O desaparecimento do cantor e compositor Jurandir da
Mangueira, em 26 de abril de 2007, entristeceu não só
quem ama a verde e rosa, mas também quem ama o samba e o
carnaval carioca e sobretudo brasileiro. Ultimamente, o
sambista atuava como primeira voz da Velha Guarda Show da
Mangueira.
Compositor
inspirado, dono de uma voz suave e um sorriso franco,
Jurandir nasceu em Campos dos Goitacazes, no
norte do Estado do Rio de Janeiro. Aos cinco anos de
idade, se mudou para a Candelária. Exerceu várias
profissões, como sapateiro e caldeireiro na Secretaria
Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Ingressou na ala
de compositores da Estação Primeira em 1959. No
início, fazia apenas sambas de terreiro. A pedido de
Cartola, passou a compor também sambas enredo. Ganhou 12
vezes o concurso de samba enredo na Mangueira, com
diversos parceiros (o mais constante deles era Hélio
Turco, com quem venceu nove carnavais).
Seu primeiro samba enredo cantado
na avenida foi “Exaltação a Villa-Lobos”, em
1966. No ano seguinte, apresentou “Mundo encantado
de Monteiro Lobato”, obra que Jamelão considerava,
particularmente, o samba mais bonito da história da
Mangueira e sempre presença garantida no repertório do
mestre. Também foi de autoria de Jurandir o samba que
deu o supercampeonato à verde e rosa, em 1984, ano da
inauguração do sambódromo. Naquela ocasião, a
Mangueira encerrou o segundo dia de desfile percorrendo a
passarela e, ao chegar na Praça da Apoteose, deu a volta
e fez o caminho inverso, para delírio de quem ainda
permanecia nas arquibancadas.
Na época em que o disco oficial
dos sambas enredo saía pela gravadora Top Tape, Jurandir
sempre gravava os sambas de sua autoria, já que o
titularíssimo Jamelão, por motivos contratuais, era
impedido de colocar sua voz. Em 1985, Jurandir substituiu
Jamelão na Marquês de Sapucaí. Em plena véspera do
desfile da Manga, o sr José Bispo tinha marcado um show
fora da cidade do Rio de Janeiro. No entanto, um atraso
no vôo fez com que o mestre dos intérpretes não
chegasse a tempo de desfilar. Mas o carro de som da verde
e rosa estava em boas mãos e na voz serena de Jurandir.
No entanto, a escola apresentou dificuldades no desfile e
chegou na 9ª posição.
Em 1988, através de Jurandir,
Helio Turco e Alvinho (que depois viria a ser presidente
da escola), a Mangueira apresenta aquele que é
considerado um dos melhores sambas enredos de todos os
tempos. Com os versos “pergunte ao criador,
pergunte ao criador/ quem criou esta aquarela/ livre do
açoite da senzala/ preso na miséria da favela”,
a Estação Primeira questionou o centenário da
assinatura da Lei Áurea, no samba “100 anos de
liberdade, realidade ou ilusão”. Dois anos depois,
com o belíssimo “E deu a louca no barroco” o
mesmo trio deu o primeiro Estandarte de Ouro em samba
enredo à Mangueira.
Jurandir compôs ainda muitos
sambas de terreiro. Entre outros, “Minha
companheira”, gravado por ele no CD duplo, produzido
por Hermínio Bello de Carvalho, “Mangueira, sambas
de terreiro e outros sambas". Considerado uma das
mais belas vozes do samba, participou, ao lado de outros
grandes sambistas contemporâneos, do CD “Meninos do
Rio” (Carioca Discos) e gravou, em 2005, num projeto
patrocinado pela Petrobras, seu único CD solo. Em 2006,
Jurandir teve um sério problema cardíaco que o levou à
mesa de cirurgia. Logo em seguida, foi finalmente eleito
Baluarte da Mangueira por seus serviços prestados à
escola. Em 2007, dois meses antes de falecer, desfilou
pela primeira vez (e última vez) ostentando tal
distinção, no emblemático carro que Beth Carvalho foi
impedida de desfilar.
Com uma trajetória destas, se
todos fossem iguais a Jurandir, que maravilha seria
viver.
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Início:
Ingressou na Ala de Compositores da Mangueira em 1959.
Sempre e somente desfilou pela Estação Primeira.
Primeiro
ano como intérprete oficial: 1985
1981 – apoio de Jamelão
1984 – apoio de Jamelão
1985 – cantor principal
1988 – apoio de Jamelão
1990 a 1992 – apoio de Jamelão
GRITO DE GUERRA: não tinha um grito de guerra
específico
DISCOGRAFIA:
. Sambas Enredo Grupo 1-A (participação) (1984,
Top Tape)
. Sambas Enredo Grupo 1-A (participação) (1985,
Top Tape)
. Chico Buarque de Mangueira (participação)
(1998, BMG)
. Velha Guarda da Mangueira e convidados (vários)
(1999, Nikita Records)
. Mangueira – Samba de terreiros e outros sambas (vários)
(2000, Prefeitura do Rio)
. Meninos do Rio (vários) (2001, Carioca Discos)
. Mangueira definitiva (2003)
. Jurandir (2005, Candongueiro)
SAMBAS DE SUA
AUTORIA: “Exaltação
a Villa-Lobos” (Mangueira/1966, com Cláudio);
“Mundo encantado de Monteiro Lobato”
(Mangueira/1967, com Darcy da Mangueira, Helio Turco,
Batista, Dico e Luiz), “Mercadores e
tradições” (Mangueira/1969, com Darcy da Mangueira
e Helio Turco), “Modernos bandeirantes”
(Mangueira/1971, com Darcy da Mangueira e Helio Turco),
“Dos carroceiros do imperador ao Palácio do
Samba” (Mangueira/1978, com Rubens da Mangueira),
“De Nonô a JK” (Mangueira/1981, com Arroz e
Comprido), “Yes, nós temos Braguinha”
(Mangueira/1984, com Arroz, Comprido, Hélio Turco e
Jajá), “Abram alas que eu quero passar”
(Mangueira/1985, com Darcy da Mangueira e Hélio Turco),
“100 anos de liberdade, realidade ou ilusão”
(Mangueira/1988, com Alvinho e Hélio Turco), “Deu a
louca no barroco” (Mangueira/1990, com Alvinho e
Hélio Turco), “As três rendeiras do universo”
(Mangueira/1991, com Alvinho e Hélio Turco) e “Se
todos fossem iguais a você” (Mangueira/1992, com
Alvinho e Hélio Turco).
OUTRAS
COMPOSIÇÕES: “Vovó Chica”, gravada por Beth
Carvalho no disco Pra seu governo (1974),
“Anunciando o sol raiar”, gravada por João
Nogueira no disco Pelas terras do pau-brasil (1984),
“Folha de Zinco”, gravada pelo Grupo Fundo de
Quintal no disco Ciranda do Povo(1989),
“Transformação”.
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