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Coluna do Rixxa Jr

O CARNAVAL NA TV BRASILEIRA

 . 1º Capítulo: O Carnaval na TV Brasileira - Os Primórdios
 . 2º Capítulo: O Carnaval na TV Brasileira - A TV Coloriu
 . 3º Capítulo: O Carnaval na TV Brasileira - A Era da Televisão – Anos 80 (1ª Parte)

13 de janeiro de 2020, nº 40

CAPÍTULO 3 – O CARNAVAL NA ERA DA TELEVISÃO – Anos 80 (1ª parte)
por Gerson Brisolara

Indiscutivelmente, é a era da televisão
O tão distante presente
Se faz presente e satisfaz nossa visão
Até a lua lá no céu
Nos chega via Embratel


“Com a boca no mundo, quem não se comunica, se trumbica” (Aluísio Machado e Beto Sem Braço) – Samba enredo da GRES Império Serrano 1987.

E

m tempos que impera o monopólio por apenas uma emissora ser detentora exclusiva dos direitos de transmissão do carnaval carioca, é difícil acreditar que já houve tempo que a festa na Marquês de Sapucaí era exibida simultaneamente por quatro emissoras de alcance nacional.

Sim, na virada dos 70 para os 80, o carnaval carioca era disputado e exibido por Globo, Bandeirantes, Tupi (que já agonizava com sua crise financeira) e pela TV Educativa do Rio. E a TV Cultura começava a mostrar o carnaval feito na terra da garoa.

Naquela época, a representatividade dos desfiles na Marquês de Sapucaí era ainda mais intensa, gerando impactos fortíssimos no telespectador. Não havia internet e/ou outras formas de consumir, de casa, a festa no Rio de Janeiro. As revistas semanais de circulação nacional também forneciam uma cobertura farta e recheada de fotos, principalmente as revistas Manchete, Fatos e Fotos e Cruzeiro.

As televisões começavam com informações meses antes da folia. Algumas emissoras ainda promoviam concursos de marchinhas e músicas carnavalescas. Outras tinham em sua grade programas de auditório nos quais samba e carnaval eram o carro-chefe. Mas é claro que o ápice da festa acontecia na semana do carnaval, com a exibição de bailes pré e carnavalescos, concursos de fantasias e os desfiles das escolas de samba, além de flashes da folia nas outras regiões do país.

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Narração: José Cunha e Osmar Frazão
Reportagens: Jorge Perlingeiro

A década de 80 iniciou com os telespectadores assistindo sair do ar a primeira emissora de televisão a operar no Brasil e aquela que fazia a “Cobertura Total” do carnaval (ver Cap.2).

Inaugurada em 18 de setembro de 1950 pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand (que também controlava vários outros veículos de comunicação, formando um grande conglomerado, os Diários Associados), a TV Tupi, cabeça da Rede Tupi de Televisão, operou por quase trinta anos.

No carnaval, nos anos 60, a Tupi exibia trechos dos desfiles do carnaval carioca em seus telejornais, além de também ter surfado na onda dos festivais de música.

A emissora dos festivais de músicas carnavalescas

Em 1967, o Museu da Imagem e do Som (MIS), solicitou à TV Tupi que realizasse um festival de música carnavalesca. Então foi ao ar o programa Concurso de Música Carnavalesca, produzido pela Tupi do Rio de Janeiro e exibido em todo o Brasil, com direção de Ricardo Cravo Albin.

O vencedor do certame foi o compositor Zé Ketti (1921 - 1999), com a célebre música “Máscara Negra”. O sucesso foi tanto que a marca General Eletric (GE) batizou seu novo modelo de televisor, na época, como Máscara Negra.


Zé Ketti em cena do comercial do modelo de televisor da marca GE, batizado como “Máscara Negra”, nome inspirado na marchinha que venceu o Concurso de Música Carnavalesca, na TV Tupi em 1967.

A Tupi realizaria seis edições do Concurso de Músicas de Carnaval, em parceria com a Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro (ainda não havia a Riotur – Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro S.A., fundada em 14 de julho de 1972). Para perceber o porte desse festival, basta lembrar que uma das divas da canção e ex-Rainha do Rádio, a cantora Dalva de Oliveira (1917 - 1972), ressurgiu no país com a música “Bandeira Branca” (Max Nunes e Laércio Alves), terceiro lugar no Festival de Carnaval da TV Tupi em 1971.


A diva Dalva de Oliveira interpretou a música “Bandeira Branca”, que obteve o terceiro lugar no Festival de Carnaval da TV Tupi, em 1971.

Os últimos suspiros momescos da Tupi se deram em 1980. No início do ano, em conjunto com a Riotur, a emissora promoveu o Festival da Alegria, seu derradeiro concurso de músicas de carnaval. A apresentação do certame ficou a cargo de Jorge Perlingeiro e da jovem atriz Monique Alves (1962-1994). A música de abertura era “Abre-Alas”, sim aquele megaclássico de autoria da maestrina Chiquinha Gonzaga (1847-1935).

O júri do Festival da Alegria era composto por nomes célebres, como o agitador cultural e “maestro da Banda de Ipanema”, Albino Pinheiro (1934 - 1999); as cantoras e compositoras Dona Ivone Lara (1922-2018) e Lecy Brandão; o compositor Herivelto Martins (1912-1992); o ator Jorge Coutinho; o cantor Jorginho do Império; o carnavalesco Clóvis Bornay (1916-2005) e o produtor de TV Wilton Franco (1930-2012).

O Festival da Alegria revelou e premiou duas músicas que se tornaram estrondosos sucessos, até hoje são lembradas e já receberam diversas regravações. De autoria de Neguinho da Beija-Flor, interpretada pelo próprio compositor, a música “O campeão”, tornou-se seu maior sucesso (fora o universo dos sambas-de-enredo), sendo tocada em todos os estádios de futebol do país, unificando todas as torcidas, que sempre modificam uma parte da letra: “Domingo, eu vou ao Maracanã / Vou torcer pro time que sou fã...). A música obteve o terceiro lugar no festival, recebendo o Troféu Lamartine Babo e mais a importância de 15 mil cruzeiros.


O Festival da Alegria premiou “O Campeão”, de Neguinho da Beija-Flor, que se tornou o maior sucesso do compositor fora do universo dos sambas-de-enredo. Crédito: Divulgação/TV Brasil

 A outra música, “É preciso muito amor”, composta por Noca da Portela e Tião de Miracema, obteve o primeiro lugar no festival. Após ter arrebatado o concurso, o samba fez um estrondoso sucesso nas rádios e nos programas de TV, sendo posteriormente gravado pelo sambista manauense Chico da Silva, nos anos 80, e regravado por Dudu Nobre, na primeira década dos anos 2000.


Noca da Portela na época em que venceu o Festival da Alegria, com a música “É preciso muito amor”

Após a realização do Festival da Alegria – que era apresentado semanalmente nas noites de sábado, nos meses de janeiro e fevereiro –, Jorge Perlingeiro liderou uma vigília dos funcionários da TV Tupi tentando, sem sucesso, salvar a emissora, o emprego dele e de seus colegas. A vigília se encerrou dias antes do carnaval daquele ano e a emissora transmitiu os desfiles do Grupo Especial e das Campeãs (ver Capítulo 2 – A TV Coloriu).

Assim foi a cobertura para o último Carnaval do canal: vencida pela crise financeira, a Tupi fechou as portas e teve seu transmissor lacrado em 18 de julho de 1980. 

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Narração: Murilo Nery e Galvão Bueno (RJ) e Edson Garcia (SP).
Apresentadores: Bolinha, Chacrinha e João Roberto Kelly.

Comentários: Maria Augusta Rodrigues, Fernando Pamplona e Albino Pinheiro (RJ) e Denílson Benevides (SP)
Reportagens: Otávio Mesquita, Rogéria, Monique Evans, Cristina Prochaska, Emílio Surita, Sandra Annenberg, Cristina Rego Monteiro, Sandra Moreira e Hilton Abi-Rihan
.


Vinheta da cobertura de carnaval da Band em 1981, exibida nos intervalos comerciais.

Apesar de nunca ter sido líder de audiência no segmento carnavalesco, a TV Bandeirantes no início dos anos 80 mantinha uma excelente programação que privilegiava, sobretudo, o pré-carnaval. 

Rio Dá Samba e João Roberto Kelly

Quando o compositor e apresentador João Roberto Kelly assumiu a presidência da Riotur em 1980, levou para a emissora seu programa de auditório Programa João Roberto Kelly – que já apresentava há dez anos, inicialmente na TV Rio e depois na TV Tupi. O show, antes transmitido apenas para o estado do Rio de Janeiro, passou a ter abrangência nacional e ganhou o nome de Rio Dá Samba, nome de um espetáculo musical que o artista percorria diversas cidades brasileiras.

O programa de Kellynho reproduzia o clima do show que o animador apresentava nas casas noturnas, que seguia a mesma linha preconizada por Oswaldo Sargentelli desde o final dos anos 60 nas suas três boates no Rio – “Sambão” (1969), “Sucata” (1970) e, “Oba-Oba” (1973): era uma espécie de teatro de revista rebolado com um elenco de belíssimas mulatas oriundas das escolas de samba, com astros e estrelas convidados interpretando sambas e marchinhas de carnaval, além da tradicional canja do apresentador. O Rio Dá Samba logo apresentou elevados índices de audiência nas tardes de sábado.

Com a promessa de fazer do carnaval de 1981 o “maior carnaval da história da cidade do Rio de Janeiro” quando assumiu a Riotur, João Roberto Kelly não poupou esforços em divulgar nossa mais grandiosa festa popular. O formato do RDS era o mesmo dos famosos programas de auditório da época, como a Buzina do Chacrinha, Clube do Bolinha e Programa Carlos Imperial, com um elenco de dançarinas. As atrações, predominantemente musicais, ora se apresentavam ao vivo – acompanhadas pela banda formada especialmente para o programa, o Grupo Buraco Quente – ora dublavam com playback. Personalidades do carnaval (intérpretes, passistas, destaques, dirigentes, carnavalescos e outros personagens famosos) eram habituées do programa. 


Programa João Roberto Kelly na década de 70 com ilustres convidados: a porta-bandeira Vilma Nascimento e o mestre-sala Benício (de jaqueta de couro), entrevistados por Kellynho (à esquerda, com microfone). Crédito: Acervo Portelense.

Mas o grande barato do Rio Dá Samba era mostrar toda a preparação das escolas de samba do Rio de Janeiro (e de Niterói também) para o carnaval, desde o anúncio dos enredos, divulgação das ordens de desfiles e a apresentação dos concorrentes de samba enredo.

“O sapatão está na moda...”

Falando em Chacrinha, o anárquico apresentador Abelardo Barbosa (1917-1988), comandava dois programas na Band, entre 1979 e 1982: “Discoteca do Chacrinha”, às terças ou quartas-feiras, e “Buzina do Chacrinha”, aos domingos. A “Buzina” promovia disputa de calouros e concursos inesperados como “A Criança Mais Bonita do Brasil” ou “O Negro Mais Bonito do Brasil” ou gincanas esdrúxulas, como prêmios para quem levasse a maior cobra (serpente) ao programa. Já a “Discoteca” apresentava os sucessos musicais do momento. Em 82, voltou para a Globo, a convite de Boni, para comandar um novo programa, o “Cassino do Chacrinha”, que estreou em 6 de março daquele ano. O último programa foi gravado e exibido em 2 de julho de 1988. Chacrinha havia falecido dois dias antes, vítima de câncer de pulmão.

Todos os anos, o Velho Guerreiro lançava marchinhas de carnaval que ficaram famosas e que tocavam à exaustão em seus programas (fosse tempo de carnaval ou não), como “Maria Sapatão” “Menino Gay” e “Bota a Camisinha” (assinadas por João Roberto Kelly), e ainda “Break, break”, “Marchinha da Severina” e “Eu tô cheio de mulher”.

Em 1987, foi homenageado pelo Império Serrano, com o enredo “Com a boca no mundo: quem não se comunica se trumbica”, de onde retirarmos o trecho que abre este capítulo. Chacrinha fechou o desfile, no alto de um carro alegórico, cercado de suas chacretes e acompanhado da jurada Elke Maravilha (1945-2016) e do seu assistente de palco, Antônio Pedro de Souza e Silva, o “Russo” (1931-2017).


Chacrinha contribuía para a divulgação da música brasileira entre o grande público. Na foto, Clara Nunes canta pela primeira vez na tevê, o clássico “Portela na Avenida” na “Discoteca” (1982). O Velho Guerreiro também lançava marchinhas carnavalescas em seus programas.

Mais de mil palhaços no salão

A Band também foi pioneira na transmissão de bailes pré-carnavalescos. A folia dos salões na emissora iniciava geralmente dois sábados antes do carnaval, com a exibição ao vivo do tradicional Baile “Uma Noite nos Mares do Sul”, diretamente do luxuosíssimo Ilha Porchat Clube, instalado na cidade de São Vicente, no litoral sul do estado de São Paulo.

O clube era presidido pelo advogado e empresário paranaense Odárcio Ducci (1942-2016), que também marcou presença na televisão, tendo sido apresentador do Miss Brasil durante 15 anos e de atrações de auditório transmitidas diretamente do Ilha Porchat Clube pela TV Mar (retransmissora da antiga Manchete) em um programa que apresentava em parceria com Helô Pinheiro, a eterna "Garota de Ipanema", imortalizada na canção de Tom Jobim. 


Fachada do Ilha Porchat Clube, palco dos tradicionais e charmosos bailes “Uma Noite nos Mares do Sul”

No entanto, quem comandava as transmissões do Mares do Sul era Edson Cury (1936 - 1998), um ex-repórter esportivo que um dia – em meados dos anos 60 – foi convocado às pressas para substituir Chacrinha na TV Excelsior. Além de bom humor, o repórter tinha silhueta roliça, o que lhe rendeu o eterno apelido de “Bolinha”, como ficou nacionalmente conhecido, além de sempre vestir suas mitológicas camisas estampadas. Desde então e nos vinte anos seguintes, Bolinha se tornou apresentador de seu programa próprio, o impagável Clube do Bolinha. Odárcio era, inclusive, jurado do quadro de calouros do programa.


Edson “Bolinha” Cury entrevista a transex Thelma Lipp, no Baile Mares do Sul, em 1989. Thelma foi a “rival” paulista de Roberta Close nos anos 80. 

Durante quase cinco décadas o Ilha Porchat foi o clube número um da Baixada Santista, com 40 mil metros quadrados de área e badaladas festas que chegavam de 40 a 50 mil pessoas – eram 29 mil na piscina e 11 mil na sede, segundo o próprio Ducci.

O que não deixava de ser curioso era que o Baile dos Mares do Sul era uma festa carnavalesca onde faltava justamente o principal ingrediente da folia: músicas de carnaval! As orquestras contratadas a polpudos cachês executavam tudo o que era sucesso na música nacional e internacional. Pop, rock, trilhas de filmes, músicas de novela e até alguma coisa de MPB mais tradicional. O que menos se escutava era justamente o ziriguidum e o telecoteco. Pierrôs apaixonados, alalaôs, chiquitas bacanas, auroras, mulatas bossa nova, turmas do funil, mamãe eu quero, piratas da perna de pau, pega no ganzê, bandeiras brancas, xinxins e acarajés, bumbuns de fora pra chuchu, trens das onze, etc, eram “ausência garantida” nas partituras dos músicos do badalado baile e passavam ao largo dos ricos salões e das piscinas de dimensões olímpicas.

De natureza comportada e requintada (o traje indicado nos convites RSVP eram Black-tie ou roupas com motivos tropicais, valendo até mesmo camisas polo, bermudas, shortinhos e vestidos), o Mares do Sul contrastava com outros bailes que seriam realizados nos dias posteriores em solo carioca. A festa em São Vicente reunia também várias figuras emblemáticas do cenário político e artístico, brasileiro e mundial, como Mário Covas, João Baptista Figueiredo, Paulo Maluf, José Maria Marin, Marta Rocha, Adriane Galisteu, Helô Pinheiro, Xuxa, Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Pelé, Moacyr Franco, João Saad, Jair Rodrigues, Ângela Maria, Roberto Carlos, Thelma Lipp (transex paulista que “rivalizou” as atenções com Roberta Close nos anos 80), entre outros.

A transmissão dos bailes pela TV Bandeirantes era sempre confusa e barulhenta, muitas vezes se tornava cômica. Ninguém ouvia ninguém: nem o repórter, nem o convidado e muito menos o telespectador entendiam coisa alguma.

Um caso que se tornou pitoresco foi, por exemplo, da transmissão de um baile carioca no carnaval de 1984 por uma equipe de reportagem formada pelo então novato apresentador Otávio Mesquita e por uma bela, jovem e emergente atriz chamada Cristina Prochaska. Durante o baile no Scala, casa de espetáculos do Rio de propriedade do empresário Chico Recarey, um diretor gritava para o cameraman pelo ponto eletrônico: "fecha na Prochaska, fecha na Prochaska!". Quanto mais ele implorava para o cinegrafista dar um close no rosto de Cristina, mais o câmara, confuso (e, “bêbado”, segundo relatos de Mesquita), fazia zoom nas partes íntimas de uma passista que rebolava quase nua em cima de uma mesa da festa.

Um repórter em especial, que sofreu com a barulheira e o empurra-empurra, foi Emilio Surita, entrevistando por horas foliões bêbados e garotas seminuas. Até Sandra Annenberg, na época atriz, fez parte da equipe.

Outro pioneirismo da empresa da família Saad foi faturar com a venda de fitas de vídeo no pós-carnaval. A Band fazia uma compilação dos melhores momentos dos bailes carnavalescos em VHS e comercializava após a quarta-feira de cinzas.


Fecha na Prochaska! A bela atriz Cristina Prochaska, nos tempos que fazia reportagem nos bailes de carnaval no Rio de Janeiro.

Surgem o Gala Gay e Roberta Close

A TV Bandeirantes apresentava na semana anterior e nos dias de carnaval os tradicionais bailes carnavalescos cariocas: Panteras, Vermelho e Preto (do Flamengo), Scala, Baile da Cidade, Monte Líbano e um baile que acontecia na noite de Terça-Feira Gorda de Carnaval chamava muito a atenção do público e se tornou ícone devido os altos índices de audiência: o Gala Gay.

O baile Gala Gay era herdeiro direto de uma outra festa que iniciou “marginal” e que depois se tornou até ponto turístico carnavalesco: o Baile dos Enxutos, que nos anos 60 e 70 era realizado no Cine São José, na Praça Tiradentes, no centro do Rio. Promovida por homossexuais – ou, “enxutos”, segundo a gíria da época – a festa tinha desfile de fantasias de luxo e originalidade vestidas por travestis.

No início dos anos 80, o GG se tornou o mais famoso baile gay do país e gerava uma grande audiência para a emissora. Na porta do baile, repórteres entrevistavam transformistas e drag queens sem pudor e sem economizar nos closes. Por mais contraditório que pareça, numa época em que a homofobia era predominante, o GG era o momento de maior interesse televisivo no carnaval. Otávio Mesquita, Rogéria (1943-2017) e Monique Evans levavam divertimento e alegria ao público com impagáveis reportagens.

Em 1982, após vencer um concurso interno no Gala Gay, o de “Miss Brasil Gay”, surgiu uma personalidade que ganhou uma dimensão nacional: Roberta Close. Na flor de seus 18 anos, quando a belíssima morena de 1,80m e curvas estonteantes apareceu perante as câmeras ostentando a faixa de “mais belo travesti do Brasil” (naquela época não se utilizava o termo “trans” e nem se discutia gênero), Roberta (cujo nome em cartório civil era Luiz Roberto Gambini Moreira) chamou a atenção do país inteiro, chegando a ser considerada “a mulher mais bonita do Brasil”. Foi a partir dessa época que se sucederam as inúmeras aparições na imprensa. A bela passou a gerar admiração e curiosidade, além de ser presença frequente em programas de TV, entrevistas, revistas de fofoca e habituée no carnaval e não apenas no Gala Gay, mas também nos desfiles da Sapucaí.


Musa dos anos 80, Roberta Close estampou inúmeras capas de revista, como esta, da Fatos&Fotos, chegando a ser considerada “a mulher mais bonita do Brasil”.

Pode-se dizer que o auge do sucesso de Roberta Close aconteceu quando a revista Playboy estampou-a na capa de sua edição de maio de 1984. Pela primeira vez, na história do periódico, a principal atração não era uma mulher cisgênero, mas uma mulher transgênero. Roberta voltou a aparecer na Playboy, em março de 1990, na edição Nº 176 (que trazia Luma de Oliveira como modelo de capa), desta vez completamente nua, mostrando o seu corpo após a cirurgia de redesignação sexual, realizada em Londres, no ano anterior.

 “Nossa, já participei de tantas gafes. Uma delas foi entrar no banheiro do Baile de Gala Gay e flagrar um monte de mulheres fazendo xixi de pé”, afirmou Otávio Mesquita, aos risos, em entrevista a Danilo Gentili no programa Agora é Tarde, da Band, em 2012, aos risos.


Otávio Mesquita e Rogéria eram figurinhas carimbadas na apresentação e nas reportagens dos bailes carnavalescos na TV, principalmente, o Gala Gay.

O desfile é na avenida

Com o mesmo slogan da cobertura que a TV Tupi fez em 1980, a Bandeirantes anunciou para 1981 o seu “Carnaval Cobertura Total”. A estação transmitiu ao vivo e durante mais de doze horas, diretamente da Marquês de Sapucaí, as escolas de samba do Grupo 1-A (Grupo Especial) do Rio no domingo de carnaval, dia 1º de março, para todo o país. Pela ordem, com seus respectivos enredos:

1 Unidos da Tijuca (“Macobeba - O que dá pra rir, dá pra chorar”)

2    Unidos de Vila Isabel (“Dos jardins do Éden à era de Aquarius”)

3    Estação Primeira de Mangueira (“De Nonô a JK”)

4    Império Serrano (“Na terra do pau-brasil, nem tudo Caminha viu”)

5    Beija-Flor de Nilópolis (“Carnaval do Brasil, a oitava das sete maravilhas do mundo”)

6    Portela (“Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite”)

7    Acadêmicos do Salgueiro (“Rio de Janeiro”)

8    União da Ilha do Governador (“1910, burro na cabeça”)

9    Imperatriz Leopoldinense (“O teu cabelo não nega”)

10    Mocidade Independente de Padre Miguel (“Abram alas para a folia, aí vem a Mocidade”).

Desfile da Beija-Flor transmitido pela TV Bandeirantes em 1981

A Bandeirantes transmitiu os desfiles do Grupo Especial com uma equipe para lá de enxuta, com apenas dois apresentadores e a participação de uma especialista para tecer comentários: Maria Augusta, professora da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e ex-carnavalesca da União da Ilha do Governador, escola-sensação nos anos de 1977 e 1978 e 79, era apresentada como “analista”. Aliás, Maria Augusta passou o tempo todo gongando o desfile da Beija-Flor.

A ancoragem da transmissão foi do ator e apresentador Murilo Nery (1923-2001) junto com um jovem narrador esportivo chamado Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, que vinha se destacando desde o ano anterior, quando a Band comprou os direitos de transmissão das provas de Fórmula 1. E até que se saiu bem: enquanto Murilo e Maria Augusta estavam na cabine no centro da pista, Galvão ficava na cabine no início do desfile, junto à concentração, com uma narração sóbria, abastecendo os telespectadores de informações e chamando as reportagens para irem ao ar. Galvão foi contratado pela Rede Globo poucos meses depois do carnaval. Seu primeiro trabalho na Vênus Platinada foi a narração da partida entre o Flamengo X Club Jorge Wilstermann, da Bolívia, pela Copa Libertadores da América, no dia 13 de outubro daquele ano.


Murilo Nery, um dos âncoras da transmissão do carnaval pela Band em 1981.


Maria Augusta foi comentarista no carnaval da TV Bandeirantes em 1981.


Antes de se transferir para a Globo, Galvão Bueno também transmitiu desfiles de carnaval, como o de 1981 pela Band. E até que não comprometeu.

A transmissão da Band em 1981 pecou por não ter uma boa direção de imagens. Cortes abruptos, exibição das imagens por poucos segundos, planos fechados (ou no máximo, médios), imagens se repetindo, sem se ter uma noção do todo da escola. Enquadramento dos fundos dos carros e os destaques e componentes sendo mostrados de costas.

Assim como a Globo, a Band também exibia, antes de cada desfile, uma pequena reportagem com a história da agremiação, entrevista com dirigentes, carnavalescos e destaques, além de abordar o tema-enredo e mostrar o samba-enredo para aquele ano na voz do intérprete. Quando a escola ainda não arrancava ou se demorava muito no setor de concentração, a Band mostrava imagens do desfile da escola do ano anterior, o que, de certa, forma provocava uma confusão para quem sintonizasse o canal naquele momento.

Samba da Garoa

Nos intervalos dos desfiles da Sapucaí – que em função dos costumeiros atrasos poderia demorar até uma hora entre uma escola e outra – a Band também exibiu, ao vivo, flashes generosos dos desfiles do Grupo Especial de São Paulo (naquela época chamado de Grupo 1), e que eram realizados na noite de domingo de carnaval, na Avenida Tiradentes. Pela ordem, se apresentaram:

1 Renascença da Lapa (“Viva Nova Canaã”)

2 Cabeções de Vila Prudente (“Do Iorubá ao Reino de Oyó”)

3 Pérola Negra (“Quem não pode, pode. No 1º de Abril ou A visita do Reino de Mentira ao País da Verdade”)

4 Camisa Verde e Branco (“Amor, Sublime Amor”)

5 Barroca Zona Sul (“Uma hora na Amazônia”)

6 Rosas de Ouro (“Do caminho do mar à Ilha do Tesouro”)

7 Vai-Vai (“Acredite se quiser”)

8 Imperador do Ipiranga (“Acaiaca - A Sacerdotisa do Sol”)

9 Nenê de Vila Matilde (“Axé - Sonho de Candeia”)

10 Mocidade Alegre (“Visungo, Canto de Riqueza”)

   A narração dos desfiles de São Paulo ficou a cargo de Edson Garcia, com comentários do cantor e intérprete Denílson Benevides.

    No dia seguinte (2 de março), a Band transmitiu – somente para o Rio de Janeiro – “a partir das 9:15 da noite”, segundo chamada durante os intervalos da programação, as escolas do Grupo 1-B (Segundo Grupo). Pela ordem:

        1 União de Jacarepaguá (“Mauricéia em noite de festa”)

     2 Acadêmicos de Santa Cruz (“Amazonas, verde que te quero verde”)

        3 Caprichosos de Pilares (“Amor, sublime amor”)

        4 Unidos do Cabuçu (“De Daomé a São Luis, a pureza Mina Jêje”)

        5 Arranco do Engenho de Dentro (“Ou isto ou aquilo”)

        6 Império da Tijuca (“Cataratas do Iguaçu”)

        7 Arrastão de Cascadura (“Rudá, o deus do amor”)

        8 Unidos de Bangu (“É hoje, a história do carnaval”)

        9 Lins Imperial (“Meu padim Pade Ciço”)

        10 Unidos de Lucas (“O imperador de Parada de Lucas”)

      11 Unidos de São Carlos (“Quem diria, da monarquia à boemia ao esplendor da Praça Tiradentes”)

        12 Império do Marangá (“Dos balões aos aviões”)
          

Na segunda de Carnaval e na terça-feira Gorda (dias 2 e 3 de março) o restante da rede acompanhou programação especial com flashes da folia em todo o Brasil, concursos de fantasias e bailes carnavalescos.

No ano seguinte, a cobertura de carnaval da Band foi mais acanhada em comparação com os dois anos anteriores. O período pré-carnavalesco de 1982 parecia prometer e gerou expectativa com a estreia do programa de João Roberto Kelly – agora já rebatizado com o nome do compositor e apresentador – que era exibido aos sábados, por volta das 14 horas. O antigo Rio Dá Samba retornou à grade de programação após a virada do ano. No entanto, reformulações acordadas com a direção da emissora, tornaram o programa mais calcado em executar músicas que estavam nas paradas de sucesso (fosse samba ou não), reduzindo consideravelmente o espaço para o segmento carnavalesco. Não por acaso, o último Programa João Roberto Kelly pela Rede Bandeirantes foi ao ar no dia 20 de fevereiro de 1982, Sábado de Carnaval, e não mais retornou. A cobertura de carnaval da emissora se limitou a inserts nos noticiosos jornalísticos, apresentando o melhor da folia de norte a sul do país.

Para a cobertura de 1983, a batida carnavalesca da Band foi diferente. A Globo cada vez mais desenvolvia uma atraente e intensa programação de carnaval já a partir dos principais telejornais da emissora, passando por programas especiais e até mesmo inserções nas novelas. A cada semana que o carnaval se aproximava a programação global ganhava mais recheio. Com isso, a emissora da família Saad resolveu apostar numa cobertura com bailes, concursos de fantasias e nos desfiles, escalar o que havia de melhor entre os especialistas de carnaval.

Quase toda equipe que cobriu a maratona de carnaval pela TV Educativa do Rio de Janeiro no ano anterior acabou migrando para a Band. Analistas do quilate de Fernando Pamplona, Albino Pinheiro, além da remanescente Maria Augusta. As reportagens ficaram a cargo de Cristina Rego Monteiro, Sandra Moreira e Hilton Abi-Rihan.

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A capa do disco de vinil dos sambas-de-enredo das escolas do Grupo 1 de São Paulo de 1983 levou o logo do SBT, que apoiava o carnaval paulistano daquele ano.

A tevê do Homem do Baú também deu seus primeiros gritos de carnaval praticamente logo após inaugurada. Em 19 de agosto de 1981, cinco anos após a fundação da TVS Rio de Janeiro, Silvio Santos inaugura o Sistema Brasileiro de Televisão, formado pelas emissoras de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belém, sendo que estas duas últimas só entraram no ar posteriormente. A denominação TVS era usada apenas quando as emissoras locais não estavam em rede, do contrário usavam a marca SBT.

A praça de São Paulo passa a ser a sede e a fonte geradora da programação da rede. De 1981 a 1996 o SBT era localizado em São Paulo na Rua Dona Santa Veloso 575, no distrito de Vila Guilherme (antes sede da TV Excelsior e atualmente Igreja Bíblica da Paz).

O SBT dos primeiros tempos aproveitou muitos artistas, emissoras próprias, afiliadas e programas da Tupi, tanto para cumprir acordos trabalhistas com os antigos funcionários da rede falida quanto pela necessidade de iniciar suas operações já com um conjunto de programas estruturado. Com atrações popularescas, especialmente os programas de auditório comandados por Gugu Liberato, Raul Gil, Moacyr Franco, J. Silvestre, Flávio Cavalcanti e pelo próprio Silvio Santos, o SBT cai no gosto do telespectador de renda mais baixa. Na linha infantil, o grande sucesso era o programa do palhaço Bozo. Nessa época começou a exibição de telenovelas, tanto sucessos estrangeiros, como “Los ricos también lloran” (Os Ricos Também Choram) em 1982, “Cristina Bazán” em 1983 e “Chispita” em 1984, quanto produções próprias que seguiriam uma linha semelhante.

E desde o princípio o SBT também deu privilégio ao carnaval. Em 13 de janeiro de 1982, estreava o programa “A Maravilhosa Música Brasileira”, no qual mostrava os sambas-enredos de São Paulo e Rio de Janeiro com as presenças das escolas de samba para o Carnaval de 1982. O programa era conduzido pelo produtor cultural, empresário e apresentador de TV, Oswaldo Sargentelli, com suas tradicionais mulatas da atração, dentre elas Solange Couto, que se tornaria conhecida nacionalmente muito tempo depois como atriz.

Em 1983, o SBT cobriu o seu primeiro carnaval. No dia 12 de fevereiro, a emissora iniciava a transmissão de “Os Grandes Bailes do Carnaval 83”, com duração de quatro horas, durante as madrugadas do Carnaval, com os melhores salões da folia tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. Os bailes do Palmeiras, Arakan e Juventus, em São Paulo, e Vermelho e Preto/Flamengo e Sírio-Libanês, no Rio de Janeiro, contavam com unidades fixas de transmissão.

A TV do “Patrão” também cobriu os desfiles do carnaval paulistano nos anos de 1983 e 1984. A logomarca da emissora também estava estampada na capa dos LP’s com os sambas de enredo do Grupo 1 nestes dois anos.

Em 1983, a ordem dos desfiles das escolas e seus respectivos enredos no Grupo 1, na Avenida Tiradentes era:

1 Pérola Negra (“Português, Papagaio e Cia”)

2 Flor da Vila Dalila (“Exaltação ao Criador”)

3 Nenê de Vila Matilde (“Gosto é gosto e não se discute”)

4 Imperador do Ipiranga (“Ymembuy”)

5 Unidos do Peruche (“O criador de ilusões”)

6 Mocidade Alegre (“Ilusão do Fantástico Eldorado”)

7 Rosas de Ouro (“Nostalgia”)

8 Camisa Verde e Branco (“Verde que te quero verde”)

9 Barroca Zona Sul (“75 anos de imigração japonesa ou Reino do Sol Nascente”)

       10   Vai-Vai (“Se a moda pega”)

Em 1984 o SBT deu bis e transmitiu novamente o desfile das escolas do Grupo 1. Uma pena que os desfiles de 1983 e 1984 de São Paulo, que foi todo transmitido ao vivo pelo SBT (assim como boa parte do acervo da emissora), se perdeu nas enchentes da Vila Guilherme. O SBT ficaria à margem da folia por alguns anos, retornando com mais força duas décadas depois quando Silvio Santos fora enredo da GRES Tradição, em 2001, e quando passou a ter uma cobertura efetiva de carnaval com o SBT Folia. Mas isso é assunto para mais adiante...

TV CULTURA tve_rj_logo_anos80.jpg


“Canta, meu  povo, canta / para Alayiê...” TV Cultura mostra a Mocidade Alegre evoluindo na chuvosa pista da Avenida São João em 1980.

Nos anos 80, a TV Cultura redescobria o carnaval, sendo uma das primeiras emissoras a transmitir o carnaval paulistano!

Com uma ampla cobertura gravou toda a folia, que acontecia na Avenida São João, garantindo à emissora caráter comercial exclusivo para transmitir os carnavais de São Paulo. Isso tudo dez anos antes da construção do sambódromo do Anhembi!


GLOBO globo_logo_anos80.jpg
Narração: Hilton Gomes, Léo Batista e Luiz Lobo
Comentários: Haroldo Costa; Carlos Alfredo de Macedo Miranda, Dalal Achcar, Guio de Moraes, Mauro Monteiro, Ricardo Cravo Albin e Sérgio Cabral.

Reportagens: Carlos Mendes, Leila Cordeiro, Luiz Eduardo Lobo, Maria Regina Martinez, Ricardo Pereira, Mario Jorge Guimarães.
 


Desenho gráfico que gerou a vinheta do carnaval da Globo de 1980

A Globo entrou a década de 80 cada vez mais exuberante em sua programação carnavalesca. Desde o período pré-carnaval a emissora dava um carinho especial para reportagens abordando o carnaval em todo o território nacional.

Nesta época, a cobertura do carnaval na Globo se estabeleceu de três formas: com flashes durante a programação, com entradas ao vivo nos telejornais da emissora e com transmissões ao vivo nos fins de noite, nas madrugadas e no começo da manhã, dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo, além das apurações destes dois desfiles. Durante as transmissões nos períodos citados, havia ainda entradas ao vivo ou gravadas de outras cidades, como Salvador (BA), Recife e Olinda (PE).

Programação Normal e o Melhor do Carnaval

O esquema de cobertura do carnaval da “Vênus Platinada” iniciado nos anos 70 é redefinido pela valoração que um determinado público considera interessante em “ver”, o que estaria na contrapartida da racionalização do tempo da programação dedicada ao festejo. Ora, a Globo é a maior rede de tevê do Brasil e emissora líder de audiência no segmento televisivo – meio de comunicação de massa, que leva em consideração um público grande, anônima e heterogênea. Para a emissora, o carnaval é tratado como “entretenimento”, não como jornalismo, daí o porquê de a cobertura carnavalesca estar vinculada à Central Globo de Produção, e não à Central Globo de Jornalismo.

O mais significativo, no entanto, é a sugestão quanto à existência de um Carnaval organizado capaz de compactuar um mesmo padrão estético chave à proposta da emissora, segundo o imperativo do extremado cuidado simultâneo com o áudio e a imagem – o chamado “padrão Globo de qualidade”, um conjunto de parâmetros que passa a orientar a programação da empresa no sentido de oferecer imagens homogêneas e vistosas. Assim, é apresentado o binômio plano geral & detalhes como a novidade técnica introduzida para cobrir os desfiles de fantasias de luxo, mas sobretudo da transmissão do grande Desfile de Escolas de Samba, destacados por sua crescente suntuosidade. Em 1976, a Globo montou uma equipe de 232 profissionais para transmitir o espetáculo, contando com dez câmeras, das quais duas eram portáteis e apoiadas por dois “caminhões de externa” (espécie de pequenos estúdios de TV, dotados de equipamentos para emitir as imagens produzidas) que estavam estacionados nas proximidades da pista de desfile. O objetivo do emprego de todo esse aparato era mostrar os “detalhes” e “planos gerais” do espetáculo. Em 1977 a Globo lança o slogan que por mais de uma década definiu sua cobertura de carnaval: “Programação Normal e o Melhor do Carnaval”.

É clara a sugestão no slogan quanto ao fato de o Desfile interagir organicamente com a programação televisual, tanto no que se refere à unidade estética e expressiva como a concatenação com os objetivos mercadológicos da empresa – o “padrão Globo de qualidade” obedeceu ao princípio de eficiência técnico-burocrática e à consolidação de uma posição de destaque no mercado publicitário nacional.


Vinheta com a logo da cobertura de carnaval da Globo em 1981.

Nos carnavais de 1980 a 1983, a programação da Globo era a seguinte: a cobertura dos desfiles do Grupo Especial (que aconteciam no Domingo de Carnaval) começava por volta das 20 horas, logo após o Fantástico, que tinha sua edição reduzida dos 120 minutos originais para 30 minutos. A emissora começava exibindo antes da apresentação de cada escola, uma reportagem da agremiação, com entrevistas com dirigentes, carnavalescos, compositores e baluartes, mesclando cenas gravadas no barracão durante a construção das alegorias ou dos ateliers, durante a confecção das fantasias.

A seguir, era apresentado um clipe no qual aparecia somente a imagem do intérprete da respectiva escola cantando o samba-enredo nos estúdios da TV Globo (envolto em um efeito de imagem em forma de “círculo” e enquadramento de plano fechado/“close-up”, enquanto ao fundo, transcorriam imagens em tempo real da entrada da escola), com acompanhamento musical – os músicos não apareciam em cena. 


Roberto Ribeiro, no clipe exibido antes da transmissão do desfile do Império Serrano pela TV Globo em 1980: o intérprete aparece cantando o samba previamente gravado no estúdio da emissora enquanto, ao fundo, imagens da entrada da escola transcorrem ao vivo, em tempo real. Crédito: Canal Carnaval Completo/Youtube.

A duração do clipe oscilava de acordo com o tempo que se tinha livre até a entrada da escola na passarela. Variava de míseros 47 segundos (como foi o caso de David Corrêa e o samba da Portela de 1980) até cinco minutos ou três passadas inteiras do samba (Roberto Ribeiro/Império Serrano em 1980, e Sobrinho/Unidos da Tijuca em 1981). Essa prática de exibir clipes (depois chamados de “vinhetas”) do samba-enredo antes da apresentação propriamente dita da escola perdurou na Globo até 1988.

Reprise dos desfiles

Além da transmissão ao vivo dos desfiles, a Globo também instituiu a reprise dos melhores momentos das apresentações das escolas no dia seguinte, de forma compacta em um programa com duas horas de duração. Assim, os desfiles do Grupo Especial, que aconteciam na noite de Domingo, ganhavam uma reprise na tarde de Segunda, às 14h30.

Os desfiles das escolas da segunda divisão (também nominada Segundo Grupo ou Grupo 1-B) poderiam também ser revistos no compacto exibido na tarde de Terça-Feira, igualmente por volta das 14h30, entre o Vale a Pena Ver de Novo e a Sessão Aventura. A saber, a Globo transmitia ao vivo as escolas do Segundo Grupo apenas para o Rio de Janeiro para, no dia seguinte, exibir o compacto em rede nacional. E assim foi em 1979, 1980 e 1983.

Qualidade nas transmissões ao vivo

Gradativamente, a Globo foi aperfeiçoando o modo de transmissão. Se nos anos 70, a emissora mostrava o início da escola ainda sem a sonorização completa (como vimos no Capítulo 2), com as primeiras alas cantando o samba sem escutar a voz do puxador e sem ouvir o acompanhamento da bateria (que estavam ainda no meio da escola) nos anos 80, houve o início da correção desses detalhes.

     A transmissão teve um ganho expressivo de qualidade, pois o som passou a ser captado diretamente da mesa de sonorização oficial da avenida. A Globo também sempre priorizou exibir os desfiles de cada escola na íntegra, não havendo interrupção para propagandas comerciais enquanto a agremiação estivesse na avenida. Os anúncios eram (e até hoje são) mostrados nos intervalos das apresentações entre uma escola e outra. Há 40 anos o espaço de tempo entre uma escola terminar seu desfile e a seguinte iniciar a sua apresentação chegava a durar 30 minutos, pois não havia tanto rigor com a cronometragem e perda de pontos administrativos. Assim, nos intervalos entre uma escola de samba e outra, a emissora aproveitava para mostrar como estava o carnaval em vários pontos do país, exibindo flashes da festa em Salvador, Olinda, Recife, São Paulo e em alguns bailes de salão.


Vinheta exibida durante a programação especial de carnaval da Globo em 1982.

Como naquela época o tempo de desfile de cada escola era de 90 minutos, a Globo começou a espalhar repórteres na concentração para ir captando os primeiros momentos da escola entrando na avenida, já que a transmissão propriamente dita, “ala a ala” iniciava quando a agremiação já tinha em torno de 20 minutos de desfile.

Os jornalistas passaram então a entrevistar não só os componentes da escola que adentravam a passarela, mas políticos, celebridades (do samba ou não), além do público presente nas arquibancadas. No entanto, nessa época, a Globo ainda não mostrava os intérpretes dando o grito de guerra e nem as primeiras passadas do samba apenas com o “pedal” (o ritmista que faz a marcação do samba apenas com o surdo no andamento certo para servir de base para os intérpretes e todos os outros ritmistas, antes da bateria “virar” ou “subir”). A exibição do grito de guerra do intérprete passou a se dar a partir das transmissões da TV Manchete, como veremos nos próximos capítulos.

Após alguns minutos de entrevistas na concentração e à beira da pista, era exibida a reportagem previamente gravada sobre os preparativos da escola e o clipe com o intérprete mostrando o samba em até três passadas completas. O método ajudou a transmissão a ganhar dinamismo, pois, após tudo isso, os âncoras e os comentaristas já podiam transmitir o desfile quando a escola já se encontrasse quase na metade de seu percurso. Ao término do desfile, o Júri da Globo tecia suas análises, enquanto eram reprisadas imagens da passagem da escola.

Falando sobre esse exacerbado tempo de desfile, quem iniciou a moralização dos horários das apresentações das escolas de samba foi o jornalista e produtor Antonio José Lemos de Carvalho, mais conhecido como Antonio Lemos (1931-2011). Lemos (que trabalhava na Super Rádio Tupi e que já havia sido diretor do Império Serrano e anos depois chegou à presidência da verde e branco da Serrinha) foi nomeado pela Riotur em 1980 como coordenador dos Desfiles das Escolas de Samba. Foi o profissional que mais tempo permaneceu no cargo (até 1990). Antes de sua coordenação, os desfiles na Sapucaí não tinham horário para começar e muito menos para acabar. Essa disciplina praticamente militar no cumprimento de horários estabelecida por Antonio Lemos disciplinou os desfiles e colaborou com as tevês, que passaram a ter uma definição quanto à duração das transmissões na avenida.

            Júri oficioso do carnaval da Globo (1980-1983)

Os âncoras da transmissão da Globo entre 1981 e 1983 seguiam sendo Hilton Gomes e Léo Batista, que ganharam a companhia do escritor, ator e produtor Haroldo Costa, que destacava “os pontos altos” de cada escola, fazendo uma visão geral do desfile. O jornalista Luiz Lobo também ancorava os desfiles, principalmente na fase em que a Globo passou a destacar a escola durante a concentração.

O júri extraoficial, ou o “Júri da Globo” seguia sendo uma das atrações da transmissão, devido a algumas posições polêmicas e controversas dos comentaristas, por vezes, “pesando a caneta” na hora de atribuir as notas. Os “jurados” do Carnaval da Globo eram:

Carlos Alfredo de Macedo Miranda (1950-2008, jornalista e produtor audiovisual), que atribuía notas para Enredo;

Dalal Achcar, bailarina, dava notas para os quesitos Evolução e Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Guio de Moraes, maestro, compositor e arranjador, que “julgava” Bateria e Conjunto.

Mauro Monteiro (cenógrafo, na época, funcionário da TV Globo), que comentava os quesitos Fantasia e Alegorias.

Ricardo Cravo Albin, jornalista e musicólogo, que analisava Harmonia.

Sérgio Cabral (jornalista, escritor e compositor), que analisava os quesitos Samba-Enredo e Comissão de Frente.


Grande Otelo foi um dos destaques do enredo “A grande constelação das estrelas negras”, da Beija-Flor, campeã de 1983 Foto: Arquivo/O Globo / Luiz Pinto

TV EDUCATIVA TVE - 1972.gif

Narração: Luiz Lobo e Fernando Pamplona
Comentários: Albino Pinheiro, Sérgio Cabral, Mister Eco, Valdinar Ranulfo
Reportagens: José Carlos Rego, José Luiz Furtado e Amaury Monteiro
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Pode-se afirmar, sem medo de errar, que, dentre todas as emissoras de televisão no país, a que fez a cobertura mais completa e ousada de carnaval no início da década de 80 foi a TV Educativa do Rio de Janeiro (TVE-RJ).

Inaugurada no dia 5 de novembro de 1975, a emissora tinha cunho educativo e público, e era mantida pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, fundação educativa que também controla, até hoje, a Rádio MEC. A TVE foi idealizada por Gilson Amado (1908 - 1979), professor e radialista que se destacou por ser um dos pioneiros em usar a televisão e o rádio como instrumentos pedagógicos com fins educativos de âmbito nacional no Brasil.

No dia 3 de dezembro de 1979, entrou no ar a Rede de Televisão Educativa, composta por 20 emissoras. A programação sempre teve cunho cultural, com programas musicais e que tinham a preocupação com a memória nacional. A grade também abrigava seriados da teledramaturgia infantil, séries de conteúdo pedagógico, telecursos e programas que ensinavam inglês através de músicas. Desde então observou-se uma predominância de programas culturais e informativos, aumentando o distanciamento do objetivo primordial que era a educação a distância. Com o falecimento de Gilson Amado, o então ministro da Educação, Eduardo Portela (1932-2017), nomeou para a direção da emissora Emanuel Carneiro Leão, que tornou a programação ainda mais eclética e voltada para o grande público.

Dentro deste ambiente cultural (e sediada na capital mundial do carnaval), para a TVE-RJ passar a transmitir carnaval foi um pulo. Professor da Escola de Belas Artes e cenógrafo do Theatro Municipal do Rio, Fernando Pamplona (1926-2013) decidiu abandonar a função de carnavalesco após o desastrado e sabotado desfile da Acadêmicos do Salgueiro de 1978. Prometeu a si mesmo e à esposa Zeni que jamais seria carnavalesco num desfile.

Pamplona já era funcionário da TVE-RJ desde o início das operações da emissora em 1975. Anos antes, o carnavalesco produziu “João da Silva”, uma telenovela instrutiva, que misturava teledramaturgia com curso supletivo de primeiro grau (hoje ensino fundamental), exibida simultaneamente pela TV Rio, TV Tupi, TV Cultura, TVE e pela Rede Globo. A telenovela foi reconhecida, ganhando o Prêmio Japão, o maior troféu internacional de radiodifusão educativa.

Carnaval 80 na TVE – 80 horas no ar

Após ter se aposentado como carnavalesco, Pamplona iniciou um inesquecível trabalho como comentarista nas coberturas de TV. Valendo-se da condição de servidor da TVE, apresentou um ousadíssimo projeto para a emissora, no qual previa que a mesma transmitiria 80 horas ininterruptas de programação carnavalesca durante a folia de 1980.


Vinheta da transmissão de 80 horas no ar do carnaval da TVE em 1980.

Em seu livro “Escolas de Samba do Rio de Janeiro”, Sérgio Cabral (1996) dedica um capítulo a uma entrevista com Fernando Pamplona, no qual o autor responsabiliza o ex-carnavalesco pela melhor cobertura já feita no carnaval brasileiro por uma emissora de tevê, quando Pamplona (que também já havia trabalhado na TV Globo) comandou a equipe da TVE-RJ. Ao que o cenógrafo e produtor respondeu:

- Foi em 1980. O slogan da TV Globo era “Programação Normal e o Melhor do Carnaval”. Ou seja: interessava para a Globo apenas o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Apresentava também, por razões contratuais, o desfile de fantasia. Aí fizemos aquela loucura de botar a TVE oitenta horas no ar, mostrando o carnaval de todo o Brasil.

Além de Pamplona, participaram daquela transmissão: Albino Pinheiro (1934 - 1999), Amaury Monteiro, José Carlos Rego (1935 – 2006), José Luiz Furtado, Luís Lobo, Mister Eco (apelido do jornalista baiano Eustórgio Antonio de Carvalho Júnior – seu verdadeiro nome – polêmico jurado do Programa Flávio Cavalcanti na TV Tupi na década de 70), Sérgio Cabral, Valdinar Ranulfo, entre outros.

Segundo Pamplona relatou no livro de Cabral, a TVE venceu a Globo por “quarenta a vinte no Ibope”. A cobertura educativa abordou não só as escolas do grupo especial, mas também do segundo grupo, além de dar um espaço imenso ao carnaval de todo o país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. “Depois do carnaval,os jornais dedicaram páginas inteiras pra gente”, relatou o ex-carnavalesco salgueirense.

      A transmissão da TVE em termos de direção de imagens, era menos caótica do que a da Band, por exemplo, mas ainda longe do profissionalismo perfeccionista e, às vezes, um pouco frio da Globo. Não havia efeitos especiais e outros requintes na cobertura educativa, que se fundamentava principalmente nas entrevistas pouco antes das escolas entrarem na passarela e nas análises e no entendimento dos especialistas. Era basicamente, uma roda de conversa dos comentaristas com as imagens das escolas passando pela tela.


Câmeras da TVE focam o intérprete Aroldo Melodia no carro de som (ao microfone) conduzindo sozinho “Bom, Bonito e Barato”, o samba-enredo da União da Ilha em 1980.

Dentro das oitenta horas de cobertura de carnaval, a TVE transmitiu ao vivo o desfile do Grupo Especial (que na época era chamado de Grupo 1-A), no Domingo, e também do Grupo 1-B, na Segunda-Feira. As reapresentações dos desfiles das duas categorias foram exibidas nas tardes de segunda-feira e da Terça-Feira Gorda, respectivamente. Durante o dia, ainda reapresentava os melhores momentos dos Desfiles de Carnaval por todo o Brasil. À noite, a partir das 19 horas, iniciava a cobertura ao vivo dos desfiles de carnaval do Rio de Janeiro, São Paulo, Niterói, Porto Alegre, etc.

No ano seguinte, a TVE repetiu a operação. Para o carnaval de 1981, foram reservadas oitenta e uma horas dedicadas à cobertura da folia. Novamente Fernando Pamplona estava no comando da transmissão, juntamente com seu belo time de analistas, com exceção de Sérgio Cabral, que havia sido contratado para ser jurado extraoficial da TV Globo.


Vinheta da cobertura carnavalesca da TVE-RJ em 1981, exibida antes e depois dos intervalos na programação.

Em 1982, a ousadia educativa avançava: a duração da cobertura da folia atingia oitenta e duas horas (três dias e meio) de transmissões ininterruptas. O slogan da emissora era: “TVE 82, o melhor da televisão”. Os trabalhos foram abertos já na noite de sexta-feira, dia 15 de fevereiro, com musicais dedicados às marchinhas e aos sambas dos antigos carnavais.

No sábado, dia 16, a TVE apresentou programas especiais intercalados com boletins sobre o carnaval do país. No dia seguinte, Domingo, dia 17, a TVE abriu as transmissões ao vivo da elite do carnaval carioca, o Grupo 1-A, às 18 horas, se estendendo até o final da manhã do outro dia. Pela ordem: Unidos de Vila Isabel, Unidos de São Carlos, União da Ilha do Governador, Estação Primeira de Mangueira, Acadêmicos do Salgueiro, Beija-Flor, Unidos da Tijuca, Portela, Mocidade Independente de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Império da Tijuca e Império Serrano.


Vinheta da TVE-RJ para o carnaval de 1982, com a ousada proposta de manter oitenta e duas horas – ou três dias e meio – de programação especial e ininterrupta.

O desfile do Grupo 1-B, na Segunda de Carnaval, dia 18, também teve início às 18 horas, diretamente da Marquês de Sapucaí, terminando por volta das nove da manhã do dia seguinte. Pela ordem: União de Jacarepaguá, Unidos da Ponte, Unidos de Lucas, Lins Imperial, Unidos de Bangu, Acadêmicos de Santa Cruz, Império do Marangá, Arrastão de Cascadura, Unidos do Cabuçu, Arranco do Engenho de Dentro, Em Cima da Hora e Caprichosos de Pilares.


O repórter José Luiz Furtado (de azul) entrevista para a TVE-RJ o cantor e compositor Luiz Gonzaga, em pleno desfile da Unidos de Lucas pelo Grupo 1-B, no qual o Galo de Ouro homenageava Gonzagão com o enredo “Lua Viajante”. Crédito: Canal Gonzagueando/Youtube.

Uma segunda equipe também estava presente na Avenida Rio Branco, a partir das 18h, para cobrir os desfiles das escolas do Grupo 2-B. Pela ordem: Unidos de Padre Miguel, União de Rocha Miranda, Império de Campo Grande, Unidos da Vila Santa Tereza, Unidos da Zona Sul, Acadêmicos do Cachambi, Unidos de Cosmos e União de Vaz Lobo.

Para fechar o carnaval carioca de 1982, na Terça-Feira Gorda, dia 19 de fevereiro, a produção jornalística da emissora novamente dividiu a equipe em duas: a primeira acompanhou desde as 18 horas, na Sapucaí, o desfile dos blocos carnavalescos. A outra, no mesmo horário, só que na Avenida Rio Branco, cobriu a apresentação dos ranchos.

TVE acompanha o Império Serrano – última escola a desfilar no Grupo 1-A de 1982 – desde o primeiro minuto, direto da área de armação da escola, antes de adentrar a passarela da Marquês de Sapucaí.


Flagrante número 1 na cobertura da TVE-RJ de 1982: os repórteres José Luiz Furtado (de fones) e José Carlos Rêgo (olhando para a câmera) entrevistam na concentração da Sapucaí o então presidente da União da Ilha do Governador, Beto Maia (de camisa escura).


Flagrante número 2 na cobertura da TVE-RJ: Zé Luiz Furtado (com os fones) entrevista o então coordenador de desfiles da Riotur, Antonio Lemos (de camiseta branca), sob o olhar atento de Beto Maia (de bigode, à esquerda).

A transmissão ousada da TV Educativa, que foi uma verdadeira maratona carnavalesca (considerada, na época, uma loucura sem precedentes), só teria paralelo dois anos depois, com o primeiro carnaval transmitido por uma emissora surgida no bairro da Glória, no Rio de Janeiro.

REFERÊNCIAS:

BEZERRA, Heloisa Dias. TV Educativa (TVE). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV - Fundação Getúlio Vargas.

CABRAL, Sérgio. As escolas de samba: o que, quem, como, quando e por que. Rio de Janeiro, Graphos Industrial. Gráfico, 1974.

_____. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Lumiar Editora, 1996.

FARIAS, Edson Silva de. O desfile e a cidade: o carnaval-espetáculo carioca. 1995. 271 f. Campinas, SP.

XAVIER, Ricardo. A história da TVE. PróTV, Museu da TV. http://www.museudatv.com.br/

Blog ÊHMB De Olho Na TV. http://ehmbdeolhonatv.blogspot.com

Blog Sampa On Line. www.sampaonline.com.br/embalagemecia/colunas/elmo/cultura2001fev.23.

Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)
rixxajr@yahoo.com.br