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O CARNAVAL NA TV BRASILEIRA
. 1º Capítulo: O Carnaval na TV Brasileira - Os Primórdios . 2º Capítulo: O Carnaval na TV Brasileira - A TV Coloriu . 3º Capítulo: O Carnaval na TV Brasileira - A Era da Televisão – Anos 80 (1ª Parte) 13 de janeiro de 2020, nº 40 CAPÍTULO 3 – O CARNAVAL NA ERA DA TELEVISÃO – Anos 80 (1ª parte)
Indiscutivelmente, é a era da
televisão
m
tempos que impera o monopólio por apenas uma emissora ser detentora exclusiva
dos direitos de transmissão do carnaval carioca, é difícil acreditar que já
houve tempo que a festa na Marquês de Sapucaí era exibida simultaneamente por
quatro emissoras de alcance nacional. Sim, na virada dos 70 para os 80, o carnaval carioca
era disputado e exibido por Globo, Bandeirantes, Tupi (que já agonizava com sua
crise financeira) e pela TV Educativa do Rio. E a TV Cultura começava a mostrar
o carnaval feito na terra da garoa. Naquela época, a representatividade dos desfiles na
Marquês de Sapucaí era ainda mais intensa, gerando impactos fortíssimos no
telespectador. Não havia internet e/ou outras formas de consumir, de casa, a
festa no Rio de Janeiro. As revistas semanais de circulação nacional também
forneciam uma cobertura farta e recheada de fotos, principalmente as revistas
Manchete, Fatos e Fotos e Cruzeiro. As televisões começavam com informações meses antes da
folia. Algumas emissoras ainda promoviam concursos de marchinhas e músicas
carnavalescas. Outras tinham em sua grade programas de auditório nos quais
samba e carnaval eram o carro-chefe. Mas é claro que o ápice da festa acontecia
na semana do carnaval, com a exibição de bailes pré e carnavalescos, concursos
de fantasias e os desfiles das escolas de samba, além de flashes da folia nas
outras regiões do país. TUPI
Narração: José
Cunha e Osmar Frazão A década de 80 iniciou com os telespectadores
assistindo sair do ar a primeira emissora de televisão a operar no Brasil e
aquela que fazia a “Cobertura Total” do carnaval (ver Cap.2). Inaugurada em 18 de setembro de 1950 pelo jornalista e
empresário Assis Chateaubriand (que também controlava vários outros veículos de
comunicação, formando um grande conglomerado, os Diários Associados), a TV
Tupi, cabeça da Rede Tupi de Televisão, operou por quase trinta anos. No carnaval, nos anos 60, a Tupi exibia trechos dos
desfiles do carnaval carioca em seus telejornais, além de também ter surfado na
onda dos festivais de música. A
emissora dos festivais de músicas carnavalescas Em 1967, o Museu da Imagem e do Som (MIS), solicitou à
TV Tupi que realizasse um festival de música carnavalesca. Então foi ao ar o
programa Concurso de Música Carnavalesca,
produzido pela Tupi do Rio de Janeiro e exibido em todo o Brasil, com direção
de Ricardo Cravo Albin. O vencedor do certame foi o compositor Zé Ketti (1921 -
1999), com a célebre música “Máscara Negra”. O sucesso foi tanto que a marca General
Eletric (GE) batizou seu novo modelo de televisor, na época, como Máscara Negra.
A Tupi realizaria seis edições do Concurso de Músicas de Carnaval, em parceria com a Secretaria de
Turismo do Rio de Janeiro (ainda não havia a Riotur – Empresa de Turismo do
Município do Rio de Janeiro S.A., fundada em 14 de julho de 1972). Para
perceber o porte desse festival, basta lembrar que uma das divas da canção e
ex-Rainha do Rádio, a cantora Dalva de Oliveira (1917 - 1972), ressurgiu no
país com a música “Bandeira Branca” (Max Nunes e Laércio Alves), terceiro lugar
no Festival de Carnaval da TV Tupi em 1971.
Os últimos suspiros momescos da Tupi se deram em 1980.
No início do ano, em conjunto com a Riotur, a emissora promoveu o Festival da Alegria, seu derradeiro
concurso de músicas de carnaval. A apresentação do certame ficou a cargo de
Jorge Perlingeiro e da jovem atriz Monique Alves (1962-1994). A música de
abertura era “Abre-Alas”, sim aquele megaclássico de autoria da maestrina
Chiquinha Gonzaga (1847-1935). O júri do Festival
da Alegria era composto por nomes célebres, como o agitador cultural e
“maestro da Banda de Ipanema”, Albino Pinheiro (1934 - 1999); as cantoras e
compositoras Dona Ivone Lara (1922-2018) e Lecy Brandão; o compositor
Herivelto Martins (1912-1992); o ator Jorge Coutinho; o cantor Jorginho do
Império; o carnavalesco Clóvis Bornay (1916-2005) e o produtor de TV Wilton
Franco (1930-2012). O Festival da
Alegria revelou e premiou duas músicas que se tornaram estrondosos
sucessos, até hoje são lembradas e já receberam diversas regravações. De
autoria de Neguinho da Beija-Flor, interpretada pelo próprio compositor, a
música “O campeão”, tornou-se seu maior sucesso (fora o universo dos
sambas-de-enredo), sendo tocada em todos os estádios de futebol do país,
unificando todas as torcidas, que sempre modificam uma parte da letra: “Domingo, eu vou ao Maracanã / Vou torcer pro
time que sou fã...). A música obteve o terceiro lugar no festival,
recebendo o Troféu Lamartine Babo e mais a importância de 15 mil cruzeiros.
Após a realização do Festival da Alegria – que era
apresentado semanalmente nas noites de sábado, nos meses de janeiro e fevereiro
–, Jorge Perlingeiro liderou uma vigília dos funcionários da TV Tupi tentando,
sem sucesso, salvar a emissora, o emprego dele e de seus colegas. A vigília se
encerrou dias antes do carnaval daquele ano e a emissora transmitiu os desfiles
do Grupo Especial e das Campeãs (ver Capítulo
2 – A TV Coloriu). Assim foi a cobertura para o último Carnaval do canal:
vencida pela crise financeira, a Tupi fechou as portas e teve seu transmissor
lacrado em 18 de julho de 1980.
BANDEIRANTES
Narração: Murilo
Nery e Galvão Bueno (RJ) e Edson Garcia (SP). Comentários: Maria
Augusta Rodrigues, Fernando Pamplona e Albino Pinheiro (RJ) e Denílson
Benevides (SP)
Apesar de nunca ter sido líder de audiência no segmento
carnavalesco, a TV Bandeirantes no início dos anos 80 mantinha uma excelente programação
que privilegiava, sobretudo, o pré-carnaval. Rio
Dá Samba e João Roberto Kelly Quando o compositor e apresentador João Roberto Kelly
assumiu a presidência da Riotur em 1980, levou para a emissora seu programa de
auditório Programa João Roberto Kelly
– que já apresentava há dez anos, inicialmente na TV Rio e depois na TV Tupi. O
show, antes transmitido apenas para o estado do Rio de Janeiro, passou a ter abrangência
nacional e ganhou o nome de Rio Dá Samba,
nome de um espetáculo musical que o artista percorria diversas cidades
brasileiras. O
programa de Kellynho reproduzia o clima do show que o
animador apresentava nas casas noturnas, que seguia a mesma linha
preconizada
por Oswaldo Sargentelli desde o final dos anos 60 nas suas três
boates no Rio –
“Sambão” (1969), “Sucata” (1970) e,
“Oba-Oba” (1973): era uma espécie de teatro
de revista rebolado com um elenco de belíssimas mulatas oriundas
das escolas de
samba, com astros e estrelas convidados interpretando sambas e
marchinhas de
carnaval, além da tradicional canja do apresentador. O Rio Dá Samba logo apresentou elevados índices de audiência nas
tardes de sábado. Com a promessa de fazer do carnaval de 1981 o “maior
carnaval da história da cidade do Rio de Janeiro” quando assumiu a Riotur, João
Roberto Kelly não poupou esforços em divulgar nossa mais grandiosa festa
popular. O formato do RDS era o mesmo dos famosos programas de auditório da
época, como a Buzina do Chacrinha, Clube do Bolinha e Programa Carlos Imperial,
com um elenco de dançarinas. As atrações, predominantemente musicais, ora se
apresentavam ao vivo – acompanhadas pela banda formada especialmente para o
programa, o Grupo Buraco Quente – ora dublavam com playback. Personalidades do
carnaval (intérpretes, passistas, destaques, dirigentes, carnavalescos e outros
personagens famosos) eram habituées do programa.
Mas o grande barato do Rio Dá Samba era mostrar toda a preparação das escolas de samba do
Rio de Janeiro (e de Niterói também) para o carnaval, desde o anúncio dos
enredos, divulgação das ordens de desfiles e a apresentação dos concorrentes de
samba enredo. “O
sapatão está na moda...” Falando em Chacrinha, o anárquico apresentador Abelardo
Barbosa (1917-1988), comandava dois programas na Band, entre 1979 e 1982: “Discoteca
do Chacrinha”, às terças ou quartas-feiras, e “Buzina do Chacrinha”, aos
domingos. A “Buzina” promovia disputa de calouros e concursos inesperados como
“A Criança Mais Bonita do Brasil” ou “O Negro Mais Bonito do Brasil” ou
gincanas esdrúxulas, como prêmios para quem levasse a maior cobra (serpente) ao
programa. Já a “Discoteca” apresentava os sucessos musicais do momento. Em 82,
voltou para a Globo, a convite de Boni, para comandar um novo programa, o “Cassino
do Chacrinha”, que estreou em 6 de março daquele ano. O último programa foi
gravado e exibido em 2 de julho de 1988. Chacrinha havia falecido dois dias
antes, vítima de câncer de pulmão. Todos os anos, o Velho Guerreiro lançava marchinhas de
carnaval que ficaram famosas e que tocavam à exaustão em seus programas (fosse
tempo de carnaval ou não), como “Maria Sapatão” “Menino Gay” e “Bota a
Camisinha” (assinadas por João Roberto Kelly), e ainda “Break, break”,
“Marchinha da Severina” e “Eu tô cheio de mulher”. Em 1987, foi homenageado pelo Império Serrano, com o
enredo “Com a boca no mundo: quem não se
comunica se trumbica”, de onde retirarmos o trecho que abre este capítulo.
Chacrinha fechou o desfile, no alto de um carro alegórico, cercado de suas chacretes
e acompanhado da jurada Elke Maravilha (1945-2016) e do seu assistente de
palco, Antônio Pedro de Souza e Silva, o “Russo” (1931-2017).
Mais
de mil palhaços no salão A Band também foi pioneira na transmissão de bailes
pré-carnavalescos. A folia dos salões na emissora iniciava geralmente dois
sábados antes do carnaval, com a exibição ao vivo do tradicional Baile “Uma
Noite nos Mares do Sul”, diretamente do luxuosíssimo Ilha Porchat Clube,
instalado na cidade de São Vicente, no litoral sul do estado de São Paulo. O clube era presidido pelo advogado e empresário
paranaense Odárcio Ducci (1942-2016), que também marcou presença na televisão,
tendo sido apresentador do Miss Brasil durante 15 anos e de atrações de
auditório transmitidas diretamente do Ilha Porchat Clube pela TV Mar
(retransmissora da antiga Manchete) em um programa que apresentava em parceria
com Helô Pinheiro, a eterna "Garota de Ipanema", imortalizada na canção
de Tom Jobim.
No entanto, quem comandava as transmissões do Mares do
Sul era Edson Cury (1936 - 1998), um ex-repórter esportivo que um dia – em
meados dos anos 60 – foi convocado às pressas para substituir Chacrinha na TV
Excelsior. Além de bom humor, o repórter tinha silhueta roliça, o que lhe
rendeu o eterno apelido de “Bolinha”, como ficou nacionalmente conhecido, além
de sempre vestir suas mitológicas camisas estampadas. Desde então e nos vinte
anos seguintes, Bolinha se tornou apresentador de seu programa próprio, o
impagável Clube do Bolinha. Odárcio era, inclusive, jurado do quadro de
calouros do programa.
Durante quase cinco décadas o Ilha Porchat foi o clube
número um da Baixada Santista, com 40 mil metros quadrados de área e badaladas festas
que chegavam de 40 a 50 mil pessoas – eram 29 mil na piscina e 11 mil na sede,
segundo o próprio Ducci. O que não deixava de ser curioso era que o Baile dos
Mares do Sul era uma festa carnavalesca onde faltava justamente o principal
ingrediente da folia: músicas de carnaval! As orquestras contratadas a polpudos
cachês executavam tudo o que era sucesso na música nacional e internacional. Pop,
rock, trilhas de filmes, músicas de novela e até alguma coisa de MPB mais
tradicional. O que menos se escutava era justamente o ziriguidum e o telecoteco.
Pierrôs apaixonados, alalaôs, chiquitas bacanas, auroras, mulatas bossa nova,
turmas do funil, mamãe eu quero, piratas da perna de pau, pega no ganzê,
bandeiras brancas, xinxins e acarajés, bumbuns de fora pra chuchu, trens das
onze, etc, eram “ausência garantida” nas partituras dos músicos do badalado baile
e passavam ao largo dos ricos salões e das piscinas de dimensões olímpicas. De natureza comportada e requintada (o traje indicado
nos convites RSVP eram Black-tie ou roupas com motivos tropicais, valendo até
mesmo camisas polo, bermudas, shortinhos e vestidos), o Mares do Sul
contrastava com outros bailes que seriam realizados nos dias posteriores em
solo carioca. A festa em São Vicente reunia também várias figuras emblemáticas
do cenário político e artístico, brasileiro e mundial, como Mário Covas, João
Baptista Figueiredo, Paulo Maluf, José Maria Marin, Marta Rocha, Adriane
Galisteu, Helô Pinheiro, Xuxa, Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Pelé, Moacyr
Franco, João Saad, Jair Rodrigues, Ângela Maria, Roberto Carlos, Thelma Lipp
(transex paulista que “rivalizou” as atenções com Roberta Close nos anos 80), entre
outros. A transmissão dos bailes pela TV Bandeirantes era sempre
confusa e barulhenta, muitas vezes se tornava cômica. Ninguém ouvia ninguém:
nem o repórter, nem o convidado e muito menos o telespectador entendiam coisa
alguma. Um caso que se tornou pitoresco foi, por exemplo, da
transmissão de um baile carioca no carnaval de 1984 por uma equipe de
reportagem formada pelo então novato apresentador Otávio Mesquita e por uma
bela, jovem e emergente atriz chamada Cristina Prochaska. Durante o baile no
Scala, casa de espetáculos do Rio de propriedade do empresário Chico Recarey,
um diretor gritava para o cameraman pelo ponto eletrônico: "fecha na
Prochaska, fecha na Prochaska!". Quanto mais ele implorava para o
cinegrafista dar um close no rosto de Cristina, mais o câmara, confuso (e,
“bêbado”, segundo relatos de Mesquita), fazia zoom nas partes íntimas de uma
passista que rebolava quase nua em cima de uma mesa da festa. Um repórter em especial, que sofreu com a barulheira e
o empurra-empurra, foi Emilio Surita, entrevistando por horas foliões bêbados e
garotas seminuas. Até Sandra Annenberg, na época atriz, fez parte da equipe. Outro pioneirismo da empresa da família Saad foi faturar
com a venda de fitas de vídeo no pós-carnaval. A Band fazia uma compilação dos
melhores momentos dos bailes carnavalescos em VHS e comercializava após a
quarta-feira de cinzas.
Surgem
o Gala Gay e Roberta Close A TV Bandeirantes apresentava na semana anterior e nos
dias de carnaval os tradicionais bailes carnavalescos cariocas: Panteras,
Vermelho e Preto (do Flamengo), Scala, Baile da Cidade, Monte Líbano e um baile
que acontecia na noite de Terça-Feira Gorda de Carnaval chamava muito a atenção
do público e se tornou ícone devido os altos índices de audiência: o Gala Gay. O baile Gala Gay era herdeiro direto de uma outra festa
que iniciou “marginal” e que depois se tornou até ponto turístico carnavalesco:
o Baile dos Enxutos, que nos anos 60 e 70 era realizado no Cine São José, na
Praça Tiradentes, no centro do Rio. Promovida por homossexuais – ou, “enxutos”,
segundo a gíria da época – a festa tinha desfile de fantasias de luxo e
originalidade vestidas por travestis. No início dos anos 80, o GG se tornou o mais famoso
baile gay do país e gerava uma grande audiência para a emissora. Na porta do
baile, repórteres entrevistavam transformistas e drag queens sem pudor e sem economizar nos closes. Por mais
contraditório que pareça, numa época em que a homofobia era predominante, o GG
era o momento de maior interesse televisivo no carnaval. Otávio Mesquita,
Rogéria (1943-2017) e Monique Evans levavam divertimento e alegria ao público
com impagáveis reportagens. Em 1982, após vencer um concurso interno no Gala Gay, o
de “Miss Brasil Gay”, surgiu uma personalidade que ganhou uma dimensão
nacional: Roberta Close. Na flor de seus 18 anos, quando a belíssima morena de 1,80m
e curvas estonteantes apareceu perante as câmeras ostentando a faixa de “mais
belo travesti do Brasil” (naquela época não se utilizava o termo “trans” e nem
se discutia gênero), Roberta (cujo nome em cartório civil era Luiz Roberto
Gambini Moreira) chamou a atenção do país inteiro, chegando a ser considerada
“a mulher mais bonita do Brasil”. Foi a partir dessa época que se sucederam as
inúmeras aparições na imprensa. A bela passou a gerar admiração e curiosidade,
além de ser presença frequente em programas de TV, entrevistas, revistas de
fofoca e habituée no carnaval e não apenas no Gala Gay, mas também nos desfiles
da Sapucaí.
Pode-se dizer que o auge do sucesso de Roberta Close aconteceu
quando a revista Playboy estampou-a na capa de sua edição de maio de 1984. Pela
primeira vez, na história do periódico, a principal atração não era uma mulher
cisgênero, mas uma mulher transgênero. Roberta voltou a aparecer na Playboy, em
março de 1990, na edição Nº 176 (que trazia Luma de Oliveira como modelo de
capa), desta vez completamente nua, mostrando o seu corpo após a cirurgia de
redesignação sexual, realizada em Londres, no ano anterior. “Nossa, já
participei de tantas gafes. Uma delas foi entrar no banheiro do Baile de Gala
Gay e flagrar um monte de mulheres fazendo xixi de pé”, afirmou Otávio
Mesquita, aos risos, em entrevista a Danilo Gentili no programa Agora é Tarde, da Band, em 2012, aos
risos.
O
desfile é na avenida Com o mesmo slogan da cobertura que a TV Tupi fez em
1980, a Bandeirantes anunciou para 1981 o seu “Carnaval Cobertura Total”. A
estação transmitiu ao vivo e durante mais de doze horas, diretamente da Marquês
de Sapucaí, as escolas de samba do Grupo 1-A (Grupo Especial) do Rio no domingo
de carnaval, dia 1º de março, para todo o país. Pela ordem, com seus respectivos
enredos: 1 Unidos
da Tijuca (“Macobeba - O que dá pra rir, dá pra chorar”) 2
Unidos
de Vila Isabel (“Dos jardins do Éden à era de Aquarius”) 3
Estação
Primeira de Mangueira (“De Nonô a JK”) 4
Império
Serrano (“Na terra do pau-brasil, nem tudo Caminha viu”) 5
Beija-Flor
de Nilópolis (“Carnaval do Brasil, a oitava das sete
maravilhas do mundo”) 6
Portela
(“Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite”) 7
Acadêmicos
do Salgueiro (“Rio de Janeiro”) 8
União
da Ilha do Governador (“1910, burro na cabeça”) 9
Imperatriz
Leopoldinense (“O teu cabelo não nega”) 10
Mocidade
Independente de Padre Miguel (“Abram alas para a
folia, aí vem a Mocidade”). Desfile
da Beija-Flor transmitido pela TV Bandeirantes em 1981 A Bandeirantes transmitiu os desfiles do Grupo Especial
com uma equipe para lá de enxuta, com apenas dois apresentadores e a
participação de uma especialista para tecer comentários: Maria Augusta, professora
da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e ex-carnavalesca da União da Ilha
do Governador, escola-sensação nos anos de 1977 e 1978 e 79, era apresentada
como “analista”. Aliás, Maria Augusta passou o tempo todo gongando o desfile da
Beija-Flor. A ancoragem da transmissão foi do ator e apresentador Murilo
Nery (1923-2001) junto com um jovem narrador esportivo chamado Carlos Eduardo
dos Santos Galvão Bueno, que vinha se destacando desde o ano anterior, quando a
Band comprou os direitos de transmissão das provas de Fórmula 1. E até que se
saiu bem: enquanto Murilo e Maria Augusta estavam na cabine no centro da pista,
Galvão ficava na cabine no início do desfile, junto à concentração, com uma
narração sóbria, abastecendo os telespectadores de informações e chamando as
reportagens para irem ao ar. Galvão foi contratado pela Rede Globo poucos meses
depois do carnaval. Seu primeiro trabalho na Vênus Platinada foi a narração da
partida entre o Flamengo X Club Jorge Wilstermann, da Bolívia, pela Copa
Libertadores da América, no dia 13 de outubro daquele ano.
A transmissão da Band em 1981 pecou por não ter uma boa
direção de imagens. Cortes abruptos, exibição das imagens por poucos segundos,
planos fechados (ou no máximo, médios), imagens se repetindo, sem se ter uma
noção do todo da escola. Enquadramento dos fundos dos carros e os destaques e
componentes sendo mostrados de costas. Assim como a Globo, a Band também exibia, antes de cada
desfile, uma pequena reportagem com a história da agremiação, entrevista com
dirigentes, carnavalescos e destaques, além de abordar o tema-enredo e mostrar o
samba-enredo para aquele ano na voz do intérprete. Quando a escola ainda não
arrancava ou se demorava muito no setor de concentração, a Band mostrava
imagens do desfile da escola do ano anterior, o que, de certa, forma provocava
uma confusão para quem sintonizasse o canal naquele momento. Samba
da Garoa Nos intervalos dos desfiles da Sapucaí – que em função
dos costumeiros atrasos poderia demorar até uma hora entre uma escola e outra –
a Band também exibiu, ao vivo, flashes generosos dos desfiles do Grupo Especial
de São Paulo (naquela época chamado de Grupo 1), e que eram realizados na noite
de domingo de carnaval, na Avenida Tiradentes. Pela ordem, se apresentaram: 1 Renascença da
Lapa (“Viva Nova Canaã”) 2 Cabeções de
Vila Prudente (“Do Iorubá ao Reino de Oyó”) 3 Pérola Negra
(“Quem não pode, pode. No 1º de Abril ou A visita do Reino de Mentira ao País
da Verdade”) 4 Camisa Verde e
Branco (“Amor, Sublime Amor”) 5 Barroca Zona
Sul (“Uma hora na Amazônia”) 6 Rosas de Ouro
(“Do caminho do mar à Ilha do Tesouro”) 7 Vai-Vai (“Acredite
se quiser”) 8 Imperador do
Ipiranga (“Acaiaca - A Sacerdotisa do Sol”) 9 Nenê de Vila
Matilde (“Axé - Sonho de Candeia”) 10 Mocidade Alegre (“Visungo, Canto de Riqueza”) A
narração dos desfiles de São Paulo ficou a cargo de Edson Garcia, com
comentários do cantor e intérprete Denílson Benevides. No dia seguinte (2 de março), a Band transmitiu – somente
para o Rio de Janeiro – “a partir das 9:15 da noite”, segundo chamada durante
os intervalos da programação, as escolas do Grupo 1-B (Segundo Grupo). Pela
ordem: Na segunda de Carnaval e na terça-feira Gorda (dias 2 e
3 de março) o restante da rede acompanhou programação especial com flashes da
folia em todo o Brasil, concursos de fantasias e bailes carnavalescos. No ano seguinte, a cobertura de carnaval da Band foi mais
acanhada em comparação com os dois anos anteriores. O período pré-carnavalesco de
1982 parecia prometer e gerou expectativa com a estreia do programa de João
Roberto Kelly – agora já rebatizado com o nome do compositor e apresentador –
que era exibido aos sábados, por volta das 14 horas. O antigo Rio Dá Samba retornou à grade de
programação após a virada do ano. No entanto, reformulações acordadas com a
direção da emissora, tornaram o programa mais calcado em executar músicas que
estavam nas paradas de sucesso (fosse samba ou não), reduzindo
consideravelmente o espaço para o segmento carnavalesco. Não por acaso, o
último Programa João Roberto Kelly
pela Rede Bandeirantes foi ao ar no dia 20 de fevereiro de 1982, Sábado de
Carnaval, e não mais retornou. A cobertura de carnaval da emissora se limitou a
inserts nos noticiosos jornalísticos,
apresentando o melhor da folia de norte a sul do país. Para a cobertura de 1983, a batida carnavalesca da Band
foi diferente. A Globo cada vez mais desenvolvia uma atraente e intensa
programação de carnaval já a partir dos principais telejornais da emissora,
passando por programas especiais e até mesmo inserções nas novelas. A cada
semana que o carnaval se aproximava a programação global ganhava mais recheio.
Com isso, a emissora da família Saad resolveu apostar numa cobertura com
bailes, concursos de fantasias e nos desfiles, escalar o que havia de melhor
entre os especialistas de carnaval. Quase toda equipe que cobriu a maratona de carnaval
pela TV Educativa do Rio de Janeiro no ano anterior acabou migrando para a
Band. Analistas do quilate de Fernando Pamplona, Albino Pinheiro, além da
remanescente Maria Augusta. As reportagens ficaram a cargo de Cristina Rego
Monteiro, Sandra Moreira e Hilton Abi-Rihan.
SBT
A tevê do Homem do Baú também deu seus primeiros gritos
de carnaval praticamente logo após inaugurada. Em 19 de agosto de 1981, cinco
anos após a fundação da TVS Rio de Janeiro, Silvio Santos inaugura o Sistema
Brasileiro de Televisão, formado pelas emissoras de São Paulo, Rio de Janeiro,
Porto Alegre e Belém, sendo que estas duas últimas só entraram no ar
posteriormente. A denominação TVS era usada apenas quando as emissoras locais
não estavam em rede, do contrário usavam a marca SBT. A praça de São Paulo passa a ser a sede e a fonte
geradora da programação da rede.
De
1981 a 1996 o SBT era localizado em São Paulo na Rua Dona Santa Veloso 575, no
distrito de Vila Guilherme (antes sede da TV Excelsior e atualmente Igreja
Bíblica da Paz). O
SBT dos primeiros tempos aproveitou muitos artistas,
emissoras próprias, afiliadas e programas da Tupi, tanto para
cumprir acordos
trabalhistas com os antigos funcionários da rede falida quanto
pela necessidade
de iniciar suas operações já com um conjunto de
programas estruturado. Com
atrações popularescas, especialmente os programas de
auditório comandados por
Gugu Liberato, Raul Gil, Moacyr Franco, J. Silvestre, Flávio
Cavalcanti e pelo
próprio Silvio Santos, o SBT cai no gosto do telespectador de
renda mais baixa.
Na linha infantil, o grande sucesso era o programa do palhaço
Bozo. Nessa época
começou a exibição de telenovelas, tanto sucessos
estrangeiros, como “Los ricos
también lloran” (Os Ricos Também Choram) em 1982,
“Cristina Bazán” em 1983 e “Chispita”
em 1984, quanto produções próprias que seguiriam
uma linha semelhante. E desde o princípio o SBT também deu privilégio ao
carnaval. Em 13 de janeiro de 1982, estreava o programa “A Maravilhosa Música
Brasileira”, no qual mostrava os sambas-enredos de São Paulo e Rio de Janeiro
com as presenças das escolas de samba para o Carnaval de 1982. O programa era conduzido
pelo produtor cultural, empresário e apresentador de TV, Oswaldo Sargentelli,
com suas tradicionais mulatas da atração, dentre elas Solange Couto, que se
tornaria conhecida nacionalmente muito tempo depois como atriz. Em 1983, o SBT cobriu o seu primeiro carnaval. No dia
12 de fevereiro, a emissora iniciava a transmissão de “Os Grandes Bailes do
Carnaval 83”, com duração de quatro horas, durante as madrugadas do Carnaval,
com os melhores salões da folia tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. Os
bailes do Palmeiras, Arakan e Juventus, em São Paulo, e Vermelho e Preto/Flamengo
e Sírio-Libanês, no Rio de Janeiro, contavam com unidades fixas de transmissão. A TV do “Patrão” também cobriu os desfiles do carnaval
paulistano nos anos de 1983 e 1984. A logomarca da emissora também estava
estampada na capa dos LP’s com os sambas de enredo do Grupo 1 nestes dois anos. Em 1983, a ordem dos desfiles das escolas e seus
respectivos enredos no Grupo 1, na Avenida Tiradentes era: 1
Pérola Negra (“Português, Papagaio e Cia”) 2
Flor da Vila Dalila (“Exaltação ao Criador”) 3
Nenê de Vila Matilde (“Gosto é gosto e não se discute”) 4 Imperador
do Ipiranga (“Ymembuy”) 5 Unidos
do Peruche (“O criador de ilusões”) 6 Mocidade
Alegre (“Ilusão do Fantástico Eldorado”) 7 Rosas
de Ouro (“Nostalgia”) 8 Camisa
Verde e Branco (“Verde que te quero verde”) 9 Barroca
Zona Sul (“75 anos de imigração japonesa ou Reino do Sol
Nascente”) 10
Vai-Vai
(“Se a moda pega”)
Nos anos 80, a TV Cultura
redescobria o carnaval, sendo uma das primeiras emissoras a transmitir o
carnaval paulistano! Com uma ampla cobertura
gravou toda a folia, que acontecia na Avenida São João, garantindo à emissora
caráter comercial exclusivo para transmitir os carnavais de São Paulo. Isso
tudo dez anos antes da construção do sambódromo do Anhembi! Comentários: Haroldo Costa; Carlos Alfredo de Macedo Miranda, Dalal Achcar, Guio de Moraes, Mauro Monteiro, Ricardo Cravo Albin e Sérgio Cabral. Reportagens: Carlos Mendes, Leila Cordeiro, Luiz Eduardo Lobo, Maria Regina Martinez, Ricardo Pereira, Mario Jorge Guimarães.
A Globo entrou a década de 80 cada vez mais exuberante
em sua programação carnavalesca. Desde o período pré-carnaval a emissora dava
um carinho especial para reportagens abordando o carnaval em todo o território
nacional. Nesta época, a cobertura do carnaval na Globo se
estabeleceu de três formas: com flashes durante a programação, com entradas ao
vivo nos telejornais da emissora e com transmissões ao vivo nos fins de noite,
nas madrugadas e no começo da manhã, dos desfiles das escolas de samba do Rio
de Janeiro e São Paulo, além das apurações destes dois desfiles. Durante as
transmissões nos períodos citados, havia ainda entradas ao vivo ou gravadas de
outras cidades, como Salvador (BA), Recife e Olinda (PE). Programação
Normal e o Melhor do Carnaval O esquema de cobertura do carnaval da “Vênus Platinada”
iniciado nos anos 70 é redefinido pela valoração que um determinado público
considera interessante em “ver”, o que estaria na contrapartida da
racionalização do tempo da programação dedicada ao festejo. Ora, a Globo é a maior
rede de tevê do Brasil e emissora líder de audiência no segmento televisivo –
meio de comunicação de massa, que leva em consideração um público grande,
anônima e heterogênea. Para a emissora, o carnaval é tratado como
“entretenimento”, não como jornalismo, daí o porquê de a cobertura carnavalesca
estar vinculada à Central Globo de Produção, e não à Central Globo de
Jornalismo. O mais significativo, no entanto, é a sugestão quanto à
existência de um Carnaval organizado capaz de compactuar um mesmo padrão
estético chave à proposta da emissora, segundo o imperativo do extremado
cuidado simultâneo com o áudio e a imagem – o chamado “padrão Globo de qualidade”,
um conjunto de parâmetros que passa a orientar a programação da empresa no
sentido de oferecer imagens homogêneas e vistosas. Assim, é apresentado o
binômio plano geral & detalhes
como a novidade técnica introduzida para cobrir os desfiles de fantasias de
luxo, mas sobretudo da transmissão do grande Desfile de Escolas de Samba,
destacados por sua crescente suntuosidade. Em 1976, a Globo montou uma equipe
de 232 profissionais para transmitir o espetáculo, contando com dez câmeras,
das quais duas eram portáteis e apoiadas por dois “caminhões de externa”
(espécie de pequenos estúdios de TV, dotados de equipamentos para emitir as
imagens produzidas) que estavam estacionados nas proximidades da pista de
desfile. O objetivo do emprego de todo esse aparato era mostrar os “detalhes” e
“planos gerais” do espetáculo. Em 1977 a Globo lança o slogan que por mais de
uma década definiu sua cobertura de carnaval: “Programação Normal e o Melhor do Carnaval”. É
clara a sugestão no slogan quanto ao fato de o
Desfile interagir organicamente com a programação
televisual, tanto no que se
refere à unidade estética e expressiva como a
concatenação com os objetivos
mercadológicos da empresa – o “padrão Globo
de qualidade” obedeceu ao princípio
de eficiência técnico-burocrática e à
consolidação de uma posição de destaque
no mercado publicitário nacional.
Nos carnavais de 1980 a 1983, a programação da Globo
era a seguinte: a cobertura dos desfiles do Grupo Especial (que aconteciam no
Domingo de Carnaval) começava por volta das 20 horas, logo após o Fantástico,
que tinha sua edição reduzida dos 120 minutos originais para 30 minutos. A
emissora começava exibindo antes da apresentação de cada escola, uma reportagem
da agremiação, com entrevistas com dirigentes, carnavalescos, compositores e
baluartes, mesclando cenas gravadas no barracão durante a construção das
alegorias ou dos ateliers, durante a confecção das fantasias. A seguir, era apresentado um clipe no qual aparecia
somente a imagem do intérprete da respectiva escola cantando o samba-enredo nos
estúdios da TV Globo (envolto em um efeito de imagem em forma de “círculo” e
enquadramento de plano fechado/“close-up”, enquanto ao fundo, transcorriam
imagens em tempo real da entrada da escola), com acompanhamento musical – os músicos
não apareciam em cena.
A duração do clipe oscilava de acordo com o tempo que
se tinha livre até a entrada da escola na passarela. Variava de míseros 47
segundos (como foi o caso de David Corrêa e o samba da Portela de 1980) até cinco
minutos ou três passadas inteiras do samba (Roberto Ribeiro/Império Serrano em
1980, e Sobrinho/Unidos da Tijuca em 1981). Essa prática de exibir clipes
(depois chamados de “vinhetas”) do samba-enredo antes da apresentação
propriamente dita da escola perdurou na Globo até 1988. Reprise
dos desfiles Além da transmissão ao vivo dos desfiles, a Globo
também instituiu a reprise dos melhores momentos das apresentações das escolas
no dia seguinte, de forma compacta em um programa com duas horas de duração.
Assim, os desfiles do Grupo Especial, que aconteciam na noite de Domingo,
ganhavam uma reprise na tarde de Segunda, às 14h30. Os desfiles das escolas da segunda divisão (também
nominada Segundo Grupo ou Grupo 1-B) poderiam também ser revistos no compacto
exibido na tarde de Terça-Feira, igualmente por volta das 14h30, entre o Vale a Pena Ver de Novo e a Sessão Aventura. A saber, a Globo
transmitia ao vivo as escolas do Segundo Grupo apenas para o Rio de Janeiro
para, no dia seguinte, exibir o compacto em rede nacional. E assim foi em 1979,
1980 e 1983. Qualidade
nas transmissões ao vivo Gradativamente, a Globo foi aperfeiçoando o modo de
transmissão. Se nos anos 70, a emissora mostrava o início da escola ainda sem a
sonorização completa (como vimos no Capítulo 2), com as primeiras alas cantando
o samba sem escutar a voz do puxador e sem ouvir o acompanhamento da bateria
(que estavam ainda no meio da escola) nos anos 80, houve o início da correção
desses detalhes.
Como naquela época o tempo de desfile de cada escola
era de 90 minutos, a Globo começou a espalhar repórteres na concentração para
ir captando os primeiros momentos da escola entrando na avenida, já que a
transmissão propriamente dita, “ala a ala” iniciava quando a agremiação já
tinha em torno de 20 minutos de desfile. Os jornalistas passaram então a entrevistar não só os
componentes da escola que adentravam a passarela, mas políticos, celebridades
(do samba ou não), além do público presente nas arquibancadas. No entanto,
nessa época, a Globo ainda não mostrava os intérpretes dando o grito de guerra e
nem as primeiras passadas do samba apenas com o “pedal” (o ritmista que faz a
marcação do samba apenas com o surdo no andamento certo para servir de base
para os intérpretes e todos os outros ritmistas, antes da bateria “virar” ou
“subir”). A exibição do grito de guerra do intérprete passou a se dar a partir
das transmissões da TV Manchete, como veremos nos próximos capítulos. Após alguns minutos de entrevistas na concentração e à
beira da pista, era exibida a reportagem previamente gravada sobre os
preparativos da escola e o clipe com o intérprete mostrando o samba em até três
passadas completas. O método ajudou a transmissão a ganhar dinamismo, pois,
após tudo isso, os âncoras e os comentaristas já podiam transmitir o desfile
quando a escola já se encontrasse quase na metade de seu percurso. Ao término
do desfile, o Júri da Globo tecia suas análises, enquanto eram reprisadas
imagens da passagem da escola. Falando sobre esse exacerbado tempo de desfile, quem
iniciou a moralização dos horários das apresentações das escolas de samba foi o
jornalista e produtor Antonio José Lemos de Carvalho, mais conhecido como
Antonio Lemos (1931-2011). Lemos (que trabalhava na Super Rádio Tupi e que já
havia sido diretor do Império Serrano e anos depois chegou à presidência da
verde e branco da Serrinha) foi nomeado pela Riotur em 1980 como coordenador
dos Desfiles das Escolas de Samba. Foi o profissional que mais tempo permaneceu
no cargo (até 1990). Antes de sua coordenação, os desfiles na Sapucaí não
tinham horário para começar e muito menos para acabar. Essa disciplina praticamente
militar no cumprimento de horários estabelecida por Antonio Lemos disciplinou
os desfiles e colaborou com as tevês, que passaram a ter uma definição quanto à
duração das transmissões na avenida. Os âncoras da transmissão da Globo entre 1981 e 1983
seguiam sendo Hilton Gomes e Léo Batista, que ganharam a companhia do escritor,
ator e produtor Haroldo Costa, que destacava “os pontos altos” de cada escola,
fazendo uma visão geral do desfile. O jornalista Luiz Lobo também ancorava os desfiles,
principalmente na fase em que a Globo passou a destacar a escola durante a
concentração. O júri extraoficial, ou o “Júri da Globo” seguia sendo
uma das atrações da transmissão, devido a algumas posições polêmicas e
controversas dos comentaristas, por vezes, “pesando a caneta” na hora de
atribuir as notas. Os “jurados” do Carnaval da Globo eram: Carlos
Alfredo de Macedo Miranda (1950-2008, jornalista e produtor
audiovisual), que atribuía notas para Enredo; Dalal
Achcar, bailarina, dava notas para os quesitos Evolução e
Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Guio
de Moraes, maestro, compositor e arranjador, que “julgava”
Bateria e Conjunto. Mauro
Monteiro (cenógrafo, na época, funcionário da TV Globo), que
comentava os quesitos Fantasia e Alegorias. Ricardo
Cravo Albin, jornalista e musicólogo, que analisava
Harmonia. Sérgio
Cabral (jornalista, escritor e compositor), que analisava os
quesitos Samba-Enredo e Comissão de Frente.
TV
EDUCATIVA Narração: Luiz Lobo e Fernando
Pamplona Pode-se afirmar, sem medo de errar, que, dentre todas
as emissoras de televisão no país, a que fez a cobertura mais completa e ousada
de carnaval no início da década de 80 foi a TV Educativa do Rio de Janeiro
(TVE-RJ). Inaugurada no dia 5 de novembro de 1975, a emissora
tinha cunho educativo e público, e era mantida pela Associação de Comunicação
Educativa Roquette Pinto, fundação educativa que também controla, até hoje, a
Rádio MEC. A TVE foi idealizada por Gilson Amado (1908 - 1979), professor e
radialista que se destacou por ser um dos pioneiros em usar a televisão e o
rádio como instrumentos pedagógicos com fins educativos de âmbito nacional no
Brasil. No dia 3 de dezembro de 1979, entrou no ar a Rede de
Televisão Educativa, composta por 20 emissoras. A programação sempre teve cunho
cultural, com programas musicais e que tinham a preocupação com a memória
nacional. A grade também abrigava seriados da teledramaturgia infantil, séries
de conteúdo pedagógico, telecursos e programas que ensinavam inglês através de
músicas. Desde então observou-se uma predominância de programas culturais e
informativos, aumentando o distanciamento do objetivo primordial que era a
educação a distância. Com o falecimento de Gilson Amado, o então ministro da
Educação, Eduardo Portela (1932-2017), nomeou para a direção da emissora
Emanuel Carneiro Leão, que tornou a programação ainda mais eclética e voltada
para o grande público. Dentro deste ambiente cultural (e sediada na capital
mundial do carnaval), para a TVE-RJ passar a transmitir carnaval foi um pulo.
Professor da Escola de Belas Artes e cenógrafo do Theatro Municipal do Rio,
Fernando Pamplona (1926-2013) decidiu abandonar a função de carnavalesco após
o desastrado e sabotado desfile da Acadêmicos do Salgueiro de 1978. Prometeu a si mesmo e à esposa Zeni que jamais
seria carnavalesco num desfile. Pamplona já era funcionário da TVE-RJ desde o início
das operações da emissora em 1975.
Anos
antes, o carnavalesco produziu “João da Silva”, uma telenovela instrutiva, que
misturava teledramaturgia com curso supletivo de primeiro grau (hoje ensino
fundamental), exibida simultaneamente pela TV Rio, TV Tupi, TV Cultura, TVE e pela
Rede Globo. A telenovela foi reconhecida, ganhando o Prêmio Japão, o maior
troféu internacional de radiodifusão educativa. Carnaval
80 na TVE – 80 horas no ar Após ter se aposentado como carnavalesco, Pamplona
iniciou um inesquecível trabalho como comentarista nas coberturas de TV.
Valendo-se da condição de servidor da TVE, apresentou um ousadíssimo projeto
para a emissora, no qual previa que a mesma transmitiria 80 horas ininterruptas
de programação carnavalesca durante a folia de 1980.
Em seu livro “Escolas de Samba do Rio de Janeiro”,
Sérgio Cabral (1996) dedica um capítulo a uma entrevista com Fernando Pamplona,
no qual o autor responsabiliza o ex-carnavalesco pela melhor cobertura já feita
no carnaval brasileiro por uma emissora de tevê, quando Pamplona (que também já
havia trabalhado na TV Globo) comandou a equipe da TVE-RJ. Ao que o cenógrafo e
produtor respondeu: - Foi em 1980. O slogan da TV Globo era
“Programação Normal e o Melhor do Carnaval”. Ou seja: interessava para a Globo
apenas o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Apresentava também,
por razões contratuais, o desfile de fantasia. Aí fizemos aquela loucura de
botar a TVE oitenta horas no ar, mostrando o carnaval de todo o Brasil. Além de Pamplona, participaram daquela transmissão:
Albino Pinheiro (1934 - 1999), Amaury Monteiro, José Carlos Rego (1935 – 2006),
José Luiz Furtado, Luís Lobo, Mister Eco (apelido do jornalista baiano Eustórgio
Antonio de Carvalho Júnior – seu verdadeiro nome – polêmico jurado do Programa
Flávio Cavalcanti na TV Tupi na década de 70), Sérgio Cabral, Valdinar Ranulfo,
entre outros. Segundo Pamplona relatou no livro de Cabral, a TVE
venceu a Globo por “quarenta a vinte no Ibope”. A cobertura educativa abordou
não só as escolas do grupo especial, mas também do segundo grupo, além de dar
um espaço imenso ao carnaval de todo o país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul.
“Depois do carnaval,os jornais dedicaram páginas inteiras pra gente”, relatou o
ex-carnavalesco salgueirense.
Dentro das oitenta horas de cobertura de carnaval, a
TVE transmitiu ao vivo o desfile do Grupo Especial (que na época era chamado de
Grupo 1-A), no Domingo, e também do Grupo 1-B, na Segunda-Feira. As
reapresentações dos desfiles das duas categorias foram exibidas nas tardes de
segunda-feira e da Terça-Feira Gorda, respectivamente. Durante o dia, ainda reapresentava
os melhores momentos dos Desfiles de Carnaval por todo o Brasil. À noite, a
partir das 19 horas, iniciava a cobertura ao vivo dos desfiles de carnaval do
Rio de Janeiro, São Paulo, Niterói, Porto Alegre, etc. No ano seguinte, a TVE repetiu a operação. Para o
carnaval de 1981, foram reservadas oitenta e uma horas dedicadas à cobertura da
folia. Novamente Fernando Pamplona estava no comando da transmissão, juntamente
com seu belo time de analistas, com exceção de Sérgio Cabral, que havia sido
contratado para ser jurado extraoficial da TV Globo.
Em 1982, a ousadia educativa avançava: a duração da
cobertura da folia atingia oitenta e duas horas (três dias e meio) de
transmissões ininterruptas. O slogan da emissora era: “TVE 82, o melhor da televisão”. Os trabalhos foram abertos já na
noite de sexta-feira, dia 15 de fevereiro, com musicais dedicados às marchinhas
e aos sambas dos antigos carnavais. No sábado, dia 16, a TVE apresentou programas especiais
intercalados com boletins sobre o carnaval do país. No dia seguinte, Domingo,
dia 17, a TVE abriu as transmissões ao vivo da elite do carnaval carioca, o
Grupo 1-A, às 18 horas, se estendendo até o final da manhã do outro dia. Pela
ordem: Unidos de Vila Isabel, Unidos de São Carlos, União da Ilha do Governador,
Estação Primeira de Mangueira, Acadêmicos do Salgueiro, Beija-Flor, Unidos da
Tijuca, Portela, Mocidade Independente de Padre Miguel, Imperatriz
Leopoldinense, Império da Tijuca e Império Serrano.
O desfile do Grupo 1-B, na Segunda de Carnaval,
dia 18, também teve início às 18 horas, diretamente da Marquês de Sapucaí,
terminando por volta das nove da manhã do dia seguinte. Pela ordem: União de
Jacarepaguá, Unidos da Ponte, Unidos de Lucas, Lins Imperial, Unidos de Bangu,
Acadêmicos de Santa Cruz, Império do Marangá, Arrastão de Cascadura, Unidos do
Cabuçu, Arranco do Engenho de Dentro, Em Cima da Hora e Caprichosos de Pilares.
Uma segunda equipe também estava presente na Avenida
Rio Branco, a partir das 18h, para cobrir os desfiles das escolas do Grupo 2-B.
Pela ordem: Unidos de Padre Miguel, União de Rocha Miranda, Império de Campo
Grande, Unidos da Vila Santa Tereza, Unidos da Zona Sul, Acadêmicos do Cachambi,
Unidos de Cosmos e União de Vaz Lobo. Para fechar o carnaval carioca de 1982, na Terça-Feira
Gorda, dia 19 de fevereiro, a produção jornalística da emissora novamente
dividiu a equipe em duas: a primeira acompanhou desde as 18 horas, na Sapucaí,
o desfile dos blocos carnavalescos. A outra, no mesmo horário, só que na
Avenida Rio Branco, cobriu a apresentação dos ranchos. TVE
acompanha o Império Serrano – última escola a desfilar no Grupo 1-A de 1982 –
desde o primeiro minuto, direto da área de armação da escola, antes de adentrar
a passarela da Marquês de Sapucaí.
A transmissão ousada da TV Educativa, que foi uma
verdadeira maratona carnavalesca (considerada, na época, uma loucura sem
precedentes), só teria paralelo dois anos depois, com o primeiro carnaval transmitido
por uma emissora surgida no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. BEZERRA, Heloisa Dias. TV Educativa (TVE). Dicionário
Histórico-Biográfico Brasileiro. CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil da FGV - Fundação Getúlio Vargas. CABRAL, Sérgio. As escolas de samba: o que, quem, como,
quando e por que. Rio de Janeiro, Graphos Industrial. Gráfico, 1974. _____. As escolas de samba do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, Lumiar Editora, 1996. FARIAS, Edson Silva de. O desfile e a cidade: o carnaval-espetáculo
carioca. 1995. 271 f. Campinas, SP. XAVIER, Ricardo. A história da TVE. PróTV, Museu da TV. http://www.museudatv.com.br/ Blog ÊHMB De Olho Na TV. http://ehmbdeolhonatv.blogspot.com Blog Sampa On
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