Mais um cantor que se tornou
puxador de samba. Marcos Moran se caracteriza por um estupendo potencial vocal,
com uma voz suingada e bem timbrada – às vezes, assemelhando-se à de Wilson
Simonal – e carisma pessoal. Sua trajetória começou como intérprete de bossa
nova, em meados da década de 1960. Um dos seus primeiros registros vocais foi
na música “Fora de tempo”, da dupla Marcos e Paulo Sérgio Valle, gravada em
1964.
No final
dos anos 60, este capixaba de Alegre se viu influenciado por Tim Maia, Toni
Tornado e a turma da soul music brasileira. O repertório de Marcos Moran
enveredou também pela black music, misturada ao samba de raiz e às marchinhas
carnavalescas. Em 1968, gravou a marcha-rancho “Até quarta-feira”, de Humberto
Silva e Paulo Alves Sette.
Sua trajetória como cantor de
samba enredo se deu de uma maneira, no mínimo, pitoresca. Em 1970, Moran já era
um crooner que se apresentava na noite quando, certa vez, foi
questionado pelo compositor e produtor musical Carlos Imperial: “Ei, Moran.
Você conhece o samba Lendas e mistérios da Amazônia”? Frente à resposta
afirmativa, ouviu de Imperial: “então se prepare que amanhã de manhã você vai
cantar este samba na avenida”. Carlos Imperial conheceu Natal da Portela quando
este esteve preso na Ilha Grande e se tornou amigo do todo-poderoso dirigente
portelense. Assim, o compositor passou a ter forte influência também na escola
de samba. Marcos Moran foi aceito por Natal para levar o samba da Portela
naquele carnaval, que foi vencido pela águia azul e branca.
Marcos Moran
também passou pelo
Império Serrano. Em 1975 esteve no carro de som com Roberto
Ribeiro e Marlene
cantando “Zaquia Jorge, a vedete do subúrbio, a estrela de
Madureira”, assinado por
Avarese. Em entrevista para o site O Batuque, Marcos Moran revelou ser
o verdadeiro autor do polêmico samba-enredo conhecido como
"Baleiro-Bala", em parceria com Vicente Matos, que
desbancou o prestigiado "Estrela de Madureira" consagrado mais tarde
por Roberto Ribeiro. Moran não pode assinar a obra por
não pertencer à Ala dos Compositores imperiana. "Eu ainda
era do quartel, e às seis da manhã tem o toque da
alvorada. Perguntei ao Vicente para que horas estava previsto o desfile
do Império, e ele respondeu que era por volta desse
horário, então comecei assim: 'Império deu o Toque
de Alvorada/Seu samba a estrela despertou'", contou Marcos Moran ao O
Batuque, acrescentando que "Estrela de Madureira" era um samba plagiado
de uma música que fazia sucesso na Rádio Tupi na
época. "Por isso caiu e muita gente não sabe", explicou.
Em 1979, se
tornou cantor da escola do bairro de Noel, ao receber um
convite da diretoria da Unidos de Vila Isabel e do compositor Rodolpho
para conduzir o samba
“Os
dourados anos de Carlos Machado”, de Luiz Carlos da Vila, Jonas,
Rodolpho e
Tião Grande. A escola se sagrou campeã do Grupo 1-B
naquele ano e retornou à elite
do carnaval. Para o site O Batuque, Marcos Moran declarou que o samba
de 1979 foi o melhor que cantou pela Vila Isabel. A partir
daí, se tornou uma referência da escola, onde permaneceu
até 1984. Nos seis
anos defendendo a Vila, Marcos Moran foi presenteado com
belíssimos sambas,
como “Sonho de um sonho” (80) e “Pra tudo se acabar
na quarta-feira” (84),
ambos com a assinatura de Martinho da Vila. Depois do carnaval de 1984,
o
cantor se afastou dos desfiles após ser demitido da escola por
brigar com um diretor de harmonia durante a apresentação
na Sapucaí.
O breve retorno se deu em
1989, ao
conduzir a Acadêmicos de Santa Cruz, com o samba
“Stanislaw, uma história sem
final”. No ano seguinte, puxou a Unidos de Lucas, com o samba
“O magnífico
Niemeyer”. Se afastou dos desfiles de carnaval,
até reaparecer em 2017 na Acadêmicos de Pilares, escola
que desfilou no último grupo do Carnaval Carioca na Intendente.
Cheio de swing, esbanjava simpatia ao cantar. Sua principal
característica,
além do vozeirão, era balançar animadamente o
braço esquerdo, sempre pendente,
ao ritmo da música.
Em 1993, Marcos Moran participou
da coletânea Escolas de Samba, da gravadora Sony Music, no CD da
Vila Isabel.
Em dueto com Martinho da Vila, cantou o samba “Glórias
gaúchas”. Moran é
presença constante nas lonas culturais e nos bailes de carnaval
no Rio de
Janeiro. Em 2005, animou o 15º Baile da Cinelândia, na
cidade carioca. Em 2014, foi o vencedor da sexta edição
do Concurso de Samba de Quadra, com a música "Salve esse Povo
que Canta" e recebeu o troféu Mano Décio da Viola.
Esporadicamente, Marcos Moran
também grava discos. Seu mais recente trabalho foi o CD “O barba azul”, em que
cantou sambas que foram sucessos nas vozes de Agepê e Roberto Ribeiro. Marcos
Moran também é compositor. É autor de músicas gravadas por Elza Soares
(“Auera”), Altemar Dutra (“Domingo de carnaval”) e Djalma Pires (“Segura na
cintura dela”).
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Início: como cantor, em meados da
década de 1960. Como puxador de samba, em 1970.
1970 - Portela
1975 - Império Serrano (com Marlene e Roberto Ribeiro)
1979 a 1984 – Unidos de
Vila Isabel
1989 – Acadêmicos de Santa
Cruz
1989 - Sem Compromisso (Manaus, gravação do LP)
1990 – Unidos de Lucas
2017 - Acadêmicos de Pilares
GRITO DE
GUERRA: Oi,
criancinha! Vamos nessa, garotinho!
CACOS
CARACTERÍSTICOS:
“yah”; “tá certo, tá certo”
“aí tá bonito”; “vamos nessa,
gente”.
SAMBA DE SUA AUTORIA: “Zaquia Jorge, a vedete do subúrbio, a estrela de
Madureira” (Império Serrano/1975, não assinado)
DISCOGRAFIA:
* Coletânea Sony Escolas de
Samba – Unidos de Vila Isabel (1993)
* O barba azul (1998)
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