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1º de outubro de 2024, nº 91 Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca CADINHO, UMA VOZ QUE MINHA INFÂNCIA CARNAVALESCA NUNCA ESQUECEU
Vivemos sempre de memórias afetivas. E quando se trata do
carnaval, não é diferente. Muito antes de me tornar um colecionador da discografia do
carnaval, sempre fui apaixonado pelo samba-enredo. Daqueles de ouvir todos os
discos, de todos os grupos, todos os dias. Passamos nossas infâncias embaladas
pelas vozes de Neguinho da Beija-Flor, Jamelão, Carlinhos de Pilares. Todos
eles inegavelmente referências. Mas foi uma voz “anônima” que ajudou a modular ainda mais minha
paixão pelo samba-enredo: Cadinho da Ilha. Era o começo de 2006, perto do carnaval, quando meu pai conseguiu
emprestado um CD pirata do Grupo de Acesso B. Coloco pra ouvir no som de casa.
E começa a tocar a primeira faixa. Lá estava Cadinho entoando “O Amanhã”, um
dos maiores clássicos do carnaval brasileiro, que o Boi da Ilha pegava
emprestado da vizinha União naquela oportunidade – já abordei aqui numa
coluna anterior. Óbvio que aquele garoto não tinha noção que estava
conhecendo um dos maiores sambas de todos os tempos, regravado até por Simone,
mas ficou encantado a cada audição no “A cigana leu o meu destino, eu
sonhei...” Pois é. Conheci um dos grandes clássicos do carnaval por causa do
Cadinho. Conheci o Boi da Ilha por causa do Cadinho. Toda vez que eu ouvia um
disco do Acesso B, o Boi era a faixa mais esperada, só pra ouvir ele entoar
aquele tradicional “alô meu presidente Eloy!”. Sabe aquele divertido samba sobre a telefonia, de 2007? Pois é,
vez ou outra me pego cantarolando “Alô alô tem Boi na linha / Se liga no que
vou falar...” Cadinho foi um cantor muito identificado com o Boi da Ilha –
ironicamente, não deu voz ao samba mais famoso da escola, Orun Ayé (2001),
vencedor do Estandarte de Ouro eternizado por Ronaldo Yllê. Além de cantar,
também canetou algumas obras importantes da história boiadeira, como “Boi da
Ilha é Holambra, a Tulipa Brasileira” (2002) e “Abram-se as cortinas! Bravo!
100 anos do Theatro Municipal em cena aberta na Sapucaí” (2009) – este, pra
mim, um dos maiores sambas da querida agremiação. Também é autor do samba de
2012 da União da Ilha, o famoso “molho inglês na feijoada”, além de outras
obras em agremiações como Império da Tijuca, Unidos da Ponte e Sossego. Cadinho
faleceu no último domingo (29), com apenas 60 anos de idade, por complicações
de uma internação de 10 dias – ele já vinha sofrendo com problemas de saúde nos
últimos tempos. Em meio a tristeza pela sua partida desse plano, só resta agradecer
por ser um dos intérpretes que moldou minha paixão pelo samba-enredo, sendo
aquela voz que a minha infância nunca esqueceu. Com orgulho, ele nasceu boiadeiro. E não dá pra falar do samba na Ilha do Governador sem falar do
Cadinho. Afinal, “até aqui Deus nos ajudou e vai continuar nos ajudando”.
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