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O CARNAVAL NA TV BRASILEIRA
. 1º Capítulo: Os Primórdios (anos 60) . 2º Capítulo: Do Preto e Branco o Homem Coloriu (anos 70) . 3º Capítulo: A Era da Televisão – Anos 80 (1ª Parte - 1980-1983) . 4º Capítulo: Aconteceu, virou Manchete – Anos 80 (2ª Parte: 1984-1987) 19 de fevereiro de 2020, nº 41 CAPÍTULO 4 – ACONTECEU, VIROU MANCHETE – Anos 80 (2ª parte)
Aconteceu,
virou Manchete por aí “Aconteceu, virou Manchete” (Ney do Cabuçu,
Jadir, Carlinhos Madureira e Roberto Gamação) – Samba-enredo da SERES Unidos do
Cabuçu 1991.
uem
tem mais de 35 anos, é um aficionado por carnaval e ainda suspira de saudosismo
pelo capricho e carinho com que eram dedicados as transmissões da maior festa
popular brasileira volta e meia repete o refrão: que saudade da Manchete! Assistir
carnaval pela emissora da família Bloch era ao mesmo tempo um ato político e
religioso. Político por ser uma alternativa à transmissão da toda poderosa TV Globo:
perfeccionista sim, mas com um quê de frieza e distanciamento. E uma religião,
pois quem se ligava na Manchete acompanhava (ou tinha a intenção de acompanhar)
a programação carnavalesca do primero ao último minuto. A entrada no ar da emissora da Rua do Russell, no
bairro carioca da Glória, provocou um verdadeiro turbilhão na cena televisiva
brasileira. A Manchete incomodou sim a Rede Globo e a fez sair da zona do
conforto. Conforme escreveu Elmo Francfort, no livro “Rede
Manchete – Aconteceu, virou história”, a emissora foi um cometa que passou pela
história. “A Manchete deixou bem claro na história da televisão que aqui esteve
para se transformar em uma grife de televisão de qualidade, de credibilidade,
profissionalismo, capricho, criatividade e ousadia. Esteve na busca eterna de
seus ideais, na superação dos limites e também acabou abusando. Promoveu a
cultura e o debate em suas coberturas, mas passou da mais tecnológica emissora
do país à que precisava mais urgentemente da renovação dos seus equipamentos (...)”. Ao contrário do SBT, que almejava a “liderança absoluta
no segundo lugar”, a Manchete queria incomodar o ibope provando que era
possível produzir uma programação sofisticada, diferenciada, classe A para o público
brasileiro. E por alguns rounds conseguiu vencer a queda de braço televisiva! Afinal,
a Manchete queria ser a emissora do século XXI, a TV do novo milênio. A
TV do ano 2000 A Rede Manchete apresentou-se como “a TV do ano 2000” –
seu primeiro slogan. Com mais de 70 anos de idade, Adolpho Bloch (1908 - 1995) era
contra a ideia de se aventurar em um novo meio. Dizia que seu negócio era o
mercado editorial, onde já fazia sucesso, e acreditava que uma emissora de televisão
representaria desperdício de dinheiro. Foi depois de muitas discussões que
chegou à conclusão de que era necessário entrar na mídia eletrônica, seguindo o
caminho percorrido por todos os tradicionais veículos impressos. Partiu para a
concorrência dos canais e ganhou. Também enveredou-se nas ondas do rádio, comprando a
Rádio Federal AM do Rio de Janeiro, que seria transformada em Manchete AM, e
outras emissoras em capitais brasileiras. Em 1981, após ganhar as concessões, Adolpho Bloch
começou a tirar do papel os projetos da Rede Manchete. Aplicou dinheiro na
compra de um terreno de 300 mil metros quadrados no bairro carioca de Água Grande
e pediu ao amigo Oscar Niemeyer que projetasse um segundo prédio no terreno, ao
lado do Edifício Manchete (Rua do Russel, 804). Em 1982, teve início a construção do prédio da
televisão, com entrada pelo nº. 766. Os dois prédios pareciam um único por
causa da mesma altura e do estilo da fachada, em aço e vidros escuros. Foram
encomendados também outros projetos para as demais sedes da Manchete em São
Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e Recife. Ainda estava sendo negociado com
Niemeyer o projeto da construção de um centro de produção da TV Manchete na
Barra da Tijuca, a Cidade da TV, englobando uma área de 100 mil metros
quadrados, que seria inaugurado em 1985, que acabou não se concretizando.
Bloch desembolsou 50 milhões de dólares para o
desenvolvimento inicial da rede, sendo 27 milhões para a compra de
equipamentos, 12 milhões para compra de filmes e o restante em pessoal e demais
despesas, cifras altíssimas mesmo para os dias de hoje. O investimento em filmes
representava o maior lote de superproduções já adquirido pela televisão
brasileira até aquela data. Eram filmes que só poderiam ser exibidos três vezes
no espaço de dois anos. O Teatro Adolpho Bloch foi desativado para
transformar-se em auditório da televisão. O show inaugural seria realizado ali,
com direção do cineasta Nelson Pereira dos Santos (1928 – 2018), considerado
pai do Cinema Novo brasileiro. A Manchete firmou alguns acordos na ocasião,
fechando parcerias com as principais agências de notícias internacionais para reforçar
seu telejornalismo. Firmou contrato também com sua primeira afiliada, a TV
Pampa de Porto Alegre. A agência de publicidade DPZ ficou responsável pela
criação do icônico logotipo da nova emissora: o M de Manchete era composto de
cinco esferas e quatro cilindros, cada esfera significando uma das cinco
emissoras da rede.
Bloch poderia perder os canais se não colocasse a
programação no ar dentro de dois anos após a assinatura das concessões. Começou
então uma corrida contra o relógio, até mesmo porque os cuidados no
planejamento da Manchete atrasavam a estreia. Na sexta-feira, 13 de maio de
1983, às 15h27, a Rede Manchete gerava seu primeiro sinal de teste, prometendo
o mais perfeito padrão de imagem, uma qualidade incomparável com a dos demais
canais. Por essa razão, Rubens Furtado anunciou à mídia que primeiro entrariam no
ar os canais do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Os de Fortaleza e
Recife entrariam até outubro por causa de problemas técnicos a serem
solucionados. É divulgada a data de 29 de maio às 19 horas para a
grande estreia. Duas semanas antes, a inauguração foi transferida para o
domingo seguinte, 5 de junho, para que tudo estivesse funcionando nos mínimos detalhes.
Bloch começou, então, uma divulgação maciça das emissoras nas publicações do
grupo. Só a Revista Manchete, na semana da inauguração, publicou três anúncios
com o logo da emissora, dois no rodapé e um de duas páginas, em cores,
anunciando a estreia da TV Manchete. Na semana seguinte, um encarte, dentro da
revista, mostrava tudo sobre a inauguração, fornecendo razões para que a
Manchete fosse assistida. Estava tudo pronto para que a moderna e sofisticada “televisão
do ano 2000” entrasse no ar. A TV Manchete entrou no ar, oficialmente, em 5 de junho
de 1983, às 19 horas. Entrou o top de 8 segundos e surgiu Adolpho Bloch, sem áudio.
Sua imagem saiu do ar, dando lugar ao primeiro comercial da emissora. A imagem
foi um espaço vazio e escuro, onde aos poucos aparece um homem de smoking,
carregando em cada uma das mãos uma lata de Lubrax-4 (óleo lubrificante da
Petrobrás), e anunciou: “Lubrax-4 saúda a entrada da TV Manchete”. O comercial
retornou à programação inaugural nos intervalos seguintes.
A TV Manchete começou a se consolidar, ainda no ano de
1983, como uma nova opção de qualidade na televisão brasileira, e se manteve, entre
altos e baixos nessa sua primeira fase, até 1988. Os destaques dessa época foram programas como o musical
Bar Academia (com Walmor Chagas), o infantil Clube da Criança (com Xuxa e
depois com Angélica), os jornalísticos Conexão Internacional (com Roberto
D’Ávilla) e Jornal da Manchete, a revista eletrônica Programa de Domingo e o
programa de clipes musicais FM TV (um dos pioneiros do gênero na televisão
brasileira). O FMTV, que durou de 1984 a 1986, teve entre os
apresentadores o radialista Marco Antônio (que se tornaria conhecido depois como
Marcão Rodrigues), na época com apenas 18 anos de idade; um jovem humorista de
nome João Kleber; e uma atriz novata chamada Patrícia Pillar, que recém havia
estreado em cinema, contracenando com o compositor Djavan no filme “Para viver
um grande amor” (1983). O programa, aliás, reuniu profissionais de elevadíssimo
nível na produção e na parte técnica: a abertura, feita em design gráfico, fora
criada por Renato Lage; a produção era de Marlene Mattos; a direção-geral de Maurício
Sherman (1931 – 2019), e o redator responsável pelas falas dos apresentadores era
Paulo Coelho. Sim, ele mesmo, o “mago” e imortal da Academia Brasileira de
Letras. As vinhetas de abertura e encerramento tinham como trilha sonora a
música “Borderline”, sucesso de uma cantora norte-americana emergente de nome Madonna. Do lado esportivo, nasceu o programa Manchete Esportiva,
com Paulo Stein e Márcio Guedes, e entrou no ar o Toque de Bola, aos domingos,
com os dois apresentadores e mais uma dupla: Alberto Léo (1950 - 2016), e João
Saldanha (1917 - 1990). Na teledramaturgia, a Manchete contratou autores,
atores e diretores, muitos vindos da Tupi, da Globo e do núcleo da
Bandeirantes. Passaram a fazer minisséries. A primeira foi Marquesa de Santos (1984),
com Maitê Proença e Gracindo Júnior, que alcançou média de 7 pontos, colocando
a Manchete apenas atrás da Globo e SBT, no Ibope. Os
110 dias entre a maquete e a realidade: a polêmica construção do Sambódromo e o
carnaval de 1984 Primeiro ato. Durante anos a fio, entre os meses de
setembro e outubro, a Marquês de Sapucaí começava a receber as arquibancadas
para o Carnaval. Eram feitas de tubos pela empresa responsável chamada Mills.
As estruturas permaneciam montadas até abril, para logo após haver o desmonte.
Eram milhões de cruzeiros gastos pelos cofres públicos com o monta-desmonta. Em março de 1983, assume o Governo do Rio de Janeiro o
gaúcho Leonel Brizola. A menor de suas preocupações era o carnaval de 1984. O novo
mandatário encontrara um Estado falido, pois o governador biônico anterior –
Chagas Freitas – tinha deixado uma bomba-relógio: a paridade dos aposentados,
que até então recebiam muito menos do que os servidores da ativa. Paridade que
começava (por coincidência ou não) justamente no primeiro mês de governo do
primeiro governador eleito pelo voto depois da ditadura. Foi um baque e tanto na folha de pagamentos, resolvido
com a criatividade possível: o pagamento, que era no início do mês passou para
o final e os cargos comissionados – perto de 15 mil – a serem preenchidos,
ficavam retidos na burocracia real e na inventada, porque Brizola passou a só
nomear quando o indicado tinha currículo completo, inclusive com foto 3×4, o
que adiava, adiava… e economizava um ou dois salários. Além disso, o Banco do Estado tinha acabado – dias
antes da posse de Brizola – de ser forçado a assumir o aval dos empréstimos – impagáveis
– feitos para construir o Metrô do Rio de Janeiro. E como desgraça pouca é bobagem, tomava conta do país
uma onda de saques, feita por provocadores e que se alastrava com as condições
de extrema miséria do nosso povão. E o carnaval, onde entra? Os meses de agosto e setembro chegaram e o tempo para os
preparativos do carnaval seguinte encurtava. Por determinação do governo, não
haveria mais a instalação das arquibancadas. Brizola sabia do potencial
turístico, econômico e cultural do carnaval carioca – que rende milhões para os
cofres públicos –, mas queria estancar o desperdício de dinheiro público com o
monta-e-desmonta das arquibancadas da Sapucaí. Como seria isso? Com a
construção de um palco definitivo para o carnaval com arquibancadas fixas e
perpétuas. Segundo ato. Entra em cena o Bloco do Desvario: à
ousadia de Brizola, juntam-se a teimosia do vice-governador Darcy Ribeiro (1922
- 1997), a genialidade de Oscar Niemeyer (1907 - 2012) e a competência de um
engenheiro calculista chamado José Carlos Sussekind, que era quem tinha de
fazer acontecer os delírios da trinca. A Passarela do Samba foi da maquete à realidade em
exatos 110 dias.
Foi
uma verdadeira saga, uma epopeia. A construção do
Sambódromo daria um enredo que poderia gerar um autêntico
samba-lençol dos anos
50 e 60, ao estilo das letras quilométricas de Silas de
Oliveira, Geraldo
Babão, Candeia ou Bide. O final do ano no Rio de Janeiro foi chuvoso e
atrapalhou demais a fase das fundações, já complexa porque o terreno era pouco
sólido e ali embaixo passava um rio. Mas como a maioria das estruturas era
pré-moldada fora dali, e apenas os suportes laterais e intermediários era concretados
no local, as coisas de fato aconteceram. No dia a dia quem tocava a obra era o
arquiteto João Otávio Brizola, sob a orientação de Sussekind, que apertava as
empreiteiras: se a obra não andar, não há pagamento. Terceiro ato. O desafio político. Brizola passou a ser
tratado como um louco pela mídia, que jogava o governador contra a opinião
pública, alegando que a obra não iria sair e que era uma inutilidade. E o fogo
– nada amigo – partia dos lados do Jardim Botânico. Uma charge, publicada pelo jornal
O Globo, retratava Brizola como Odorico Paraguassu, o folclórico prefeito da
novela “O Bem Amado”, de autoria do dramaturgo Dias Gomes (1922 - 1999), e o
Sambódromo correspondia ao cemitério de Sucupira, jamais inaugurado por falta
de mortos. Os críticos da época diziam que o arco da Praça da
Apoteose iria cair. Quando não caiu, disseram que ninguém conseguiria ouvir o
samba, por causa do eco. Houve até quem admitisse que a pista fosse afundar,
porque havia – e há – um rio passando abaixo. Para quem acha que fake news é invenção da turma das redes
sociais da segunda década do século 21 é porque não sabe os apuros pelos quais
Brizola passou.
Com uma área construída de 85 mil metros quadrados, dos
quais 55 mil m² sustentados por estruturas pré-moldadas in loco, o Sambódromo
consumiu 17 mil m³ de concreto. Niemeyer o definia como uma “estrutura leve,
intencionalmente repleta de vãos, para ser ocupada pelo povo”. Uma obra
imponente. A pista de concreto da Marquês de Sapucaí mede 700
metros de extensão e 13 metros de largura. A capacidade, quando de sua
inauguração em 1984, era de 60 mil espectadores. Após a reforma ocorrida em
2012, foi ampliada para 72.500 pessoas. A estrutura serviu para a canalização
de um canal que passava pela região do Sambódromo e era alvo constante de
enchentes. A obra também ajudou a readequar o trânsito da cidade do Rio de
Janeiro na região. Tudo construído entre o final de outubro de 1983 e o final
de fevereiro de 1984. Naquele ano, o desfile das escolas de samba ocorreu no dia
2 de março – data considerada como a da inauguração oficial do Sambódromo. O projeto original idealizado por Darcy Ribeiro
consistia que a Passarela do Samba servisse ao carnaval enquanto Sambódromo.
Fora do período momesco, os camarotes do complexo carnavalesco cediam lugar aos
CIEP’s – Centros Integrados de Ensino
Público, um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de
assistência em tempo integral a cinco mil crianças (!), incluindo atividades
recreativas e culturais para além do ensino formal - dando concretude aos
projetos idealizados décadas antes por Anísio Teixeira. Uma ousadia que a elite
jamais perdoou. Exclusividade
da Bloch e boicote global A perseguição implacável ao Governo Brizola (1983 -
1987) por parte da Rede Globo jamais cessou. Como diria o samba “O boi dá
bode”, da Estácio de Sá (1988): “boicote em todo lugar”. Era boicote à obra, à
inauguração do complexo, amedrontamento da população espalhando notícias
inverídicas (as hoje propaladas fake news)
pondo em xeque a segurança da estrutura e das pessoas que, naquele ano, iriam
assistir ao primeiro desfile das escolas de samba na nova passarela. Outro boicote teria sido que, com a construção da
Passarela do Samba, o carnaval teria uma importante mudança e uma nova
configuração: até então, os desfiles do Grupo Especial eram realizados somente
no domingo de Carnaval, com longa duração. A nova configuração oferecia
desfiles no domingo e na segunda, como acontece até hoje. A versão que ficou para a historia foi de que a Globo
não concordou com a mudança, que atingiria a sua indelével e “imexível” grade
de programação. Em especial, afetaria o principal telejornal (Jornal Nacional)
e o principal produto da casa no que dizia respeito à audiência (a novela das
oito). Assim, a desistência da emissora da família Marinho fez com que a TV
Manchete – com menos de um ano de existência – adquirisse os direitos
exclusivos de transmissão dos desfiles de Carnaval do Rio de Janeiro. Pela
primeira vez em quinze anos, o principal espetáculo momesco do país estava
fora da Globo. No entanto, não foi “apenas” isso. A questão envolvia
muito mais do que apenas a mudança na programação. Conforme ocorriam as
negociações de direitos de transmissão, houve atritos entre a Globo, na pessoa
do todo poderoso superintendente Boni, e o vice-governador Darcy Ribeiro, homem
forte do governo estadual e um dos pais do Sambódromo. A Globo não acreditava em Carnaval de dois dias e
discordava da proposta de cálculo de pontos para definir a escola campeã e de
aspectos como a Praça da Apoteose, pelo absurdo que ela representaria se
utilizada como proposto. Darcy a havia imaginado como um local no qual as
escolas, após desfilarem, fariam uma espécie de giro e passariam por dentro de
si mesmas. A discordância foi um dos motivos para a Globo não fazer
questão de transmitir os desfiles naquele ano. Além disso, questões internas de
produção, como equipamento comprometido com a produção de outras atrações,
espaços comerciais já vendidos para uma grade que não considerou os desfiles
quando negociada e a percepção de que o investimento no Carnaval daquele ano
poderia não compensar. Os direitos exclusivos da transmissão do carnaval
carioca de 1984 custaram à Manchete a quantia de 210 milhões de cruzeiros. Houve boatos na época de que a Globo na última hora
tentou dividir a transmissão, mas foi tarde demais. Segundo Boni em “O Livro do
Boni”, a Manchete “passou a perna” na empresa do Jardim Botânico: "O governo, com o Sambódromo na mão, assumiu a negociação dos direitos. A coisa foi engrossando
e, pressionado, achei uma saída: combinei com o Moysés Weltman (então diretor
de programação da Manchete), que ele compraria o Carnaval sozinho e depois
repassaria a minha parte. Esse compromisso foi assumido pedra e cal, depois
dele ter consultado o Adolpho Bloch. Uma vez assinado o contrato, no entanto, o
Weltman não me atendia mais, e o Bloch não respondia nenhum telefonema do dr.
Roberto Marinho, que declarou guerra ao Adolpho Bloch. Ficamos fora do
Carnaval”. A posição pública da Globo foi de desdém e alegou
“motivos técnicos” para declinar da transmissão. Internamente, porém, a
emissora líder lamentou o incidente. GLOBO Ao abrir mão da transmissão dos desfiles das escolas de
samba, a Globo decidiu cobrir o Carnaval com entradas jornalísticas ao longo da
programação. Os repórteres sempre citavam o manjado slogan: “Rede Globo:
programação normal e o melhor do Carnaval”. Todavia, essa programação não foi
tão normal assim. Foram escalados, principalmente, filmes arrasa-quarteirão
para tentar fazer frente ao que era mostrado pela concorrente na Sapucaí. Rede
Globo: programação normal e... o melhor do Carnaval? Na noite de domingo, 4 de março, primeira dos desfiles,
foram ao ar na Globo o Fantástico e “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”,
na sessão Cinema Especial. Na sequência, “Adorável Pecadora”, com Marilyn
Monroe, no Domingo Maior. Tanto o Fantástico quanto o filme estrelado por Faye
Dunaway e Warren Beatty perderam feio para a Manchete. Foi a primeira vez que a
revista eletrônica dominical criada em 1973 perdeu de ponta a ponta. Mas só na
praça do Rio; no resto do Brasil, a Globo não só venceu como registrou índices
melhores do que os de 1983, com o próprio Carnaval. Ao passo que a Manchete, aos oito meses no ar, atingia
69% da audiência carioca contra 8% da Globo. Já pela madrugada de
segunda-feira, a Coruja Colorida trouxe “Os Aventureiros do Ouro”, com Lee
Marvin. Na segunda-feira, dia 5, a Globo exibiu normalmente a
novela das 20h, "Champagne", de Cassiano Gabus Mendes. Logo depois, reprisou o
Roberto Carlos Especial de 1983 e exibiu o filme “Os Doze Condenados”, também
com Lee Marvin. Depois veio “Síndrome da China”, com Jane Fonda, Jack Lemmon e
Michael Douglas, na Coruja Colorida. Pela primeira vez foi adotado no desfile o
esquema de divisão em duas noites, em vigor até hoje. Na terça-feira, dia 6 de março, depois da novela foi a
vez da reprise de um especial de Elba Ramalho. O show “Coração Brasileiro”
havia sido exibido anteriormente em dezembro de 1983. O Cinema Especial teve
como atração outro filme com Faye Dunaway, “Rede de Intrigas”, que contava no
elenco com William Holden, Peter Finch e Robert Duvall. Na manhã da segunda e da terça de Carnaval, com os
desfiles ainda em andamento, os números foram impressionantes. A favor da
Manchete, claro. A emergente emissora cravou 38 pontos na segunda e 58 na terça
(com o desfile da Mangueira, que homenageava o compositor Braguinha). Só para
ilustrar, na Globo ia ao ar na mesma hora, por volta de 8h30, o infantil “Balão
Mágico”. Pouco lembrada hoje, "Voltei pra Você", de Benedito Ruy
Barbosa, foi a única das três novelas exibidas pela Globo a ganhar da Manchete
na segunda e na terça de Carnaval de 1984. Atração das 18h, a história do amor
de Pedro (Paulo Castelli) e Liliane (Cristina Mullins) em meio às disputas de
terras em Minas Gerais marcou 39 pontos na média dos dois dias em questão, ao
passo que a Manchete ficou em 27 – no horário em que a Manchete reprisava, em compacto,
os desfiles das noites anteriores no Sambódromo do Rio de Janeiro.
Na segunda, a novela das 19h, "Transas e Caretas", de
Lauro César Muniz, perdeu para a Manchete no Rio por 40 a 29. O Jornal Nacional
e Champagne registraram 28 contra 46 da concorrente, que colocava no ar o
desfile da noite. Logo após, Roberto Carlos e o começo do filme renderam 15
pontos contra 56 da Manchete. A situação melhorou para a Globo na noite de
terça-feira, quando a média elevou-se para 44 com as novelas no ar. No entanto,
havia ainda pela frente a apuração, realizada na noite da terça. “Foi uma
lavada”, como o próprio Boni admitiu em seu livro:
“No Rio, a Manchete deitou e rolou na
audiência, mas, no resto do Brasil, sem Carnaval, a
programação da Globo cresceu em relação aos
anos anteriores. Essa é a verdade completa da história. O
Brizola, de forma demagógica, tentou inventar que a Globo quis
boicotar o Sambódromo. Uma infantilidade. Não
iríamos perder o evento por causa disso.” Desde então, nunca mais a Globo deixou de transmitir o
Carnaval, não raro com exclusividade. MANCHETE
Narração: Paulo
Stein Comentários:
Fernando Pamplona, Roberto Barreiras, José Carlos Rego, Albino Pinheiro,
Haroldo Costa, Sérgio Cabral, Maria Augusta. A transmissão teve narração de Paulo Stein e
comentários de Fernando Pamplona, Haroldo Costa, Sérgio Cabral, Albino Pinheiro,
José Carlos Rego, Maria Augusta, entre outras feras, oriundas da transmissão da
TV Bandeirantes, feita no ano anterior, e da revolucionária equipe das 80 horas
de carnaval da TVE-RJ (1980-1982), como vimos no Capítulo 3 desta série. A direção ficou por conta de Weltman,
Maurício Sherman e Mauro Costa (1939-2011). A Rede Manchete dedicou toda a sua programação ao
Carnaval, transmitindo os desfiles e os bailes, passando compactos durante o
dia, fazendo debates e programas especiais. O slogan era “Carnaval Total,
Carnaval Brasil”. Mas dois fatos marcaram bastante o período pré-caranvalesco
da Manchete: um festival de música e um strip-tease. Festival
Manchete/Riotur de música carnavalesca A chegada da TV Manchete também reativou (ou reacendeu)
os festivais de músicas carnavalescas. Entre o dia 4 de dezembro 1983 e a 2 de fevereiro
de 1984, sempre às quartas-feiras, das 22h15 à meia-noite e 15 minutos, foi
realizado o 1º Festival Manchete/Riotur de Músicas de Carnaval, uma promoção da
emissora com a Empresa de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro. O concurso consistia em selecionar seis músicas em cada
uma das cinco eliminatórias (4, 11 e 18 de dezembro e 1 e 8 de janeiro). As três
semifinais (15, 22 e 29 de janeiro), classificavam cinco músicas cada. As
etapas classificatórias (gravadas) aconteceram no Teatro Adolpho Bloch. A grande
final aconteceu no dia 2 de fevereiro, no Theatro João Caetano, no Rio, e foi
transmitida ao vivo. Todas as fases do Festival foram apresentadas por Jacyra
Lucas, Luis Santoro, Terezinha Sodré e Roberto Canázio. O júri do Festival Manchete/Riotur também era formado
por nomes importantes do cenário cultural carioca: Albino Pinheiro, Haroldo
Costa, Maurício Sherman, Arlindo Rodrigues, Ivã Paulo da Silva – o Maestro
Carioca (1910-1989), os jornalistas Eli Halfoun (1946-2016) e Tarlis Batista (1939-2002),
a cantora Emilinha Borba (1923-2005), o produtor e compositor Hermínio Bello de
Carvalho, o produtor artístico Guilherme Araújo (1936-2007), o músico Antônio
Adolfo, o apresentador, produtor e polemista de marca maior Carlos Imperial (1935-1992),
e os compositores Herivelto Martins e Alcyr Pires Vermelho (1906-1994), que se
revezaram na presidência de honra do júri nas etapas classificatórias. A música
vencedora da primeira edição foi “Vagalume”, uma marcha-rancho composta por Braguinha
(1907-2006) e César Costa Filho.
O Festival Manchete/Riotur ainda teve mais duas edições,
realizadas em 1985 e 1986. Oas concursos tiveram total apoio e entusiasmos de
Adolpho Bloch, que até concorreu em 1985, com a marcha “Rainha de Sabá”, feita em parceria com Carlos Cruz e Carlos Heitor
Cony, defendida por Emilinha Borba. No entanto, a vitória foi para o samba “Sorria, o carnaval chegou”, de Mauro
Diniz, Cleber Augusto e Sereno, interpretado pelo conjunto vocal As Gatas. Strip
tease e contagem regressiva Outro fato que marcou época no pré-carnaval de 1984 e
na história da propaganda brasileira envolveu uma das estrelas do primeiro time
da recém-inaugurada TV Manchete. A jornalista Íris Lettieri já tinha uma trajetória
consagrada no segmento da comunicação. Primeira mulher a atuar como locutora de
telejornais no País já no final dos anos 50, Íris é dona de uma voz de
inconfundível timbre grave e aveludado, com uma dicção perfeita, passando uma
sensação de tranquilidade e até mesmo sensualidade. Anos depois se tornou “a voz do aeroporto”, pois desde
a década de 1970 é a locutora oficial do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio
de Janeiro, do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e outros. Íris Lettieri foi uma das primeiras apresentadoras do
Jornal da Manchete, em 1983, que em seus primeiros meses era transmitido por três
horas. Íris apresentava, junto com Jacyra Lucas, as notícias de cultura e
entretenimento. Em 1984 passou a entrar no ar, como apresentadora do Manchete
Panorama, e ainda participou do Programa de Domingo, da mesma Rede Manchete. Tendo como mote uma contagem regressiva de 30 dias para
o carnaval de 1984, a empresa Lubrax convidou a locutora para estrelar uma
série de comerciais do óleo combustível da companhia. Todo dia, assim que
acabava o Jornal da Manchete, entrava o filme “Lubrax Informa: faltam xx dias pro Carnaval 84”. A bem-humorada peça publicitária consistia em
aproveitar a aura de sensualidade que a dona daquela voz emprestava ao
imaginário popular, simulando um strip-tease. A locutora, que a um mês do
carnaval aparecia sentada em uma bancada de estúdio de TV completamente vestida,
tirava uma peça de roupa a cada dia que passava, informando com uma voz
“quente” que faltavam “tantos” dias para o carnaval 84. Assim, Irís foi tirando os brincos, a echarpe, o colar,
o tailleur, os óculos, os sapatos, as
meias, a blusa...
Quando faltava 1 dia para o carnaval, Íris – que na
época tinha 42 anos de idade, e estava no auge de sua beleza já madura – apareceu
sentada em uma cadeira giratória de escritório simulando estar nua, com o
encosto da cadeira virado para frente tapando-lhe o corpo. Finalmente, no dia do início da folia, o comercial
inicia com a apresentadora em um enquadramento fechado – aparecendo apenas a
cabeça – olhando em direção à câmera perguntando ao telespectador: “Sabe
quantos dias faltam para o Carnaval 84? Nenhum.” A câmera abre o enquadramento
e ela aparece em estúdio vestida com uma fantasia de carnaval dançando ao som
de uma batucada. Um dos comerciais clássicos da história da propaganda
brasileira. Goleada
do Carnaval da Manchete
A emissora foi com tudo para cima da concorrência – da
Globo, em especial – com uma cobertura que mobilizou 1.200 profissionais. Foram
planejadas 84 horas de Carnaval na programação, entre cobertura jornalística,
transmissões e reprises dos desfiles, programas com os tradicionais bailes de clubes
e concursos de fantasias. Na verdade, foram 110 horas de transmissão, iniciadas
na sexta-feira à noite e se estendendo até as cinco e meia da manhã de
quarta-feira de Cinzas. A Manchete acompanhava a chegada dos integrantes das
escolas e dos espectadores à Marquês de Sapucaí. Logo depois, exibia os
desfiles e, durante o dia seguinte, reprisava-os no aquecimento para os
próximos. Fora os pequenos trechos rememorados a título de indicação das
melhores apresentações por jurados e comentaristas convidados. “Esquentando os
Tamborins” foi um dos nomes criados na ocasião para programas carnavalescos e posteriormente
reaproveitado.
Na tarde do dia 2 de março de 1984, sexta-feira, data que
marcou a inauguração do Sambódromo e o início da maratona carnavalesca da
Manchete, foi exibido um especial de 15 minutos sobre a Passarela do Samba. A
vinheta de abertura mostrava uma gaivota branca voando ao pôr-do-sol e
aterrissando no Sambódromo, formando o arco da Praça da Apoteose. Muito se
comentava, à época, que o arco da Apoteose se assemelhava à letra M, e que
seria uma estilização da letra inicial de Manchete, em homenagem à emissora que
prestigiou o primeiro desfile no concreto da Sapucaí. À noite, a cobertura teve início com a transmissão dos
desfiles do Grupo 1-B (atual Série A, a “segunda divisão” do carnaval carioca).
A honraria de ser a primeira escola de samba a desfilar na recém-inaugurada
Passarela do Samba coube ao Império do Marangá, que apresentou o enredo “Águas Lendárias”. O início do desfile,
previsto para as 21 horas, teve 45 minutos de atraso devido ao engarrafamento
no Rio. A Império do Marangá, criada em 1957 em Jacarepaguá, não resistiu à
profissionalização das escolas de samba e foi extinta após o desfile de 1999. À escola de Jacarepaguá, seguiram: o Arrastão de
Cascadura, que contou uma lenda triste, a da Marabá, que morreu flechada por
seu amor no “Conto Lendário de Marabá”,
escrito por Monteiro Lobato e adaptado por Jacy Inspiração; a São Clemente estreava
no Grupo 1-B e trouxe o criativo enredo “Não
Corra, não Mate, não Morra – O Diabo está Solto no Asfalto”, que introduzia
o personagem de Zeca Passista, um operário atropelado na rua, mas que não morre
e tem um sonho com placas de trânsito servindo de alegorias. Outra escola que estreava no Grupo 1-B era o Engenho da
Rainha, com o enredo “Ô Tucá Juê”,
que mostrava a chegada das congadas ao Brasil e as origens das danças. A quinta
escola a desfilar foi a Unidos do Jacarezinho, com o enredo onomatopaico “Ziguezagueando no Zunzum da Fantasia”,
que se ocupa do processo de criação das fantasias usadas pelos componentes. Uma
das homenageadas no carnaval 84 foi a cantora Beth Carvalho na Unidos do
Cabuçu, na Unidos de Cabuçu, que apresentou o enredo “Beth Carvalho, a Enamorada do Samba”, contando a vida da cantora. “Acima da Coroa
de Um Rei Só Um Deus” é o enredo da Acadêmicos de Santa Cruz, que falava de
candomblé e umbanda. Um samba alegre e contagiante foi “Atrás do Trio Elétrico”, da Unidos de Bangu. O ano orwelliano de “1984” serviu de enredo à escola Paraíso
do Tuiuti, anunciando que as mazelas descritas no livro de George Orwell não
ocorreria num país como o Brasil. Décima escola a desfilar, a Lins Imperial
contava a história do dinheiro no enredo “Só
Vale Quem Tem”. A Em Cima da Hora alegrou a avenida com seu samba forte,
apresentando como enredo a rotina da maioria de seus componentes: “33, Destino: D. Pedro II”. A Unidos de Lucas
encerrou o desfile do Grupo I-B com o enredo “Dança Brasil”, onde mostrou todas as danças folclóricas brasileiras. No dia seguinte teve início à era que dividiu o desfile
das escolas de samba do Grupo Especial no Carnaval do Rio de Janeiro em duas
noites, no domingo e na segunda (dias 3 e 4 de março). Em 1984, cada noite teve
uma campeã. O Desfile das Campeãs realizado no sábado seguinte (Sábado de
Enterro dos Ossos) promoveu um tira-teima, chamado de Supercampeonato. A Unidos da Tijuca pisou na passarela às 21 horas do
domingo, dia 3 de março, com o enredo “Salamaleikum,
a epopéia dos insubmissos malês” sobre a Revolta dos Malês, na Bahia.
Depois, a Império da Tijuca apresentou “9215”,
que foi o número da lei que, em 30 de abril de 1946, extinguiu os cassinos no
Brasil. A Caprichosos de Pilares já dava o toque de irreverência que marcou a
escola, com “A visita da nobreza do riso
a Chico Rei, num palco nem sempre iluminado”. O enredo “Skindô,
skindô” marcava o retorno do carnavalesco Arlindo Rodrigues à Acadêmicos do
Salgueiro, depois de 12 anos afastado da escola. União da Ilha do Governador
mostrou os ditos populares em “Quem Pode, Pode, quem não Pode”. A Portela
homenageou três de seus grandes ícones (Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes)
em “Contos de Areia. O Império Serrano encerrou o primeiro dia com “Foi malandro, é”, em que contou fatos ao
longo da História em que o jeitinho brasileiro e a malandragem fizeram a diferença. Na segunda noite, a ex-Unidos de São Carlos – agora
rebatizada de Estácio de Sá – abria os desfiles falando de máscaras, com “Quem é você?”. A Unidos da Ponte abordou
as “Oferendas” nas religiões de
matriz africana. Depois foi a vez da Mocidade Independente de Padre Miguel, com
“Mamãe eu quero Manaus”, delírio
tropicalista do carnavalesco Fernando Pinto. A Unidos de Vila Isabel veio com
um enredo “metalinguístico” onde homenageou os construtores e artesãos da folia
e trabalhadores de barracão, com “Pra
tudo se acabar na quarta-feira”, com direito até a samba antológico de
autoria de Martinho da Vila. Não tão rica e favorita ao título como em anos
anteriores, a Imperatriz Leopoldinense também surfou na onda de enredos
críticos da década de 80 e apresentou “Alô
Mamãe”, desenvolvido por Rosa Magalhães e Lícia Lacerda, que teve Agnaldo
Timóteo no abre-alas em forma de telefone. O enredo nacionalista “O gigante em berço esplêndido” foi o fio
condutor do desfile da Beija-Flor de Nilópolis. E o encerramento, com um
desfile realmente apoteótico, coube à Estação Primeira de Mangueira e o tema “Yes, Nós Temos Braguinha”. Dez,
nota dez! A apuração das notas, que a rigor deveria ser apenas um
procedimento burocrático para verificar qual foi a melhor escola, virou um ícone
marcante da festa. A leitura das notas, sobretudo a da máxima, está tão
incorporada à coreografia do carnaval que é difícil imaginar que alguém tenha
inventado algo que hoje parece tão natural.
Mas nem sempre foi assim. O bordão “Dez, nota dez!”, anunciado
com entonação grandiloquente, surgiu na quarta-feira de cinzas do carnaval de
1984. Seu criador foi o polêmico e controverso Carlos Imperial (1935 - 1992), amado
por uns e odiado por milhões, bem como ele gostava. Imperial na época era vereador
no Rio e foi designado pelo governo de Leonel Brizola para comandar a Comissão
de Carnaval dos primeiros desfiles no local idealizado por Oscar Niemeyer.
O biógrafo Denilson
Monteiro descreve como foi em seu livro, não por acaso intitulado “Dez! Nota Dez! Eu Sou Carlos Imperial”: “…
Na Quarta-feira de Cinzas, por volta das 17h, Imperial, guiado pelo leal
Russão, se dirigiu ao Maracanãzinho, onde seria realizada a apuração do
Carnaval de 1984. As notas seriam lidas por ele, que pontualmente às 18 horas deu início ao trabalho. O ginásio
Gilberto Cardoso ficava bem próximo do morro da Mangueira. Por isso, os torcedores
da Estação Primeira se encontravam em número muito maior que as demais. A
escola já iniciou o primeiro quesito com nota máxima, o que fez com que
Imperial optasse por improvisar uma mudança na forma como estava conduzindo a apuração. Decidido a mexer com a platéia, anunciou com sua garganta privilegiada:
–
Estação Primeira de Mangueira: dez! Nota dez!
Os
mangueirenses entraram em êxtase. Percebendo que a maneira diferente de
anunciar o resultado havia agradado, Imperial repetiu a fórmula com as notas
máximas das demais agremiações. Simultaneamente, por toda a cidade o que se
ouvia naquele cair de tarde era um novo bordão que se alastrava como um vírus.
Em todos os lugares as pessoas procuravam imitar a voz radiofônica de Carlos
Imperial:
–
Dez! Nota dez!
A
apuração terminou com a Portela de
Imperial e seu enredo “Contos de Areia” campeã do desfile de domingo e Mangueira
como a campeã de segunda. O Gordo deixou o Maracanãzinho como coadjuvante que
por alguns minutos roubou a cena, algo que sempre o agradava bastante. Na rua,
as pessoas o reconheciam e gritavam:
–
Lá vai o “Dez! Nota Dez”. …”
O bordão foi tão marcante que, no ano seguinte, “Dez, nota dez!” foi escolhido como título
do enredo da Unidos da Ponte, que desfilou (e venceu) o Grupo 1-B. Este foi um dos últimos legados de Carlos Imperial. Jornalista,
produtor e compositor, também foi apresentador de TV, radialista, jurado de
programa de auditório, Rei da Pilantragem, “cafajeste”, gozador, irreverente, bon vivant, mulherengo (tinha predileção
por mulheres muito jovens e bonitas, às quais chamava de “lebres”), agitador
cultural e vereador no Rio por duas legislaturas, pelo PDT, sendo que em 1984
foi o mais votado da cidade. Um personagem marcante na cultura brasileira, que morreu
no final de 1992, aos 56 anos. Supercampeonato Muito já foi falado, dito e escrito sobre o
Supercampeonato de 1984, inclusive aqui mesmo no Sambario. Para não cansar os
leitores, serei mais sucinto. Após uma “trégua” de dois dias – quinta e sexta – sem
tanta ênfase ao carnaval, a Manchete voltou com tudo no sábado, dia 10 de
março, para transmitir o Supercampeonato. A ordem do desfile, que terminou ao amanhecer do
domingo, dia 11, foi: Acadêmicos de Santa Cruz (vice do Grupo 1-B); Unidos do
Cabuçu (campeã do 1-B); Caprichosos de Pilares (3º lugar de Domingo); Beija-Flor
(3º lugar de Segunda); Império Serrano (vice de Domingo); Mocidade (vice de
Segunda); Portela (campeã de Domingo) e Mangueira (campeã de Segunda). O
resultado do desfile foi o inverso da ordem de desfile, com a Mangueira se
sagrando supercampeã e a TV Manchete conquistando o coração dos carnavalescos. Podemos afirmar que o carnaval de 1984 terminou, de
fato, em 24 de julho de 1984. Esta data marcou o final e o início de uma nova era:
foi neste dia em que as entidades carnavalescas do Grupo 1-A fundaram a Liga
Independente das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro, a Liesa. Sob
a presidência de Castor de Andrade, patrono da
Mocidade Independente de Padre Miguel, a Liesa significava uma ruptura
em
relação à Associação das Escolas de
Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ)
e tinha como objetivo gerenciar os desfiles e repartir os lucros
(vendas dos
ingressos, discos de samba-enredo e direitos de transmissão de
TV) entre as
agremiações. A cada ano, as escolas promovidas do Grupo
de Acesso para o Especial se filiam à LIESA, e as rebaixadas se
desfiliam, para voltar a
integrar a AESCRJ, que atualmente desfilam e integram a LIERJ –
Liga
Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. 1985
– O Carnaval da Democracia Depois da exclusividade marcante da Manchete em 1984, os
telespectadores tiveram a opção de três emissoras com grandes profissionais
envolvidos na cobertura. Globo e Bandeirantes também transmitiram os desfiles. Band A Band adotou dois slogans repetidos ao longo da
transmissão: “o melhor carnaval do Brasil!” – e “Rede Bandeirantes – Mudando a fantasia”. Na apresentação dos
desfiles na Sapucaí, estavam Albino Pinheiro e Elke Maravilha. Quando não
estava na avenida, a Band também dedicava ampla cobertura aos bailes pré e
carnavalescos. Durante uma semana (da noite da terça-feira anterior ao
carnaval até a Terça-Feira Gorda) a emissora se dedicava a transmitir ao vivo as
inúmeras festas realizadas no Canecão, no Scala-Rio, e nos clubes Monte Líbano
e Sírio-Libanês: Baile do Diabo (América FC), Vermelho e Preto (CR Flamengo),
Baile da Cidade, Baile das Panteras, Baile do Champagne, Baile do Pão de
Açúcar, e o baile responsável pela maior audiência televisiva da cobertura
carnavalesca da TV Bandeirantes, o Gala Gay, com os impagáveis repórteres Otávio
Mesquita, Rogéria e Monique Evans. A transmissão dos bailes geralmente iniciava após as 23
horas e adentrava a madrugada até apor volta das 4h. Manchete Na Manchete, a chamada carnavalesca da emissora era “Rede Manchete pede passagem”. A
cobertura consistiu em dar seguimento ao estilo realizado no ano anterior, com
praticamente a mesma equipe com Stein, Pamplona & Cia que brilhara e
comandara a maratona televisivo-carnavalesca em 1984. Para se livrar do prejuízo, em 1985, a Rede Globo
decidiu transmitir o desfile da Sapucaí, em conjunto com a Manchete. As duas
emissoras combinaram todos os detalhes. Deveriam ter a mesma imagem 15 minutos
após a entrada de cada escola na passarela e entre o final de um desfile e
esses 15 minutos, as duas tinham o direito de colocar o que quisessem no ar.
Foi assim que muitos carnavais da Manchete, com direção de Mauro Costa,
surpreenderam a Globo com matérias, comentários e flashes dos principais
bailes, pois haviam repórteres espalhados em todos os pontos. Gina Masello, que participou de alguns carnavais como
assistente de produção, lembra que Carnaval pra Manchete era sinônimo de Ibope.
Todo mundo preferia dar entrevista pra Manchete em vez da TV Globo. Nos
intervalos, quando entravam reportagens em camarotes, na porta do Scala, nas
filas do Gala Gay, no Monte Líbano, em São Paulo, e em outras partes do Brasil,
a audiência oscilava entre as duas. Foi assim que a Globo teve de se adaptar a
esse novo formato de jornalismo. Globo E o grande desígnio da Globo em 1985 era de se redimir
com sua audiência após o equívoco de um ano antes ter preterido o carnaval. Era
uma questão de honra recuperar o prestígio no meio carnavalesco e o padrão de
qualidade para a festa, apesar de que a Manchete já ter estabelecido um novo
paradigma para o carnaval. Com os ventos da redemocratização, o horizonte
desejado era o do sucesso da Nova República. Vivia-se a expectativa da posse de
Tancredo Neves, primeiro presidente civil desde 1964. Com isso a chamada da
cobertura carnavalesca global era “Caia
na folia. É o Carnaval da democracia!”.
A eleição de Tancredo Neves (1910 - 1985) para a
Presidência da República, em votação indireta derrotando Paulo Maluf no Colégio
Eleitoral, ocorreu em 15 de janeiro de 1985, exatamente 30 dias antes do
carnaval. Dentro desse clima, a Globo passou a produzir uma série de
programetes de 30 segundos estrelado pelo humorista Paulo Silvino (1939 - 2017)
para serem exibidos durante os intervalos comerciais ao longo da programação. Os esquetes – narrados pelo ator Francisco Milani (1936
- 2005) – consistiam em Silvino (sem fala e através apenas de mímica e
interpretação gestual) dar dicas bem humoradas explorando situações sobre como “entrar”
no carnaval saindo da cama, saindo do banheiro, saindo da tristeza, etc. Ao
final da dica, uma trilha sonora ao ritmo de uma batucada e um coral entoando em
ritmo de marchinha “caia na folia, é o carnaval da democracia”.
Na cobertura dos desfiles, a Globo resgatou a antiga
programação de apresentar o Fantástico com apenas meia hora de duração e
iniciar a transmissão direto da Sapucaí em torno das 20 horas. A emissora
mostrou os dois dias do Grupo Especial. Para quem havia reclamado no ano
anterior da divisão em dois dias devido ao prejuízo à sua programação, a Globo
se viu em apuros. O desfile de domingo começou com atraso, a Em Cima da
Hora, que retornava ao primeiro grupo depois de nove anos – com “Os Sertões” –
levou à avenida novamente a situação dos nordestinos, desta vez, os que
deixavam a região em busca de uma vida melhor no Rio de Janeiro. Seguiram-se
após: Cabuçu, Império da Tijuca, Salgueiro, União da Ilha (novo atraso antes de
começar a desfilar), Vila Isabel, Mangueira e Mocidade, que entrou na avenida às
8h25. Mas o caos mesmo aconteceu na segunda-feira. A
São Clemente abriu o segundo dia de desfile com uma
hora de atraso. Houve uma gigantesca demora na entrada da segunda
escola a
desfilar, a Acadêmicos de Santa Cruz, devido ao choque de uma das
alegorias com
um carro da Beija-Flor, causando um enorme transtorno. A verde e branco
da Zona Oeste levou mais de duas horas para entrar na avenida. A terceira escola, a Estácio de Sá, passou sem
problemas. Parecia que a noite havia se normalizado. Qual o quê! Depois do
desfile da Estácio, mais atraso: o carro abre-alas da Imperatriz Leopoldinense
quebrou na armação, e não havia quem conseguisse retirá-lo para a passagem das
demais alegorias. O Império Serrano, que estava pronto, aceitou inverter a
ordem do desfile. Mais duas horas de espera até a escola da Serrinha conseguir
entrar. Enquanto o Império não entrava, a Manchete chamava outras praças
carnavalescas e recorria às transmissões dos bailes para ocupar o tempo de
espera. E o que fez a Globo enquanto aguardava a retomada do desfile?
Prosaicamente a emissora passou a exibir desenhos animados na programação e até
um episódio inteiro do seriado “O Incrível Hulk” (!). Retomada a programação, a Globo exibiu Império, Imperatriz,
Beija-Flor (que já enfrentava um atraso de seis horas, havia se preparado para
desfilar à noite, e começou a apresentação já com sol forte). Por volta das dez
da manhã, entrou em cena a Caprichosos de Pilares e já passava das 12h30 de
terça-feira quando a Portela finalmente iniciou seu desfile. Na quarta-feira, Globo e Manchete transmitiram a
apuração, com mais um show de Carlos Imperial na divulgação das notas “dez,
nota dez”. Uma novidade é que, em 1985, tanto Globo quanto Manchete mostraram o
Desfile das Campeãs. Depois da apuração dos votos, e da definição da grande
campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, as seis melhores escolas de samba se
preparam para voltar ao Sambódromo no sábado seguinte, para o Desfile das
Campeãs. Em 1985, já abolido o Supercampeonato e os desfiles
novamente unificados, a Liesa decidiu que, em todo sábado imediatamente
posterior ao carnaval, aconteceria o Desfile das Campeãs, evento tão eletrizante
quanto os de domingo e segunda, no qual os componentes das escolas estão
orgulhosos, emocionados e mais soltos, comemorando e vendo seu trabalho ser
reconhecido. As cinco primeiras colocadas no Grupo 1-A (Mocidade, Beija-Flor, Vila
Isabel, Portela e Caprichosos), mais a campeã e a vice do Grupo 1-B (Ponte e Unidos
da Tijuca, essas duas com acesso garantido à elite do carnaval brasileiro no
carnaval do ano seguinte) tiveram a honra de participar do Desfile das Campeãs. Naquele ano houve espaço ainda para uma convidada de
fora da cidade do Rio de Janeiro. A escola de samba paulistana Nenê de Vila
Matilde, campeã em 1985, foi convidada a desfilar com a nata do carnaval
carioca, sendo até hoje “a primeira e única escola de São Paulo a desfilar na
Marquês de Sapucaí”. A ordem de desfile do dia das campeãs ficou assim: 1) Unidos da Tijuca, vice-campeã do Grupo 1-B 2) Ponte, campeã do Grupo 1-B 3) Caprichosos, 5ª colocada Grupo 1-A 4) Portela, 4ª colocada do Grupo 1-A 5) Vila Isabel 3ª colocada do Grupo 1-A 6) Beija-Flor, vice-campeã do Grupo 1-A 7) Nenê de Vila Matilde, campeã do carnaval de São Paulo 8) Mocidade, campeã do Grupo 1-A
A Nenê passou pela Passarela do Samba entre a Beija-Flor
de Nilópolis e a Mocidade Independente de Padre Miguel, com o enredo “O dia que o Cacique rodou a baiana aí ó”. A Manchete começou as transmissões desde as 18 horas
direto da Marquês de Sapucaí, apresentando os desfiles das oito entidades na
íntegra. A Globo exibiu primeiro o Jornal Nacional e o capítulo da novela-sensação
do horário das 20h, “Corpo a Corpo”. Logo depois é que passou a transmitir ao
vivo da Passarela do Samba. O carnaval de 1986 ganhava em inovação e tecnologia.
Eram instalados relógios eletrônicos na pista de desfiles do Sambódromo, para
marcar o tempo de cada escola. O desfile passava a ser linear, com a construção de
cadeiras de pista na local da antiga Praça da Apoteose. A Globo promovia o carnaval com reportagens nos telejornais
nos meses que antecediam os desfiles. Quando a data se aproximava, as chamadas
se intensificavam durante os intervalos da programação. Outro canal muito
importante de divulgação do carnaval era o Cassino do Chacrinha. Logo após o
lançamento do disco de samba-enredo, o Velho Guerreiro convidava as escolas de
samba para mostrarem seus hinos no auditório do programa vespertino, o que
geralmente acontecia a partir do mês de dezembro.
Já a Manchete, com seu “Carnaval Total”, teve uma
sacada genial que conquistou a todos os amantes do carnaval e influenciou até
mesmo a concorrência e cuja consequência até hoje está presente: as chamadas “vinhetas
carnavalescas” durante os intervalos da programação, utilizando um expediente
muito simples. A produção ainda era incipiente. Com uma locução em off, a Manchete convidava o
telespectador: “aprenda a letra do samba-enredo de sua escola”. E a seguir soltava
o áudio da gravação original do samba-enredo (primeira passada) com a letra
aparecendo em legendas no rodapé da tela e trechos de cenas do desfile do ano
anterior da respectiva escola. Uma ousadia para a época, pois, em média, cada
audição durava dois minutos e meio. Uma ousadia que a ferrenha concorrência da Globo não
poderia suplantar, haja vista que 150 segundos é considerado muito tempo em
termos comerciais e que a líder audiência não teria como dispender em sua
programação. E assim, em 1986 e 1987, a
Manchete fez com que seu público telespectador amante do carnaval aprendesse a
letra do samba de sua escola nos intervalos da programação do canal.
Só dois anos depois, em 1988, que a Globo adotou o
mesmo sistema para apresentar o samba-enredo das escolas durante os intervalos
comerciais, ainda assim não chegava à ousadia da TV Manchete, de dois minutos e
meio. Quando muito, a Globo podia disponibilizar, no máximo, um minuto e meio do
áudio do samba nos intervalos de sua programação – o que significaria a
execução da primeira parte da letra do samba até o “refrão do meio”. Chega o carnaval e estava tudo certinho para a
transmissão dos desfiles. Globo iria exibir os dois dias do Grupo Especial e
novamente o Sábado das Campeãs. A Manchete, como de praxe, cobertura total dos
bailes, concursos de fantasias e desfiles das escolas de samba (Grupo Especial,
no domingo e na segunda, e o Grupo 1-A, que naquele ano, aconteceu na
Terça-feita Gorda). Mas a Manchete prepara uma surpresa para toda a audiência,
inclusive a concorrência. A emissora da Rua do Russel colocara no terraço de um
dos prédios nas cercanias da Marquês de Sapucaí um enorme painel luminoso em
neon com o logotipo da Manchete. O M em neon não parou de brilhar e de piscar
uma só vez durante os quatro dias de transmissão. Um verdadeiro acinte, que
colocou a Globo em polvorosa para tentar “esconder” ou no mínimo “maquiar” a
logomarca da rival.
Globo:
transmissão
ao vivo dos desfiles das escolas de samba do Grupo 1-A (Especial), nos dias 9 e
10 de fevereiro; compacto dos melhores momentos dos desfiles do Grupo 1-A, nas
tardes dos dias 10 e 11; transmissão da apuração do carnaval, no dia 13, e do
Desfile das Campeãs, no dia 15 de fevereiro. Manchete:
transmissão ao vivo dos desfiles das escolas de samba do Grupo 1-A, nos dias 9
e 10 de fevereiro; do Grupo 1-B, no dia 11; da apuração, no dia 13 de fevereiro,
e do Desfile das Campeãs, no dia 15 de fevereiro. Transmissão de bailes
carnavalescos e concursos de fantasias de luxo e originalidade. 1987
– Nasce o “pool” no carnaval e a guerra das logomarcas No mundo corporativo, um “pool” é um acordo temporário
entre duas ou mais empresas para a execução de determinado projeto, gerando uma
caixa única e rateando posteriormente os lucros entre as partes. Nos meios de comunicação, um pool de imprensa envolve
representantes de todos os tipos de mídia que se “associam” para cobrir um
evento. O material é utilizado igualitariamente dado a todos no mesmo momento.
Resumindo: aparentemente sem favorecimento à emissora a ou b. Em 1987, a disputa entre Globo e Manchete se acirrava. A
fim de apaziguar os ânimos acirradíssimos, Globo e Manchete assinaram um acordo
de cooperação para a transmissão do carnaval de 1987, o famoso pool. Ficou definido que a Globo era responsável
pela imagem e a Manchete pelo áudio. No entanto, até no pool se encontraram
brechas para manter a rivalidade e a individualidade de cada empresa. Um
confronto de logotipos marcava a entrada do Sambódromo. A Globo
queria dar uma resposta à altura àquele letreiro luminoso
e
acintoso com o símbolo da concorrente no carnaval do ano
anterior. E fez um
painel ainda maior do que o M em neon da Manchete. Já a emissora da Família Bloch disponibilizou mil
funcionários na Passarela do Samba e levou novidades como a câmera-robô – com
grua e controle remoto – que garantia os melhores closes e dispensava a
presença de um cameraman nos lugares
onde isso era impossível, e um helicóptero para fornecer imagens aéreas da
Avenida. Neste primeiro tempo da peleja carnavalesca, a
inovadora Manchete arrancou vencendo e manteve uma vantagem nos primeiros anos
de sua rival. Mas a Globo é um império de comunicação e o império
contra-atacou, como veremos no capítulo seguinte.
BRISOLARA, Gerson. A
folia eletrônica acontece e vira manchete – Estudo de caso em que uma
manifestação popular (carnaval do Rio de Janeiro) é absorvida por um meio de
comunicação de massa (TV Manchete). Trabalho de conclusão no curso de
Comunicação Social Habilitação em Jornalismo da UFRGS, 1994. CABRAL, Sérgio. As
escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Lumiar Editora, 1996. COSTA, Haroldo. 100
anos de carnaval no Rio de Janeiro. São Paulo, SP: Irmãos Vitale, 2001. FARIAS, Edson Silva de. O desfile e a cidade: o carnaval-espetáculo carioca. 1995. 271 f.
Campinas, SP. FRANCFORT, Elmo. Rede
Manchete: Aconteceu virou história. São Paulo: Coleção Aplauso Especial (1ª
edição). Imprensa Oficial (IMESP). 2008. GUERINI, Elaine. Tesourando
o Carnaval. In: Folha de São Paulo, 15 de fevereiro de 1998. MIGÃO, Pedro. Site
Ouro de Tolo. Consultado em 8 de fevereiro de 2020. OLIVEIRA SOBRINHO, José Bonifácio de. O livro do Boni. Rio de Janeiro: Casa
da Palavra, 2011. PAMPLONA, Fernando. O encarnado e o branco. Rio de Janeiro: Ed. Nova Terra. 2013. PRESTES FILHO, Luiz Carlos. O maior espetáculo da Terra: 30 anos de Sambódromo. Rio de Janeiro:
Editora Lacre, 2015. Gerson
Brisolara (Rixxa Jr.)
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