antes da transmissão do desfile da Vila Isabel, em 1980
 

- Olha aí, criancinha... Vila Isabel colorindo a cidade numa boa!

Era assim que o cantor e compositor Marcos Moran iniciava seu canto nas faixas gravadas nos discos pela escola do bairro de Noel entre 1979 e 1984. Moran também é mais um caso de um cantor que se tornou intérprete de samba-enredo. Sua trajetória na música começou em meados da década de 1960, cantando bossa nova.

Em 1970, foi escolhido de última hora, a mando de Natal da Portela (1905 - 1975),, para cantar na avenida o samba “Lendas e Mistérios da Amazônia”, com o qual a azul e branco se sagraria campeã naquele ano. Passou também pelo Império Serrano, cantando no carro de som da escola com Roberto Ribeiro (1940 – 1996), e Marlene (1922 - 2014), o samba “Zaquia Jorge, a Vedete do Subúrbio, a Estrela de Madureira”. Oficialmente assinado por Avarese, Moran reivindica ser o verdadeiro autor do samba-enredo que foi para a avenida. Segundo ele, não pôde assinar a obra por não pertencer à ala dos compositores do Império.

Em 1979, foi parar em Vila Isabel e por lá permaneceu por seis carnavais, sendo presenteado com belíssimos sambas, como “Sonho de um Sonho” (1980) e “Pra Tudo se Acabar na Quarta-Feira” (1984), ambos com a assinatura de Martinho da Vila. Cheio de swing, esbanjava simpatia ao cantar. Sua principal característica, além do vozeirão e excelente afinação, era balançar animadamente o braço esquerdo, sempre pendente, ao ritmo da música.

Depois do carnaval de 1984, afastou-se dos desfiles após ser demitido da escola por brigar com um diretor de harmonia durante a apresentação na Sapucaí.

O breve retorno se deu em 1989, ao conduzir a Acadêmicos de Santa Cruz, com o samba “Stanislaw, uma História Sem Final”. No ano seguinte, puxou a Unidos de Lucas, com o samba “O Magnífico Niemeyer”. Afastou-se dos desfiles até reaparecer em 2017 na Acadêmicos de Pilares, escola que desfilou no Grupo E (sexta divisão) do Carnaval Carioca e que durou apenas um único carnaval.

Em 1993, Moran participou da coletânea Escolas de Samba, da gravadora Sony Music, no CD da Vila Isabel. Em dueto com Martinho, cantou o samba “Glórias Gaúchas”. Moran é presença constante nas lonas culturais e animando bailes de carnaval no Rio de Janeiro.

Esporadicamente, Marcos Moran também grava discos. Seu mais recente trabalho fonográfico foi o CD “O Barba Azul”, em que cantou sambas que foram sucessos nas vozes de Agepê (1943 – 1995) e Roberto Ribeiro, entre outros artistas.


Marcos Moran no podcast PODSIM, pelo YouTube da TV Carioca da Gema, em 2024



PRETO JOIA


Preto Joia mandando ver “no gogó” nos tempos da Imperatriz Leopoldinense

 

- Ih, gente... Dá licença...

Quem acompanhou os tempos áureos da “nação leopoldinense” com os carnavais assinados por Rosa Magalhães (1947 – 2024) se lembra com carinho do carisma e da bela voz de Amaury Bonifácio de Paula, o Preto Joia.

O cantor que desejava ser apenas sambista e compositor começou a entoar samba-enredo na Unidos de Cosmos e depois na Imperatriz, ao gravar sua voz no hino da Rainha de Ramos em 1985. Na mesma época, Preto emplacou a música "Canto Forte", que deu nome ao disco de Mestre Marçal (1930 -1994) lançado em 1986.

Em 1989 compôs um dos clássicos do carnaval brasileiro, “Liberdade, Liberdade, Abra as Asas sobre Nós”. Foi alçado ao microfone principal da Imperatriz em 1991, no lugar de Dominguinhos do Estácio (1941 – 2021), e por lá cantou e encantou até 2008.

Amaury emprestou seu talento também na Porto da Pedra, Tradição, Cubango, e em São Paulo, em duas Acadêmicos: do Tucuruvi e de Tatuapé.

Depois de quatro anos ausente do carnaval, o cantor retornou para Imperatriz para dividir o carro de som com Arthur Franco e Bruno Ribas. No entanto, nos preparativos para o carnaval 2022, deixou o microfone oficial da verde e branco de Ramos.

Preto Joia já declarou que não deverá mais cantar na avenida. Ele tem atuado muito na gravação de jingles políticos, tendo atuado nas campanhas de Sérgio Cabral Filho e Eduardo Paes, entre outros candidatos do Rio de Janeiro. Atualmente Preto vem trabalhando sua carreira musical como sambista compondo músicas “de meio de ano”. O artista possui um projeto social, voltado para crianças e adolescentes.


Longe do asfalto da Sapucaí, Preto Joia se dedica a sua carreira musical e gravação de jingles políticos
 

        PAULINHO MOCIDADE


Paulinho Mocidade ostentando com orgulho a faixa do bicampeonato da verde e branco de Padre Miguel em 1991


- Mocidaaade Independente! Chegou... chegou... chegou a hoooraaa!

Com este grito de guerra, Paulinho Mocidade simplesmente levava a Sapucaí à loucura.

Paulo Costa Alves começou bem jovem como integrante da ala de compositores da Mocidade Independente de Padre Miguel, nos anos 70. Venceu pela primeira vez em 1983 com “Como Era Verde meu Xingu”. Enquanto isso, compunha para grandes nomes da música popular brasileira, como Dona Ivone Lara (1921 – 2018), Mestre Marçal e Emílio Santiago (1946 - 2013).

Em 1990, após a morte súbita de Ney Vianna (1942 – 1989) em plena final de disputa de samba na quadra da Mocidade, assumiu o microfone principal e liderou a verde e branco no bicampeonato de 1990/1991.

Após sair da Mocidade, defendeu as cores da Unidos da Tijuca, teve uma passagem curta pelo Império da Tijuca e, depois, outra verde-branca, a Imperatriz Leopoldinense, onde assumiu como intérprete em 2000, ficando até 2002. Neste período foi campeão em 2000 e 2001.

O artista cantou também nos carnavais de São Paulo, Joaçaba e Porto Alegre. Em 2013, retornou ao carnaval carioca sendo intérprete oficial da Santa Cruz. No carnaval de 2024, voltou a vencer um samba-enredo na Mocidade, depois de 32 anos, o popularíssimo “samba do caju” – “Pede Caju que Dou... Pé de Caju que Dá!”.

Após tanto êxito na folia, Paulinho Mocidade se diz aposentado da carreira de puxador de samba. Paralelo ao carnaval, sempre realizou shows e gravou discos de samba e MPB.

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Mesmo se dizendo aposentado da carreira de puxador, Paulinho segue como compositor e, em 2024, voltou a vencer um samba na Mocidade, depois de 32 anos
 

        QUINZINHO

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Quinzinho puxando o Império Serrano na Sapucaí em 1987

- Simbora Império Serranooo (ou Viradourooo)... Riba!

Quantos belíssimos sambas começavam após Edimburgo José de Almeida, vulgo Quinzinho, bradar esse potente chamamento?

Sem sombra de dúvida, Quinzinho foi um dos grandes intérpretes surgidos na década de 80. Defendeu por quase uma década os sambas da Império Serrano, sucedendo ninguém mais, ninguém menos do que o legendário Roberto Ribeiro.

Seu primeiro registro de voz está no disco do Grupo 1-B (atual Série Ouro) de 1980, cantando o samba “É a Maior”, pela Caprichosos de Pilares. Já naquela época, entoava seu grito de empolgação “riiibaa”, que se tornou sua marca registrada. Quinzinho também sempre teve a característica de puxar, em média, mais de uma escola por ano.

No currículo do sambista passaram também Acadêmicos de Santa Cruz, Império Serrano, União da Ilha e Salgueiro.

A Viradouro, em sua vida, é um capítulo à parte: a vermelho e branco de Niterói ainda era uma agremiação emergente no carnaval do Rio no início da década de 90. A escola investiu pesado em nomes consagrados no carnaval, como o carnavalesco Max Lopes (1939 – 2023) e o diretor de bateria Paulinho de Pilares. A vermelho e branco fez carnavais deslumbrantes com sambas na voz de Quinzinho, como a homenagem a Dercy Gonçalves (1991) e o inesquecível desfile dos ciganos (1992) no qual um carro alegórico incendiou em plena Sapucaí.

Na segunda metade da década de 90, Quinzinho começa a deixar o primeiro time de intérpretes das escolas do Rio e passa a ser cantor de apoio no Império Serrano e na Acadêmicos de Santa Cruz. Em 1998, teve uma experiência no carnaval paulistano, ao puxar a Leandro de Itaquera.

Atualmente com 77 anos, Quinzinho está afastado dos carros de som, mas tem sido convidado a cantar nas gravações para as disputas de sambas.

Em 2017 participou do CD “Os Sambas que vão Tocar seu Coração”, coletânea dos maiores sambas da história da Viradouro, gravando ao lado de Zé Paulo Sierra a faixa de 1991 sobre Dercy Gonçalves (1907 – 2008).

Um de seus trabalhos mais recentes foi a gravação do samba para o irreverente bloco de rua Que Merda É Essa? para o carnaval de 2025.

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Quinzinho está afastado dos carros de som, mas tem sido convidado a cantar nas gravações para as disputas de sambas

        PAULO HENRIQUE

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Paulo Henrique puxando a Mocidade em 2000, ano em que ganhou o
Estandarte de Ouro como Revelação
 

- É a última volta do ponteiro!

A estreia de Paulo Henrique Paiva Ventura como microfone número 1 da Mocidade Independente de Padre Miguel não poderia ser melhor. No ano 2000, ao substituir Wander Pires, que tinha ido para o Salgueiro, PH conquistou o Estandarte de Ouro de Revelação, concedido pelo júri de comentaristas do jornal O Globo.

Antes de ser cantor de carnaval, Paulo Henrique foi vocalista de grupo de pagode. Com pouco mais de 20 anos de idade passou a integrar a banda que acompanhava a sambista Jovelina Pérola Negra (1944 - 1998).

Após passar por vários grupos de samba, PH recebeu convite para ser o cantor oficial do – na época bloco e posteriormente escola de samba – Rosas de Ouro, de Oswaldo Cruz nos anos de 1992 e 1993. Em 1994 se tornou cantor de apoio da Mocidade. Venceu a disputa de samba-enredo na Portela para o carnaval de 1997, mas, no entanto, não assinou e seu nome não consta na parceria oficial do samba.

Em 2001 foi substituído por David do Pandeiro (1959 - 2020), mas seguiu integrando o canto de apoio no carro de som da Mocidade, função que exerceu até 2003.

Além do carnaval carioca também marcou presença defendendo sambas nas escolas paulistanas Rosa de Ouro, Nenê da Vila Matilde, Camisa Verde, Pérola Negra e Barroca Zona Sul. Em 2006 foi campeão pela Pérola Negra (SP) e compôs o samba que deu o título de campeã do Grupo D para a Unidos de Padre Miguel.

Aos poucos, Paulo Henrique foi se afastando do carnaval de avenida e investindo mais na carreira de compositor e músico compondo sambas e partido alto. Nascia o PH Mocidade, que tem um importante trabalho como pesquisador da ancestralidade resgatando sambas de terreiro, partido alto, jongo e o chamado samba de raiz. Uma de suas composições mais conhecidas “Recado de Fé” foi gravada pelo Grupo Fundo de Quintal.

Também começou a organizar e comandar concorridíssimas rodas de samba, como a Terreiro de Crioulo, Samba da Cabeça Branca, Aldeia do Samba e Jacutá do Samba. PH tornou-se um ícone do segmento principalmente nas zonas oeste e norte da cidade do Rio de Janeiro, mas leva no nome artístico o nome da agremiação que o projetou definitivamente para o samba...


PH se tornou um ícone quando o assunto é roda de samba nas zonas norte e oeste do Rio
 

ANDERSON PAZ

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Anderson Paz teve seu auge defendendo as cores da São Clemente, Estácio e Rocinha
 

- Segura aí! Se liga aí!

Anderson Paz foi uma das belas revelações surgidas no final dos anos 90 como cantor de samba enredo. Começou a cantar em Madureira, nas rodas de samba da Portela. Tanto que apareceu com o nome de “Anderson da Portela”, sendo cantor de apoio na escola de 1998 a 2001.

Estreou como intérprete oficial na Lins Imperial em 2000, indo logo em seguida para a São Clemente. Após ser dispensado da amarelo e preto, Anderson se transferiu para a Acadêmicos da Rocinha, onde foi puxador em três passagens.

Anderson se converteu à religião evangélica em 2013. Inicialmente tinha intenção de abandonar o mundo do samba e construir carreira como cantor gospel, passando a usar o nome artístico “Anderson Paz de Deus”. Mas a decisão não durou muito tempo e ele retornou ao carnaval. Passou ainda pela Estácio de Sá, Paraíso do Tuiuti, Inocentes de Belford Roxo e Império Serrano.

Após cantar na verde e branco da Serrinha, em 2019 (dividindo o carro de som com Leléu), Anderson Paz anunciou sua saída definitiva do carnaval. Atualmente, está em tratamento de saúde e utiliza suas redes sociais para pregar a palavra de Deus e comentar trechos da Bíblia.


Anderson se converteu à religião evangélica e abandonou o mundo do samba após o carnaval de 2019
 

        RIXXA
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Rixxa, o Pavarotti do Samba, no desfile da Portela em 1995.
 

- Alô minha escola queriiidaaa!

Antônio Ricardo de Souza já foi Rixxa, Rychahs, “Pavarotti do Samba”, entre outros apelidos. Mas o fato é que o cara canta demais e é dono de um dos timbres vocais mais espetaculares não só do carnaval, mas quiçá, da música popular brasileira.

Sua carreira começou nos idos de 1973, quando era componente do conjunto Os Autênticos do Samba, que se apresentava em várias rodas de samba e que tinha Candeia (1935 – 1978) como artista principal.

Na mesma época, Rixxa começou a atuar como cantor de samba-enredo, primeiro em blocos e depois defendendo obras nas disputas de sambas. Em 1983 defendeu a composição de Aluísio Machado e Beto Sem Braço (1941 – 1993) para o enredo “Mãe Baiana Mãe” no Império Serrano. Quatro anos depois, estreou como intérprete oficial no disco e na Sapucaí, ao cantar o samba “E Por Que Não?”, no Salgueiro.

A partir daí, passou por diversas escolas e se tornou um dos cantores mais disputados pelas escolas de samba. Seu currículo inclui Estácio de Sá, Acadêmicos da Rocinha, Império Serrano, Imperatriz Leopoldinense, Mangueira, Infantes da Piedade, Arrastão de Cascadura, Portela, União da Ilha do Governador, São Clemente, Unidos da Ponte, União de Jacarepaguá e escolas de São Paulo.

Rixxa também é compositor e tem músicas gravadas por nomes como Arlindo Cruz, Alcione, Beth Carvalho (1946 - 2019) e Dominguinhos do Estácio. Durante muitos anos fez turnê como integrante da banda de Zeca Pagodinho. Em 2008 fundou a Arco-Íris do Amor, considerada a primeira escola de samba da comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil.

De 2015 pra cá (quando cantou pela última vez na Sapucaí como apoio na Portela), Rixxa tem preferido cantar em escolas que desfilam na Intendente Magalhães e também se apresentar em shows de samba.

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Rixxa tem preferido cantar em escolas que desfilam na Intendente Magalhães e também se apresenta em shows de samba. Foto: O Globo/Acervo
 

        SIDNEY MORENO

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Sidney Moreno (de branco) puxando a São Clemente em 1991 ao lado do compositor Helinho 107 (de chapéu)
 

- Sapeca iaiá! Arrebenta minha escola! No suingue, no suingue!

Era assim que começavam as apresentações de Sidinei Jorge Mairins. Quando deu seus primeiros passos no samba, nos idos dos anos 80, adotou o nome de Sidney Moreno.

Sua primeira escola de samba foi a Caprichosos de Pilares. Em 1987 já cantava ao lado do lendário Carlinhos de Pilares (1942 - 2005).

Logo em seguida se transferiu para a São Clemente, onde juntamente com Izaías de Paula e Geraldão formou uma trinca afinada de intérpretes que a cada ano se revezavam no microfone principal da escola.

Em 1993, Sidney foi contratado pela Arrastão de Cascadura. Dois anos depois, já defendia a Unidos do Cabuçu, escola que, com ele ao microfone, recebeu o troféu Estandarte de Ouro, oferecido pelo jornal O Globo, de melhor samba do Grupo de Acesso de 1996, com “Do Reclame ao Merchandising, a História da Propaganda no Brasil”.

Após essa fase intensa de ser o cantor principal na avenida, Sidney Moreno se afastou dos holofotes carnavalescos e foi seguir outros rumos. Ao retornar à folia se ingressou na ala de compositores da Mocidade Independente de Padre Miguel, mas desde então não cantou mais como puxador oficial na Sapucaí.

Sidney Moreno passou a adotar seu nome de batismo e, nos anos de 2024 e 2025, concorreu a Rei Momo no concurso que elege a Corte Oficial do Carnaval da cidade do Rio de Janeiro. Sua performance nas eliminatórias do concurso é uma atração à parte, por se apresentar sempre de chapéu panamá, com várias guias e um grande crucifixo no pescoço, descalço e, na hora do samba no pé, dançar de forma desengonçada, como se estivesse incorporando uma entidade.


Sidney Moreno tem se candidatado ao posto de Rei Momo do Rio de Janeiro e chama atenção por sua performance incomum nas eliminatórias do concurso
 

ELIANA DE LIMA


Eliana no carro de som da Leandro de Itaquera no carnaval de 1995
 

- Axé minha mãe Maria Baiana!

Aí está uma voz que faz muita falta no carnaval paulistano. Ainda hoje Eliana de Lima é a principal representante feminina do samba de grande apelo popular feito em São Paulo e que invadiu as rádios nas décadas de 80 e 90. Foi até chamada de “A Rainha do Pagode”.

A cantora ficou conhecida nacionalmente por suas atuações marcantes como intérprete de samba-enredo nas escolas Unidos do Peruche e Leandro de Itaquera. Com a boa fama obtida no carnaval, Eliana iniciou uma bem sucedida carreira discográfica e fazendo muitos shows.

Eliana viveu bons momentos na avenida, como em 1988, no Peruche, quando fez um dueto inesquecível com o Mestre Jamelão (1913 – 2008). No ano seguinte veio o convite para se transferir para a então emergente Leandro de Itaquera e também um novo marco na história da folia paulistana: ela seria a primeira intérprete do carnaval de São Paulo a receber cachê para cantar no desfile, já que na época, a maioria dos puxadores de samba não recebiam nada para cantar. O samba “Babalotim – A História dos Afoxés” na voz de Eliana de Lima fez tremer as arquibancadas, passando a ser considerado um dos melhores sambas-enredos de todos os tempos do carnaval de São Paulo.

A sambista é conhecida também por ter protagonizado a luta pelo reconhecimento da mulher e a valorização do cargo de intérprete nas escolas de samba. Sempre que é questionada sobre a ausência de mulheres na liderança das alas musicais das agremiações paulistanas, Eliana diz que existe machismo quanto ao assunto no Carnaval.

Desde 2003 Eliana de Lima não está mais ativa nos carros de som na avenida. Sobre seu afastamento (involuntário) do carnaval, a artista diz que as mulheres cantoras seguem sendo discriminadas na hora de assumir o microfone principal. Azar do samba...


Afastada (involuntariamente) dos carros de som desde 2003, Eliana atribui ao machismo o fato de haver poucas mulheres no microfone principal das escolas
 

THOBIAS DA VAI-VAI


Thobias com a cantora Beth Carvalho durante desfile da Vai-Vai, campeã do Carnaval de São Paulo em 1996. Foto: Silvio Ribeiro/Estadão Conteúdo/Arquivo
 

Edimar Tobias da Silva se tornou célebre por ter sido intérprete oficial e, posteriormente, presidente da escola de samba paulistana Vai-Vai.

Além de cantor, Thobias da Vai-Vai é ator, radialista e ex-dirigente de carnaval. Já foi considerado um dos maiores intérpretes de samba-enredo de todos os tempos.

Entrou para o mundo do samba através da Gaviões da Fiel, quando esta ainda participava do carnaval apenas como uma ala do Vai-Vai.

No início da década de 80 já atuava como puxador de samba na escola da Saracura. Com a sua voz o Vai Vai obteve oito dos seus treze títulos sob a interpretação de Thobias.

Ainda nos anos 80, começou a lançar seus primeiros discos, com repertório de samba e pagode.

Em 2006, foi eleito presidente da Vai-Vai. Ainda neste ano, como ator, participou do seriado da Rede Globo “Antônia”, e também do filme “O Cheiro do Ralo”.

Enquanto estava na presidência da alvi branco do Bixiga, consagrou o bordão “Sob nova direção”, como marca de sua gestão. Em 2010, após o carnaval, deixou a presidência do Vai-Vai, e – depois de 12 anos – voltou a ser intérprete da escola.

A partir daí, Thobias foi se afastando do carro de som e passou a atuar em outras áreas. Como radialista, realizou programas nas rádios FM Imprensa, Brasil 2000 e América. É também um dos fundadores da Sociedade Afro-brasileira de Desenvolvimento Sociocultural (AFROBRÁS), a mantenedora da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares (UNIPALMARES), da qual é presidente de honra. É também empresário e dono da casa de shows Terra da Garoa, no centro de São Paulo.

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Thobias foi se afastando do carro de som e passou a atuar em outras áreas, como radialista, empresário e presidente de honra da UNIPALMARES
 

Série de coluna anterior: A História do Carnaval na TV Brasileira 

Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)
rixxajr@yahoo.com.br