– Não
sou puxador. Não puxo carro, não puxo droga, nem puxo
saco de ninguém. Sou intérprete de samba-enredo!
Graças a declarações como estas, muita gente
deixou de ser puxador e exigiu a denominação de
intérprete de samba. O autor da frase foi o mais célebre
dos intérpretes de samba enredo, Jamelão, que por quase
seis décadas interpretou o samba da verde e rosa na avenida.
José Bispo Clementino dos Santos nasceu a 12 de maio de 1913.
Tendo trabalhado como engraxate e vendedor de jornais, desde
criança já demonstrava intimidade com o cavaquinho e o
tamborim, tocando precocemente em gafieiras e na bateria da
Estação Primeira da Mangueira. Em 1947, venceu um
programa de calouro e conseguiu, como prêmio, um contrato com o
selo Continental. Em 1949, foi convidado para cantar o samba da
verde-e-rosa no desfile das escolas de samba, cargo que ocupa
até hoje. Paralelamente ao sucesso obtido à frente da
Mangueira, Jamelão construiu uma forte imagem de cantor de
dor-de-cotovelo, principalmente através de dois álbuns
que gravara em homenagem a Lupicínio Rodrigues.
Apenas uma vez Jamelão teve um samba-enredo de sua autoria
desenvolvido na avenida. Foi no carnaval de 1955, com o samba “As
quatro estações do ano”, também conhecido
como “Primavera”, em parceria com Nélson Sargento e
Alfredo Português.
O pior momento vivido por Jamelão na Mangueira foi em 1985. Havia muita expectativa em torno da verde-e-rosa
que, no ano anterior, havia se sagrado supercampeã do carnaval,
na inauguração do Sambódromo. Com um belo samba
sobre Chiquinha Gonzaga, o mestre dos intérpretes ainda teria
que cumprir uma agenda de shows em Portugal em plena noite de
sábado de carnaval. Mesmo com a Mangueira desfilando ao
amanhecer de segunda-feira, ficou a expectativa para ver se
Jamelão conseguiria chegava a tempo de cantar para sua escola.
Infelizmente, o vôo de retorno para o Rio de Janeiro atrasou e
quando Jamelão pisou o pé na Marquês de
Sapucaí, a Estação Primeira adentrava na
dispersão. O samba foi cantado por Rubens da Mangueira, veterano
compositor da escola e um dos cantores do coral de apoio. Os
mangueirenses sentiram a falta da portentosa voz de Jamelão,
verdadeira bandeira da escola.
Apesar de várias propostas, Jamelão nunca se rendia a uma
homenagem, sempre fugindo da idéia de virar enredo, pelo menos,
enquanto estivesse vivo. “Virar enredo? Eu não! Ainda
não morri!”.
Mesmo assim, um pouco antes de morrer, o lendário
intérprete teria pedido para que não virasse enredo de
maneira nenhuma.
Segundo o próprio intérprete, três sambas
defendidos na avenida lhe emocionam: “O mundo encantado de
Monteiro Lobato” (1967), “No reino da Mãe do
Ouro” (1976) e “Mangueira mostra ao mundo o que Dorival
Caymmi tem” (1986). Ao ser questionado sobre “Cem anos de
liberdade... Realidade ou ilusão?”, o célebre samba
de 1988 da Mangueira, Jamelão surpreendeu a todos ao declarar,
num misto de enfado e desprezo, que “o samba era bom, mas poderia
ser melhor elaborado”.
O CD do Grupo Especial de 2007 foi o primeiro desde 1986 que não
teve a voz de Jamelão cantando o samba-enredo da Mangueira, pois
o intérprete não pôde participar da
gravação devido a uma isquemia cerebral e foi
substituído por Luizito. Jamelão faleceu em 14 de junho
de 2008, vítima de uma infecção renal. Antes do
enterro, seu caixão, conduzido por um carro de bombeiros,
percorreu por toda a Marquês de Sapucaí, formalizando seu
último desfile na Passarela em que tanto emocionou
corações.
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INÍCIO: Mangueira,
onde foi intérprete oficial de 1949 a 2006.
Jamelão
também foi o intérprete da escola paulista Unidos do
Peruche nos anos de 1988, 1989, 1994 e 1998. Jamelão ainda
gravou o samba da escola Balaku Blaku (Manaus), em 1990.
Grito de guerra: Não tem! Esporadicamente, no disco,
usava o "Minha Mangueira".
Gritos de empolgação: Não tinha! Se dedicava apenas a
cantar o samba
Samba
de sua autoria:
"Primavera, as Quatro Estações do Ano" (Mangueira/55, com
Nelson Sargento e Alfredo Português)
Estandartes de Ouro: (6) 1974 (como destaque masculino), 1982,
1990, 1992, 1996 e 1998 (como intérprete), Tamborim de Ouro de
personalidade (Eu sou o Samba) em 2002 e 2003.
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