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Exatamente
uma semana depois que o site Sambario completar 20 anos de existência, outra
data marcante será comemorada. No dia 5 de junho é celebrado o Dia do Meio
Ambiente. Cada vez
mais ameaçado com o avanço do desmatamento e da poluição, o nosso ecossistema
vive em alerta. E o carnaval, mesmo sendo uma manifestação popular de caráter
festivo e lúdico, também traz em seu bojo propostas de reflexões e
questionamentos a respeito do nosso ecossistema. O meio
ambiente tem sido retratado em desfiles de escolas de samba há pelo menos seis
décadas. E, a cada ano, no mínimo, uma escola apresenta um enredo sobre a
questão ecológica. Infelizmente, as autoridades competentes não estão dando
ouvidos aos clamores e alertas que os sambistas, artistas do povo falam quando
se trata de cuidado com o nosso planeta. O Top 10
Sambario aproveita a aproximação do Dia do Meio Ambiente e também a catástrofe
ambiental que infelizmente castiga o Rio Grande do Sul desde o final do mês de
abril para enumerar momentos em que a natureza deu samba. Se
atualmente sofremos com os efeitos de aquecimento global, poluição, emissão de
gases, desmatamento, ameaça de extinção de espécies ou o manejo equivocado do
solo, não foi por falta de aviso da comunidade científica, de estudiosos e por
que não dizer, até do mundo carnavalesco. OBS:
Propositalmente resolvemos não mencionar nenhum dos inúmeros enredos que
envolvem a Amazônia. Este é um assunto que merece ser tratado à parte. 10º lugar: ACADÊMICOS DE GRAVATAÍ 2004 – Tributo a José
Lutzenberger
Eu começo
este Top 10 puxando brasa para o meu churrasco. A lista se inicia com a campeã
do carnaval de Porto Alegre em 2024, a Acadêmicos de Gravataí. No entanto, há
exatos 20 anos, a escola não vivia um bom momento financeiro e tinha problemas
de organização. A onça negra disputava o Grupo Intermediário A (o equivalente à
segunda divisão do carnaval porto-alegrense). A
agremiação resolveu homenagear o engenheiro agrônomo, escritor, filósofo e ícone
ambientalista brasileiro José Lutzenberger (1926 - 2002). Nascido na capital
gaúcha, teve uma infância confortável e adorava o contato com a natureza, que
foi documentada em desenhos e crônicas de seu pai, o artista plástico alemão
naturalizado brasileiro Joseph Lutzenberger (1882 - 1951). O jovem
Lutz formou-se em agronomia na década de 1950 e logo em seguida foi trabalhar
na Basf, maior empresa produtora de produtos químicos do mundo, como executivo
na área de agrotóxicos, função que o possibilitou viajar pelo mundo. Nesta época
ele ainda não se sentia compromissado com a causa ecológica. Sua posição
começou a mudar quando foi viver no Marrocos, a serviço da Basf, e passou a se
interessar por várias áreas do saber, como matemática, filosofia, biologia e
história, e a discordar da política da empresa, referente à produção de agrotóxicos. De volta
ao Brasil, José Lutzenberger passou a se engajar no ambientalismo e em 1971
fundou, com um grupo de amigos, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente
Natural (Agapan), entidade na qual foi se destacou pela liderança pois fundamentava
seus argumentos sobre bases científicas Criou em
1987 a ong Fundação Gaia para atuar na área de educação ambiental e na promoção
de tecnologias socialmente compatíveis. Em 1990, José Lutzenberger aceitou o convite
para integrar o ministério do presidente Fernando Collor de Mello, como
Secretário Especial do Meio Ambiente, com status de ministro, cargo que ocupou
por dois anos. Entre as dezenas de distinções e homenagens que
recebeu em vida, destaque para o Prêmio Right Livelihood, conhecido como Prêmio
Nobel Alternativo, em Estocolmo, Suécia em 1988. A
homenagem da Acadêmicos de Gravataí a Lutz se deu no carnaval de 2004, dois
anos após a morte do ícone ecologista. Com o enredo “Da Cidadania Solidária à
Ecologia Consciente, Um Tributo a Lutzenberger”, a escola chegou em 7º lugar e
caiu para o Grupo Intermediário B, o equivalente à terceira divisão do carnaval
de Porto Alegre. E um cidadão surgiu Um ecologista consciente É
Lutzenberger Defensor
do meio ambiente (Tabajara
Ortiz, Zeca Swinguinho e Batista)
Em 2008,
no Anhembi, a X-9 Paulistana levou o tema “O Povo da Terra Está Abusando – O Aquecimento
Global Vem Aí... A Vida Boa e Sustentável Pede Passagem”, assinado pelo
carnavalesco Raul Diniz. A escola
da Parada Inglesa fez uma crítica à destruição das florestas e à poluição do ar
e das águas. Já no carro abre-alas, a agremiação apresentou um enorme urso
polar, simbolizando o degelo das calotas polares. A comissão de frente representou
a deusa Gaia, a deusa Terra, em que havia a interpretação de uma batalha entre
homens. A fantasia da ala das baianas representava icebergs e os ritmistas da
bateria da X-9 desfilaram fantasiados de pinguim. Um dos
carros, em formato de um rato gigante, fez uma alusão ao caos do lixo urbano e
a necessidade de reciclagem. O puxador Daniel Collete saiu fantasiado de
urso polar. Apesar do
belo efeito provocado pelas fantasias e da fácil leitura do enredo, a X-9 teve
problemas no desfile. A escola entrou no sambódromo quando o cronômetro
já marcava nove minutos. Apesar da
demora na entrada, a escola fechou o desfile em 63 minutos, portanto no tempo
regulamentar, que era de no máximo 65 minutos. O segundo carro da escola
teve problemas para entrar na avenida. Os integrantes acharam que a alegoria
não conseguiria passar e a ala que seguia atrás teve que passar para não ficar
um buraco na evolução da escola. A X-9
Paulistana terminou o carnaval na 6ª colocação do grupo especial naquele ano. Oh, Mãe Terra, perdoai Os seus filhos sem amor É preciso preservar O mundo que Deus criou (Didi, Turko e Paulinho Miranda) 8º lugar: LINS IMPERIAL 1992 – Eco 92
O enredo
da Lins Imperial de 1992 foi uma sequência do carnaval do ano anterior, quando,
no Grupo Especial, a escola homenageou o líder seringueiro e ambientalista Chico
Mendes (1944 - 1988). Desta vez, rebaixada à segunda divisão (na época chamada
de Grupo A), a verde e rosa do Morro da Cachoeirinha prosseguiu com a proposta
ecológica e abordou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, também conhecida como ECO-92, realizada na cidade do Rio de
Janeiro entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, pouco mais de três meses após o
carnaval. Chamada
também de Cúpula da Terra, a convenção reuniu chefes de Estado e representantes
de 179 países, organismos internacionais, milhares de organizações não
governamentais e contou também com a participação direta da população. A ECO-92
representou um marco nas discussões sobre a preservação ambiental e o
desenvolvimento sustentável. Durante o
desfile, a Lins voltou a falar sobre Chico Mendes pois pouco antes do carnaval
de 1992 o julgamento dos assassinos do ambientalista, Darly e Darcy Alves,
ocorrido em dezembro de 1990, chegou a ser anulado pela Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Acre. Porém, um
ano depois o Superior Tribunal de Justiça reformou a decisão do tribunal do
Acre e manteve a condenação de 19 anos de prisão aos réus. A ala “Fiscais da
Natureza” foi formada por ativistas da causa ambiental, políticos, intelectuais
e admiradores do líder seringueiro. Durante o desfile, a ala exibiu faixas que
protestavam contra a então suspensão parcial do julgamento dos acusados de matar
Chico Mendes. Apesar de
tentar angariar a simpatia do público presente na Passarela do Samba, Lins
Imperial, que vinha de quatro belos carnavais em sequência, apresentou um
desfile fraco, que abriu uma sequência muito ruim da escola, com cinco desfiles
pífios a seguir. E depois que caiu do Especial, a Lins não conseguiu mais se
firmar como favorita a retornar para a elite, chegando a ficar nove anos fora
da Sapucaí só retornando ao sambódromo carioca em 2022. Com “Rio
– ECO 92”, enredo do carnavalesco Orlando Júnior, a Lins Imperial obteve a 11ª
colocação no então Grupo A. Ecoou... vozes unidas buscam solução Maravilha na cidade Num romance de emoção (João Banana e Kiquinho)
A
Mangueira resolveu inovar seu estilo de apresentação de enredo para tentar o
tricampeonato no carnaval de 1970. A escolha recaiu à natureza brasileira,
fonte inspiradora de poetas e compositores. A verde e rosa procurou reverenciar
o que, “por dádiva divina”, a natureza proporcionou aos brasileiros desde o Descobrimento.
O desfile
teve como objetivo percorrer o Brasil de Norte a Sul e de Leste a Oeste e
demonstrar a natureza do país vibrando em seu esplendor, com suas montanhas e
planícies verdejantes, matas e campinas cobertas de flores, a fauna, as praias,
os “recantos pitorescos” e as riquezas minerais. Porém, uma tragédia
entristeceu aquele desfile da Mangueira. A escola
estava em pleno desfile na Avenida Presidente Vargas, por volta das 3h, quando
a querida passista Nair Pequena, uma das fundadoras da verde e rosa, sofreu um
mal súbito e foi levada para o Hospital Municipal Souza Aguiar. Os componentes
da agremiação ainda estavam por completar o trajeto quando chegou a notícia da
morte da veterana, aos 72 anos. Atordoados,
eles tentaram continuar o espetáculo, mas não teve jeito. A bateria parou, e o
então presidente da Mangueira, Juvenal, anunciou o óbito ao microfone, com voz
emocionada. A partir de então, o desfile virou marcha fúnebre, com os
integrantes caminhando de cabeças baixas ao som de um surdo triste, em toque de
funeral. Pouca gente permaneceu nas arquibancadas para assistir a exibição do
Salgueiro, que começaria às 4h45. A
passista seria lembrada diversas vezes depois de sua morte. Ainda em 1970, os
compositores Ubirajara Cabral e Carlos Pereira de Sousa escreveram “Quero
morrer sambando”, em homenagem a Nair. Quase 40 anos mais tarde, a cultuada
cantora Alcione lançou “Nair Grande”, faixa do disco Acesa, de 2009. Apesar do
triste e lamentável episódio, a Mangueira chegou em 3º lugar no Grupo Especial. Oh! Pátria querida De natureza tão sutil Tens belezas mil Isto é Brasil! Isto é Brasil! Isto é Brasil! (Ney, Ailton e Dilmo)
Se há
algo que sempre causa polêmica no carnaval é falar sobre o meio ambiente e a
luta em prol da ecologia. E polêmica foi o que não faltou quando a Imperatriz
Leopoldinense anunciou que faria o enredo “Xingu: O Clamor que Vem da Floresta”
no carnaval de 2017. A escola
não só levou a cultura do Xingu para a avenida como também elevou à condição de
destaque muitas das lideranças indígenas, como o Cacique Raoni. Além de exaltar
o povo indígena, a escola de Ramos também colocou na avenida grandes dilemas
enfrentados por todos como a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte na
bacia do rio Xingu (o “belo monstro” mencionado na letra do samba), o
desmatamento e o uso de agrotóxicos. O
tema
despertou a ira de ruralistas desde o início de janeiro, quando
foi anunciado. Em
meio a críticas, reclamações, campanhas de
difamação e até ameaças de políticos
ligados ao agronegócio de abrir CPI para apurar irregularidades
na escola, não
faltou apoio à agremiação, vinda de
organizações indigenistas, ambientalistas,
de combate aos agrotóxicos e transgênicos e em defesa da
agroecologia e da
reforma agrária. Ruralistas
se sentiram agredidos pela temática da escola, sobretudo com a ala “Os
fazendeiros e seus agrotóxicos”. O carnavalesco Cahê Rodrigues, ao responder às
críticas, disse que “o samba quis simplesmente defender e dar voz ao indígena e
denunciar tudo o que agride a floresta, o meio ambiente e, diretamente os povos
originários”. Apesar
das críticas, a escola decidiu manter todos os detalhes de seu enredo. A
Imperatriz se classificou em 7º lugar, ficando de fora do desfile das campeãs
após quatro anos retornando entre as seis primeiras. Jardim sagrado o caraíba descobriu Sangra o coração do meu Brasil O Belo Monstro rouba as terras dos seus
filhos Devora as matas e seca os rios Tanta riqueza que a cobiça destruiu (Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do
Finge e Aldair Senna)
Com a
saída definitiva de Fernando Pamplona (1926 - 2013) do Salgueiro após o
tumultuado desfile de 1978, a escola começou um período de muitas trocas de
carnavalesco. E recorreu a uma temática até então inédita em sua história: a
defesa ecológica. O desfile de 1979 — “O Reino Encantado da Mãe Natureza Contra
o Reino do Mal” – foi desenvolvido pelo jornalista Ivan Jorge e confeccionado pelos
carnavalescos Renato Lage e Stoessel Cândido Silva, este último uma figura
revolucionária na arte brasileira, atuando em várias áreas como cinema, teatro
e carnaval e televisão, sendo fundador do Departamento de Adereços da TV Globo,
no início da década de 1970. O enredo,
de cunho ecológico, contava sobre uma fictícia batalha entre a natureza e o “reino
do mal”, simbolizado por males como a poluição, a seca e a peste. A escola
dividiu o desfile em três setores. O
primeiro setor, “O Reino Encantado da Mãe Natureza”, apresentou um carro
alegórico giratório, com diversos pavões coloridos. No segundo setor veio “A
Invasão do Mal”, com alas representando as queimadas, a poluição e as pragas.
Logo em seguida, o setor “A Guerra”, mostrou o embate entre a Mãe Natureza e o
Reino do Mal. O final do desfile simbolizava o futuro, com baianas com roupa
branca carregando ramos de flores nas mãos, significando o reflorescimento. Apesar da
correção no tratamento do enredo, a escola fez um desfile considerado frio, sem
conseguir empolgar o público. O Salgueiro terminou na 6ª colocação do grupo especial.
Detalhe para a divina interpretação do eterno Rico Medeiros. Mas surgiu o rei do mal Com a chegada do progresso Abalando a estrutura mundial Poluindo nossa terra Aniquilando o que Deus abençoou E quem sofre é a Nação Nesta batalha Onde não há vencedor (Bala, Cuíca e Luís Marinheiro) 4º lugar: PORTELA 2008 – Viver em comunhão
com a natureza
O
pré-carnaval da Portela para 2008 gerou ansiedade, desconfiança e uma certa
dose de impaciência. Tudo porque a turma de Oswaldo Cruz e Madureira foi a
última que escolheu seu tema. Quando anunciou o enredo da escola, o carnavalesco
Cahe Rodrigues afirmou: “a Portela quer preservar o meio ambiente”, e que o
tema era “extremamente atual, permitindo navegar por diversos setores da
sociedade”. O enredo “Reconstruindo
a Natureza, Recriando a Vida: o Sonho Vira Realidade” era, basicamente, um
grito de alerta sobre a necessidade de se preservar a natureza, levando o
público a refletir sobre a questão ambiental e exigir do poder público um
futuro fértil e sustentável. A escola levou
para a avenida em seus setores os ecossistemas fundamentais. Primeiro o mar,
com a alegoria Esplendor dos Oceanos, com uma enorme baleia jubarte ao centro,
peixes, tubarões “nadando” no ar. Um setor, lógico, todo em azul. Depois
desse início azul a escola se pintou de verde para falar sobre as belezas
naturais do Brasil, o Pantanal, a Amazônia, a Mata Atlântica. O carro do setor
trazia cobras, tribos indígenas e uma onça enorme, comandada por especialistas
em movimento de grandes esculturas trazidos de Parintins, que fazia movimentos
realistas e rugia forte ao passar pelas arquibancadas, levando o público ao
delírio. O setor
do ar trazia outro carro interessante, grandes cones “vestidos” com o mesmo
tecido da roupa dos destaques e com longas asas pintadas, dando a sensação de
assistirmos a uma revoada de pássaros. Nenhuma
alegoria no desfile causou mais impacto do que a quinta, batizada como “Viva a
Vida”. Trazia uma terra arrasada, apenas tocos de árvores, sem cor e um bebê
raquítico, morto de fome. Uma imagem fortíssima! A Portela
encerrou seu desfile sendo bastante aplaudida pelo público, deixando os
componentes felizes. Na apuração, a escola foi penalizada onde devia e também
onde não devia, como alegorias, acabando em 4º lugar. Foi a primeira vez na
década que a Portela chegou entre as seis primeiras, e a primeira presença no
sábado das campeãs desde 1998. Eu sou a água Sou a terra, sou o ar Sou Portela Um sonho real Um grito de alerta A natureza que encanta a passarela (Diogo Nogueira, Junior Escafura,
Ciraninho, Ary do Cavaco e Celsinho de Andrade) 3º lugar: IMPÉRIO SERRANO 2005 – Pra natureza sorrir, o homem tem
que mudar e aprender a preservar
O Império
Serrano abordou no ano de 2005 o enredo “O Grito que Ecoa no Ar –
Homem/Natureza, o Perfeito Equilíbrio”. A verde e branco de Madureira manifestou
um apelo ao homem e sua evolução tecnológica gananciosa em prol da preservação
da vida no planeta. O
samba-enredo é perfeito. Procurando uma sensibilização do ouvinte, a letra se
desenvolve em primeira pessoa, como se a própria natureza estivesse suplicando
e expõe alguns impactos provenientes dessa expansão tecnológica, como a
degradação da qualidade das águas resultante da poluição, os descartes
irregulares de resíduos, degradação e o esgotamento de recursos. O samba
reconhece e oferece alternativas para a diminuição dessas perturbações
ecológicas, como a reciclagem, reforma ecológica, e a produção sem agressão e
desmatamento. Veremos algo parecido com o samba escolhido em 2º lugar no
ranking deste Top 10. No ano em
que a verde e branca trouxe um enredo sobre natureza e preservação ambiental, a
coroa, símbolo maior da escola, fechou o desfile. O carnavalesco Ilvamar
Magalhães inseriu na coroa imperiana algumas esculturas de araras azuis, dando
um pouco mais de colorido ao tradicional dourado do símbolo. Apesar de
inicialmente ser um enredo de fácil leitura, o Império enfrentou alguns
problemas de evolução, acabamento dos carros alegóricos e fantasias. Das 16
escolas que desfilaram no grupo especial, o Reizinho de Madureira chegou em 14º
lugar, se livrando por pouco do rebaixamento. Choro com esta tal evolução Ressentida estou ao ver minha devastação O homem com sua sapiência Transformou tudo em ciência Reciclando a minha natureza Mexeu com lixo Domou os ventos Usou o átomo sem consciência Causou tristeza, degradação Coloca em risco toda a civilização (Marcão, Marcelo Ramos e João Bosco) 2º lugar: ARRASTÃO DE CASCADURA 1985 –
Depois do mal feito, chorar não é proveito
Um tema
assustadoramente profético e extremamente (infelizmente) atual. No carnaval de
1985 a querida Arrastão de Cascadura escolheu se vestir de natureza e alertar as
alterações ambientais provenientes da ação humana e do processo acelerado de
urbanização. O título do enredo, assinado pelo carnavalesco Joãozinho de Deus,
é sintomático e autoexplicativo: “Depois do Mal Feito, Chorar Não é Proveito”. O
samba-enredo da verde e branco cascadurense é lírico, poético e contundente. A
letra é desenvolvida em primeira pessoa, como se a própria natureza estivesse
criticando a transformação acelerada do meio ambiente e respectivamente as
consequências causadas por esse impacto ambiental. Pode-se observar também o
incentivo à produção de novos hábitos que prejudiquem menos o planeta, como a
produção de energias renováveis, que aparece no trecho “Essas mãos que se
uniram/ Construindo nova fonte de energia/ Que se unam bem mais fortes/ Em
defesa da ecologia (...)”. O samba termina
com um refrão apoteótico simbolizando o lamento e estranhamento das crianças
que não entendem como “se maltrata a natureza tanto assim”. Última
escola a desfilar pelo Grupo 1B (atual Série Ouro) no Sambódromo da Marques de
Sapucaí em 1985, o Arrastão de Cascadura entrou na Passarela do Samba próximo
às 10 horas da manhã, sob um sol escaldante e um calor de mais de 30 graus.
Muitos componentes passaram mal devido à alta temperatura e saíram da Avenida
antes de completar o desfile, o que acarretou problemas de evolução. A escola
ficou na 8ª posição entre dez escolas concorrentes e acabou rebaixada para o
Grupo 2A (equivalente à terceira divisão). Desfilante do Grupo Especial em
1978, o Arrastão ficou no 1B de 1979 a 1985, só retornando à segunda divisão do
carnaval carioca em 1989. Sou eu, as Sete Quedas que você matou Pedaço de floresta que você, sei lá Sou eu, a borboleta que beijava a flor Eu sou o passarinho que cantava o amor Sou eu, sou eu, sou eu O arco-íris que enfeitava a serra Sou eu, sou eu, sou eu A luta pelo pouco que ainda resta Ai, eu sou... ai, eu sou Retalho das belezas Que o progresso lentamente exterminou. (Jacy Inspiração, Netinho e Amaury)
A água
está presente no nosso organismo. A água é a fonte da vida. E as águas rolaram
em 1991 para a Mocidade Independente de Padre Miguel. O enredo
“Chuê, Chuá, as Águas Vão Rolar”, dos carnavalescos Renato Lage e Lílian
Rabelo, abordava o elemento água e passeava por rios e mares, além de fazer
alusão ao dilúvio, à liquidez do abacaxi econômico e a tudo que pudesse ser
relacionado à água. Houve
espaço (e muito) para críticas, ainda que sutis, à
questão ambiental, com alas
e setores que abordaram o “perigo da poluição das
águas”, a “pesca predatória”,
a água como “fonte de energia”, o derretimento de
geleiras nos polos e uma
alegoria que representava “as águas de
março”. Apesar de
ter o mesmo nome da famosa música de Tom Jobim, o carro simbolizava o
sofrimento que o carioca tem no terceiro mês do ano, quando inicia uma
temporada de fortes chuvas na cidade que provocam enchentes, inundações e
deslizamentos de terra. A água, que deveria ser uma benção enviada pela
natureza para compensar um período de seca, acaba se tornando um estorvo urbano
por culpa do homem, que nunca está preparado para recebe-la. A escola
fez um desfile arrebatador. Quando a bateria deixou o recuo, o público aplaudia
e gritava: bicampeã, bicampeã! O que foi confirmado na apuração. Da vida sou a fonte de alegria Sou chuva, cachoeira, rio e mar Sou gota de orvalho, sou encanto E qualquer sede posso saciar Quem dera! Um mar de rosas esta vida Lavando as mentes poluídas Taí o nosso carnaval! (Toco, Jorginho Medeiros e Tiãozinho) Bônus-track: ACADÊMICOS DE SANTA CRUZ – 1981,
2000,2009, 2016 e 2023 Na
pesquisa que fiz para esta coluna, percebi que a escola de samba Acadêmicos de
Santa Cruz é uma das agremiações carnavalescas que mais dedicam enredos que
abordam a importância da preservação e da conscientização ecológica. Neste
tópico vou citar cinco carnavais em que a ecologia deu samba para a simpática
agremiação verde e branco da zona oeste do Rio de Janeiro. “Amazonas, Verde que te Quero Verde”
(1981) No ano de
1981 a Acadêmicos de Santa Cruz apresentou o enredo “Amazonas, Verde que te
Quero Verde”, concebido e realizado pelo carnavalesco José Lima Galvão. A letra
do samba realça a beleza e a relevância da floresta Amazônica, retratando a
fauna e a flora do ambiente como algo exuberante e de valor inestimável. o
samba dá força ao movimento ecológico e conclama a participação da população. A Santa
Cruz foi a 6ª colocada do Grupo 1B (segunda divisão) naquele carnaval. Delira o povo Neste feito colossal Defendendo a ecologia Nós brincamos Carnaval (Zé Carlão, Agostinho Laurentino e Helson
de Souza) “Brasil, do Extrativismo à Reciclagem,
500 Anos de Riqueza” (2000)
No
quingentésimo ano do Descobrimento (que na sinopse a escola classificou como “invasão
portuguesa”), a Acadêmicos de Santa Cruz apresentou o enredo “Brasil, do Extrativismo
à Reciclagem, 500 Anos de Riqueza”, de autoria de Fernando Alvarez, mostrando a
relação de três etnias distintas (indígena, europeu e negro) com o meio
ambiente. O samba
demonstra que a exploração de recursos naturais desde o apoderamento do Brasil
leva hoje a uma busca pelo progresso ecológico e a diminuição da destruição
ambiental, na esperança da tecnologia contemporânea gerar instrumentos para a
recuperação do meio ambiente. Em suma,
a escola teve como objetivo contribuir e conscientizar o povo para uma
existência mais saudável e promissora, apresentando através do enredo a
importância da natureza, os recursos tecnológicos existentes e os meios para
melhor utilizá-los no século que então se iniciava. No
carnaval do ano 2000 a Santa Cruz obteve a 6ª colocação do Grupo A (equivalente
à segunda divisão). Brasil, Brasil, oh meu Brasil 500 anos de riquezas Um grito de alerta ecoou Em defesa da Mãe Natureza (Dito Foguete e Carlinhos Moleque) “S.O.S. Planeta Terra – Santuário da
Vida” (2009)
Em 2009,
a Acadêmicos de Santa Cruz seguiu engajada na questão ambiental. A verde e
branco promoveu, através do enredo “S.O.S Planeta Terra – Santuário da Vida”, uma
viagem por um mundo a preservar, com o objetivo de despertar uma nova
consciência e uma responsabilidade real pelo futuro da Terra e da Humanidade. A
escola chegou em 6º lugar no Grupo A (segunda divisão). A autora
do enredo, Rosele Nicolau (1970 - 2009), morreu poucos dias após o desfile da Santa
Cruz, vítima de infarto fulminante aos 48 anos de idade. Ela era casada com o
presidente da agremiação, Antônio Moisés Coutinho, o Zezo. Além de integrante
da comissão de carnaval, Rosele era autora dos enredos apresentados pela escola
de 2003 a 2009. O meu planeta está ferido E eu não vou cruzar os braços Um novo tempo eu mesmo faço O meu pedido de perdão não vou calar (Marcelo Borboleta, Charuto, Xerú, Bolão
e Macumbinha) “Diz Mata! Digo Verde. A Natureza Veste a
Incerteza, e o Amanhã? (O Clamor da Floresta)” (2016)
Para o carnaval
de 2016 mais uma vez a Acadêmicos de Santa Cruz apostou na temática ambiental.
O
enredo falou da preservação da natureza e das florestas com o título “Diz mata!
Digo verde. A natureza veste a incerteza. E o amanhã? (O clamor pela floresta)”,
de uma comissão de carnaval formada pelos Lucas Pinto, Lane Santana e Munir
Nicolau. O autor do tema foi o compositor Claudio Russo, que teve o apoio de pesquisa
de Luciane Conrado. O
primeiro carro da escola simbolizou o lamento da Mãe Natureza, com várias
folhas verdes. Entre as demais alegorias, outra que atraiu olhares foi a segunda,
que representou as queimadas. Um boneco de um diabo vermelho sacudiu ao som do
samba da Santa Cruz. A escola
da Zona Oeste estourou por pouco o tempo: o desfile durou 56 minutos, um a mais
do que o previsto. Pelo atraso, ela foi penalizada e terminou em 12º segundo
lugar, na Série A. Quem foi que atirou esta flecha No peito sagrado da vida Tupã ganha a forma de um trovão Natureza em comunhão Contra a força do invasor Vai tocar o mais frio coração Pra cada palmo de devastação Nasce um ramo de amor (Zé Gloria, André Felix, Júnior,
Marquinho Beija-flor, Roni Remandiola, Betinho, De Araújo e J. Giovanni) “Santa é Minha Cruz. É Luz da
Preservação. O Meu Canto é Flecha Certeira, para Findar o Pranto da Devastação”
(2023) Em
2023,
a Santa Cruz desfilou pela primeira vez na Intendente Magalhães,
disputando a
Série Prata (terceira divisão), com o enredo “Santa
é Minha Cruz. É Luz da Preservação.
Meu Canto é Flecha Certeira para Findar o Pranto da
Devastação", do
carnavalesco Cid Carvalho. O tema
teve como mote a preservação da natureza, denunciar a destruição da floresta e
clamar pela salvação dos povos originários. Apesar de ser apontada como uma das
favoritas ao acesso, a escola terminou na 5ª colocação do desfile ocorrido na sexta-feira
pós-folia. Verde Eldorado Fadado por um Criador Das lascas brilhantes douradas Se fez santuário de raro esplendor Nas águas do amor as sementes Raízes, fartura pros seus descendentes (Zé Glória, J. Giovanni, Zieco Santa
Cruz, Marquinho Bombeiro, Cláudio Brow, Elias Andrade, Robinho Ki Samba, Zezé,
Jorge Maia, Júnior Boboda e Rafael Lima) Coluna anterior: Top 10 Sambario - Mães do Samba, Mães no Samba! Coluna anterior: Top 10 Sambario - Essência Poética das Homenagens (Parte 1) Coluna anterior: Top 10 Sambario - Sambas Inspirados em Pontos de Candomblé - Umbanda Série de coluna anterior: A História do Carnaval na TV Brasileira
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