PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

CADINHO, UMA VOZ QUE MINHA INFÂNCIA CARNAVALESCA NUNCA ESQUECEU
       
1º de outubro de 2024, nº 91


Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca


CADINHO, UMA VOZ QUE MINHA INFÂNCIA CARNAVALESCA NUNCA ESQUECEU

Cadinho durante o desfile de 2002 do Boi da Ilha - Foto: Reprodução/YouTube
'

Vivemos sempre de memórias afetivas. E quando se trata do carnaval, não é diferente.

Muito antes de me tornar um colecionador da discografia do carnaval, sempre fui apaixonado pelo samba-enredo. Daqueles de ouvir todos os discos, de todos os grupos, todos os dias. Passamos nossas infâncias embaladas pelas vozes de Neguinho da Beija-Flor, Jamelão, Carlinhos de Pilares. Todos eles inegavelmente referências.

Mas foi uma voz “anônima” que ajudou a modular ainda mais minha paixão pelo samba-enredo: Cadinho da Ilha.

Era o começo de 2006, perto do carnaval, quando meu pai conseguiu emprestado um CD pirata do Grupo de Acesso B. Coloco pra ouvir no som de casa. E começa a tocar a primeira faixa. Lá estava Cadinho entoando “O Amanhã”, um dos maiores clássicos do carnaval brasileiro, que o Boi da Ilha pegava emprestado da vizinha União naquela oportunidade – já abordei aqui numa coluna anterior. Óbvio que aquele garoto não tinha noção que estava conhecendo um dos maiores sambas de todos os tempos, regravado até por Simone, mas ficou encantado a cada audição no “A cigana leu o meu destino, eu sonhei...”

Pois é. Conheci um dos grandes clássicos do carnaval por causa do Cadinho. Conheci o Boi da Ilha por causa do Cadinho. Toda vez que eu ouvia um disco do Acesso B, o Boi era a faixa mais esperada, só pra ouvir ele entoar aquele tradicional “alô meu presidente Eloy!”.

Sabe aquele divertido samba sobre a telefonia, de 2007? Pois é, vez ou outra me pego cantarolando “Alô alô tem Boi na linha / Se liga no que vou falar...”

Cadinho foi um cantor muito identificado com o Boi da Ilha – ironicamente, não deu voz ao samba mais famoso da escola, Orun Ayé (2001), vencedor do Estandarte de Ouro eternizado por Ronaldo Yllê. Além de cantar, também canetou algumas obras importantes da história boiadeira, como “Boi da Ilha é Holambra, a Tulipa Brasileira” (2002) e “Abram-se as cortinas! Bravo! 100 anos do Theatro Municipal em cena aberta na Sapucaí” (2009) – este, pra mim, um dos maiores sambas da querida agremiação. Também é autor do samba de 2012 da União da Ilha, o famoso “molho inglês na feijoada”, além de outras obras em agremiações como Império da Tijuca, Unidos da Ponte e Sossego. Cadinho faleceu no último domingo (29), com apenas 60 anos de idade, por complicações de uma internação de 10 dias – ele já vinha sofrendo com problemas de saúde nos últimos tempos.

Em meio a tristeza pela sua partida desse plano, só resta agradecer por ser um dos intérpretes que moldou minha paixão pelo samba-enredo, sendo aquela voz que a minha infância nunca esqueceu.

Com orgulho, ele nasceu boiadeiro.

E não dá pra falar do samba na Ilha do Governador sem falar do Cadinho.

Afinal, “até aqui Deus nos ajudou e vai continuar nos ajudando”.

 


Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca

Inscreva-se no canal SAMBARIO no YouTube

Carlos Fonseca
BlueSky: @falafonseca