SAMBARIO - O site dos sambas-enredo

Oriundo da comunidade da Ilha do Governador, Mauricio começou a cantar muito cedo, com 14 anos de idade, no então bloco carnavalesco Boi da Freguesia, que mais tarde se transformou na Escola de Samba Boi da Ilha do Governador. Por ter o pescoço curto, não escapou da brincadeira dos amigos que o chamavam de “Maurício Sem Pescoço”. Do apelido, resolveu criar seu nome artístico: tirou o “pescoço” e substituiu a preposição “sem” pelo numeral que representa a centena. Nascia então o cantor Maurício 100.

Aliás, Maurício foi o primeiro puxador oficial da história da escola de samba Boi da Ilha, onde permaneceu no posto por mais de dez anos. Foi autor de seis sambas na agremiação, todos em parceria com dois compositores bem populares no bairro: Carlinhos Fuzil (seu cunhado) e Marquinhos do Banjo. A partir de 1990, começou a compor também para a União da Ilha, onde venceu sua primeira disputa em 1992, no enredo “Sou Mais Minha Ilha”.

Entre os anos de 1988 e 1992, na escola de cores azul, vermelha e branca, esteve como cantor de apoio de Quinho e de Aroldo Melodia. Com a saída de Aroldo, após o carnaval de 92, Maurício 100 recebeu o convite da direção da União da Ilha para assumir o microfone principal no desfile do ano seguinte. Com “Os Maiores Espetáculos da Terra”, conduziu, pela primeira vez, um samba enredo no Grupo Especial e fez sua estreia fonográfica gravando o samba no disco oficial.

Ainda em 1993, participou da coleção Escolas de Samba Enredo, produzida por Rildo Hora para a gravadora Sony. No CD dedicado à União da Ilha, colocou voz em “Domingo” (Aurinho da Ilha, Ione do Nascimento, Ademar Vinhaes, Waldir da Vala), legendário samba que encantou o público em 1977.

Maurício defendeu na disputa da Beija-Flor de Nilópolis para o carnaval de 1994 o samba vencedor para o enredo “Margareth Mee, a Dama das Bromélias” (Arnaldo Matheus, J. Santos e Almir Moreira). Porém, na avenida, foi apoio de Preto Jóia pela Imperatriz Leopoldinense com o enredo “Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambós e Tabajeres” (samba de autoria de Marcio André, Alvinho, Aranha e Alexandre D’Mendes), ajudando a Rainha de Ramos a conquistar o campeonato em 1994.

Em 1996, além de cantar no Boi e ser apoio na União da Ilha, Mauricio 100 também puxou samba no carnaval de São Paulo, pela Pérola Negra, que havia subido para o Grupo Especial paulistano. O samba “Navegar é Preciso” também de sua autoria, com os parceiros Carlinhos e Marquinhos.

Um momento importante na carreira de Maurício aconteceu em 1999, quando soube que iria conduzir a União da Ilha semanas antes do carnaval, após a saída de Rixxa. Mauricio não estava frequentando a quadra por causa de problemas de saúde de seu filho. Mesmo assim, o presidente da escola, Jorge Tauffie Gazelle, o Peixinho, o convocou para assumir o microfone principal no desfile, junto com o intérprete Roger Linhares. A experiência, segundo Maurício, foi boa, mas também complicada, mas ele e Roger se superaram na condução do samba “Barbosa Lima, 101 Anos do Sobrinho do Brasil” (Bicudo, Djalma Falcão, Ditto e Jotta Erre).

Maurício sempre admitiu que suas maiores influências musicais foram Neguinho da Beija-Flor e Aroldo Melodia. A convivência com Quinho também lhe foi importante, pois aprendeu também a se soltar e a vencer a timidez.

No início dos anos 2000, renovou seu nome artístico para Maurício Maia. Em 2004 lançou seu primeiro CD solo, intitulado “Que Saudade Amor”, com um repertório que mistura sambas românticos e pagodes de raiz. O cantor se apresentava em bares e casas noturnas no Rio de Janeiro acompanhado pelo grupo Maurício Maia & Cia. Também participou da coletânea Sambas de Quadra, dividindo com Ito Melodia a interpretação de “Azul Vermelho e Branco” (Aroldo Melodia e Leôncio), samba-exaltação mais famoso da União da Ilha, cujo refrão Se um dia / eu deixar de desfilar / papai do céu / pela União da Ilha / vou chorar (...) às vezes é gravado como alusivo nos CD’s dos sambas da Ilha.

Seu último desfile pela Ilha foi em 2007. Logo em seguida se afastou para tratar de problemas de saúde. Maurício se converteu à religião evangélica e se retirou do mundo do samba e do carnaval, passando a cantar, compor e produzir canções gospel e louvores, e se apresentando em igrejas.

Maia faleceu em 8 de setembro de 2023 (um dia após completar 53 anos), vítima de tumor cerebral.

Um fato interessante aconteceu durante uma transmissão de carnaval pela TV Globo em 1993. O jornalista e apresentador Fernando Vanucci era conhecido pela célebre frase: “alô, você, como é bom estarmos juntinhos de novo”. O inefável bordão foi utilizado como caco de empolgação por Maurício, em sua estreia como puxador de samba oficial no desfile da União da Ilha. Enquanto entoava o samba-enredo “Os Maiores Espetáculos da Terra”, o intérprete de vez em quando largava um “alô você” no microfone ao longo da avenida, ao que era prontamente respondido com outro “alô você” na transmissão televisiva por Vanucci, âncora da Rede Globo e autor do bordão original.