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Coluna do Rixxa Jr

TOP 10 SAMBARIO - DEZ SAMBAS HISTÓRICOS DA PARAÍSO DO TUIUTI

19 de fevereiro de 2018, nº 33, ano XIV


FOTO: Ricardo Moraes-Reuters

Já que em função do impressionante desfile e do consequente vice-campeonato no Grupo Especial de 2018, a Paraíso do Tuiuti está na crista da onda numa popularidade jamais antes sonhada por sua comunidade e nem mesmo por sua diretoria. E para pegar carona nesta oportunidade, o Top Dez Sambario desperta de seu sono profundo, sai do seu sarcófago e enumera dez sambas da história do pavilhão azul e amarelo de São Cristóvão antes do fenomenal “Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?”, dos compositores Moacyr Luz, Cláudio Russo, Dona Zezé, Aníbal e Jurandir.

Da listagem abaixo pode haver alguns sambas que não são necessariamente obras-primas musicais, mas com certeza são muito significativos para a trajetória da escola. Uma característica marcante nos enredos da Tuiuti é o predomínio de temas de cunho cultural.

ATENÇÃO! O samba de 2018 intencionalmente não foi incluído na lista, pois devido à beleza da composição, as quatro notas máximas obtidas no quesito e toda a repercussão gerada antes e depois do desfile, automaticamente já se tornou um samba histórico da agremiação. A lista a seguir está em ordem cronológica.



10º lugar: OBRA E VIDA DE CECÍLIA MEIRELLES - Noca da Portela e Poliba (1975)

Poucos sabem, mas Noca, antes de ser “da Portela”, começou no mundo do samba no Paraíso, pois logo que seus pais se mudaram de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, o sambista morou quando menino no morro do Tuiuti. Este samba foi gravado por Jamelão no disco Os melhores sambas-enredo de 1975, lançado meses antes do carnaval pela gravadora Continental. Entre os hinos da Portela, Salgueiro, Vila Isabel e de sua Mangueira, “Obra e vida de Cecília Meirelles” foi o único samba de uma escola do antigo grupo 2 (atual Série A) a figurar no repertório do disco. Até a década de 70 era muito comum os sambistas gravarem discos com os sambas das escolas antes do carnaval, pois não havia a exclusividade de lançamento que hoje goza a Gravasamba, selo da Liesa. A classificação da Paraíso do Tuiuti em 1975 foi um honroso 7º lugar.

Louvor a Cecília Meireles poetisa
Que a mulher brasileira simboliza
Na arte, na cultura e no amor
Quando seus poemas escrevia
A natureza sorria
Ó, que esplendor



9º lugar: ALEGRIA – Autoria não disponível (1982)


Logo depois que Maria Augusta saiu da União da Ilha do Governador, a carnavalesca foi desfilar o seu talento na Paraíso do Tuiuti. A artista encontrou uma escola desmotivada e apática, afundada nas profundezas do grupo 2B (na época, a quarta e mais inferior divisão do carnaval, o equivalente hoje à Série E). Com enredos criativos e de fácil assimilação pelo público e pelo próprio componente, Maria Augusta injetou ânimo e inventividade aos carnavais da escola, que a cada ano ascendia de grupo até atingir ao Grupo 1B. “Alegria” é um enredo que tem muito do estilo bom-bonito-e-barato implementado pela carnavalesca na Ilha na segunda metade dos anos 70 e que marcou época. O samba lembra bastante o clima de “Domingo” (1977). A Tuiuti foi a vice-campeã do Grupo 2 (atual Série B) em 1982. Não temos conhecimento sobre o(s) autor(es) deste maravilhoso samba enredo. Quem souber, é só enviar um e-mail para o site Sambario.

Carnaval
O povo em festa veste a fantasia
A cidade se enfeita e é toda alegria
Gloriosas as Escolas de Samba a desfilar



8º lugar: VAMOS FALAR DE AMOR – Beto Xangô e Dentinho (1983)

Este seria apenas mais um samba que quase passaria despercebido (apesar de ser animado, simpático e correto), não fosse pela sua importância na historia da teledramaturgia. Em março de 1983, a TV Globo exibiu o Caso Especial “Otelo de Oliveira”, inspirado na tragédia Otelo, de Willian Shakespeare. Quase toda a trama se passava dentro da quadra da Paraíso do Tuiuti no período anterior ao desfile da escola. “Vamos falar de amor” era a trilha sonora ideal para uma história de amor conturbado. Roberto Bonfim fazia a personagem-título, o diretor de bateria da escola, negro e favelado, que conhece e se apaixona pela filha do patrono da agremiação, a doce, ingênua, adolescente e branca Dê/Desdêmona, interpretada pela jovem Júlia Lemmertz. Milton Gonçalves viveu o fofoqueiro e inescrupuloso Iago, diretor-auxiliar de Otelo, que almeja chegar ao posto de comandante dos ritmistas a qualquer custo. Racismo, traições, mortes, diferenças entre classes sociais e carnaval formam o recheio da história. A cereja do bolo aparece no encerramento do episódio, quando aparecem cenas reais (e raras) da transmissão da TV Globo do desfile da Tuiuti de 1983, com a participação dos atores que participaram do especial. A escola terminou em 8º lugar no Grupo 1-B (atual Série A). O samba foi reeditado em 2007 e rendeu um 3º lugar, com a escola no grupo B (atual Série B).

O cupido chegou
Na Sapucaí
Cantando forte
E abraçando a Tuiuti



7º lugar: FILHO DE BRANCO É MENINO, FILHO DE NEGRO É MOLEQUE; MOLEQUE TAÍ? VEM CÁ MOLEQUE, VEM CÁ APANHAR – Autores: Zé Lobo, Cocada, Bidubi do Tuiuti, Jorge Neguinho e Rodolfo da Bacia (1988)

Com uma melodia serelepe que nem uma fuga de moleque, este samba fez muito sucesso na quadra da escola no carnaval de 1988. O enredo fazia a comparação entre a infância vivida pelas crianças da classe média e pelas crianças que moram nos morros e favelas. Quem assinou o carnaval naquele ano foi o artesão Julio Mattos (1924? - 1994), que na época se dividia entre a Paraíso do Tuiuti e a Estação Primeira de Mangueira. A Tuiuti chegou em 6º lugar no Grupo 1B. Entre os autores do samba, estava Jorge dos Santos, o Bidubi, que foi intérprete e presidente da escola nos anos 80 e um dos compositores de “Caxambu”, megassucesso na voz de Almir Guinéto, e de “Perfeita harmonia”, gravada por Zeca Pagodinho. Bidubi também participou do primeiro disco do Quintal do Pagodinho (2001).

Ê... ê... eh
Ê... ê... ah
Tuiuti lembra a infância
Vamos brincar



6º lugar: ENEIDA, O PIERROT ESTÁ DE VOLTA – Autores: Aldir, Parim, Jorge Neguinho e Fernando Jota (1990). Anibal, Jr. Fionda, Luiz Caxias, Reza, Marcio de Campos e Ceí (2010)

Em 1990, a Paraíso do Tuiuti resolveu homenagear a pesquisadora e jornalista paraense Eneida de Moraes (1904 - 1971). O destaque deste ano é que o samba foi conduzido na avenida por Bidubi, que ocupava o cargo de presidente da escola. A escola obteve o 9º lugar no Grupo 1B, num carnaval novamente assinado por Júlio Mattos.

Eneida
O seu amor foi Carnaval
E na arte e na cultura
Marco da literatura foi sem igual
Deslumbrando as escolas de samba



Vinte anos depois, a Tuiuti fez uma releitura do enredo, com um novo samba e com o acréscimo de novas ideias, como uma menção ao Carnaval Virtual. A escola terminou na 12ª posição, sendo rebaixada para o ano de 2011 ao Grupo B. Após o rebaixamento, a agremiação foi obrigada a deixar a quadra que ocupava no Campo de São Cristóvão, devido a uma ação de despejo.

Dando um baile na avenida
Pra te seduzir... Sou Tuiuti
A essência do samba não morrerá jamais
Meu Paraíso canta Eneida de Moraes



5º UM MONARCA NA FUZARCA – Autores: Meia Noite, Jurandir, Gil Azeitona, Mestre Arerê, Tunico do Pandeiro, Serginho da Ilha e César Som Livre (2000)

A escola surpreendeu ao público presente no Sambódromo da Sapucaí ao encerrar o desfile do Grupo A (atual Série A). No ano anterior, a Tuiuti havia vencido o Grupo B e, até então, era vista apenas como uma simpática agremiação que oscilava entre a segunda e terceira divisões do carnaval do Rio de Janeiro. Para muitos especialistas, a Tuiuti não inspirava temor a outras mais cascudas e acostumadas a disputarem o título para retornar ao Grupo Especial, como Estácio de Sá, Santa Cruz, Jacarezinho ou Império da Tijuca, que já haviam se apresentado. No entanto, a Paraíso apresentou uma incrível organização no desfile, e uma apresentação com muita garra e vibração. As fantasias e alegorias foram assinadas pelo então novato carnavalesco Paulo Menezes. O resultado foi um surpreendente vice-campeonato que lhe rendeu o acesso e o direito de abrir o desfile do Especial no ano seguinte.

Um monarca na fuzarca
Vem a Tuiuti
Vai balançar o povo
Ao desfilar de novo na Sapucaí



4º lugar: UM MOURO NO QUILOMBO: ISTO A HISTÓRIA REGISTRA – Autores: César Som Livre, Kleber Rodrigues, David Lima e Cláudio Martins (2001)

No ano de 2001, a escola Paraíso do Tuiuti levou para a Marquês de Sapucaí, em sua primeira participação no Grupo Especial na era atual do Carnaval, um samba que chamou a atenção de boa parte dos sambistas e especialistas em carnaval. Segundo o pesquisador Yuri Prado Brandão de Souza, em sua monografia Aspectos estilísticos e transformações do samba-enredo sob o ponto de vista melódico (2009), “com linha melódica bastante incomum e progressões harmônicas ousadas, o samba da escola de São Cristóvão, ‘Um mouro no quilombo. Isto a história registra!’, parecia ser uma viva reação ao modelo de samba-enredo vigente”. O impacto que o samba causou entre os compositores foi grande. Arlindo Cruz, vencedor do Estandarte de Ouro naquele ano, afirmou, em entrevista que o melhor samba-enredo de 2001 era o do Tuiuti e que seria “um divisor de águas na história do samba-enredo”. No entanto, o samba não foi tão bem recebido pelos jurados. Das três notas válidas, foram atribuídas uma nota 10, e duas notas 9.0. A escola ficou em último lugar no Especial e foi rebaixada para o Grupo A, inaugurando uma espécie de pelotão de escolas que sofreram rebaixamentos injustos, como Império da Tijuca (2014) e Estácio de Sá (2016), por exemplo. Desde então, “Um mouro no quilombo” se tornou um hino da escola e passou a ser executado sempre como esquenta.

Assim surgiu
O desejo de escrever
A própria história
E quem quiser chegar
Pra construir essa vitória
Um povo mais feliz
A Meca de um país
Justiça e igualdade



3º lugar: TUIUTI DESFILA O BRASIL EM TELAS DE PORTINARI – Autores: Fernando de Lima, Silvão, Doutor e Eli Penteado (2003)

Foi com este carnaval na Paraíso da Tuiuti que começava a surgir o trabalho de um novo carnavalesco: Paulo Barros. O enredo em homenagem ao centenário do pintor Cândido Portinari (1903 - 1962) apresentou um criativo desfile desenvolvido, no qual havia uma comissão de frente vestida com saias de pincéis giratórios e paleta de tinta em uma aquarela. No abre-alas, a grande coroa, símbolo da escola, foi feita com 7.500 latas de tinta, inclusive com tampas revestindo o piso, gerando um belo efeito visual. Outras alegorias impactantes foi o carro com esculturas de negros carregando sacos de café, sem figuras vivas e com canhões de luz de baixo para cima, e a alegoria que trazia espantalhos de campos de milho que coreografavam para assustar os corvos. Apesar do 3º lugar, o desfile foi tão surpreendente que a Unidos da Tijuca convidou Paulo Barros para desenvolver o enredo da escola do Borel em 2004 no Grupo Especial, escrevendo uma nova história do carnaval carioca.

Vem pra navegar em telas
Sou Portinari, é Carnaval!
Cem anos vou brindar
Pintando a emoção
Enredo do meu coração



2º lugar – OLHA QUE COISA MAIS LINDA, O POETA ESTÁ NO PARAÍSO – Autores: Eric e Zezé (2004)

Em 2004, foi a vez da Tuiuti reverenciar o poeta Vinícius de Moraes (1913 - 1980). O samba foi um dos destaques da bela safra do Grupo A (atual Série A), graças às criativas soluções melódicas. Uma das melhores interpretações do cantor Ciganerey na condução da escola. No entanto, na classificação do desfile, a Tuiuti não passou de um 8º lugar.

E ao desfilar
Eu levo a vida como deve ser
Alegre, triste ou cheia de prazer
Venho celebrar o amor
E hoje
Minha escola canta em prece
Nosso povo não te esquece
Vinícius de Moraes amo você!



1º lugar – A FARRA DO BOI – Autores: Rafael Júnior, Jorge Maia, W Correia, Dilson Marimba e Cláudio Russo (2016)

Com o enredo “A farra do boi”, do carnavalesco Jack Vasconcellos, a escola fez um desfile empolgante e conquistou a Série A perdendo apenas 0,1 dos 270 pontos possíveis, garantindo assim seu retorno ao Grupo Especial depois de 15 anos. Desempenho maravilhoso de Daniel Silva à frente do carro de som da escola. A princípio, o cantor faria dupla com Ciganerey (que chegou a gravar o CD da Série A). Porém, o ex-Paulinho Poesia foi chamado para assumir o microfone principal da Mangueira devido ao falecimento do intérprete Luizito. Daniel então ganhou a companhia de Leandro Santos, que havia saído da Estácio de Sá.

Desce o morro
Faz a farra
Arretada Tuiuti
Requebra cintura de mola
No forró da minha escola
A poeira vai subir

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Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)

rixxajr@yahoo.com.br