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27 de janeiro de 2025, nº 97 Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca - Coluna anterior: Retrospectiva do Carnaval 2024 - Parte 1: Alafiou, Brasiléia! Deu Serpente na Cabeça
NEM TUDO FOI ORIGINAL: CINCO SAMBAS QUE SOFRERAM ALTERAÇÕES NA REEDIÇÃO
O expediente das reedições vai para o vigésimo primeiro ano
consecutivo em vigor no carnaval do Rio. Tão amado, tão rejeitado, umas vezes
na “crista da onda”, outras em fase de desuso, os remakes carnavalescos sempre
estão em debate – como já mostramos aqui em colunas anteriores. Em situações
específicas, o samba-enredo nem sempre foi fielmente cantado do mesmo jeito que
apareceu no ano original – e aqui não consideramos obras derrotadas que foram
pra avenida, como uma de 1984 da Unidos da Ponte que foi para o desfile da
escola meritiense sobre os orixás em 2011, na Intendente Magalhães; muito menos
enredos que ganharam outra obra em relação ao desfile original – casos de
Tuiuti 2010 e Lins Imperial 2023, repetindo os respectivos temas de 1990.
Reeditando Ewe, de 2008, Inocentes realiza seu ensaio técnico na
Sapucaí (Foto: S1 Fotografia e Comunicação) No carnaval de 2025, o caso mais emblemático é o da Inocentes de
Belford Roxo. A agremiação da Baixada Fluminense irá reeditar na Série Ouro seu
samba-enredo de 2008, “Ewe, a cura vem da floresta”, que levou a Caçulinha ao
título do então Grupo de Acesso B. No entanto, a letra original sofreu uma
significativa mexida no refrão central. Veja: o original “Da negra mãe não
só Ossain / Vem de Alaketú, jejê e Angola / Na cura, o desejo mais puro / Fé no
futuro, vai minha escola” foi modificado para “Da negra mãe não
só Ossain / Vem de Angola, Jejê, Nagô / Xangô tentou, Oyá trouxe o vento / Mas
o fundamento o pai guardou”. Até o fechamento do texto não encontrei uma
justificativa oficial para isso, mas há quem sustente que a mudança foi
motivada pela nova abordagem do tema. Mudança de letra na reedição não é uma grande novidade. Aqui,
relembramos outros casos onde sambas receberam adequações em relação a obra
original. União de Jacarepaguá 2002
(reedição em 2025) Começamos por um caso similar ao da Inocentes na Sapucaí. A
agremiação do Campinho irá reeditar neste ano o enredo sobre as asas pra tentar
voltar à Série Ouro – onde o tema passou originalmente. O famoso refrão “Hoje
Jacarepaguá é alegria / A esquadrilha da fumaça já anuncia” não mudou, mas
versos da segunda estrofe foram alterados em relação a obra original de 23 anos
atrás. O que em 2002 era “Asas: privilégio de poucos, presente de Deus /
Quem dera eu tivesse também o poder de voar / Anjos do bem e do mal, aves,
insetos / Voar parece ser tão natural / Curvas e formas diferentes / Seres
alados voam pelo nosso céu / Sensação de paz e liberdade / Cada um em seu
mistério desempenha o seu papel” este ano será cantado desta forma: “Asas,
privilégio, obra prima de Deus / É tão sublime o poder de voar / Anjos do bem e
do mal / Aves, insetos, voar parece ser tão natural / Sensação de paz e
liberdade / Inspiração para humanidade”. Unidos de Jucutuquara 1991
(reedição em 2017) Essa foi no carnaval de Vitória. A coruja reaproveitou o famoso
samba sobre a natureza, optando por modificar os dois refrães da obra original
de 26 anos antes. O principal “Jucutuquara / Eu quero seu calor / Tá na
rima, tá na cara / Você é meu grande amor” foi alterado para “Jucutuquara
seu canto ecoou / Tá na rima, tá na cara / Nosso povo despertou… / Jucutuquara
seu canto ecoou / Tá na rima, tá na cara / Você é meu grande amor!”,
virando um falso refrão. Já a repetição central, que na obra de 1991 era “A
passarada vive pra cantar / É agora, tá na hora, a coruja vai piar” virou “Um
índio viajou numa estrela / E chegou com a missão de anunciar / Que a ordem é
cuidar desse planeta / É agora que a coruja vai piar!”. Unidos do Jacarezinho 1989
(reedição em 2022 – Magnólia Brasil) O pitoresco samba sobre os astros reapareceu no carnaval 33 anos
depois do (mais pitoresco ainda) desfile original. Só que dessa vez foi no
outro lado da Baía de Guanabara – mais precisamente em Niterói. A Magnólia
Brasil havia conquistado o carnaval anterior (em 2020) reeditando um samba da
Unidos de São Carlos e resolveu repetir a aposta, cantando o samba que marcou a
última aparição do Jacarezinho pelo Especial – a rosa e branco é a
escola-madrinha da Magnólia. A mudança foi “leve”, no refrão principal: o “Oi,
gira roda / 138 alô alô” deu lugar ao “Oi, gira roda / Me desvenda por
favor”. Algo a ser citado também é que a simpática agremiação niteroiense
não repetiu o famoso “gemidão do zap” da gravação original de 1989 – ainda
bem... Estácio de Sá 1995 (reedição em
2022) O famosíssimo samba que
celebrou o centenário do Flamengo em 1995 – e até hoje cantado pela torcida nas
arquibancadas do Maracanã - voltou a ecoar na Sapucaí quase 30 anos depois, aproveitando
a esteira dos títulos conquistados pelo clube carioca entre 2019 e 2020. E
foram justamente as taças recentes que provocaram a adequação da obra: no fim
da segunda estrofe, o original “Cem anos de primavera” deu lugar ao “Campeão
da nova era”. Só uma coisa não mudou do
original pra reedição: o azar que o enredo deu ao clube no desempenho
esportivo... Tradição 1986 (reedição em 2010) Um grande clássico da
discografia do Condor voltou à avenida 24 anos depois do desfile original –
curiosamente, na mesmíssima terceira divisão, apesar da apresentação de 1986
ter sido na Avenida Rio Branco. E mesmo que a célebre letra de João Nogueira e
Paulo Cesar Pinheiro não teve versos alterados, a sua estrutura original foi
mexida: por razões até hoje não explicadas, o trecho final “Morena de
Angola, me faz cafuné / Mulato frajola de lá da Guiné / Que deita e que rola /
Na ponta do pé / Veio dentro de gaiola / Transformou-se em quilombola / Veja
agora o que ele é / Rei do carnaval da escola / Rei das artes, rei da bola / E
a rainha mãe quelé” ganhou uma repetição, virando o refrão principal da
obra.
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