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TOP 10 SAMBARIO – ESSÊNCIA POÉTICA DAS HOMENAGENS (PARTE 1)
 
 
TOP 10 SAMBARIO – ESSÊNCIA POÉTICA DAS HOMENAGENS (PARTE 1)


1º de maio de 2024, nº 67


 

Salve, salve, senhoras e senhores. Semanas atras uma postagem do compositor Samir Trindade no seu perfil no Instagram me chamou atenção e eu comungo da opinião dele. Nos últimos tempos tenho visto muitos sambas-enredo de homenagem como um copia-e-cola das obras do personagem a ser exaltado, sejam cantores, músicos, compositores ou artistas em geral. Várias letras têm aparecido como montagem de quebra-cabeças e jogo de palavras de referências sobre a obra do homenageado.

Segundo Samir, os compositores deveriam colocar mais o próprio olhar enquanto poeta e captar a essência dos artistas em questão e não somente fazer uma colcha de retalhos com referências à obra dos homenageados.

Ou então, evitar a manjada descrição biográfica do homenageado, geralmente formada por onde nasceu, onde cresceu, time que torce, signo, orixá de cabeça, etc.

Segue abaixo o link da fala do Samir sobre o assunto:

 

E o Top 10 Sambario vai na esteira desse pensamento e enumera sambas enredo que foram poéticos e captaram a essência dos homenageados não sendo meros copia-e-cola e nem se restringiu ao confortável recurso de descrever suas time lines.

Confira a primeira parte desta série:

 

10º lugar: ELIZETH CARDOSO – UNIDOS DE LUCAS 1974

 


A “Divina” Elizeth Cardoso era madrinha da Unidos de Lucas. Crédito: site Tantos Carnavais

A divina Elizeth Cardoso (1920 - 1990) era madrinha da Unidos de Lucas. Inicialmente, o padrinho deveria ter sido Vinicius de Moraes (1913 - 1980). No entanto, ao que consta, o Poetinha deve ter tomado seus famosos e homéricos porres e não chegou a tempo do batizado. Foi substituído de última hora pelo compositor e produtor Hermínio Belo de Carvalho.

O samba do Galo de Ouro, “Mulata Maior”, homenageia a cantora de um jeito reverente, mas ao mesmo tempo leve, poético, carinhoso e orgulhoso da madrinha que tem. Detalhe que a letra não menciona o nome de Elizeth, nem por qual time torce, signo, etc.

A gravação que ouvimos está no álbum que leva o nome do enredo de Lucas de 1974, Mulata Maior, disco de carreira de Elizeth. A faixa tem a interpretação do sambista Carlão Elegante, que pertencia à ala de compositores da vermelho e ouro. A escola foi vice-campeã do segundo grupo, em 1974, sendo promovida à elite do carnaval no ano seguinte.

Hoje nossa escola

Está feliz porque,

Ao invés de ouvi-la

Está cantando pra você

Vem mulata, vem sorrir

E cantar com esta gente

Que está sempre a aplaudir

(Joãozinho Empolgação, Pedro Paulo e Zeca Melodia)

 

9º lugar: HEITOR DOS PRAZERES – EM CIMA DA HORA 1977

 


Heitor dos Prazeres, cantor, compositor, pintor e filho da Praça Onze

 

Apesar de ter apresentado no carnaval de 1976 um samba-enredo que é considerado por especialistas como um dos melhores de todos os tempos (“Os Sertões”, de Edeor de Paula), a Em Cima da Hora terminou a competição na 13ª e penúltima colocação do Grupo Especial e foi rebaixada para o Segundo Grupo.

Para o ano seguinte, o povo do subúrbio de Cavalcanti resolveu homenagear o cantor, compositor e pintor carioca Heitor dos Prazeres (1898 – 1966), um dos pioneiros na composição dos sambas e que participou da fundação das primeiras escolas de samba do Brasil, como Deixa Falar, Portela, Vizinha Faladeira, Mangueira, entre outras.

No samba “Heitor dos Prazeres, um Artista Carioca”, assinado por Amaury Machado, a ECDH descreveu Heitor como “filho da Praça Onze”, “artista magistral”, “mestre” e “bamba”.

A letra retrata seu apelido, Mano Lino, e também discorre sobre suas pinturas (as “aquarelas musicais”, conforme o samba), nas quais retratou a vida nas favelas: crianças brincando, homens jogando ou bebendo, jovens dançando samba, etc. Também há ligeiras menções de alguns de seus sucessos carnavalescos como “Gosto Que Me Enrosco” (parceria com Sinhô) e “Pierrô Apaixonado”, (cuja coautoria é de Noel Rosa).

A Em Cima da Hora terminou na 11ª colocação no Grupo 2 naquele ano, sendo rebaixada para a terceira divisão.

Ao ouvirem a gravação original do samba, que consta no LP oficial do Grupo 2 de 1977, prestem atenção no cavaquinho de Carlinhos do Cavaco do Conjunto Nosso Samba e na levada de caixa do ritmista anônimo. É um deleite só. Para colocar no repeat e não cansar de escutar.

 

Encantando a passarela

Um enredo divinal

Retrata a vida do artista

Heitor dos Prazeres, o magistral

Das obras que Mano Lino escreveu

O Brasil cantando enalteceu

Suas aquarelas musicais

(Amaury Machado)

 

8º lugar: SILAS DE OLIVEIRA – IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE 1974


Mesmo não sendo da ala de compositores da Imperatriz, Silas de Oliveira acompanhou de perto a fundação da Rainha de Ramos

Em 1972, a Acadêmicos do Salgueiro propôs um enredo ousado para a época: pela primeira vez no carnaval carioca, uma escola de samba homenagearia outra escola de samba. Foi o caso da vermelho e branco, que dedicou seu desfile à Estação Primeira de Mangueira, madrinha da escola tijucana.

Dois anos depois, foi a vez da Imperatriz Leopoldinense fazer algo parecido: apresentou o enredo “Réquiem Por Um Sambista, Silas de Oliveira”, em honra ao compositor do Império Serrano. Mesmo não sendo de seus quadros, Silas (1916 - 1972) acompanhou de perto a fundação da Imperatriz, cuja madrinha é a verde e branco do morro da Serrinha.

O samba tem letra curta e direta. Não faz muitos rodeios sobre a vida de Silas de Oliveira, preferindo, no máximo, mencionar uma das suas maiores composições, o samba de meio de ano “Meu Drama (Senhora Tentação)”, que anos depois faria sucesso nacional na voz de outro imperiano, o cantor Roberto Ribeiro.

A Imperatriz foi a 6ª colocada no Grupo Especial.

A versão que destacamos está no álbum Rio, Rio, Rio – Conjunto Explosão do Samba, lançado logo após o carnaval de 1974. A interpretação é da sambista Sabrina.

 

Quando o dia raiava

Alegremente cantava

Oh! Minha romântica

Senhora tentação

Carnaval, doce ilusão

Oh! Como é tão sublime

Exaltar o poeta criador

Vou pegar na viola

Vou cantar o samba

Rendendo esta homenagem

Ao mestre Silas bamba

(Cosme, Damião e Guga)

 

7º lugar: ZEZÉ MOTTAARRASTÃO DE CASCADURA 1989 E ACADÊMICOS DO SOSSEGO 2017

 

Zezé Motta sempre foi homenageada com belos sambas na Sapucaí


Uma das maiores artistas do país, expoente da cultura afro-brasileira, Zezé Motta, já foi homenageada em vários carnavais. Conforme nossa coluna de número 58 aqui do Sambario, Ranking de Quem Se Tornou Tema Enredo em Vida, a atriz e cantora foi enredo solo em três ocasiões, fora as inúmeras participações especiais, como no Império Serrano em 1984, e na Vila Isabel, em 1988.

Zezé foi homenageada pelo Arrastão de Cascadura em 1989, quando a escola desfilou pelo Grupo 1-B (segunda divisão) e apresentou o enredo “Zezé, Um Canto de amor e Raça”. A letra do samba faz uma linda exaltação à grande artista, sem se importar, por exemplo, qual o time de futebol que Zezé torce nem qual é o signo dela no zodíaco.

O Arrastão ganhou o prêmio Estandarte de Ouro de Melhor Samba-Enredo. No entanto, a verde e branco obteve a 8ª colocação, ficando entre as quatro últimas colocadas (de um total de dez desfilantes). A escola foi rebaixada para a terceira divisão.

A versão que trazemos é a que a escola cantou ao vivo na Marquês de Sapucaí, na noite do dia 4 de fevereiro de 1989, na voz de Jacy Inspiração. Prestem atenção na cadência gostosa da bateria do Arrastão.

 

Oh Zezé tu és razão deste poema

Da nossa escola muito mais que tema

Tu és a própria arte viva no cordão

Quero é mais eternamente ver-te em cena

Nos palcos dos Teatros desta vida

Negra pura flor mulher

(Jacy Inspiração, Netinho, Amaury e Bebeto Arrastão)

 

 

Em 2017 a Acadêmicos do Sossego (hoje Acadêmicos de Niterói) também prestou um tributo à Zezé Motta.  A escola do Largo da Batalha abriu os desfiles da Série A em sua volta à Sapucaí exaltou a artistas que na época completava 71 anos de vida e 50 de carreira.

O samba-enredo “Zezé Mota, a Deusa de Ébano” chamou bastante atenção por ter sido composto em forma de diálogo entre a homenageada e a escola, fazendo um remember da carreira da artista. Um recurso até então inédito no carnaval. Na gravação que consta no álbum oficial da Série A este recurso foi acertadamente explorado, com o intérprete da Sossego, Leandro Santos (representando a escola), “conversando” com a diva, que também colocou a própria voz na faixa.

A Acadêmicos do Sossego conseguiu uma permanência tranquila na Série A, obtendo o 11° lugar, entre as 14 desfilantes.

 

Volte a reinar, Xica da Silva!

Rufam os tambores por dignidade

Pois é, meu sangue não nega

Trilha sonora da senhora liberdade

(Felipe Filósofo, Ademir Ribeiro, Sérgio Joca, Marcelo do Rap, Fabio Borges, João Perigo, Paulinho Ju e Bertolo)

 

 

6º lugar: ZAQUIA JORGE – IMPÉRIO SERRANO 1975

Vedete e empreendedora, Zaquia Jorge rendeu belas músicas do cancioneiro carnavalesco após sua morte. Crédito: Editora Record/Divulgação


A carioca Zaquia Jorge (1924 - 1957) foi uma vedete e atriz do teatro de revista. Fez carreira no bairro de Madureira, na zona norte do Rio e se tornou proprietária do único teatro de rebolado do subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira. Era conhecida como a “Estrela do Subúrbio” e “Vedete de Madureira”.

Em 22 de abril de 1957, a artista morria, aos 33 anos, em razão de um afogamento, na inóspita praia da Barra da Tijuca. Mais de 4 mil pessoas compareceram ao seu velório e até mesmo Juscelino Kubitschek, então presidente da República, se fez representar por meio de seu ajudante de ordens.

A morte da vedete e empreendedora causou grande comoção nacional e inspirou o samba “Madureira Chorou” (Carvalhinho e Júlio Monteiro), gravada por Joel de Almeida, que se tornou um grande sucesso no Carnaval de 1958, transformando-a na dimensão de mito.

Em 1975, o carnavalesco Fernando Pinto desenvolveu para o Império Serrano o enredo “Zaquia Jorge, a Vedete do Subúrbio, Estrela de Madureira”. O samba-enredo vencedor do concurso interno da escola da Serrinha foi composto por Abimael Nascimento, o Avarese (1917 - ?). No entanto, o samba da parceria de Acyr Pimentel e Cardoso, que foi um dos sambas derrotados naquela eliminatória, acabou sendo gravado após o Carnaval por Roberto Ribeiro, sob o título “Estrela de Madureira”, e acabou fazendo mais sucesso do que o samba que efetivamente foi para a avenida.

Apesar disso, ao contrário da obra de Cardoso e Acyr, o samba de Avarese não é triste nem melancólico. Pelo contrário. É um samba poético, pra cima, que exalta a atriz, como se Zaquia Jorge estivesse feliz ao se reencontrar com sua comunidade de Madureira. E é mais um caso em que o nome da homenageada não aparece na letra do samba.

O Império Serrano chegou na terceira colocação do Grupo Especial no carnaval de 1975.

A versão que vamos escutar é a gravada por Jamelão na coletânea Sambas de Enredo de Todos os Tempos, lançada em 1982.

 

O Império deu o toque de alvorada

Seu samba a estrela despertou

A cidade está toda enfeitada

Pra ver a vedete que voltou

Com seu viver de alegria

Fez tanta gente sonhar

Outra vez se abre o pano

Pra todo o céu suburbano

Ver sua estrela brilhar

(Avarese)

 

 

5º lugar: CANDEIA – UNIDOS DO JACAREZINHO 1986

Jacarezinho destacou o trabalho social e artístico de Candeia, com ênfase à identidade cultural afro-brasileira

O baluarte portelense Monarco foi um dos grandes compositores da Unidos do Jacarezinho, conforme vemos em sua ficha na seção Intérpretes do portal Sambario. Em 1986 ele apresentou à rosa e branco o tema enredo “Candeia, Luz de Inspiração”, em homenagem ao outro ícone maiúsculo do samba e da Portela, Antônio Candeia Filho (1935 - 1978).

O belíssimo samba do Jacarezinho para aquele carnaval pretendeu fazer uma ode musical a Candeia, a partir do samba “Um Dia de Graça”, deixando de lado sua face truculenta enquanto foi policial civil, que lhe custou uma paraplegia que o deixou de cadeira de rodas até o fim da vida.

O enredo teceu loas ao poeta compositor de cinco sambas enredos na Portela, sua fase fonográfica que rendeu cinco discos solo, além da fundação do Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo. Esta, uma iniciativa dos sambistas para resgatar valores originais do samba, que segundo eles estariam se perdendo em meio ao Carnaval comercial, que excluiria as comunidades. O Quilombo não participava de desfiles competitivos e atuava com trabalhos sociais e culturais, enfatizando principalmente a identidade cultural afro-brasileira.

A Unidos do Jacarezinho se sagrou campeã do Grupo 1-B e se habilitou a uma das duas vagas para o Grupo Especial do ano seguinte – a outra foi da São Clemente.

 

Agora canta, meu povo canta

Esquece as mágoas porque hoje é carnaval

Agora canta, meu povo canta

Em homenagem ao sambista imortal

(Bené do Feitiço, Pedrinho Total, Zé Leitão, Vilmar e Marquinho Mancha)

 

 

4º lugar: ZINCO E CAXAMBU – LINS IMPERIAL 1988 

Zinco (à esq., em alegoria representada no desfile de 1988) e Caxambu (à dir.) foram dois compositores e também fundadores da Lins Imperial


No carnaval de 1988, a Lins Imperial resolveu homenagear dois de seus fundadores, os compositores Jones da Silva, o Zinco (? - 1967), e Darcy Knuth Machado, o Caxambu (1922 - ?).

A dupla compôs para o carnaval de 1954 o samba-enredo “Brasil Primaveril”, da escola de samba Filhos do Deserto. Esta agremiação se uniu a outra escola de samba, a Flor do Lins, para fazer surgir em 7 de março de 1963 a Lins Imperial, no morro da Cachoeira, bairro de Lins de Vasconcelos.

Zinco e Caxambu também foram compositores do samba “Amazônia (Inferno Verde)”, do ano de 1955, também da Filhos do Deserto. A obra foi gravada por Martinho da Vila no seu álbum de carreira intitulado Samba Enredo, de 1980.

O carnavalesco da Lins, na época, José Eugênio Silva, calcou em cima do samba “Brasil Primaveril” o enredo “Primavera é Tempo de Saudade, Tributo a Zinco e Caxambu”.

A letra do samba de 1988 é lírica e poética, comparando Caxambu (que estava presente no desfile) a um flamboyant, e o toque de nostalgia cabia à lembrança de Zinco. A obra se destacou tanto que conquistou o Estandarte de Ouro de Melhor Samba Enredo do Grupo 1-B.

O samba foi conduzido na avenida por Celino Dias (em seu terceiro ano na Lins) e pelo compositor Bira, falecido em 2022. Ambos aparecem no clipe do samba apresentado na transmissão da TV Globo pouco antes do desfile da escola (link abaixo).

 

Oh! Caxambu, um flamboyant

Que te contempla a soluçar

A madrugada não exala pelo ar

O perfume da sedução lara, laiá

Zinco são suas lágrimas

Estrelas do infinito

E as chaminés rasgando o céu

Que hoje são

Hostis troféus da evolução

(Celso, Lima, Pezão, Ernandes e Marinho)

 

 

3º lugar: BARBOSA LIMA SOBRINHO – UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 1999 

Com Barbosa Lima Sobrinho, a Ilha percorreu o século 20 no Brasils


A União da Ilha do Governador prestou no Carnaval de 1999 uma justa homenagem ao jornalista, advogado, escritor, político e intelectual pernambucano Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho (1897 - 2000). Assim, a Ilha também fez uma exaltação à liberdade de imprensa no Brasil, pois Barbosa Lima presidiu em três períodos distintos, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Ao mesmo tempo em que fez um enredo biográfico, destacando vários aspectos pessoais do homenageado (infância, juventude, casamento e gostos pelo esporte, pela política e literatura), a tricolor da Cacuia fez um passeio pela história do Brasil ao longo do século 20, pois naquele ano de 1999 Barbosa completaria 101 anos.

Barbosa Lima Sobrinho foi, conforme o enredo assinado por Milton Cunha, testemunha imparcial e consequente do século 20 brasileiro. Mais cara de Brasil impossível: Nordestino Cabra da Peste, jogador de futebol, nadador de praia e supersticioso (pois não apagava velas de aniversário, dizendo “é como apagar um ano de vida”).

Pela idade avançada e com problemas de saúde, o homenageado não desfilou com a escola. A Ilha foi 10ª colocada no Grupo Especial com “Barbosa Lima, 101 anos do Sobrinho do Brasil”.

A cabeça do samba eu destaco como uma das mais belas já escritas no carnaval: a mesma lua que te viu nascer / brilha no céu, volta pra te ver / vem orgulhosa iluminar o carnaval / o teu menino é manchete de jornal...

Além da gravação original do samba na voz de Rixxa, que saiu da escola antes do final de 1998, vamos conferir também um trecho da versão regravada por Roger Linhares e Maurício Cem, que aparece na vinheta Globeleza. Foi a dupla que conduziu o samba na Sapucaí. Creio que seja uma versão exclusiva da TV Globo, pois não encontrei disponível em nenhum lugar.

 

Liberta esse nó da garganta vem cantar

Pra poder melhorar, tem que lutar

Vai dar à luz a esperança

Vai meu Brasil!

Faz do povo a riqueza

Com Barbosa festeja

A cassação da tristeza

(Bicudo, Djalma Falcão, Ditto e Jotta Erre)

 

Gravação original com a voz de Rixxa

 

Versão com Roger Linhares e Maurício Cem na vinheta Globeleza

 

2º lugar: IBRAHIM SUED – ACADÊMICOS DE SANTA CRUZ 1985

A Santa Cruz fez o high society de Ibrahim Sued desfilar refestelado na Sapucaí


No carnaval de 1985 tivemos na Marquês de Sapucaí uma homenagem, digamos, “inusitada”. A Acadêmicos de Santa Cruz, recém-chegada ao grupo especial, causou surpresa ao resolver decantar em verso, prosa e fantasia o jornalista e colunista social carioca Ibrahim Sued (1924 - 1995).

Ora, seriam dois segmentos muito distintos entre si a serem reunidos pelo carnaval: de um lado, a comunidade batalhadora do bairro de Santa Cruz, distante 60 quilômetros do hotel Copacabana Palace, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, habitat natural de Ibrahim e do perfil de seu público leitor. Do outro lado, o high society que Sued representava e promovia, a elite carioca, o mundo de festas e eventos regados a champanhe e de vasto consumo de caviar e canapés.

E o desfile aconteceu. Provavelmente 90 por cento da escola, formado pelo povo da zona oeste nunca deve ter lido a coluna diária que Ibrahim escrevia para o jornal O Globo, assim como os seletos convidados do jet set do jornalista homenageado que participaram do desfile jamais devem ter pisado na periferia, o que dirá na quadra da Santa Cruz.

Apesar dos contrastes que só o carnaval proporciona, a letra do samba-enredo “Ibrahim, de Leve Eu Chego Lá” é bem carinhosa com o personagem exaltado.

Relembra seu início de carreira como repórter fotográfico (“deixe a vida nos fotografar”), sua figura polêmica sempre em evidência, dando palpites muitas vezes discutíveis sobre todos os assuntos (“fale de mim quem quiser”), ter vindo de baixo, por ter sido pobre de verdade (“esse gigante nobre / filho de imigrante pobre / que lutou pra vencer”), a facilidade de inventar gírias e expressões (“ademã, doa a quem doer”) e por ter participado do famoso “Clube dos Cafajestes” (“podem me chamar de cafajeste, oi / eu sou e quem não é?)”.

E por que “famoso”? Os Cafajestes eram um grupo de rapazes de boa família, bem situados na vida que não levavam nada a sério e encaravam as coisas com muita alegria, irreverência, agitação, imprevisibilidade e generosas doses dos mais variados drinks. Os cafajestes promoviam rebus fantásticos com mocinhas de família que acabavam na base do salve-se quem puder. Gente fina é realmente outra coisa.

Bem, a segunda noite de desfile do carnaval de 1985 provavelmente foi a mais caótica da história do sambódromo. Após a São Clemente ter aberto o desfile, houve uma gigantesca demora até a Santa Cruz, a segunda a se apresentar, entrar na avenida. Tudo causado por um choque entre uma das alegorias da escola com um carro da Beija-Flor, o que causou um enorme transtorno, com uma demora de mais de duas horas até a verde e branco desfilar.

Além da agremiação já ser cercada por ceticismo devido ao enredo ser sobre Ibrahim Sued, faltou organização no cortejo da escola. O homenageado auxiliou com uma boa injeção de recursos no barracão, havendo até luxo nos figurinos, mas houve dificuldades para levar à Sapucaí a própria alegoria em que desfilaria Ibrahim, uma representação de um carro Cadillac. A apresentação da Santa Cruz foi marcada por vaias dos setores populares e aplausos dos camarotes. Na apuração, chegou em 14º lugar e desceu para o Grupo 1B.

Vamos curtir o samba-enredo (muito criticado à época, mas que eu aprecio bastante), composto por dois sambistas da Unidos da Cabuçu, na voz do grande Aroldo Melodia.

 

No seio de uma legião amiga

O colunismo de Ibrahim nasceu

Na força do lirismo, seu neologismo venceu

Roda baiana ô baiana cai na roda

Olha o desfile de moda

O show de elegância está no ar

Deixe a vida nos fotografar

Hollywood, debutantes e princesa

Realçando a beleza ô iaiá

No meu banquete não pode faltar caviar

(Zé Maria D’Angola e Grajaú)

 

1º lugar: ANTÔNIO CARLOS JOBIM – ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA 1992

Mangueira fez um desfile emocionante e rendeu um samba antológico em homenagem a Tom Jobim


Um dos desfiles mais esperados do carnaval de 1992 foi o da Estação Primeira de Mangueira. A verde e rosa, tão pródiga em homenagens nos anos 80 (Braguinha, Caymmi, Drummond, Walter Pinto, Carlos Machado e Chico Recarey) agora elevava ainda mais a régua ao exaltar Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927 – 1994), um dos expoentes da música popular brasileira.

E o samba não poderia ter ficado em melhores mãos. “Se Todos Fossem Iguais a Você” teve a assinatura dos cracaços Hélio Turco, Jurandyr e Alvinho, vencedores de vários carnavais.

Na primeira parte da letra, são retratadas, de forma lírica, a paixão de Tom pelo Rio, pela orla de Ipanema, é também há uma menção à obra “Sinfonia do Rio de Janeiro”, parceria sua com Billy Blanco (“amanheceu / o Rio canta de alegria / aconteceu / a mais linda sinfonia”).

A segunda parte do samba antológico se descola completamente da biografia do homenageado e é a Mangueira que toma a palavra conclamando a todos a curtir o carnaval, o samba, o Rio de Janeiro, os recantos naturais da Cidade Maravilhosa e o desfile da própria verde e rosa em tributo ao homenageado (“eu sou a Mangueira em ‘Tom’ maior”). E termina lindamente com a referência da magnifica canção “Se Todos Fossem Iguais a Você”, parceria com Vinicius de Moraes, enaltecendo a figura ímpar de Tom Jobim.

Mesmo tendo feito um desfile emocionante, a Mangueira ficou apenas na 6ª colocação.

Além da gravação original do samba na voz de Jamelão, deixamos também como curiosidade o clipe da vinheta Globeleza em que aparece um dos compositores, Jurandyr da Mangueira.

Histórias de bastidores contam que o velho Jamela queria um faz-me-rir para gravar a vinheta, mas a Globo alegou que não havia orçamento para tal (quando a Globo diz que não tem grana o que sobra para nós, simples mortais?).

Com a recusa do Sr. José Bispo, a escola indicou Jurandyr, que pôs a voz em cima do playback original e ainda apareceu na telinha da Plim-Plim nos intervalos da programação. Enciumado, coincidência ou não, depois dessa Jamelão nunca mais deixou de gravar o clipe com o samba da Mangueira para a vinheta Globeleza...

Versão Jurandyr (Globeleza)


Áudio original Jamelão







Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)

rixxajr@yahoo.com.br