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UMA BOA ESPERANÇA PARA O JULGAMENTO DE SAMBA-ENREDO
              

3 de fevereiro de 2025, nº 98


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UMA BOA ESPERANÇA PARA O JULGAMENTO DE SAMBA-ENREDO

A divulgação do Manual do Julgador para os desfiles de 2025 no Grupo Especial carioca por parte da LIESA trouxe boas notícias para a avaliação de samba-enredo – até o momento, a lista de julgadores ainda não foi anunciada, o que deve ocorrer ainda esta semana. Destaco aqui dois pontos: “a adequação da letra ao enredo, sem a necessidade, no entanto, de conter todos os elementos presentes no desfile ou de seguir a mesma ordem cronológica em relação ao que é apresentado na avenida, uma vez que se trata de uma obra poética” e “a sua adaptação à melodia, ou seja, o perfeito entrosamento dos seus versos com os desenhos melódicos” na letra – os tópicos referentes à melodia não foram alterados.

 

Para 2025, mudanças no manual de julgamento de samba-enredo (Foto: Fábio Costa/LIESA)

 

Trata-se de um rompimento com um modelo que já nasceu insustentável. Por mais que pareça clichê e até oportunista, finalmente a LIESA ouviu as preces de quem temia um caminho sem volta para o quesito. Desde 2022, o julgamento de samba-enredo vem sendo prejudicial ao gênero, a começar pela limitação da criatividade, passando na redução de composições que trazem linhas ousadas e terminando nas escolas acovardadas na escolha dos sambas. Foi, no mínimo, desesperador (pra se usar um termo leve), ver obras que rompiam o modelo-padrão como o “Waranã” da Tijuca e o “Canta Canta Minha Gente! A Vila é de Martinho”, pra se citar exemplos do ano mencionado aqui – serem preteridas por “sinopses musicadas” a fim de conquistar os 40 pontos na apuração. Ao ponto de eu mesmo dizer publicamente que o júri de samba-enredo odiava o gênero por seguir esse modelo - fui até interpelado no ar pelo Alfredo Del Penho, um dos julgadores do quesito, que até reconheço ter criticado sem razão seu julgamento em 2024. E não fui o único: faço menção ao companheiro Pedro Migão, do Blog Ouro de Tolo, que ferozmente criticava o modelo desde a raiz do problema.

Mas não é coincidência as mudanças virem a partir do momento em que, pelo menos, metade do grupo resolveu “sair das quatro linhas” do modelo-padrão que o júri (e seus critérios) impuseram. A impressão que ficou é de que uma hora essa corda ia roer. Imagina o modelo de julgamento anterior inventando alguma coisa pra penalizar o samba da Viradouro por causa dos versos cantados rapidamente? Ou o samba do Tuiuti, com questão similar em seu refrão principal? Faço um exercício de pensamento: quantas boas obras perdemos em eliminatórias nos últimos anos pelo fato das escolas preterirem a funcionalidade?

Odiamos nos sentir carrascos. Principalmente quando precisamos fazer críticas mais ácidas – o que faz parte do ofício. Mas de tanto reclamar, parece que adiantou. Não é nada de espetacular, mas bastou uma boa safra para que os critérios fossem mudados. Bom para as escolas. Melhor ainda para os compositores. Fundamental para o carnaval. Que a expectativa de um bom julgamento se confirme, para que o samba-enredo tenha de novo – uma oxigenada definitiva. E principalmente, pra que toda essa expectativa não acabe envelhecendo mal – e a gente volte aqui pra soltar o velho “não adiantou nada”.



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Carlos Fonseca
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