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NEM TUDO FOI ORIGINAL: CINCO SAMBAS QUE SOFRERAM ALTERAÇÕES NA REEDIÇÃO
             

27 de janeiro de 2025, nº 97


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NEM TUDO FOI ORIGINAL: CINCO SAMBAS QUE SOFRERAM ALTERAÇÕES NA REEDIÇÃO

O expediente das reedições vai para o vigésimo primeiro ano consecutivo em vigor no carnaval do Rio. Tão amado, tão rejeitado, umas vezes na “crista da onda”, outras em fase de desuso, os remakes carnavalescos sempre estão em debate – como já mostramos aqui em colunas anteriores. Em situações específicas, o samba-enredo nem sempre foi fielmente cantado do mesmo jeito que apareceu no ano original – e aqui não consideramos obras derrotadas que foram pra avenida, como uma de 1984 da Unidos da Ponte que foi para o desfile da escola meritiense sobre os orixás em 2011, na Intendente Magalhães; muito menos enredos que ganharam outra obra em relação ao desfile original – casos de Tuiuti 2010 e Lins Imperial 2023, repetindo os respectivos temas de 1990.

 

Reeditando Ewe, de 2008, Inocentes realiza seu ensaio técnico na Sapucaí (Foto: S1 Fotografia e Comunicação)

 

No carnaval de 2025, o caso mais emblemático é o da Inocentes de Belford Roxo. A agremiação da Baixada Fluminense irá reeditar na Série Ouro seu samba-enredo de 2008, “Ewe, a cura vem da floresta”, que levou a Caçulinha ao título do então Grupo de Acesso B. No entanto, a letra original sofreu uma significativa mexida no refrão central. Veja: o original “Da negra mãe não só Ossain / Vem de Alaketú, jejê e Angola / Na cura, o desejo mais puro / Fé no futuro, vai minha escola” foi modificado para “Da negra mãe não só Ossain / Vem de Angola, Jejê, Nagô / Xangô tentou, Oyá trouxe o vento / Mas o fundamento o pai guardou”. Até o fechamento do texto não encontrei uma justificativa oficial para isso, mas há quem sustente que a mudança foi motivada pela nova abordagem do tema.

Mudança de letra na reedição não é uma grande novidade. Aqui, relembramos outros casos onde sambas receberam adequações em relação a obra original.

 

União de Jacarepaguá 2002 (reedição em 2025)

Começamos por um caso similar ao da Inocentes na Sapucaí. A agremiação do Campinho irá reeditar neste ano o enredo sobre as asas pra tentar voltar à Série Ouro – onde o tema passou originalmente. O famoso refrão “Hoje Jacarepaguá é alegria / A esquadrilha da fumaça já anuncia” não mudou, mas versos da segunda estrofe foram alterados em relação a obra original de 23 anos atrás. O que em 2002 era “Asas: privilégio de poucos, presente de Deus / Quem dera eu tivesse também o poder de voar / Anjos do bem e do mal, aves, insetos / Voar parece ser tão natural / Curvas e formas diferentes / Seres alados voam pelo nosso céu / Sensação de paz e liberdade / Cada um em seu mistério desempenha o seu papel” este ano será cantado desta forma: “Asas, privilégio, obra prima de Deus / É tão sublime o poder de voar / Anjos do bem e do mal / Aves, insetos, voar parece ser tão natural / Sensação de paz e liberdade / Inspiração para humanidade”.

 

Unidos de Jucutuquara 1991 (reedição em 2017)

Essa foi no carnaval de Vitória. A coruja reaproveitou o famoso samba sobre a natureza, optando por modificar os dois refrães da obra original de 26 anos antes. O principal “Jucutuquara / Eu quero seu calor / Tá na rima, tá na cara / Você é meu grande amor” foi alterado para “Jucutuquara seu canto ecoou / Tá na rima, tá na cara / Nosso povo despertou… / Jucutuquara seu canto ecoou / Tá na rima, tá na cara / Você é meu grande amor!”, virando um falso refrão. Já a repetição central, que na obra de 1991 era “A passarada vive pra cantar / É agora, tá na hora, a coruja vai piar” virou “Um índio viajou numa estrela / E chegou com a missão de anunciar / Que a ordem é cuidar desse planeta / É agora que a coruja vai piar!”.

 

Unidos do Jacarezinho 1989 (reedição em 2022 – Magnólia Brasil)

O pitoresco samba sobre os astros reapareceu no carnaval 33 anos depois do (mais pitoresco ainda) desfile original. Só que dessa vez foi no outro lado da Baía de Guanabara – mais precisamente em Niterói. A Magnólia Brasil havia conquistado o carnaval anterior (em 2020) reeditando um samba da Unidos de São Carlos e resolveu repetir a aposta, cantando o samba que marcou a última aparição do Jacarezinho pelo Especial – a rosa e branco é a escola-madrinha da Magnólia. A mudança foi “leve”, no refrão principal: o “Oi, gira roda / 138 alô alô” deu lugar ao “Oi, gira roda / Me desvenda por favor”.

Algo a ser citado também é que a simpática agremiação niteroiense não repetiu o famoso “gemidão do zap” da gravação original de 1989 – ainda bem...

 

Estácio de Sá 1995 (reedição em 2022)

O famosíssimo samba que celebrou o centenário do Flamengo em 1995 – e até hoje cantado pela torcida nas arquibancadas do Maracanã - voltou a ecoar na Sapucaí quase 30 anos depois, aproveitando a esteira dos títulos conquistados pelo clube carioca entre 2019 e 2020. E foram justamente as taças recentes que provocaram a adequação da obra: no fim da segunda estrofe, o original “Cem anos de primavera” deu lugar ao “Campeão da nova era”.

Só uma coisa não mudou do original pra reedição: o azar que o enredo deu ao clube no desempenho esportivo...

 

Tradição 1986 (reedição em 2010)

Um grande clássico da discografia do Condor voltou à avenida 24 anos depois do desfile original – curiosamente, na mesmíssima terceira divisão, apesar da apresentação de 1986 ter sido na Avenida Rio Branco. E mesmo que a célebre letra de João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro não teve versos alterados, a sua estrutura original foi mexida: por razões até hoje não explicadas, o trecho final “Morena de Angola, me faz cafuné / Mulato frajola de lá da Guiné / Que deita e que rola / Na ponta do pé / Veio dentro de gaiola / Transformou-se em quilombola / Veja agora o que ele é / Rei do carnaval da escola / Rei das artes, rei da bola / E a rainha mãe quelé” ganhou uma repetição, virando o refrão principal da obra.


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Carlos Fonseca
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