Um tumor
maligno no pulmão direito calou para sempre, na tarde do
dia 7 de julho de 2005, a voz de um dos mais simpáticos
puxadores de samba do carnaval brasileiro. Carlinhos de
Pilares descobriu que estava doente há dois anos. Em
2004, em seu último carnaval – e com dificuldade
–, puxou o samba enredo da Acadêmicos da Rocinha,
“Mago do novo, João do Povo”, em homenagem ao
carnavalesco Joãosinho Trinta.
Esbanjando alegria e animação,
Carlinhos de Pilares alegrava os componentes das escolas
que defendeu, além de entreter a galera nas
arquibancadas. O início de Carlinhos no mundo do samba
se deu nas rodas de sambas em Pilares. Chegou à
Caprichosos nos anos 70, quando a escola nem sonhava em
desfilar entre as grandes. Em 1975, cantou um dos mais
belos sambas da história da escola, “A Congada do
Rei David”, de autoria de Ratinho e Juarez. Em 1978,
conduziu o samba “Festa da Uva no Rio Grande do
Sul”, no qual a composição de Ratinho conquistou o
Estandarte de Ouro pelo júri do jornal O Globo.
Carlinhos de Pilares viveu um de
seus grandes momentos na avenida em 1982, no desfile
“Moça bonita não paga, mas também não
leva”, no qual a escola conquistou o título do
Grupo 1-B e ganhou o direito de chegar à divisão
principal do carnaval. Era o início da era de temas
satíricos e irreverentes da escola. Em 1983, com
“Um cardápio à brasileira”, a escola desfilou
praticamente o tempo inteiro com a passarela sem
iluminação, o que lhe rendeu a condição de
hors-concours naquele ano, permanecendo no Grupo
Especial. Em 84, a Caprichosos apresentou “A nobreza
do riso visita Chico Rei num palco nem sempre
iluminado” e surpreendeu a todos com uma boa
colocação (3º lugar no desfile de domingo).
O samba-enredo de maior representatividade na história
da escola, sem dúvida, é o de 1985, “E por falar
em saudade”, de autoria de Almir Araújo, Balinha,
Hércules Corrêa, Marquinhos Lessa e do próprio
Carlinhos. Naquele ano, numa manhã ensolarada, Carlinhos
de Pilares conduziu a escola com seus cacos e, ao longo
da Marquês de Sapucaí, ia soltando sua gargalhada que,
a partir daquele ano, tornou-se sua marca registrada. Ele
nem fez muito esforço porque toda a arquibancada cantou
o samba de letra fácil e bem-humorada. A composição
ficou conhecida como o “Samba do Bumbum”,
devido ao refrão final da letra, o maior sucesso do
carnaval daquele ano: “tem bumbum de fora pra
chuchu/ qualquer dia/ é todo mundo nu”. A
escola saiu aclamada da passarela do samba, sendo
considerada “campeã do povo”. No entanto, na
classificação oficial, a Caprichosos chegou em quinto
lugar. O reconhecimento chegou em 1988, quando Carlinhos
de Pilares levou o Estandarte de Ouro como melhor
puxador.
A partir daí, Carlinhos se
afastou da escola de seu coração e passou a defender
sambas para outras bandeiras. Circulou pela Unidos do
Jacarezinho, Acadêmicos de Santa Cruz, Unidos da Tijuca,
Lins Imperial, Acadêmicos do Dendê, teve uma breve
passagem na Portela, retornou à Caprichosos por três
carnavais e, até o desfile de 2004, esteve na
Acadêmicos da Rocinha. Também puxou escolas em outras
cidades, como a Flor de Vila Dalila (1988) e Acadêmicos
do Tucuruvi (2001), em São Paulo, Academia de Samba
Praiana (1996), em Porto Alegre, e em escolas de Manaus.
Aproveitando o auge da popularidade da Caprichosos, na
década de 80, gravou participações em dois discos da
cantora Simone: no disco “Cristal” (1985), na
faixa Amor no coração, e no disco “Amor e
Paixão” (1986), na música Rei por um dia,
ambas de sua autoria.
Carlinhos
de Pilares tinha 63 anos e estava casado pela segunda vez
com Idalina, com a qual teve três filhos: Carlos
Eduardo, Carlos Henrique e Lucas Miguel Marques. Do primeiro
casamento, possuía um casal: Antonio Carlos e
Carmem Verônica. Nos últimos meses, o puxador
vinha passando por dificuldades financeiras e seus amigos
organizaram eventos para ajudá-lo.
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Início: Caprichosos de Pilares, nos
anos 70.
Entre 1975 e 1988 – Caprichosos de
Pilares
1979 – Lins Imperial (Grupo 2-A)
1986 a 1990 - Andanças de Ciganos (Manaus, na gravação do LP)
1988 - Flor da Vila Dalila (SP)
1989 – Unidos do Jacarezinho
1990 – Santa Cruz
1991 e 1992 – Caprichosos de
Pilares
1991 - Leandro de Itaquera (SP)
1993 - Reino Unido da Liberdade (Manaus, na gravação do LP e no Sambódromo)
1994 - Unidos da Tijuca
1995 – Portela (junto com Rixxa)
1996 – Caprichosos de Pilares e
Praiana (Porto Alegre)
1997 – Acadêmicos do Dendê
(Grupo A)
1998 a 2000 – Santa Cruz (Grupo A)
2000 - União Imperial (Santos - apoio de Zinho)
2001 - Tom Maior (SP)
2002 – Lins Imperial (Grupo B)
2003 e 2004 – Rocinha (Grupo A)
GRITO DE GUERRA: Alô, Brasil! Alegria geral! Vai
começar a festa! (segue depois sua tradicional
gargalhada)
GRITOS DE
EMPOLGAÇÃO: seus
cacos variavam muito conforme o samba ou o tema
apresentado. Sua marca principal era a gargalhada,
quando, em determinado momento, os versos do samba
mencionavam as palavras “alegria”,
“sorriso” ou qualquer outra manifestação de
animação. Também apareciam muito os cacos "é
muita coisa junta", “gira, baiana”,
“ah, minha escola querida”.
Sambas de sua
autoria:
“Uruçumirim, paraíso tupinambá” (79, com
Delso e Ferreira); “E por falar em saudade”
(85, com Almir de Araújo, Balinha, Hércules e Marquinho
Lessa); “Brazil com z não seremos mais... ou será
que seremos?” (86, com Almir de Araújo, Balinha,
Hércules e Marquinho Lessa); “Os heróis da
resistência” (90, com Carlos Henri, Doda, Luís
Sérgio, Mocinho e Zé Carlos); “Entre Festas e
Fitas”, (Acadêmicos do Engenho da Rainha/1994, em
parceria com De Minas, Hércules Corrêa e JB) .
Estandarte de Ouro: 1988. Também conquistou um
prêmio Sambanet de melhor intérprete do Grupo B de
2002, quando defendeu a Lins Imperial.
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