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4 de dezembro de 2024, nº 94 Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca - Coluna anterior: O Dia em que a Cubango (quase) reeditou o Ita - Coluna anterior: Tem Artista no Samba - Terceiro Ato - Coluna anterior: Cadinho, uma Voz que Minha Infância Carnavalesca nunca Esqueceu A FAIXA 8 MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA
O CD dos sambas-enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro
sempre foi um tradicional presente do fim de ano seja para quem é apaixonado
pela festa ou queria apenas conhecer as obras que ecoariam no sambódromo
carioca meses depois. Desde o último ano, no entanto, o presente tem vindo de
forma digital, já que as produções de mídia física se encerraram após o
carnaval de 2023. Ainda que os meios de se consumir música tenham mudado através dos
tempos, a história segue sendo escrita diante de nossos olhos e ouvidos. Na
última sexta-feira, foi lançado o álbum oficial contendo as doze obras que
embalarão o próximo desfile na Marquês de Sapucaí daqui a praticamente três
meses. E dentre os sambas que estão presentes no “disco digital”, aquele que
mais chama a atenção, por principalmente conter um documento histórico, está entre
as vizinhas Mangueira e Tuiuti: a faixa 8.
The
Last Dance: Neguinho da Beija-Flor gravou sua última faixa antes
da despedida dos desfiles em 2025 (Foto: Divulgação/Rio
Carnaval) A faixa 8 que nem sempre foi da oitava colocada do carnaval
anterior. Somente em 1998 a ordem de execução do disco (sim, eu ainda sou do
tempo do disco!) passou a ser de acordo com o resultado da apuração do desfile
que passou – e ainda assim foi ocupada pela Vila Isabel, nona colocada de 1997.
E a primeira escola efetivamente oitava colocada a estar ali foi o Salgueiro,
em 1999. A faixa 8 que já abrigou clássicos do próprio Salgueiro, como “Templo
Negro em Tempo de Consciência Negra” e “Peguei um Ita no Norte” (o popularíssimo
“Explode Coração”), e o portelense “Lendas e Mistérios da Amazônia” quando
reeditado em 2004, por sambas certos nos anos errados (um caso famoso é o “A
União Faz a Força com Muita Energia”, da União da Ilha) e até tosquices como o
“Arriba Viradouro” e “Os Encantos da Costa do Sol” da Tradição. Mas a faixa 8 de 2025, assim que entrou no ar nas plataformas
musicais à 0h de 29 de novembro, automaticamente virou uma página da história:
é a última faixa gravada por Neguinho da Beija-Flor num álbum de samba-enredo.
É o primeiro ponto marcante do fim de ciclo mais importante do carnaval atual. No
último dia 20 de novembro, o veterano intérprete anunciou sua aposentadoria dos
desfiles após 2025, depois de cinco décadas dedicadas à escola de Nilópolis e,
sobretudo, ao samba brasileiro – a carreira irá continuar, mas longe das
avenidas. E nada mais simbólico que a despedida ser com um samba em homenagem à
seu amigo Laíla, figura tão importante quanto ele na história da Deusa. Admito
que após a primeira audição ao samba nilopolitano a ficha deu uma caída. Como
se o tempo congelasse por segundos. Depois de curtir um Neguinho irretocável,
numa interpretação solta que só ele sabe fazer, coisa e tal... eu, você, seu
vizinho e talvez a Baixada Fluminense inteira deve ter pensado: “caramba, é o
último” Só por todo contexto que isso envolve, eu até defendi que se
abrisse uma exceção para o álbum de 2025 ter uma tiragem física lançada. Não
importa se haveria prejuízo financeiro, se eventualmente encalharia as vendas.
Só por isso valeria ser item de colecionador. Que se dane todo resto. É a
história que está ali. A gente nunca está preparado pro fim. Nós temos o vício de querer
que as coisas sejam eternas. Faz parte. Quando Jamelão gravou o samba do Velho
Chico, em 2006, nunca imaginávamos que seria o seu último carnaval, que seria
seu último registro fonográfico. Em meio às diversas homenagens publicadas
desde o anúncio de duas semanas atrás, muitos pediram –
e torcem até agora – para que Neguinho reconsidere a decisão e fique pra
sempre na avenida, ou até onde não pudesse mais. Aqui pra nós: bem que a gente
queria. Mas até 3 de março de 2025, quando chegar a hora, vamos aproveitar
muito. E aplaudir cada minuto que Luiz Antônio Feliciano Marcondes passar pela
avenida, com a sua voz imponente e o sorriso que lhe é característico. Sim, nós
somos testemunhas do “The Last Dance” de um dos maiores intérpretes do samba
brasileiro. E sim, “Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas” é a
faixa 8 mais importante da história.
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