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Coluna do Rixxa Jr

O CARNAVAL NA TV BRASILEIRA

 . 1º Capítulo: Os Primórdios (anos 60)
 . 2º Capítulo: Do Preto e Branco o Homem Coloriu (anos 70)
 . 3º Capítulo: A Era da Televisão – Anos 80 (1ª Parte - 1980-1983)
 . 4º Capítulo: Aconteceu, virou Manchete – Anos 80 (2ª Parte: 1984-1987)
 . 5º Capítulo: Na Tela da TV no meio desse povo (Virada Anos 80/90)

9 de abril de 2020, nº 42

CAPÍTULO 5 – NA TELA DA TV NO MEIO DESSE POVO... (Anos 80/90)
por Gerson Brisolara

Lá vou eu, lá vou eu
Hoje a festa é na avenida
No carnaval da Globo
Feliz eu tô de bem com a vida

“Carnaval Globeleza” (Jorge Aragão e Franco) – Tema da cobertura da TV Globo desde o carnaval de 1991

B

eber do próprio veneno é uma expressão popular que significa ser prejudicado pelas próprias atitudes, como fazer algum mal para alguém e depois sofrer o mesmo mal. Guardadas as devidas proporções, podemos fazer este comparativo sobre o que aconteceu com a Manchete no carnaval de 1988.

       Como vimos no capítulo anterior, em apenas três anos, a Manchete havia caído no gosto dos carnavalescos. A emissora havia se transformado na namoradinha do carnaval, no xodó da folia, a “estação primeira” da maior festa popular do país, como diria um de seus slogans. Ao ponto de várias personalidades ligadas ao carnaval (dirigentes, destaques, etc) preferirem conceder entrevista à Manchete em detrimento à Rede Globo. 

O carnaval é do povo

Pois bem. O segundo semestre do ano de 1987 transcorria normalmente e a Manchete contabilizava seus dividendos de prestígio pela cobertura ampla que vinha fazendo da folia. E a empresa já estudava como iria fazer no ano seguinte, no carnaval do ano que marcaria o centenário da abolição da escravatura. Quando, de repente, estourou uma “bomba” pelos lados da Rua do Russel.

O empresário da área de música e de desportos, Marcos Lázaro (1925 - 2003), fora agente artístico de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Elis Regina, Chico Buarque nos anos 60 e 70. Considerado um dos introdutores do conceito de show biz no Brasil, Lázaro havia comprado os direitos de exclusividade na transmissão do carnaval carioca junto à Liesa e à Riotur e depois revendido para a TV Globo. Segundo se especulou na época, o negócio foi da ordem de 800 mil dólares.

Foi um corre-corre para tentar reverter a situação e incluir a Manchete na cobertura dos desfiles da Sapucaí. A emissora da Família Bloch chegou a promover um debate em rede nacional e em horário nobre entre os jornalistas carnavalescos da casa (Paulo Stein, Tarles Batista, etc) e a direção da Liesa – na época presidida por Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães – para tentar sensibilizar as partes e liberar a transmissão à TV Manchete.

O ex-carnavalesco e comentarista da Manchete, Fernando Pamplona, em entrevista ao jornal Verve, na edição de número 8, de fevereiro de 1988, chamou Marcos Lázaro de “atravessador e testa-de-ferro”.

Em fevereiro de 1988, a Rede Globo impetra uma medida judicial buscando impedir que duas emissoras transmitissem o desfile, garantindo assim à emissora do Jardim Botânico a transmissão exclusiva. Ordem contrária na mão, a Manchete precisou desmanchar todos os equipamentos na sexta-feira, dia 12, véspera do início dos desfiles. Mas ainda aguardava, ao menos judicialmente, que a qualquer momento a decisão pudesse ser revertida.

A Manchete colocou várias chamadas ao longo da programação prometendo uma cobertura de 150 horas de transmissão de carnaval em todo o Brasil na esperança de reverter a decisão judicial. A rede anunciava “blocos, frevo, o fricote da Bahia, os bailes de salão, os concursos de fantasia”, enfim, o carnaval de norte a sul. Mas deixava no ar se haveria ou não a tradicional transmissão dos grupos 1-A (no domingo e na segunda) e 1-B (no sábado).

As chamadas começaram a ir ao ar logo após a manifestação judicial. Por este motivo o locutor fala em “grito de guerra” e que “o carnaval é do povo, o carnaval, é nosso!”. O único samba-enredo presente na trilha da chamada era o samba da Portela, “Na lenda carioca, os sonhos do vice-rei”, dos compositores Neném, Mauro Silva, Isaac, Luizinho e Carlinhos Madureira, com destaque para o sintomático refrão “Briga, eu, eu quero briga / Hoje eu venho reclamar...”.

 

Chamada do “Carnaval é do Povo”, da TV Manchete em 1988, enquanto a emissora aguardava a reversão da medida judicial que dava direitos exclusivos de transmissão à TV Globo.

Houve até espaço para um improvisado jingle meio que de última hora, com uma crítica velada à exclusividade e à não-liberação da transmissão.

Amigo obrigado

Por tantos carnavais

A coisa hoje está mudada

Sua pele bronzeada não respeitam mais

Com certeza vamos sorrir de novo

O carnaval é do povo

O carnaval é do povo 8x 

A Manchete então recorreu a uma medida prosaica. Para ajudar a preencher as prolongadas 150 horas de programação carnavalesca anunciada, a emissora abriu os arquivos e pôs em reprise – praticamente na íntegra – os desfiles desde a inauguração da Passarela do Samba, em 1984. O nome do programa era Escolas de Samba – Edição comentada dos carnavais passados.

E nos intervalos, além de manter de hora em hora o noticiário carnavalesco “Jornal do Carnaval”, informava aos telespectadores que estava fazendo todo o possível para garantir a transmissão ao vivo dos desfiles do carnaval carioca de 1988.

No entanto, a emissora passou os quatro dias de carnaval sem transmitir os desfiles. A decisão só foi revertida na manhã de quarta-feira de Cinzas, liberando a Manchete de exibir ao menos a apuração do carnaval. Os profissionais da Rede estavam a postos de plantão para que, no momento em que a decisão saísse, todos os equipamentos fossem montados para a transmissão do “Maior Espetáculo da Terra”.

Se por um lado a Manchete não tinha o desfile das escolas de samba, que era seu carro-chefe da cobertura de carnaval, por outro lado, a emissora resolveu alavancar a audiência com outro produto que dava bastante ibope: os bailes de salão. E exagerando (para não dizer apelando) na sensualidade e na nudez dos foliões. A luxúria estava no ar e isso incomodou o Congresso Nacional e até alguns colegas gabaritados da empresa.

Saída de Alexandre Garcia

A nudez excessiva no Carnaval teria sido o principal motivo pelo qual o jornalista Alexandre Garcia deixou a Manchete em 1988.

Garcia havia sido um dos fiadores para a conquista da concessão da Manchete. Sua saída foi muito conturbada, com direito a proibição de entrar no ar e até mesmo no prédio da extinta rede de TV. Com muito prestígio entre os políticos, o jornalista havia sido porta-voz do governo de João Figueiredo (1918-1999) entre 1979 e 1980.

Nos anos 1980, o jornalista gaúcho nascido em Cachoeira do Sul foi diretor da Manchete em Brasília (DF) e era responsável por uma das maiores audiências do canal na época: o quadro “Crônica da Semana”, exibido no Programa de Domingo, que mostrava os bastidores do poder de maneira diferenciada, com humor e sagacidade.

No Carnaval de 1988, perdendo a guerra com a Globo e ficando sem os direitos de transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, a Manchete compensou fazendo a cobertura ao vivo de salões de bailes.

No entanto, como destacou o Jornal do Brasil de 26 de fevereiro daquele ano, a Manchete “mostrou seios e bumbuns em profusão, ganhando alguns pontos no Ibope, mas também provocando a ira quaresmal do Ministério das Comunicações, que ameaça multá-la”.

As cenas mostradas no Carnaval não desapontaram somente o governo. Garcia, de acordo com a reportagem, considerou o trabalho da empresa "uma baixaria". Ele ficou muito irritado quando, para compensar o transtorno causado, a direção da Manchete pediu para ele gravar uma mensagem do então presidente José Sarney para a campanha em favor das vítimas da enchente do Rio. “Isso é hipocrisia e demagogia. Vão fazer a campanha para limpar a barra e evitar a punição por causa do Carnaval. Eu não entro nessa. E não trabalho mais nesta empresa”, disse o jornalista.


O jornalista Alexandre Garcia considerou uma “baixaria” a cobertura dos bailes feita pela TV Manchete em 1988 e logo em seguida pediu demissão da empresa

Alexandre Garcia não pôde nem se despedir, de acordo com o JB. Foi impedido de entrar no Jornal da Manchete. “Disseram que não tinham confiança no que eu ia dizer", contou o jornalista. E a demissão se consumou. “O porteiro da emissora tinha ordem expressa para não deixar Alexandre entrar no prédio sem antes avisar", informou a reportagem do Jornal do Brasil.

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Narração: Fernando Vanucci, Eliakin Araújo (até 1989), Hilton Gomes, Léo Batista e William Bonner.
Comentários: Leci Brandão, Paulinho da Viola e Sérgio Cabral.
Reportagens: André Luiz Azevedo, Beatriz Becker, Carlos Dornelles, Fátima Bernardes, Glória Maria, Leila Cordeiro (até 1989), Marcelo Rezende, Sandra Moreyra, Sergio Gregory, Valeria Monteiro, Fausto Silva, Casseta & Planeta.

A Globo estava de dona do campinho no carnaval de 1988. A emissora nem precisou batizar a cobertura televisiva da folia daquele ano. Era apenas “Carnaval 88”.

Além dos direitos exclusivos de transmissão da elite carnavalesca do Rio de Janeiro (Grupo 1-A), no domingo e na segunda-feira de carnaval, ainda transmitiria, no sábado, para o estado do Rio de Janeiro, os desfiles do Grupo 1-B (a “segundona” do carnaval carioca, cuja campeã e a vice ascenderiam para a primeira divisão no ano seguinte). Para a praça de São Paulo, exibiria as escolas de samba do Grupo Especial paulistano. A “Plim-Plim” estava realmente como o diabo e Momo gostavam.

 

A novidade da Globo naquele ano foram as vinhetas com a apresentação dos sambas-enredo das escolas de samba do Grupo 1-A, iniciativa descaradamente “influenciada” (alguns dirão que foi copiada) da Manchete, que implantara a ideia em 1986. Em se tratando da “Plim-Plim”, a ideia foi, obviamente melhorada, com uma produção hollywoodiana.

Dois anos após a Manchete, a Globo adotou o mesmo sistema para apresentar o samba-enredo das escolas dos grupos 1-A e 1-B durante os intervalos comerciais (o esquema foi feito também na praça de São Paulo, com vinhetas das escolas de samba paulistanas). Ao contrário da concorrente, que apresentava o áudio do samba com imagens de carnavais anteriores durante dois minutos e meio (a média de uma passada inteira de um samba enredo), a Globo exibia um clipe especialmente produzido para ser usado como chamada com cerca de 90 segundos de duração.

A emissora da Família Marinho levava ao estúdio um grupo de sambistas de cada escola, incluindo o intérprete principal, uma pequena bateria, casal de mestre-sala e porta-bandeira, passistas, baianas, destaques de fantasias, etc. Era gravada a participação desse “grupo show” com o puxador em playback e na pós-edição, era inserido imagens do desfile do ano anterior. Além, é claro, da letra do samba em formato de legenda, que aparecia no rodapé da tela.

 

Vinheta da Unidos de Vila Isabel, apresentando o samba “Kizomba”

 

Vinheta do clipe da Vai-Vai, com “Amado Jorge (A história da raça brasielira)”

Eram feitas duas versões do clipe de cada escola: uma, com duração de um minuto e meio do áudio do samba, que era exibida nos intervalos da programação – o que significaria a execução da primeira parte da letra do samba até o “refrão do meio”. A outra versão (mais estendida, que mostrava a íntegra da letra do samba, com o áudio que abrangia a primeira passada do samba), era exibida durante a transmissão dos desfiles, geralmente antes da apresentação de cada escola.

       

Clipe da Unidos da Ponte, com o samba “O bem amado Paulo Gracindo”

 A partir daí, as demais emissoras passaram a copiar esse formato de clipe, proposto pela Globo – até a Manchete se rendeu. A Globo, no entanto, foi modificando o formato do clipe a cada ano. Os anos foram passando e atualmente, o clipe foi transformado em uma vinheta de 30 segundos, onde se escuta – quando muito – o refrão e os primeiros versos da letra.

No sábado, dia 13 de fevereiro, às 20:30, a Globo exibiu capítulo inédito de “Mandala”, novela-sensação da época, escrita por Dias Gomes e que contava com Vera Fischer, Nuno Leal Maia e Felipe Camargo no elenco.

Às 21:20, iniciou-se a transmissão do Desfile das Escolas de Samba do Grupo 1-B (2º  Grupo), que se apresentaram, pela ordem: Tupy de Brás de Pina (“E agora, José?”), Paraíso do Tuiuti (“Filho de branco é menino, filho de negro é moleque”), Império da Tijuca (“Nosso Sinhô, rei do samba”), Arranco (“Pra ver a banda passar”), Acadêmicos do Engenho da Rainha (“De sete em sete, pintando o sete”), Lins Imperial (“Primavera é tempo de saudade, tributo a Zinco e Caxambu”), Unidos do Jacarezinho (“Parabéns pra vocês”), Acadêmicos de Santa Cruz (“Como se bebe nesta terra”), Independentes de Cordovil (“Burle Marx”) e Unidos de Lucas (“Na ginga do samba, aí vem Ataulfo”).

 

Vinheta da Lins Imperial antes do desfile da escola pelo grupo 1-B em 1988.

No domingo, dia 14, logo após o Fantástico, a Globo transmitiu, diretamente da Marquês de Sapucaí, a primeira noite do Grupo 1-A. Pela ordem: Unidos da Tijuca (“Templo do absurdo - Bar Brasil”), Mocidade Independente de Padre Miguel (“Beijim, beijim, bye bye Brasil”), União da Ilha do Governador (“Aquarilha do Brasil”), Imperatriz Leopoldinense (“Conta outra que essa foi boa”), São Clemente (“Quem avisa amigo é”), Estácio de Sá (“O boi dá bode”), Acadêmicos do Salgueiro (“Em busca do ouro”), Portela (“Na lenda carioca, os sonhos do vice-rei”).



Clipe da União da Ilha, com o samba “Aquarilha do Brasil”

A segunda noite teve mais oito escolas, cujos desfiles foram ao ar após a novela “Mandala”. Por ordem de apresentação: Tradição (“O melhor da raça, o melhor do carnaval”), Caprichosos de Pilares (“Luz, câmera e ação”), Beija-Flor (“Sou negro, do Egito à liberdade”), Unidos do Cabuçu (“O mundo mágico dos Trapalhões”), Unidos da Ponte (“O bem amado Paulo Gracindo”), Unidos de Vila Isabel (“Kizomba, festa da raça”), Império Serrano (“Pára com isto, dá cá o meu”), Estação Primeira de Mangueira (“100 anos de liberdade, realidade ou ilusão?”).


Salgueiro estava “em busca do ouro” no amanhecer do carnaval de 1988


Valeu, Zumbi! Não houve ser humano com sangue correndo nas veias que não se arrepiou com a Kizomba da Vila Isabel, um desfile realmente “único”


“Moço, não se esqueça que o negro também construiu as riquezas do nosso Brasil”, cantavam os mangueirenses a plenos pulmões

O carnaval de 1988 também encerrou o ciclo do Júri da Globo. Foi o último ano que os especialistas convidados concederam as notas oficiosas.

Na cobertura do grupo especial participaram os “avaliadores” Márcio “Vip” Antonucci (1945 – 2014), cantor, músico e produtor, ex-integrante da dupla Os Vips, que fez muito sucesso na Jovem Guarda. Márcio Vip julgou bateria; o cantor e compositor Jorge Aragão analisou o quesito samba enredo; o carnavalesco Billy Acioli (ex-Paraíso do Tuiuti) ficou com os quesitos harmonia e evolução; o diplomata e jornalista Antônio Carlos Athayde (um dos fundadores do Bloco Clube do Samba), julgou enredo e conjunto; a jornalista e pesquisadora de MPB Lena Frias (1944 – 2004) avaliou Comissão de Frente e Mestre-Sala e Porta-Bandeira, e, por último, a figurinista Marília Carneiro (à época trabalhando na TV Globo), que julgou os quesitos fantasias e alegorias e adereços.

Os comentaristas nos desfiles do Grupo 1-B foram o ator e produtor cultural Jorge Coutinho e o radialista e compositor Rubem Confete.

A transmissão do carnaval de 1988 pela Globo foi um sucesso (nenhuma surpresa). Restou à Manchete exibir a apuração e o aceno da Toda-Poderosa de que poderia transmitir o Sábado das Campeãs. No entanto, no dia 20 de fevereiro caiu uma chuva torrencial no Rio de Janeiro, provocando destruição em diversos pontos do estado. O caso mais grave aconteceu no bairro de Santa Teresa, no centro do Rio, onde toneladas de pedra e terra rolaram sobre a Clínica Santa Genoveva, soterrando cerca de 40 pessoas, entre funcionários e pacientes, sendo a maioria das vítimas formada por idosos. As principais vias da cidade ficaram alagadas.

Ao todo, as chuvas torrenciais provocaram 273 mortes no estado, sendo 78 na capital. O número de desabrigados chegou a 22 mil. Esse triste cenário fez com que a Liesa definitivamente cancelasse o Sábado das Campeãs. Com isso, o mítico carnaval “Kizomba”, da campeã Vila Isabel foi literalmente um desfile único. Quem viu, viu. Quem não viu, não teve (nem haverá) uma segunda chance.

Como as campeãs não iriam se reapresentar devido às chuvas que assolaram a cidade do Rio de Janeiro, a Globo então resolveu exibir no início da tarde de sábado, dia 20 de fevereiro, logo após o Jornal Hoje, um supercompacto com os melhores momentos do primeiro e segundo lugares dos grupos 1-A e 1B, na ordem em que as agremiações se apresentariam no dia das vencedoras na Sapucaí: Jacarezinho, Arranco do Engenho de Dentro, Mangueira e Vila Isabel. 


As chuvas que castigaram o Rio de Janeiro resultaram em tragédias e inviabilizaram o desfile das campeãs em 1988. Na foto, toneladas de pedras e terra soterraram 40 pessoas na Clínica Santa Genoveva, em Santa Teresa. Foto: Otávio Magalhães 25/02/1988 / Agência O Globo

Pode preparar o seu confete que este ano na avenida tem Manchete – CARNAVAL 89

Era questão de honra a Manchete reagir. Única emissora a estar presente no ano de 1984, o Sambódromo não poderia pagar o vexame de, após não mostrar os desfiles na avenida, em 1988, ficar novamente de fora do ponto alto do carnaval da Sapucaí pelo segundo ano consecutivo. E foi o que a emissora fez.

Após o turbulento ano da exclusividade global, Liesa e as duas emissoras de TV chegaram a um consenso e voltaram novamente a transmitir os desfiles dos grupos 1-A e 1-B em pool.

Após o réveillon, tudo é carnaval na Globo

A Globo começava a falar de carnaval logo após ter concluído a programação especial de fim de ano, que incluía especial de Roberto Carlos, especial da Xuxa, Missa do Galo e filmes de primeira linha que não foram exibidos ao longo do ano.

Uma baixa muito importante para a Globo para o carnaval e até hoje sentida foi a morte do apresentador Abelardo Barbosa e o fim de seu Cassino do Chacrinha. Desde que voltara a ocupar as tardes de sábado na Rede Globo, em 1982, Chacrinha dedicava um espaço considerável para o carnaval, ora convidando as escolas de samba para divulgarem seus sambas-enredo, ora executando suas impagáveis marchinhas carnavalescas, durante o programa.

O “Cassino” por si só já era um ambiente carnavalesco, festivo e colorido, com várias personalidades do meio participando do programa na condição de jurados convidados, como Luiza Brunet, Monique Evans, Elke Maravilha (que chamava Chacrinha de “Painho”) e até o radialista Edson Seraphin de Santana, que fazia o gênero mal-humorado e que era sempre recebido pela plateia do Teatro Fênix com vaias. Edson Santana (que tratava Chacrinha pela alcunha de “Guerreiro”) foi o Rei Momo oficial da cidade do Rio de Janeiro durante 11 carnavais consecutivos, entre 1972 e 1982.


O radialista Edson Santana fazia o gênero jurado mal-humorado e sempre levava vaia do público. No entanto, durante dez carnavais consecutivos personificou a figura do Rei Momo no carnaval do Rio de Janeiro

Já doente, Chacrinha chegou a ser substituído, a partir de 11 de junho de 1988, pelo humorista João Kléber. O último Cassino do Chacrinha foi levado ao ar no dia 2 de julho de 1988. O comunicador morreu em 30 de junho de 1988, vitimado por um câncer de pulmão.


Unidos da Cabuçu no Cassino do Chacrinha, no pré-carnaval de 1988 (o último do Velho Guerreiro). O intérprete J. Leão, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Néia e Zerinho, e a presidente Therezinha Monte, ao som do samba em homenagem aos Trapalhões.

Mas logo após a virada, a Globo já iniciava a inclusão das vinhetas dos sambas do carnaval 89 nos intervalos da programação.

Desta vez, a Globo preferiu um formato mais simplista. Sai a superprodução hollywoodiana do ano anterior, para entrar em cena apenas o intérprete e o casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola em estúdio, tendo ao fundo o logotipo da emissora.

Vinheta da União da Ilha do Governador com o intérprete Quinho cantando o legendário samba “Festa profana”, de 1989.

Na TV Globo é que a gente leva fé

Além dos clipes com a letra dos sambas, a Rede Globo encomendou um jingle para anunciar as transmissões do carnaval de 1989, que incluía os Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e de São Paulo (este pela segunda vez na emissora).

A peça tinha como base a melodia do samba da Mangueira de 1983 (belíssimo, porém, esquecido) “Verde que te quero rosa”, dos compositores Heraldo Faria, Flavinho Machado e Geraldo Neves. A letra foi adaptada para a cobertura global e a gravação e o clipe tiveram a interpretação da “voz maior” de Jamelão. Isso dois anos antes do surgimento do jingle “Globeleza”, que viria caracterizar o Carnaval da Globo a partir de então.

A Globo é, é

Samba no pé, no pé

Na TV Globo é que a gente leva fé

A Globo é, é

Samba no pé, no pé

Quem sabe, sabe e vai dizer como é que é

(Vem Brasil)

Brasil, tá na hora

Vem pra avenida sambar

Explode a bateria noite afora

Que o povo todo vai desfilar

Esquece a tristeza, cante com a gente

São mais de 20 anos que beleza

Na Globo o carnaval é bem mais quente

É tempo de sorrir, cantar

É a voz do povo, chama que arde

É a Rede Globo, felicidade

(Com a gente)

Com a gente

Na alegria e na tristeza

Vendo um tempo novo

No raiar do sol do nosso povo

(É tempo!)

É tempo de alegria

Suando em pleno verão

Do nascer do dia

A Globo é o estandarte

De um povo cheio de emoção

É tempo de sorrir, cantar

Na Rede Globo o carnaval vai arrasar

É tempo de sorrir, cantar

A Globo é sabedoria popular

Como podemos notar, o jingle tinha uma letra provocativa e essa provocação tinha endereço certo e, claro, só poderia ser a Rua do Russel.

A Globo rogava para si a expertise no comando das transmissões carnavalescas, pedindo a cumplicidade do público, haja vista as expressões “na Globo é que a gente leva fé”, e “quem sabe, sabe e vai dizer como é que é”. A letra do samba adaptado também frisava que não era de hoje que a emissora estava ao lado dos carnavalescos, pois “são mais de vinte anos, que beleza”. Por fim, a Plim-Plim garantia ao público a excelência na transmissão (Na Rede Globo o carnaval vai arrasar) e que a estação global sabia exatamente o que o povo queria (a Globo é sabedoria popular).

Uma superequipe do jornalismo foi convocada para a cobertura da festa: na ancoragem da transmissão estavam Léo Batista e William Bonner (na concentração) e Eliakin Araújo e Fernando Vanucci (na descrição do desfile). Na reportagem, nomes como Beatriz Becker, Fátima Bernardes, Glória Maria, Leila Cordeiro, Marcelo Rezende (1951 - 2017), Maurício Kubrusly, Sandra Moreyra (1954 - 2015) e Valeria Monteiro (acompanhando os camarotes e vip’s), entre outros.

No lugar do polêmico e controverso Júri Oficioso, a Globo optou por dois nomes de peso e de respeito dentro do espectro do samba e da MPB: Leci Brandão e Paulinho da Viola foram contratados como comentaristas dividindo o cargo com o veteraníssimo Sérgio Cabral.

Leci Brandão foi a primeira mulher a ingressar na ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira. Concorreu na quadra diversas vezes. No entanto, nunca vencera uma disputa na verde e rosa. Por uma briga meses antes do carnaval de 1987 com o então presidente Carlinhos Dória (1943 - 1987) – que na ocasião também demitiu o diretor de Harmonia, Xangô da Mangueira (1923 - 2009) – a cantora anunciou que não desfilaria pela escola. Logo em seguida foi convidada a comentar o carnaval pela TV Globo.

Na condição de comentarista, Leci sempre destacava a aparição dos sambistas na telinha. Também evitava termos como “morro”, “vila” ou “favela”, locais que a mangueirense preferia chamar de “comunidades”, ajudando a popularizar a expressão.


Em seus comentários, Leci Brandão sempre destacou a aparição dos sambistas na telinha e ajudou a popularizar a expressão “comunidade”, ao se referir aos bairros localizados em morros, vilas ou favelas

Leci Brandão foi comentarista dos Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro pela TV Globo até 1993. Após uma pausa de seis anos, voltou a comentar o carnaval carioca em 2000 e 2001. Entre 2002 e 2010 comentou os Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo pela mesma emissora. Por ter assumido uma cadeira como deputada estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo em 2011, a Globo não permitiu sua participação na cobertura. Desde então, Leci (que já está na sua terceira legislatura) está de fora das transmissões Globeleza.

Levado à Portela, em 1963, pelo diretor de bateria Oscar Bigode, Paulinho da Viola causou boa impressão logo no primeiro encontro com os integrantes da azul-e-branco de Oswaldo Cruz, ao firmar parceria com cantor e compositor Casquinha (1922 - 2018) no samba “Recado”. Três anos depois, a Portela é campeã do Carnaval ao desfilar com o samba-enredo “Memórias de um Sargento de Milícias”, de autoria do próprio Paulinho, que logo foi alçado ao cargo de presidente da ala de compositores.

Insatisfeito com o gigantismo das escolas de samba tradicionais, nas quais os sambistas estavam perdendo a voz para pessoas estranhas ao meio, Paulinho deixa de desfilar com a Portela após Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã (1926 - 2020), assumir a presidência da escola logo depois da morte de Natal da Portela (1905 - 1975). O cantor se alia a Antonio Candeia Filho (1935 - 1978) e a outros sambistas e compositores na fundação da mítica escola de samba Arte Negra Quilombo. No entanto, Paulinho sempre manteve laços afetivos com setores da Portela, principalmente com a Velha Guarda, que sempre participa de seus shows e da gravação de seus discos.

Paulinho da Viola passou a comentar o carnaval na Globo formando dupla com Leci Brandão em 1987. Permaneceu na cobertura da emissora ininterruptamente até 1994. Com a saída de Carlinhos Maracanã da presidência da azul e branco, Paulinho volta a desfilar com a Portela no carnaval de 1995, após 20 anos de ausência da avenida.


Paulinho da Viola ficou 20 anos afastado dos desfiles da Portela e comentou por oito anos o carnaval na Globo

E o carnaval também marcou a estreia de Fausto Silva no Plim Plim. Depois do grande sucesso como apresentador do programa Perdidos na Noite, transmitido entre 1985 e 1988 pela TV Bandeirantes, o pontapé inicial na emissora foi durante a folia, em fevereiro de 1989.

O apresentador comandava o “Camarote do Faustão” e entrevistava os foliões e famosos que passavam pela Sapucaí, no Rio de Janeiro. Em seguida, em março, Fausto Silva se apropriou de vez das tardes de domingo da Globo, com o “Domingão”.

Em um dos vídeos mais curiosos, Faustão entrevista um anão vestido de jacaré, “um dos destaques da Unidos do Jacarezinho”. Brincando, Faustão faz perguntas para o folião, como “você ganha por desfile ou mordida?” e “qual sua profissão fora d'água?”.

 

Faustão também entrevistava diversos famosos, como a cantora Simone e a atriz Ísis de Oliveira, que naquele ano desfilaram pela Tradição.

MANCHETE

Narração: Paulo Stein, Eliakin Araújo (a partir de 1990), José Carlos Araújo (em 1992).
Comentários: Fernando Pamplona, Haroldo Costa, José Carlos Rego, Maria Augusta, Albino Pinheiro, Sérgio Cabral, Roberto Barreira, Mestre Marçal, Therezinha Monte, Beth Carvalho.
Reportagens: Tharlis Batista, Eliane Furtado, Martha Correa, Ana Maria Badaró, Milena Ciribelli, Leila Cordeiro (a partir de 1990), Marta Corrêa, Sonia Pompeu.

Já a Manchete iniciou bem cedo a cobertura “Carnaval Brasil” para 1989.

No mês de outubro de 1988, estreavam dois programas que marcaram época na emissora e prosseguiram nos anos seguintes: Feras do Carnaval e Esquentando os Tamborins.

A Voz do Carnaval

Haroldo Costa esteve presente em toda história da TV Manchete, sendo o principal comentarista do Carnaval. Escritor, produtor e sambista, trabalhou ao lado de Fernando Pamplona, Maria Augusta e Paulo Stein na locução e comentários dos desfiles da Sapucaí.


Enquanto esteve na TV Manchete, Haroldo Costa era a “voz do carnaval” na emissora

Apresentou diversos boletins e programas: Na Passarela do Samba, inicialmente com direção de Nelson Pereira dos Santos, em que fez uma série de reportagens resumindo a história de cada escola; Botequim do Samba, Feras do Carnaval (que também teve a apresentação de Neguinho da Beija-Flor durante muitos anos), Jornal do Carnaval e Debates de Carnaval. A estada na Manchete possibilitou a Haroldo o seu retorno à teledramaturgia em 1989. Ator com vasta experiência teatral e televisiva desde a década de 40, atuou nas novelas “Kananga do Japão”, “Pantanal” e “A História de Ana Raio e Zé Trovão”.

Mas o prato principal fornecido por Haroldo Costa era o marcante Esquentando os Tamborins. Através de boletins diários de três minutos de duração, o programa mostrava a preparação das escolas de samba para o Carnaval. Esquentando os Tamborins fazia a alegria dos amantes das escolas de samba na saudosa Rede Manchete.

Com o fim da Manchete, o artista criou e dirige a Haroldo Costa Produções Artísticas, e foi contratado da Rede Globo, com Maria Augusta, para comentar o Carnaval carioca.

Olha o “Feras do Carnaval” aí gente!

Outro programa que fez muito sucesso e que também marcou época na cobertura da Manchete foi o Feras do Carnaval.

A apresentação ficava a cargo do cantor e compositor Neguinho da Beija-Flor. O intérprete era muito elogiado pela simpatia à frente das câmeras e espontaneidade dentro do estúdio.


Neguinho da Beija-Flor foi o apresentador oficial do boletim diário “Feras do Carnaval” 

Com um formato idêntico ao do Esquentando os Tamborins, o programa, através de boletins diários de três minutos, mostrava os bastidores do carnaval, entrevistando intérpretes, mestres-salas, porta-bandeiras, mestres de bateria, carnavalescos e diretores. Também era comum o “Feras do Carnaval” dar voz a artistas anônimos como componentes de ala de baianas, ritmistas e funcionários dos barracões.

E para marcar posição que estava irremediavelmente de volta ao carnaval, a Manchete lançou um jingle histórico, que passou a ser marca registrada do carnaval da empresa:

Vem, fique com a gente

Nesta cobertura genial (ge-ni-al)

Nossa turma animada está toda preparada

Vai ser o melhor carnaval

E no meio da avenida

A Manchete em ação

A moçada reunida

Explodindo de alegria

Vai cantar com emoção

Pode preparar o seu confete

Que este ano na avenida tem Manchete

Apesar de, nos carnavais seguintes, a Manchete ter lançado outros jingles para marcar a cobertura da folia, o samba “Pode preparar o seu confete” se tornou uma espécie de “hino” definitivo da programação carnavalesca da emissora.

A TV Manchete exibiu, em quatro sábados, de 7 a 28 de janeiro de 1989, uma excelente iniciativa de incentivo à música e à dança de carnaval, mas que foi infelizmente descontinuada pela emissora: o 1º Festival Manchete de Sambas-Enredo e de Passistas.

O certame foi gravado ao vivo, no Teatro João Caetano, no centro do Rio, durante o “Projeto Seis e Meia” (projeto popular musical que vigorou entre as décadas de 70 e 80, idealizado e dirigido por Albino Pinheiro).

O festival consistia em escolher o melhor intérprete, os melhores passistas masculino e feminino e o melhor samba do ano entre as dezoito escolas do Grupo Especial. Cada agremiação subia ao palco do teatro representada pelo puxador, um cantor de apoio (opcional), músicos de base (cavaquinho e violão), uma minibateria e dois casais de passistas. O acompanhamento ficava a cargo do grupo vocal As Gatas. A cada sábado eram apresentadas de quatro a cinco escolas. As performances eram comentadas pelo jornalista José Carlos Rego.

Apenas Mangueira, Beija-Flor e Imperatriz não enviaram seus intérpretes principais. Considerados “hors-concours” (fora de concurso), Jamelão, Neguinho e Dominguinhos do Estácio (os três, à época, eram contratados de gravadoras) não compareceram às apresentações, sendo substituídos, respectivamente, por Sobrinho, Gilson Bacana e Preto Joia.

Os demais canários estavam lá: Rixxa (Salgueiro), Sylvio Paulo e Espanhol (Arranco), J. Leão (Caprichosos), Bira Hawaii (Estácio de Sá), Paulo Samara (Império Serrano), Ney Vianna (Mocidade), Dedé (Portela), Geraldão (São Clemente), Candanda (Tradição), Quinho (União da Ilha), Aroldo Melodia (Ponte), Nêgo (Unidos da Tijuca), Gera (Vila Isabel), Di Miguel (Cabuçu) e Carlinhos de Pilares (Jacarezinho).

 

Apresentação da Unidos da Tijuca (com o intérprete Nêgo – de branco – ao microfone, Laíla na harmonia e Mestre Marçal no comando dos ritmistas) no 1º Festival Manchete de Passistas e Samba-Enredo, em 1989.

A final foi exibida na quarta-feira de Cinzas, dia 8 de fevereiro. O festival premiou em sua primeira e única edição a obra “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”, dos compositores Niltinho Tristeza, Preto Joia, Vicentinho e Jurandir, como melhor samba do ano.

Peço perdão aos internautas do Sambario, mas vou ficar devendo os nomes dos vencedores do festival nas categorias intérprete, passista masculino e passista feminino. A memória do escriba já não é a mesma de 30 anos atrás e, naquela época, este então futuro jornalista ainda não dispunha de aparelho de videocassete.

100 versus 1.000 – CARNAVAL 1990

Em 1990, o duelo Globo versus Manchete prosseguia no auge, sem sinal de trégua por nenhuma das partes. Novamente as duas emissoras transmitiram no sábado de carnaval as escolas do Grupo 1-B e no domingo e na segunda, o grupo 1-A. Os carnavalescos e a audiência televisiva agradeciam.

Não tem pra ninguém...

Na comemoração de seus 25 anos de fundação, a Plim-Plim lançava uma das campanhas mais memoráveis da história da emissora. O slogan era “Globo 90 é nota 100”. A campanha contava com o elenco da Globo, formado por artistas e jornalistas, cantando uma musica cujo refrão dizia: “Não tem pra ninguém. A Globo 90 é nota 100”.

Em 1989 disputou o título de Garota de Ipanema uma jovem estudante negra de 18 anos de idade (e era a única negra entre as candidatas). Ficou apenas em quarto lugar, mas com a sua simpatia e alegria no samba, encantou o público e os jurados do concurso, entre eles estava Hans Donner, que convidou a mulata a estrelar a vinheta de carnaval da Rede Globo em 1990.


Primeira imagem de Valéria Valenssa nas vinhetas de carnaval da Globo em 1990, antes dela se tornar a “Mulata Globeleza”

“A Globo faz escola, no Carnaval deita e rola”, anunciava a primeira vinheta de carnaval que a modelo Valéria Valenssa protagonizou, em 1990.

Criada pelo designer Hans Donner (com quem Valéria viria a casar anos depois), a chamada ganhou o nome de Globeleza no ano seguinte, quando foi apresentada a música “Samba da Globo”, composta por Jorge Aragão e Franco Lattari (1952 – 2007) e cantada por Quinho.

Em 1993, Valéria apareceu sozinha na vinheta e recebeu o título de Globeleza, nome pelo qual também ficou popularizado o jingle da cobertura.

 

A Casseta cai no samba

Em 1990, a turma do Casseta & Planeta estreou na frente das câmeras da Globo no carnaval, com muita irreverência e criatividade.


A primeira aparição do C&P na TV foi durante o Carnaval de 1990. No camarote, os humoristas entravam ao vivo nos intervalos entre as escolas, entrevistando celebridades

Debochadamente a galera surgida da união das turmas de duas publicações do Rio de Janeiro – a revista Casseta Popular e o tabloide Planeta Diário – se autointitulava como “a turma da genitália desnuda”, expressão que constava no regulamento da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), no qual cada escola deveria “impedir a apresentação de pessoas que estejam com a genitália desnuda (à mostra), decorada e/ou pintada”.

A proibição aconteceu porque no ano anterior, a modelo e escritora Enoli Lara foi para a avenida completamente nua, tendo apenas um véu como adereço durante o desfile da União da Ilha do Governador, “Festa Profana”, sobre a história do Carnaval.

No “Camarote do Casseta”, os humoristas Beto Silva, Bussunda (1962 - 2006), Cláudio Manoel, Helio de la Peña, Hubert Aranha, Marcelo Madureira e Reinaldo Figueiredo entravam ao vivo nos intervalos entre os desfiles das escolas de samba entrevistando celebridades, sambistas e rainhas de baterias. Entre os famosos que foram pegos de surpresa pela turma estavam Caetano Veloso, Gal Costa e Neguinho da Beija-Flor. O improviso das perguntas e as piadas com os artistas renderam boas gargalhadas.

http://globotv.globo.com/rede-globo/memoria-globo/v/webdoc-jornalismo-camarote-na-sapucai-com-casseta-popular-planeta-diario-1990/3164828/

Se a Globo havia avisado que não tinha pra ninguém, pois em 90 era nota 100, a Manchete devolveu a provocação de forma exponencial.

A emissora da família Bloch pegou a nota 100 da concorrente e multiplicou pela nota 10 (conceito máximo de um quesito de carnaval) e criou o Carnaval Nota 1.000. Daí o slogan: “Carnaval Brasil, na Manchete é nota Mil”.

 

Fantasia

Outro ponto alto das transmissões televisivas eram os concursos de fantasias. A Manchete, desde 1984, exibia o famoso Concurso Oficial de Fantasias do Rio de Janeiro, realizado no Hotel Glória. Era uma transmissão externa fácil porque o Hotel Glória ficava a menos de 200 metros do edifício sede da Rede Manchete, na Rua do Russel.

O concurso foi criado em 1975, e desde o primeiro ano, já despontava a figura de Clóvis Bornay com suas fantasias cheias de pompa. Os concursos aconteciam sempre no Sábado de Carnaval, pela manhã. A apresentação era feita sempre por duas pessoas (Ronaldo Rosas e Jacyra Lucas, no início, e Augusto Xavier e Paula Barthel, nos últimos anos).


O Hotel Glória abrigou durante 34 edições um dos mais tradicionais concursos de fantasias de carnaval do Rio de Janeiro

O roteiro obrigatório dos candidatos era andar em linha reta tangenciando a mesa do júri, parar no final e se exibir para as pessoas que estavam assistindo ao desfile. Davam voltas e mostravam toda a fantasia enquanto o apresentador falava quem era o candidato, quem confeccionou a fantasia, do que era feita e, sobretudo, seu significado – em alguns casos, uma tarefa complicada.

Os nomes das fantasias eram curiosos e extensos. Haviam cinco categorias: Originalidade Masculina e Feminina, Luxo Feminino e Masculino e Fantasia Show.

Um dos símbolos dessa fase áurea dos concursos de fantasia do Glória era Clóvis Bornay, uma figura tradicional do universo carnavalesco. Após se tornar celebridade, viajou o mundo com suas fantasias. Ganhou tantas vezes, que não permitiram que concorresse mais, pois tiraria a chance dos outros candidatos. Virou hors concours do Glória.


O hors concours Clóvis Bornay em uma de suas inúmeras e geniais criações

O Concurso de Fantasias do Hotel Glória teve 34 edições até 2008, ano em que, após 86 anos de atividade e 50 anos como propriedade da família de Eduardo Tapajós, o hotel foi vendido ao empresário Eike Batista, mas desde 2013 está abandonado. Triste fim de um imóvel que foi conhecido por ter abrigado o primeiro cinco estrelas do País e que hospedou 19 presidentes da República.

Luxo e originalidade abriam a cobertura de carnaval

E a Manchete exibia outros concursos que consagravam os grandes artistas e suas criações fantásticas, mostradas ao vivo, em primeira mão, em rede nacional de televisão, para abrir os festejos do Carnaval.

Era assim também nos hotéis Tamoio e Le Méridien, e nos clubes Monte Líbano, Metropolitan, Federal e Sírio e Libanês. Um nome que se destacava como apresentador dos concursos de fantasias era do carnavalesco Oswaldo Jardim (1960 – 2003).


Oswaldo Jardim (ao lado da jornalista Jacyra Lucas) na apresentação do Concurso de Fantasias do Clube Federal, no Rio de Janeiro, em 1990

Ator, engenheiro e cenógrafo, Oswaldo Jardim trabalhou como assistente de Arlindo Rodrigues na TV Manchete. Apresentou concursos de fantasias na mesma emissora onde atuou 14 anos como cenógrafo. Era considerado o Rei da Espuma, devido a sua habilidade de trabalhar com espuma na confecção de esculturas e adereços.

O carnavalesco assinou trabalhos na Estácio de Sá (1986), Império Serrano (1989), Unidos do Jacarezinho (1990), Unidos da Tijuca (1991, 1992, 1995, 1998 e 1999), Unidos de Vila Isabel (1994 e 2000) e Estação Primeira da Mangueira (1996 e 1997). Em 2000, já com a saúde debilitada, Oswaldo Jardim ganhou o prêmio Estandarte de Ouro como Personalidade do Carnaval. Sua morte precoce, aos 44 anos, vítima de complicações causadas por Hepatite C, até hoje é sentida pelos amantes do carnaval.

 

Equipe de craques

Enquanto a Globo agregava qualidade na cobertura de carnaval, a Manchete – para provar que era “nota mil” – também reforçava consideravelmente seu time de comentaristas para a transmissão dos desfiles.

O jornalista Roberto Barreira Vasconcellos (1944 – 2002) dedicou boa parte da vida às publicações voltadas ao público feminino. Por mais de três décadas trabalhou na Bloch Editores, servindo às revistas “Ele e Ela”, “Pais e Filhos” e “Amiga”.

Foi correspondente da empresa em Paris e na Itália, onde fez cursos de editoração para lançar a revista “Desfile”. O jornalista ajudou muitas modelos em início de carreira a se tornarem celebridades, como Xuxa Meneghel e Luiza Brunet. Nascido em Belém do Pará, Barreira comentava sobre figurinos e alegorias e tinha um olho clínico para identificar tecidos e adereços.


Roberto Barreira era responsável pelos principais comentários dos quesitos fantasias, adereços e alegorias durante os desfiles

Outro craque que se agregou ao Carnaval Brasil era um mestre do ritmo e um gênio das tiradas bem humoradas. Mestre Marçal (1930 - 1994) – ver seção Intérpretes Sambario – havia decidido dar um tempo de comandar ritmistas e focar na sua carreira fonográfica.

Nilton Delfino Marçal havia dirigido a bateria da Portela por mais de 20 anos. Logo após o desfile de 1986 foi expulso da escola pelo presidente Carlinhos Maracanã. Mesmo tendo sido agraciado com o prêmio Estandarte de Ouro de melhor bateria do Carnaval daquele ano, Marçal estava proibido pela diretoria até mesmo de frequentar a quadra da escola.

Depois da Portela, regeu os batuqueiros da Unidos da Tijuca. Logo na estreia, em 1987, a escola que havia descido para o Grupo 1B no ano anterior, foi campeã da categoria, empatada com a Tradição. Ambas agremiações, do Borel e do Campinho, ganharam o direito de voltar para o grupo especial.

O consagrado diretor permaneceria ainda na amarelo-ouro e azul-pavão do Morro do Borel por mais dois carnavais (1988 e 1989). Paralelamente a isso, Mestre Marçal já tinha seis discos de carreira lançados, fazia shows, participava de gravações em estúdio e também integrava o time de músicos nos shows de Chico Buarque.

Após ter decidido parar logo depois do carnaval de 89, Mestre Marçal foi convidado a ser comentarista pela TV Manchete. Na cobertura do carnaval de 1990 fez duras críticas ao desfile, aos sambas e também à falta de técnica dos instrumentistas. Suas análises recheadas de bom humor e sarcasmo se tornaram marca registrada, mas também foram alvo de polêmica. Os ácidos comentários geraram desentendimentos com algumas escolas. O artista ainda permaneceria na equipe da Manchete em 1991 e 1992.


Mestre Marçal provocou polêmicas e até criou inimizades devido seus comentários no carnaval da Manchete em 1990

Para 1991, devido às reclamações, descontentamentos e até intimidações de vários carnavalescos, dirigentes e da própria Liesa às análises proferidas pela equipe, a TV Manchete advertiu alguns comentaristas, sobretudo Marçal e Fernando Pamplona. O Mestre absorveu o “cartão amarelo” e maneirou nas críticas nos anos seguintes. Já Pamplona, no entanto, resolveu se afastar do carnaval – alegando que fora até ameaçado de morte – retornando apenas em 1994.

Após o carnaval de 1991, a então emergente Unidos do Viradouro contratou Mestre Marçal para dividir o comando da bateria com Paulinho Botelho, egresso da Caprichosos de Pilares. A inusitada parceria gerou uma saia curta, pois no carnaval de 90 Marçal havia criticado abertamente o desempenho da bateria da escola de Pilares e o comando de Mestre Paulinho – na época, uma estrela em ascensão no mundo do samba.

Com divergências entre os dois e muitas brigas, Mestre Marçal, após um ensaio, foi vaiado na quadra da escola e, consequentemente, pediu demissão ao presidente José Carlos Monassa Bessil após três meses de trabalho à frente da bateria. Marçal acabou voltando a comentar pelo terceiro ano consecutivo o carnaval para a TV Manchete.

Outra atração proporcionada por Mestre Marçal foram suas pérolas, frases de efeito e tiradas bem-humoradas que ajudaram a tornar a transmissão mais leve:

"Alô, bateria!"

"Tem que deixar o cavalo correr na pista de grama..."

"Vamos comer esse mingau pela beirada do prato..."

"Se não é pelo acompanhamento musical, não tem Pavarotti que sustente..."

"Ô, sorte!"

"Eu não posso perder esse emprego..."

"De hora em hora, uma colher de chá."

"Eu quero mais é que o mundo se acabe em barranco, que é para eu morrer escorado."

"Quem esquenta a cabeça é fósforo."

"Se a onça morrer, o mato é nosso."

"Juntou pé com cabeça."

"Quem não pode com o tempo não inventa moda."

"Eu moro em cima do sapato."

"Passarinho que anda com morcego aprende a dormir de cabeça pra baixo."

"Quem dorme de favor não tem direito a esticar as pernas."

"Estou vendo vários ritmistas tocarem caixa e tarol em cima do ombro. Meu irmão, o que se toca em cima do ombro é violino... Vou mandar eles tocarem um surdo de marcação em cima do ombro. Aí é que eu quero ver."

"O bicho tá pegando."

Outro craque do time galáctico do “Carnaval Nota Mil” foi, sem dúvida, José Carlos Rego (1935 – 2006), integrante de primeira hora do Carnaval da TV Manchete desde 1984 até 1997. Jornalista, escritor e pesquisador de carnaval, Zé Carlos (como era chamado pela equipe) iniciou sua carreira em jornais estudantis e sindicais na década de 50.

Em 1957, integrou o corpo de jurados para o desfile do carnaval, realizado pela primeira vez na Avenida Rio Branco. Por essa época, Rego trabalhou como repórter carnavalesco para o jornal Diário Carioca e, no ano seguinte, transferiu-se para o jornal Última Hora, de Samuel Wainer, onde atuou como repórter policial e se destacou na cobertura das escolas de samba.

José Carlos Rego era também apaixonado pelo Império Serrano, sobre a qual fez pesquisas de caráter antropológico que não chegou a expor em livro, como a de que a agremiação se formou e cresceu em torno das relações de casamento e parentesco sanguíneo e afim entre as famílias Santos e Oliveira, envolvendo mais de 250 integrantes de ambas.

Morador do bairro de Lins de Vasconcellos e vizinho da quadra da Unidos do Cabuçu, Zé Carlos pertenceu à ala de compositores da escola, sendo um dos autores do samba-enredo “A lenda do dragão dourado” junto com os parceiros Taú Silva e Jacó, no carnaval de 1982.


O jornalista e escritor José Carlos Rego foi um dos maiores conhecedores do universo do samba carioca e integrou a equipe da Manchete entre 1984 até 1998

Seu grande furo de reportagem foi apresentar à justiça o assassino de Odilo Costa Neto, cujo pai, Odilo Costa Filho, foi o renovador da imprensa brasileira.

Um dos maiores conhecedores do universo do samba carioca, Zé Carlos deixou para a posteridade pelo menos um trabalho original e único (infelizmente hoje muito raro de se encontrar): o livro “Dança do Samba – Exercício do Prazer” (1996), da Aldeia Editora, no qual nominou e descreveu 156 coreografias da dança e do ritmo, em depoimentos de cerca de uma centena de passistas famosos.

Jurado do Estandarte de Ouro desde sua primeira edição (em 1972) até 2005, José Carlos Rego faleceu vítima de um acidente vascular cerebral aos 70 anos, em plena quarta-feira de Cinzas de 2006.

“Requentando os Tamborins”

Até no humor e na paródia ao carnaval havia competição entre Globo e Manchete. Se a turma do Casseta e Planeta fazia a alegria na transmissão do Plim-Plim, a Manchete respondia com a verve e o talento do músico, humorista e radialista Serginho Leite (1955 - 2011).


Serginho Leite fazia suas esquetes bem humoradas nos intervalos comerciais da programação carnavalesca da Manchete em 1990 e 1991

Na Manchete, Serginho apresentou por duas temporadas (1990 e 1991) o “Requentando os Tamborins”, esquetes que entravam no ar nos intervalos comerciais da programação carnavalesca da emissora.


Tela da vinheta de “Requentando os Tamborins”, atração do Carnaval Brasil, da TV Manchete nas coberturas de 1990 e 1991

Serginho Leite trabalhou durante três décadas como locutor de rádio e se tornou popular no programa “Show de Rádio”, da Jovem Pan. Ele era conhecido pelas imitações de celebridades, como Agnaldo Timóteo, Cauby Peixoto, Maguila, Paulinho da Viola, Pelé, e por paródias que criava acompanhado do violão.

Outros trabalhos do locutor e humorista que se tornaram conhecidos foram os jingles e comerciais para rádio e TV do personagem Bom de Boca, da Cepacol, do Tigre Tony, do Sucrilhos Kellogg's, e do elefante Jotalhão, do molho de tomate Cica.

 

Requentando os Tamborins/1991, a partir de 04:00

1991 - Carnaval Brasil enfrenta a Globeleza

O carnaval de 1991 mantinha Globo e Manchete em pé de igualdade de transmissões, com as duas emissoras se esmerando de apresentar a melhor qualidade em termos de programação carnavalesca.

O “Carnaval Brasil” da emissora da família Bloch seguia expandindo seus domínios: Rio, São Paulo, Nordeste e o Sul. A Globo, naturalmente acostumada à liderança de audiência, nomeava sua cobertura de “Carnaval Globeleza”, igualmente ampliando seu poder de transmissão.


Vinheta do “Carnaval Brasil”, característica da cobertura da folia na Manchete


Globeleza: marca registrada da programação carnavalesca da Globo desde 1991

Ainda sobre a música-tema “Globeleza”, uma curiosidade: o durante algum tempo a ideia da Central Globo de Produção era renovar a cada ano a voz do cantor na gravação do samba, ficando a cargo do microfone titular da escola campeã do carnaval anterior.

Assim, em 1991, a primeira gravação do jingle Globeleza ficou a cargo do carismático Quinho (à época no Salgueiro), muito devido ao seu inesquecível desempenho no carnaval de 1989, com “Festa profana”, na União da Ilha do Governador.

Depois, a emissora tentou, a cada ano, fazer com que o intérprete da campeã do carnaval gravasse o tradicional tema musical. Iniciativa essa que não chegou a se concretizar de todo.

Entre 1991 e 2018 (último ano em que o samba foi gravado na versão original), seis puxadores puseram a voz na obra de autoria de Jorge Aragão e Franco: Quinho, Paulinho Mocidade, Dominguinhos do Estácio, Preto Joia, Neguinho da Beija-Flor e Tinga, além do cantor Diogo Nogueira.

A voz de Neguinho da Beija-Flor foi a que mais apareceu (onze edições da cobertura Globeleza), seguido de Dominguinhos do Estácio, com sete. O cantor Diogo Nogueira apareceu em três edições.

Curiosamente, dois intérpretes que foram campeões com suas escolas neste período, Jamelão (Mangueira em 1998 e 2002) e Wander Pires (Mocidade em 1996), jamais cantaram oficialmente o jingle Globeleza.

1991 – voz de Quinho (Salgueiro)

1992 – voz de Paulinho Mocidade (Mocidade)

1993 – voz de Dominguinhos do Estácio (Estácio de Sá)

1994 – Coral de estúdio, pois a campeã de 1993, Salgueiro, tinha como intérprete Quinho, que já gravara justamente a primeira versão do samba

1995 – voz de Preto Joia (Imperatriz Leopoldinense)

1996 – voz de Dominguinhos do Estácio, na época sem escola (mesma gravação de 1993). Depois, o cantor foi contratado para ser apoio na Imperatriz.

1997 e 1998 – coral de estúdio

1999 a 2003 – voz de Dominguinhos do Estácio

2004 a 2006 – voz de Neguinho da Beija-Flor

2007 – voz de Tinga (Unidos de Vila Isabel)

2008 e 2009 – voz de Neguinho da Beija-Flor

2010 a 2012 – voz de Diogo Nogueira

2013 a 2018 – voz de Neguinho da Beija-Flor

O desfile do Acesso que só a Manchete exibiu

Em 1991, a Unidos do Cabuçu resolveu homenagear Adolpho Bloch, empresário e dono de um império das comunicações, com o enredo “Aconteceu, virou Manchete”, do carnavalesco Paulo Afonso de Lima.

No entanto, este foi o único desfile do grupo 1B de 91 que teve transmissão. A Globo havia comprado os direitos do Grupo de Acesso, mas inexplicavelmente não transmitiu. A Manchete, no domingo de carnaval, à tarde, lançou na TV a reprise do desfile da Cabuçu, que havia sido a nona escola a desfilar no sábado – já no amanhecer do domingo.

Naquele ano, em retribuição pela homenagem ao chefão da casa, a presidente da Cabuçu, a professora e jornalista Therezinha Monte, foi convidada a participar da cobertura de carnaval da TV Manchete.


Em 1991, a Revista Manchete publicava: (...) Com o enredo "Aconteceu, virou Manchete", a azul e branco homenageou Adolpho Bloch num desfile rico em beleza, cor e alegria. Junto a Anna Bentes, o menino de Kiev recebeu seu batismo definitivo de brasilidade na Sapucaí (...)

O carnaval da Pauliceia entra definitivamente na tela

O carnaval de São Paulo já era mostrado localmente aos paulistanos pela TV Cultura nos anos 70 e 80, e pelo SBT, em rede nacional, no início dos anos 80, como vimos no Capítulo 3 desta série.

A Globo inicialmente começou a transmitir ao vivo os desfiles do grupo especial diretamente da Avenida Tiradentes para a cidade de São Paulo a partir de 1987. Na ocasião, por questões mercadológicas, o desfile das escolas de samba da terra da garoa passou a acontecer no sábado de carnaval, fugindo da concorrência com o grupo especial dos coirmãos cariocas, que desde 1984 se realizava no domingo e na segunda.

Em 1994, o desfile do grupo especial de São Paulo ganha transmissão em rede nacional e, desde 2000 a apresentação da elite do carnaval paulistano também foi dividida em dois dias. Mas veremos isso no decorrer do próximo capítulo.

Voltemos a 1991. O sambódromo de São Paulo era inaugurado em regime de urgência, depois de dois meses e meio de obras.

http://globotv.globo.com/rede-globo/memoria-globo/v/jornal-nacional-sambodromo-de-sao-paulo-1991/4783746/

Assista à reportagem de Tonico Ferreira para o Fantástico sobre a inauguração, levada ao ar no dia 10 de fevereiro de 1991.

Teve atraso de até quatro horas. Choveu tanto que a concentração ficou inundada. As arquibancadas de alvenaria não puderam ser construídas, e o jeito foi montar as de madeira. A iluminação também não estava pronta. Mas os sucessivos problemas não importavam, afinal, a casa era nova, permanente. O carnaval paulistano finalmente ganhou a sua passarela definitiva, o Polo Cultural e Esportivo Grande Otelo, mais conhecido como Sambódromo do Anhembi, na zona norte.


Sambódromo de São Paulo em 20 de janeiro de 1991, detalhe para as arquibancadas moveis que foram utilizadas no carnaval daquele ano. Foto: Arquivo/Estadão

Com projeto arquitetônico inicial do mesmo Oscar Niemeyer – que também havia criado o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio –, o Anhembi era o que faltava para a profissionalização do carnaval paulistano, segundo dirigentes da folia na época. A licitação para o início das obras foi aprovada somente em junho de 1990. O custo, à época, era orçado em 9 milhões de dólares.

O complexo cultural começou a ser construído ainda na gestão da então prefeita Luiza Erundina. Foi inaugurado em 1 de fevereiro de 1991 para apenas 10 mil pessoas e arquibancadas móveis. O espaço só foi totalmente concluído em 1997, durante o mandato de Celso Pitta (1946 - 2009).


Reportagem do jornal O Estado de São Paulo noticiando a inauguração do Sambódromo do Anhembi. Foto: Acervo/Estadão

No primeiro carnaval, as arquibancadas tinham espaço para 25 mil pessoas. Hoje, a capacidade total é de 29.199, contando camarotes, mesas e cadeiras de pista. Com 530 metros de extensão e 14 de largura, a passarela do Anhembi não é só o palco das escolas. Recebe shows, feiras e até mesmo eventos automobilísticos, como a Fórmula Indy, realizada no local entre 2010 e 2013.

Dez escolas desfilariam no sábado de Carnaval pelo Grupo Especial pela glória de ser a primeira campeã do Sambódromo. Em 9 de fevereiro de 1991, a escola de samba Passo de Ouro entrava para a história como a primeira a fazer um desfile oficial no Sambódromo do Anhembi, com  Cabeças e Plumas”, um inusitado enredo que falava sobre personagens  históricos que foram decapitados (!).

Na sequência, desfilaram: Águia de Ouro homenageando os imigrantes italianos com o enredo “São Paulo, Pátria Mia”; Nenê de Vila Matilde, com “É tudo mentira, será que é?”, sobre as mentiras que foram aceitas como verdade ao longo da história; Vai-Vai destacou o talento da raça negra nas artes com “O negro em forma de arte” e a Mocidade Alegre falou sobre os vários planos econômicos em “A história se repete”.

Quinta escola a desfilar, Rosas de Ouro, com “De piloto de fogão a chefe da Nação”, falou sobre as conquistas da mulher três décadas antes da palavra “empoderamento” se tornar moda; Unidos do Peruche apresentou um desfile bem humorado com “Quem não arrisca não petisca”; Barroca Zona Sul entrou na Avenida para confirmar sua ascensão demonstrada desde 1988, quando voltou ao Grupo Especial, com o enredo “Vestindo a Moda”.

O enredo da Leandro de Itaquera – “Querem acabar comigo também seguiu a linha crítica da coirmã Mocidade Alegre. Para encerrar o Carnaval de 1991, o Camisa Verde e Branco tentava o bicampeonato com o enredo “Combustível da Ilusão”, que contava a história da cerveja.

Reportagem do Fantástico sobre o desfile do grupo especial de São Paulo de 1991

A Globo transmitiu os desfiles de São Paulo de 1991 com apenas um narrador e um comentarista no ar. Leci Brandão comentou as transmissões do início ao fim, acompanhada por Carlos Tramontina e Cléber Machado, que se alternaram na narração.

Já a Manchete, como não iria transmitir o grupo 1B do Rio de Janeiro, se preparava para fazer a primeira grande transmissão do Carnaval paulistano, mobilizando para isso 150 funcionários.

Nesse período, surgiu uma ideia que não só passaria a valorizar a festa, mas mudaria o Carnaval de São Paulo visto pela televisão. O diretor Luiz Francfort, na época na TV Manchete, sugeriu à prefeitura que pintasse o chão de branco para valorizar a imagem. “Eu via a transmissão do Rio de Janeiro e achava grandioso. E quando entrava São Paulo, era aquela coisinha, uma escolinha de samba. Mas não era. De repente, eu bati os olhos e achei: puxa, é o chão que tira a grandeza da coisa! Cresceu muito a transmissão do Carnaval por causa dessa pintura”, explicou Francfort no livro “Aconteceu virou história”.

O Carnaval Globeleza e o Carnaval Campeão – 1992

Em fevereiro de 1992 seria travado mais um round na disputa momesca entre as estações de televisão. De um lado, o Carnaval Globeleza. Do outro, o Carnaval Campeão.

Como um boxeador jovem e ainda na flor da idade, a Manchete arrancava ainda mais cedo e prometia uma cobertura ainda mais completa: além da transmissão do Grupo Especial, voltava, após intervalo de um ano, a transmissão das escolas do Grupo de Acesso, no dia 29 de fevereiro. Lógico que os demais carros-chefes do carnaval da emissora (bailes de salão e concursos de fantasias) se mantinham na programação

A chamada do Carnaval da Manchete considerava que seria um “carnaval campeão”. A gravação da música-tema, na voz de Carlinhos de Pilares (1942 - 2005), contava com uma letra provocativa:

(O Brasil samba na Manchete)

Este ano a história se repete

O Brasil samba na Manchete

Você vai ver passarela colorida

Sua escola na avenida

A galera toda emocionar

E assim como por encanto

A avenida vira um manto

Com as cores do seu coração

Você vai entrar com a gente

Onde o samba rola quente

Nos mistérios da concentração

Camarote, arquibancada

Pode ver, não paga nada

A Manchete é do povão

Brilho, cores e fantasias

Um close nas mulheres mais bonitas

Como é de lei, pinta o replay

E o coração palpita

E de ala em ala vou brincando

A tristeza não tem vez

Neste reino da alegria

O meu corpo se agita

Ao sentir a ilusão

De ser mais um na bateria

Olé, olá, olê, olê

Nós estamos ligadinhos em você

Olé, olá, olê, olê

Fora da Manchete não tem nada a ver

 

Segundo a letra do jingle, a intenção da emissora era que o telespectador tivesse a visão e a sensação de ser um componente de uma escola de samba em pleno desfile. E no refrão final, um recado em forma de provocação: “fora da Manchete não tem nada a ver”, numa clara alusão ao slogan da Plim-Plim consagrado no ano anterior: “Globo e você, tudo a ver”.

A volta do Grupo de Acesso foi saudada com comemoração: 1992 foi um ano em que a categoria estava “inchada”, e recebia em um só dia 14 escolas (pela ordem): Unidos de Campinho; Acadêmicos da Rocinha; Acadêmicos do Engenho da Rainha; Unidos de Lucas; Arranco; Unidos da Ponte; Lins Imperial; Acadêmicos do Grande Rio; São Clemente; Independentes de Cordovil; Unidos do Cabuçu; Unidos do Jacarezinho; Império da Tijuca e Império Serrano.

A equipe, que já contava com Paulo Stein, José Carlos Rego, Roberto Barreira, Mestre Marçal e Therezinha Monte, recebeu mais dois belos reforços. Para revezar com Paulo Stein a ancoragem da transmissão, foi escalado o talentosíssimo radialista José Carlos Araújo. E antes do desfile propriamente dito, Adelzon Alves comandava o Botequim do Samba, mais conhecido depois, como o Botequim da Manchete.

José Carlos Araújo, conhecido também como “Garotinho” (não confundir com o ex-governador do Rio, e também radialista Anthony Garotinho) é um locutor esportivo e apresentador de televisão bastante conhecido por seus trabalhos em rádios na cidade do Rio de Janeiro. Trabalhou em praticamente todas estações de rádio na Cidade Maravilhosa: Globo, Nacional, Bradesco Esportes FM, BandNews FM, Transamérica, Super Rádio Tupi e Antena 1 Rio. Na TV, teve experiências na TVE Brasil, CNT, Band e SBT, além de uma breve passagem pela TV Manchete em 1992.


José Carlos Araújo teve uma breve passagem pela TV Manchete em 1992, ao ancorar o Carnaval Campeão, em revezamento com Paulo Stein

O jornalista, radialista e produtor Adelzon Alves é um patrimônio da música nacional. Conhece todos os nomes, datas e contextos, nos mínimos detalhes. Vivenciou boa parte deste processo de perto numa época em que as rádios tinham muito mais apelo cultural e popular. Em 1966 foi lançado seu programa “Amigo da Madrugada”, na Rádio Globo, onde iniciou um movimento de valorização do compositor do morro e recebeu em seu estúdio Cartola, Nelson Cavaquinho, Silas de Oliveira, Geraldo Babão, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, dentre tantos outros artistas consagrados. Foi produtor de discos da cantora Clara Nunes, entre eles, “Alvorecer” (1974).


Botequim do Samba recebe os cantores da Acadêmicos do Engenho da Rainha pouco antes de entrar na avenida em 1992. Sentados: Ciganerey (à esquerda, com o microfone); Antônio Carlos; Sidney de Pilares (de barba); Adelzon Alves; Edson Conceição, um dos compositores do samba daquele ano (de óculos e camisa listrada), e Baianinho da Em Cima da Hora, Cidadão Samba daquele ano (de branco). Ao fundo, em pé, passistas e os músicos do SS7

Na Manchete, Adelzon era o bartender do “Botequim do Samba”. A emissora montava um bar no início do Sambódromo – ideia que foi copiada nos anos 2000 pela Globo, primeiro como “Esquina do Samba” e depois como “Camarote da Globo”. Por lá o jornalista entrevistava os sambistas das escolas antes de se apresentarem, como passistas, cidadãos sambas, destaques, etc.

No Botequim, Adelzon pedia aos intérpretes que cantassem o samba-enredo em ritmo mais lento do que iriam mostrar na avenida, no intuito de valorizar a melodia e destacar a letra. Nos anos seguintes, Adelzon ganhou a companhia do sambista Jorge Aragão na condução do Botequim e do grupo Samba Som Sete, que fazia o acompanhamento musical dos intérpretes.

 

Rebaixada para o Grupo A depois de cinco carnavais consecutivos desfilando entres as grandes, a São Clemente preparou para 1992 o enredo “E o salário, ó”, uma crítica bem-humorada ao problema da educação no Brasil. No vídeo, componentes da escola no Botequim da Manchete, com destaque para Carlinhos de Jesus.

O Samba Som Sete foi formado no início da década de 70, na quadra da então Escola de Samba Unidos de São Carlos, hoje GRES Estácio de Sá.

O SS7 era formado por Beloba (percussão), Paulinho “Galeto” Soares (voz e cavaquinho), Betão (surdo e agogô), Mangueirinha (percussão), Duda (banjo e voz), Paraguaçu (pandeiro e voz) e Luizinho (baixo e violão).

O grupo teve oito discos lançados e seus músicos gravaram e acompanharam a fina flor do samba: Alcione, Almir Guineto, Beth Carvalho, Ismael Silva, Martinho da Vila, Neguinho da Beija-Flor, Rildo Hora, Zeca Pagodinho, além de terem participado da gravação de vários discos das escolas de samba do grupo especial.

E quem não se lembra do samba que nas transmissões fazia a transição da passarela para o Botequim, com o seguinte refrão:

Se liga na Manchete

Se liga na Manchete

Tem Botequim, tem Adelzon

Samba Som Sete

Se liga na Manchete

Se liga na Manchete

Tem Botequim, Jorge Aragão

Samba Som Sete

Desde então o “Botequim” se tornou uma tradição dentro da programação carnavalesca da Manchete. Ia ao ar no pré-carnaval, apresentando os sambas enredo das escolas, com a presença dos intérpretes, com o auxílio luxuoso do Grupo Fundo de Quintal e a apresentação de Oswaldo Sargentelli (1924 - 2002).

A atração também acontecia antes das escolas iniciarem o desfile, com os puxadores ou a ala de compositores dando uma canja acompanhados pelo Samba Som 7.

Tantos Carnavais

“Tantos Carnavais” foi uma série de especiais de carnaval, que ia ao ar aos domingos pela TV Manchete. A atração durou duas temporadas, em 1991 e 1992, num misto de jornalismo com espetáculo musical.


Tantos Carnavais durou apenas duas temporadas na programação da TV Manchete (1991 e 1992)

O programa recebia no palco vários convidados especiais. A apresentação era a cargo do cantor Jair Rodrigues (1939 - 2014), que também cantava acompanhado por músicos da pesada, como Wilson das Neves (1936 – 2017, bateria), Márcio Hulk (cavaquinho), Jorge Simas (violão), Paulinho da Aba (1945 – 2017, pandeiro), Trambique (1945 – 2016, surdo), Agrião (tamborim), Alexandre de La Peña (violão 6 cordas), Josimar Gomes Carneiro (violão 7 cordas) e Mazinho Ventura (contrabaixo).


Jair Rodrigues apresentava Tantos Carnavais e ainda cantava acompanhado por um supergrupo de instrumentistas

Além de muitas cenas gravadas em externa, tal qual reportagem, a edição de “Tantos Carnavais” também privilegiava imagens de arquivo das revistas Bloch.

A rivalidade carnavalesca entre Globo e Manchete parecia infinita. A cada ano, os dois impérios de comunicação disponibilizavam um arsenal de atrações em suas respectivas programações para abastecer os amantes da folia.

No entanto, o decorrer da década de 90 mostraria que haveria caminhos diferentes para as duas tevês. Tanto para o bem quanto para o mal. Uma terceira emissora de televisão, oriunda do norte do Paraná, pede passagem no circuito carnavalesco e finca sua bandeira obtendo êxito. As duas principais cervejarias do país entram em uma guerra de marketing e escolhem o carnaval como o front favorito. E o sotaque soteropolitano, de mansinho, vai invadindo os lares e “roubando” a audiência com muito axé. É o que veremos no capítulo 6 da saga da História do Carnaval na TV Brasileira.

REFERÊNCIAS:

ALBIN, Ricardo Cravo (Org.). Dicionário Houaiss ilustrado da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006.

BARROS, Vinícius de Camargo. O uso do tamborim por Mestre Marçal: legado e estudo interpretativo. Dissertação (Mestrado em Música). Instituto de Artes, Unicamp, Campinas, 2015.

BEREZOVSKY, Sérgio. Sambódromo – Espaço destinado ao desfile das escolas de samba. In: Acervo Estadão, 28 de novembro de 2012. Disponível em <https://acervo.estadao.com.br/noticias/lugares,sambodromo,8415,0.htm>. Acesso em mar. 2020.

BRISOLARA, Gerson. A folia eletrônica acontece e vira manchete – Estudo de caso em que uma manifestação popular (carnaval do Rio de Janeiro) é absorvida por um meio de comunicação de massa (TV Manchete). Trabalho de conclusão no curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo da UFRGS, 1994.

DICIONÁRIO CRAVO ALBIN DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. Verbete José Carlos Rego. Disponível em <http://www.dicionariompb.com.br/jose-carlos-rego>. Acesso em mar. 2020.

DICIONÁRIO CRAVO ALBIN DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. Verbete Mestre Marçal. Disponível em <http://www.dicionariompb.com.br/mestre-marcal>. Acesso em mar. 2020.

DURÃO, Mariana. Grupo árabe Mubadala recebeu o hotel no Rio no “pacote” da reestruturação de uma dívida de R$ 2 bilhões de Eike; agora, tentará vendê-lo com ajuda de braço da Brookfield. In: O Estado de S.Paulo, 25 de outubro de 2019.

FACEBOOK. Fan Page Clóvis Bornay Vive. Disponível em <https://www.facebook.com/Clovisbornayvive>. Acesso em mar.2020.

FRANCFORT, Elmo. Rede Manchete: Aconteceu virou história. São Paulo: Coleção Aplauso Especial (1ª edição). Imprensa Oficial (IMESP). 2008.

GLOBO MEMÓRIA. Disponível em <http://globotv.globo.com/rede-globo/memoria-globo/v/webdoc-jornalismo-camarote-na-sapucai-com-casseta-popular-planeta-diario-1990/3164828>. Acesso em mar. 2020.

MIGÃO, Pedro. Bodas de Prata – 1991: Camisa e Rosas dividem título em Sambódromo improvisado. <http://www.pedromigao.com.br/ourodetolo/2014/08/bodas-de-prata-1991-camisa-e-rosas-dividem-titulo-em-sambodromo-improvisado>.  Acesso em fev. 2020.

PAMPLONA, Fernando. O encarnado e o branco. Rio de Janeiro: Ed. Nova Terra. 2013.

PRESTES FILHO, Luiz Carlos. O maior espetáculo da Terra: 30 anos de Sambódromo. Rio de Janeiro: Editora Lacre. 2015.

REGO, José Carlos. Dança do. Samba – Exercício do Prazer. Rio de Janeiro: Editora Aldeia. 1996.

Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)
rixxajr@yahoo.com.br