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Coluna do Rixxa Jr
 
O CARNAVAL NA TV BRASILEIRA

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6 de fevereiro de 2019, nº 37

Inspirado no material fantástico pesquisado, produzido e escrito por Felipe dos Santos Souza sobre "A História das Copas do Mundo na Televisão Brasileira", postado pelo site Trivela nos meses de maio e junho de 2018, me atrevi em tentar contar um pouco da cobertura do carnaval do Rio de Janeiro na TV.

O material cobre desde os primórdios das primeiras transmissões, nos anos 60, até os dias de hoje. A ideia é postar dois  capítulos por semana (já estou com quatro capítulos de frente). Vamos ver se bato a meta de publicá-los antes do carnaval.

Quem foi a melhor nas transmissões carnavalescas: Manchete ou Globo? Na histórica foto, Dr. Adolpho Bloch, o "menino de Kiev" (à esq.); e Dr. Roberto Marinho, o todo poderoso da Vênus Platinada, na inauguração da TV Manchete em 1983. 

CAPÍTULO 1 – Os primórdios 

É

 impossível falar sobre as transmissões de desfile de escolas de samba pela televisão e não retroceder a um período pré-telinha e também não mencionar a imprensa escrita.

A primeira Escola de Samba surgiu no ano de 1926, criada por um grupo de sambistas do Largo do Estácio, antigo e tradicional reduto de admiradores do carnaval e das rodas de samba no Rio de Janeiro. O mentor, o compositor Ismael Silva (1905 – 1978), também alegava para si a autoria do termo ”Escola de Samba”. O nome escolhido para dar à entidade sambística foi Deixa Eu Falar (ou Deixa Falar), a primeira de muitas outras que surgiram logo depois.

Em 1932, o jornal Mundo Sportivo de propriedade do jornalista pernambucano Mário Filho (1908 – 1966), irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues, decidiu organizar e patrocinar o primeiro Desfile de Escolas de Samba, na Praça Onze. A vencedora deste concurso foi a Estação Primeira de Mangueira (em resultado contestado). O Mundo Sportivo encerrou suas atividades antes do carnaval seguinte, mas o sucesso de público fez com que o jornal O Globo assumisse a organização do evento em 1933. Novamente a campeã do concurso foi a Estação Primeira de Mangueira, seguida da agremiação Unidos do Salgueiro em segundo e da Unidos da Tijuca em terceiro lugar no campeonato.

O ano de 1935 estabelece o ponto inicial dos concursos oficiais das escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro. Com o reconhecimento, as entidades carnavalescas ingressam no calendário oficial do carnaval carioca, ganham a sigla GRES (grêmio recreativo escola de samba) e o direito de recebimento de uma verba de ajuda para a confecção dos seus carnavais, chamada subvenção.

Nas décadas de 40/50, as Escolas de Samba completam o ciclo de formação e constituem suas ‘espinhas vertebrais’ básicas compostas pelo enredo, samba-enredo, alegorias e fantasias. Esses itens dão identidade própria às Escolas de Samba.

Rede Tupi, a pioneira das transmissões dos desfiles na TV

A primeira emissora de televisão a operar no Brasil foi a TV Tupi. Inaugurado em 18 de setembro de 1950 pelo jornalista e empresário paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, o Chatô (1892 - 1968), o canal tinha sua matriz geradora na cidade de São Paulo. Chatô também controlava vários outros veículos de comunicação, formando um grande conglomerado, os Diários Associados.

A TV Tupi Rio de Janeiro entrou no ar pouco tempo depois da inauguração da coirmã paulistana, em 20 de janeiro de 1951. A Tupi Rio foi a segunda emissora de tevê a ser inaugurada no Brasil.

A primeira transmissão de televisão dos Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro que se tem notícia aconteceu em 1955. A TV Tupi Rio exibiu a apresentação das 19 agremiações que desfilaram no tablado (ainda não havia o nome de passarela) montado na Avenida Rio Branco, no centro do Rio.

Império Serrano foi a campeã do desfile de 1955, ano em que houve a primeira transmissão de carnaval pela TV brasileira (Crédito: Revista O Cruzeiro e Canal Fábio Freitas)

 A edição do jornal carioca Diário da Noite do dia 19 de fevereiro de 1955 (sábado) noticiava uma programação especial de Carnaval pela Tupi: a cobertura teria início marcado às 20 horas do dia seguinte (domingo, dia 20 de fevereiro). Na segunda, dia 21, o canal transmitiria o Baile do Theatro Municipal a partir das 23 horas. E na terça-feira, dia 22 de fevereiro, às 20 horas, a emissora exibiria o Desfile das Sociedades.

Pela ordem de desfile do dia 20 de fevereiro se apresentaram as seguintes escolas: Unidos do Cabuçu, Unidos do Salgueiro, Índios do Acaú, União do Catete, Unidos da Tijuca, Floresta do Andaraí (não desfilou), Paraíso do Tuiuti, Império da Tijuca, Estação Primeira de Mangueira, Acadêmicos do Salgueiro, Império Serrano, Unidos da Capela, Vai se Quiser, Portela, Beija-Flor, Unidos da Congonha, Aprendizes de Lucas, Unidos do Indaiá, Caprichosos de Pilares e Filhos do Deserto.

Recorte do jornal carioca Diário da Noite (19.02.1955) com a programação de carnaval a ser exibida pela TV Tupi

    A primeira transmissão dos desfiles de escolas de samba pela televisão aconteceu em caráter muito precário em termos de tecnologia, muito diferente do que assistimos hoje em dia.

    O mesmo Diário da Noite, que anunciou a cobertura da Tupi no carnaval de 1955, criticou a jornada em sua edição de 24 de fevereiro, na coluna “TV em Revista”:

CARNAVAL – Preparou a TV Tupi atraente roteiro para os dias de Carnaval. Entretanto, pelo que vimos, a tele-emissora Associada ainda não se encontra tecnicamente preparada para tal empreendimento de tamanha envergadura. Em verdade, porém, não nos foi possível ver a transmissão de Baile do Municipal, como nos préstitos na Avenida. Vimos, sim, o concurso das Escolas de Samba e duas reportagens de rua. Durante o mencionado concurso, sofremos aqui a falta de nitidez de imagem, e mesmo uma certa desordem na exibição das Escolas. Não fosse a promessa da TV Tupi, teríamos comparecido à Avenida Presidente Vargas, para, pessoalmente, ver a famosa iniciativa do Departamento de Turismo. Mas de qualquer maneira, sempre aproveitamos algo da transmissão pela televisão.

     Provavelmente não haja registro das primeiras transmissões de desfiles realizadas pela TV Tupi nos anos 50. Grande parte dos programas de televisão da primeira década de existência da televisão se perdeu no tempo. Como não existia videoteipe (VT) e tudo era transmitido ao vivo, as recordações só são possíveis graças à memória de muitos pioneiros e das raríssimas gravações que ainda resistem ao tempo.

     No final dos anos 50, com o advento do VT, passaria a ser possível a gravação. Isso facilitou muito as produções, principalmente das séries e novelas. Mas como as fitas eram muito caras e, a televisão ainda estava longe de ter as verbas milionárias como tem hoje em dia, a palavra de ordem era reutilizar. Assim, mais uma vez, muita coisa se perdeu no tempo.

      E para piorar a situação, trágicos acidentes castigaram as emissoras de televisão nos anos 60 e 70. Locais com uma quantidade absurda de cabos, fios, lâmpadas e material cenográfico seriam um prato cheio para o fogo. E realmente foi! Nos anos 60 e 70 quase todas as emissoras tiveram momentos de “chamas”.


Anos 60 – TV Continental e a revolução do videoteipe

Chegamos à década de 60, fase marcante para as Escolas de Samba. Primeiro porque é nessa época em que se ampliam as transmissões por outras emissoras de televisão. O período também marca o início dos governos militares no Brasil, que interfere na relação da classe média da sociedade com as entidades carnavalescas. Acuada diante da repressão militar da época, a classe média se sente atraída para os ensaios e desfiles com o chamado “povão”.

A TV Continental (1959 - 1972) passou a transmitir os Desfiles das Escolas de Samba do grupo especial do Rio de Janeiro no ano de 1960. A emissora operava no canal 9 VHF na cidade do Rio de Janeiro, antes capital federal do Brasil e, posteriormente, Estado da Guanabara. A sede ficava no bairro de Laranjeiras.

Fachada da TV Continental, no bairro Laranjeiras, nos anos 60

Fundada pelos irmãos Berardo (Carlos, Murilo e Rubens Berardo, este último deputado federal), o canal pertencia às Organizações Rubens Berardo, que controlava também as rádios Metropolitana e Continental, esta última em Campos dos Goytacazes. A TV Continental foi a terceira emissora inaugurada na cidade, logo após a inauguração da TV Tupi e da TV Rio, nos canais 6 e 13, respectivamente.

A Continental teve seu auge logo no início, um ano após começar a operar. Em 1960, contava com um cast de artistas do porte da cantora Elizeth Cardoso (1920 - 1990) ou dos cantores Agnaldo Rayol e Ivon Cury (1928 - 1995). Para o carnaval daquele ano não havia condições técnicas de se transmitir a apresentação das entidades ao vivo, na íntegra, por ser um evento bastante longo. Notícias coletadas na época davam informação de que os desfiles ultrapassavam 15 horas de duração! A solução foi recorrer aos flashes, como se fazia no rádio, e também como em anos anteriores na Tupi, já que ainda não havia no Brasil as transmissões via satélite.

Tudo isso graças a uma verdadeira revolução chamada videoteipe. O equipamento, mais conhecido como VT, surgiu nos Estados Unidos em 1956, no formato quadruplex. Tratava-se de uma fita de material plástico, muito fina, com uma cobertura de partículas magnéticas usadas para registrar imagens televisivas. A estreia do videoteipe no Brasil aconteceu em 1959, em uma transmissão realizada no Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, pela própria TV Continental.

O novo equipamento facilitou e barateou a produção para a televisão, já que os programas podiam ser gravados e editados previamente, e transmitidos posteriormente. O VT também permitiu que o mesmo programa passasse a ser enviado e colocado no ar por várias emissoras espalhadas pelo Brasil.

Voltando ao carnaval de 1960 e à TV Continental, os cinegrafistas com suas pesadas câmeras RCA TK-11 captavam momentos dos desfiles das escolas e corriam para o estúdio da emissora para que as cenas fossem exibidas durante a programação normal.

“Fique de olho no nove” era o slogan da emissora. Foi o início também do estilo “programação normal e o melhor do carnaval”, que tanta ojeriza provoca nos aficionados pela festa, que querem assistir pela telinha tudo ao mesmo tempo agora

Fique de olho no 9, slogan da TV Continental nos anos 60

 E que privilégio os telespectadores tiveram naquele ano de 1960! O público televisivo acompanhou (lembrando: através de flashes) diretamente da Avenida Rio Branco, o desfile da Portela do presidente Natalino José do Nascimento, o Natal (1905 - 1975), com “Rio, Capital Eterna do Samba” (do compositor Walter Rosa); Acadêmicos do Salgueiro – dos carnavalescos Fernando Pamplona (1926 - 2013) e Arlindo Rodrigues (1931 - 1987), cenógrafos e professores da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro – com “Quilombo dos Palmares” (composição de Anescarzinho, Noel Rosa de Oliveira e Walter Moreira); Império Serrano, com “Medalhas e Brasões” (da legendária dupla Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola) e a Aprendizes da Boca do Mato, com o samba “Rui Barbosa na Conferência de Haia”, de autoria de um jovem compositor nascido em 1938 na cidade de Duas Barras, chamado Martinho José Ferreira, sargento-datilógrafo do Exército Brasileiro, que viria a ser muito conhecido alguns anos depois ao ingressar na ala de compositores da Unidos de Vila Isabel.

Neide e Delegado, eterno casal de mestre-sala e porta-bandeira da Estação Primeira de Mangueira, em 1960.

Império Serrano adentra à avenida, apresentando “Medalhas e Brasões”, no carnaval de 1960.


Memórias de um sargento de milícias: o jovem Martinho da Vila, nos tempos de quartel e de compositor da Aprendizes da Boca do Mato

Natalino José do Nascimento: com um braço só, Natal da Portela estapeava vagabundo, dava a volta pelo mundo mas também fazia o bem

“Rio, Capital Eterna do Samba” foi o enredo da Portela, uma das cinco campeãs do carnaval de 1960 

“Esses revoltosos / Ansiosos pela liberdade / Nos arraiais dos Palmares / Buscavam a tranquilidade (...)”. Primeiro título da história do Salgueiro, em 1960. (Crédito da foto: Site Marcelo Guireli)

O controverso carnaval de 1960

O desfile de carnaval de 1960 foi transmitido pelas TVs Continental, Rio e Tupi. A folia daquele ano seria a última a ter o Rio de Janeiro como Capital da República e trouxe mudanças para o desfile das escolas de samba.

Pelo fato de os desfiles em 1959 terem terminado por volta das 13 horas da segunda-feira de carnaval, dia 9 de fevereiro, a Associação das Escolas de Samba do Brasil (AESB) resolveu dividir as escolas em três grupos.

O Primeiro Grupo, ainda chamado Supercampeonato, com as doze principais escolas, foi realizado na Avenida Rio Branco, na área central da cidade. Um grupo intermediário, ou Segundo Grupo – chamado oficialmente de “Campeonato Câmara do Distrito Federal” – contou com a participação das últimas colocadas no Supercampeonato anterior e das primeiras classificadas no campeonato da Praça Onze em 1959. Essas escolas desfilaram na Avenida Presidente Vargas, num tablado armado entre a Rua Uruguaiana e Avenida Rio Branco.

O desfile do grupo inferior, ou Terceiro Grupo, com as demais entidades, foi chamado de “Campeonato Departamento de Turismo e Certames", e aconteceu também na Praça Onze.

A apuração das notas do julgamento do Supercampeonato aconteceu no dia 03 de março, quinta-feira. A informação de que, de acordo com o regulamento, todas as escolas, com exceção dos Acadêmicos do Salgueiro, perderiam pontos por terem atrasado o início de seus desfiles gerou uma enorme briga, envolvendo sambistas, funcionários do Departamento de Turismo e a polícia presente.

O responsável pelo atraso de Portela e Mangueira não havia sido a direção dessas escolas, mas sim a organização do desfile. A imprensa da época descreve que a chuva ajudou a tumultuar toda a Av. Rio Branco e que a má organização permitiu que a pista fosse invadida diversas vezes. Ocorreu até um tumulto envolvendo as TVs que tentavam transmitir o espetáculo e a pancadaria do policiamento contra os espectadores. Ao perceber que a violência estava sendo gravada, os policias passaram a espancar os cameramen, aumentando ainda mais a confusão em pleno desfile.

Acalmados os ânimos, resolveu-se apurar somente os pontos positivos, deixando a questão dos pontos negativos para uma ocasião posterior. Dessa forma, a Portela foi declarada campeã, lugar que caberia ao Salgueiro, caso o regulamento fosse aplicado. No dia seguinte, em nova reunião, as cinco primeiras colocadas (Salgueiro, Portela, Mangueira, Império Serrano e Unidos da Capela) decidiram em consenso anular o julgamento e dividir entre elas, em partes iguais, a premiação do concurso. O carnaval de 1960 teve, portanto, CINCO campeãs!

Nesse ano os desfiles das escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro ainda não chamavam a atenção da classe média da sociedade, que só teve seu interesse despertado para esse tipo de evento, a partir do momento em que começou a se ver na tela da televisão, a ser representativo dentro daquela realidade, desfilando com caras fantasias de destaques no alto dos carros alegóricos, e até mesmo fazendo parte da direção de harmonia das agremiações, pois muitos ajudavam financeiramente a escola (comprando comida para o barracão, por exemplo).

Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, carnavalescos do Salgueiro nos anos 60.

É também em 1960, que essa nova demanda com a participação dos meios de comunicação de massa acabou levando a construção de arquibancadas para assistir ao desfile (antes o público era separado apenas por corda das Escolas), o que foi um passo para a cobrança de ingressos de lugares para os admiradores das escolas assistirem aos desfiles, o que acabou acontecendo mais precisamente no ano de 1962. 

Carnaval do Rio Quatrocentão

O carnaval de 1965 foi celebrado de 27 de fevereiro a 3 de março e marcou a comemoração dos cariocas pelos 400 anos da cidade do Rio de Janeiro. Tornou-se o primeiro registro jornalístico da TV Globo, antes mesmo de sua inauguração, em abril daquele ano. Sob a direção de Roberto Farias (1932 - 2018), a equipe de jornalismo global, ainda em fase experimental, mostrou a festa do povo nas ruas, o desfile das escolas debaixo de chuva, as beldades nos bailes do Theatro Municipal e o lança-perfume, depois proibido. O material foi exibido pelo Jornal Nacional no dia 2 de janeiro de 2015, ano em que a cidade do Rio de Janeiro completou 450 anos, e a Globo comemorou seu cinquentenário.

Os 26 minutos de imagens, registrados em filme 16mm, passaram por um processo de restauro. Um laboratório francês com experiência na recuperação de filmes antigos concluiu que a tarefa não seria possível, mas uma equipe do Rio de Janeiro aceitou o desafio. Foi um trabalho artesanal que demorou um ano para ser concluído. A única cópia não tinha condições de rodar em uma máquina porque tinha deformado e perdido as faixas nas laterais. Foi necessário refazer 312 metros de borda e mais de 50 mil perfurações. Caso contrário, não poderia ser digitalizado.

Reportagem de Mônica Sanches com imagens de acervo sobre a primeira cobertura do jornalismo da Globo, realizada no ano de 1965, ano de aniversário de 400 anos do Rio de Janeiro, Jornal Nacional, 02/01/2015. Assista neste link

Enquanto a estrela global subia, a estrela continental começava a entrar em decadência. Apesar de a TV Continental possuir um elenco estelar e ter marcado época em cobrir o carnaval, a emissora logo entrou em crise. Salários atrasados e uma precariedade técnica e artística se refletiam na tela. O quadro se agravava: atores esqueciam os textos, cenários caíam, lâmpadas estouravam no palco. 

Em 1970, a Continental entra em falência e dois anos depois o Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações), antigo órgão executivo do Ministério das Comunicações, extinto com a criação do super Ministério da Infraestrutura, em 1990, pelo Governo Collor, cassa a concessão da empresa.

As transmissões no canal 9 carioca só voltariam a partir de 1982, quando o canal se constitui na TV Record Rio de Janeiro, de Silvio Santos. Em 1987, ainda sob o comando de Sílvio e integrando o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), muda de nome para TV Copacabana, assumindo no mesmo ano o nome definitivo TV Corcovado, que em 1992 é vendida para as Organizações Martinez, passando esse canal a ser a Rede OM Rio, atual CNT Rio.

Outro meio audiovisual que divulgava o carnaval era o Canal 100, um cinejornal fundado pelo produtor e cineasta carioca Carlos Niemeyer (1920 - 1999) no ano de 1957. O Canal 100 era exibido nas salas de cinemas, antes do filme principal. Durante cinco décadas o cinejornal foi exibido semanalmente por todo o Brasil e realizava, sobretudo, documentários cinematográficos de eventos importantes do país e do futebol.

Imagens do carnaval carioca de 1965, produzidas pelo Canal 100, quando o Rio de Janeiro completava 400 anos. São mostrados os desfiles de escolas de samba, os bailes nos salões e os concursos de fantasia. A narração é de Cid Moreira.

Fotograma do Canal 100 nos anos 60. Por quase 50 anos, o cinejornal (exibido semanalmente nos cinemas antes do filme principal) apresentava documentários de eventos, como o futebol e o carnaval.

Em meados da década de 70, a televisão a cores chega ao Brasil e, como consequência disso, uma revolução estética na transmissão dos desfiles das Escolas de Samba. É nessa década que surge também o mecenato do jogo do bicho, uma nova interferência nas escolas, muito comum até hoje no interior das grandes agremiações.

Mas isso é assunto para o próximo capítulo.

Referências

FREITAS, Fábio. Os desfiles no tablado - 1953 - 1959. Youtube, 19 de março de 2022. Disponível em: <https://youtu.be/JdrgBYVDAyA> Acesso em 20 mar. 2022.

SOUZA, Cássia Helena Glioche Novelli. O desfile das escolas de samba na televisão: vinte anos de sambódromo. Monografia apresentada como exigência parcial do Curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá – Habilitação Jornalismo. Orientadora: Profa Dra Beatriz Schmidt. Rio de Janeiro. 2004.

REVISTA VEJA, Edição 402, de maio de 1976 - página 102

PORTAL MULTIRIO. A história dos desfiles das escolas de samba. Disponível em  http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/8651-a-historia-dos-desfiles-das-escolas-de-samba Acesso em 17 de janeiro de 2017.


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