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TOP 10 SAMBARIO – SAMBAS INSPIRADOS EM PONTOS DE CANDOMBLÉ - UMBANDA

 
TOP 10 SAMBARIO – SAMBAS INSPIRADOS EM PONTOS DE CANDOMBLÉ - UMBANDA


8 de março de 2024, nº 66


Série de coluna anterior: A História do Carnaval na TV Brasileira

 

Boa noite, moça! Boa noite, moço! Vim informar que você, que adora carnaval, pode nem ter se dado conta das diversas vezes que cantou a plenos pulmões um ponto de macumba em forma de samba enredo e não teve a menor noção!

A presença da temática religiosa afro-brasileira nos desfiles do carnaval do Rio de Janeiro começou a acentuar a partir de 1960, quando os enredos passaram a tratar de temas marginais à história oficial, cristalizando a revolução iniciada por “Quilombo dos Palmares”, apresentado pelo Salgueiro de Fernando Pamplona.

A primeira citação explícita a um orixá ocorreu no Carnaval de 1966. Naquele ano, o Império Serrano desfilou com “Glórias e Graças da Bahia” e a São Clemente falou de Iemanjá em “Apoteose ao Folclore Brasileiro”. Em 1971, a Império da Tijuca, com o enredo “O Misticismo da África para o Brasil”, apresentou pela primeira vez pontos de umbanda em seus refrões. Desde então, passou a ser mais frequente os compositores recorrerem a cânticos da mitologia africana (sobretudo da cultura iorubá) como rezas/pontos/cantigas do candomblé e das religiosidades brasileiras de bases afro/ameríndias, como a umbanda, a quimbanda, o catimbó, a encantaria e o tambor de mina.

Então, esquente os atabaques, firme o ponto, bata na palma da mão e risque o chão do ilê que o Top 10 Sambario traz uma pequena amostra da infimidade de sambas que já passaram na Avenida citando trechos de músicas sagradas dos povos de terreiro.

SARAVÁ!

 

10º lugar: ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA 2024 – “A Negra Voz do Amanhã”

 

A Mangueira levou para a Sapucaí em 2024 um enredo que homenageou a vida e a obra de uma das torcedoras mais ilustres da escola: a cantora e compositora Alcione.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

O refrão principal do samba composto por Lequinho, Junior Fionda, Gabriel Machado, Fadico, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim trouxe os versos: Meu palácio tem rainha e não é uma qualquer / Arreda homem que aí vem mulher. Esta última frase é uma referência a um ponto cantado na umbanda em reverência a Maria Padilha nas giras de Exu.

Senhora Maria Padilha é uma entidade Pomba-Gira presente nas religiões de matriz africana, como Umbanda e Candomblé. Ela possui fama de feiticeira, atraindo amor romântico, amor próprio e prazeres da vida. Além disso, essa força espiritual proporciona saúde, prosperidade e abertura de caminhos.


Maria Padilha

 

Ponto de Maria Padilha


9º lugar: ACADÊMICOS DO GRANDE RIO 2024
– “Nosso Destino é ser Onça”

 

A Tricolor de Duque de Caxias evocou a obra do escritor Alberto Mussa e levou para a Sapucaí um personagem central nas narrativas míticas dos povos originários da América do Sul. A partir do mito Tupinambá, a onça foi a chave para pensar as disputas identitárias brasileiras e a nossa eterna capacidade de devorar para recriar.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

Um dos refrães do samba-enredo da Grande Rio, composto por Derê, Marcelinho Santos, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony Vietnã, Eduardo Queiroz e Licinho Jr., é um ponto de umbanda do Caboclo Sete Flechas: Kiô! Kiô, kiô, kiô, kiera. Este brado dos caboclos serve para invocar e saudar as entidades espirituais durante os rituais.

As entidades denominadas “caboclos” que se apresentam nos terreiros de umbanda são espíritos com um certo grau espiritual de evolução. São considerados espíritos de índios que já morreram e que viraram guias de luz que voltam à Terra para prestar a caridade ao próximo. Pertencem à Linha das Matas. Apresentam-se altaneiros, dando o seu grito de guerra e gesticulando como se lançassem suas flechas.


Caboclo 7 Flechas

 

Ponto do Caboclo Sete Flechas

 


8º lugar: IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE 2024 – “Com a Sorte Virada pra Lua, Segundo o Testamento da Cigana Esmeralda”

 

A Rainha de Ramos tentou o bicampeonato em 2024 com a força da cultura cigana e seus mistérios. O enredo foi sobre um cordel escrito há mais de 100 anos pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros sobre o testamento da cigana Esmeralda e como esse documento pode ajudar as pessoas a terem sorte.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

O samba, resultado de uma junção de duas obras, foi composto por Jeferson Lima, Rômulo Meirelles, Jorge Goulart, Sílvio Mesquita, Carlinhos Niterói, Gabriel Coelho, Luiz Brinquinho, Miguel da Imperatriz, Antônio Crescente, Renne Barbosa e Me Leva. Os poetas inseriram no samba o verso O que é meu é da cigana / O que é dela não é meu, que está em um ponto do povo cigano, cantado na umbanda em reverência à Cigana Puerê.

Puerê quer dizer estradas. Ou estradas de chão batido que levanta muito pó. Toda Pomba Gira de estrada é uma puerê. Ciganas que vem do Oriente e que trazem esse pseudônimo trazem a magia e a bruxaria. São ciganas muito antigas. A maioria são das almas e são chamadas Pomba Giras Ciganas, porque o Povo do Oriente é algo muito mágico e sublime para as ciganas. São entidades que devem ser tratadas com frutas e coisas mais puras. Adoram perfumes, incensos, enfeites etc.


Ciganinha Puerê

 

Ponto Pomba Gira Cigana Puerê

 

7º lugar: UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 1974 – “Lendas e Festas Das Yabás”

 

A União da Ilha conquistou seu primeiro título no grupo de acesso (antigo Grupo 2) em 1974 com um samba que se tornou antológico. Foi o início da arrancada para a escola insulana se tornar conhecida em todo o país, desfilando no Grupo Especial por 26 anos seguidos (entre 1975 e 2001). Durante este período, foi vice-campeã em 1980 e consagrou vários sambas.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

Naquele carnaval, a Ilha reverenciou as Yabás. O significado de Yabá é “Mãe Rainha”. É o nome utilizado para se referir às Orixás Femininas. A Festa das Yabás é comemorada no Brasil no dia 13 de dezembro. No candomblé, as orixás femininas homenageadas são Oxum, Iemanjá, Oyá (Iansã), Nanã Buruquê, Obá e Ewá (Yewá).

Em cada uma dessas orixás encontramos aspectos variados do feminino. Oxum, a grande mãe; Iemanjá, a doadora de bênçãos; Oyá, a guerreira; Nanã, a sabedoria ancestral; Obá, força e ousadia; e Ewá, a vidente. São as Yabás que fortalecem a formação das subjetividades das mulheres negras em suas mais diferentes vozes.

O refrão do samba da Ilha, composto pelo legendário intérprete Aroldo Melodia e seu parceiro e compadre Leôncio da Silva, foi inspirado em um ponto do Candomblé de Angola dedicado à divindade dos ventos, raios e tempestades e guia das almas no plano espiritual, chamada Matamba (ou Bamburucema), equivalente à orixá Oyá/Iansã: Oiá Oiá Oiá eu / Oiá matamba / De cacurucaia zinguê.


Oyá/Matamba

 

Ponto de Iansã

 

Como curiosidade, vamos postar também o vídeo abaixo com Maria Bethânia cantando o ponto de Iansã, sua orixá de cabeça, para um documentário alemão rodado na década de 70.


6º lugar: IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE 1991 – “O Que é que a Banana Tem?”

 

Com um samba que era dos mais tocados nas rádios da época, a Imperatriz Leopoldinense contou a história da banana no carnaval de 1991. O enredo era assinado pelo figurinista e carnavalesco Viriato Ferreira (1930 - 1992), parceiro de muitos anos de Joãosinho Trinta.

Plasticamente, o conceito do trabalho de Viriato foi brilhante, com a história da banana sendo contada desde o surgimento, de forma clara e criativa. A escola se apresentou de forma vibrante e arrebatadora em todos os quesitos, candidatando-se ao título. No entanto, ficou na terceira posição, ficando atrás do Salgueiro e da campeã Mocidade.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

Um dos refrães do samba, de autoria de Preto Joia, Niltinho Tristeza, Tuninho, Guga, Guará da Empresa e Flavinho, dizia: O facão bateu embaixo / Pra bananeira cair / Ai, ai, que maldade / Não tire esse verde daí.

Os versos eram inspirados em um ponto forte da Linha de Baianos, uma linha de trabalho da Umbanda pertencente à chamada Linha das Almas, a mesma dos Pretos-Velhos. O cântico também é entoado em rodas de capoeira.


Linha dos Baianos na Umbanda

Ponto da Linha dos Baianos

 

5º lugar: ACADÊMICOS DO SALGUEIRO 1989 – “Templo negro em tempo de consciência negra”

Quando todos lembraram o negro em 1988, o Salgueiro só o fez em 1989, não apenas por ser “diferente”. Para a vermelho e branco (a escola que mais fortemente emoldurou a temática africana e foi pioneira na temática negra), o movimento negro e a luta por conscientização e igualdade não se findariam no ano do centenário da dita liberdade, dessa falsa abolição.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

A letra do maravilhoso samba de Alaor Macedo, Helinho do Salgueiro, Arizão, Demá Chagas e Rubinho do Afro elencava alguns dos nove enredos negros que o Salgueiro apresentou entre os anos de 1957 e 1980, como “Quilombo dos Palmares”, “Chica da Silva”, “Chico Rei” e “Bahia de Todos os Deuses” e também mencionava Xangô, o protetor e padroeiro do morro do Salgueiro e também da escola.

Orixá do fogo, do trovão e da justiça, Xangô foi Rei de Oyó. Temido e respeitado, tem grande importância nos segmentos do candomblé com origem em terras iorubá. No Candomblé de Angola recebe o nome de Nzazi. O refrão do meio é uma reza dessa divindade adaptada ao samba-enredo: Ô Zaziê, Ô Zaziá / O Zaziê, Maiongolé, Marangolá / Ô Zaziê, Ô Zaziá / Salgueiro é Maiongolê, Marangolá.


Nzazi/Xangô

Ponto de Nzazi Xangô

 

4º lugar: ACADÊMICOS DO GRANDE RIO 1993 – “No Mundo da Lua”

 

Em 1992, o carnavalesco Alexandre Louzada criou o enredo da Grande Rio para o carnaval do ano seguinte, que falaria, é claro, de nosso satélite natural. O elogiado samba-enredo contava com dez compositores (Nêgo, Jacy Inspiração, Mais Velho, G. Martins, Dicró, Juarez Dy Calvoza, Adão Conceição, Carlinhos P2, Rocco Filho e Ronaldo), resultado da fusão dos três sambas concorrentes da final, organizada pelo então diretor de carnaval da escola, Laíla. O resultado foi extraordinário. Um dos mais belos sambas da era Sambódromo.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

O primeiro refrão do samba da Grande Rio de 1993 (e até hoje lembrado) tem inspiração em um ponto de umbanda cantado nas giras de Exu em reverência a Exu Tranca-Rua: Ô luar, ô luar / Vem pratear a nossa rua / A semente da fartura semear / Virar o mundo de bumbum pra lua.

Tranca-Rua(s) é uma falange/agrupamento de exus e são entidades espirituais presentes na Umbanda e na Quimbanda. É considerado o capitão das encruzilhadas, o grande guardião dos caminhos, defensor das mulheres e dos oprimidos, sendo o responsável pela limpeza astral dos caminhos do mundo. Embora possuam diversas variações, a caracterização do Senhor Tranca-Rua geralmente incluiu uma capa e cartola vermelhas, um charuto na boca e é um enviado de Ogum. Às vezes também é representado com um tridente, o que ao longo do tempo fez com que fosse associado, erroneamente por crentes de religiões cristãs, a uma figura maligna.


Exu Tranca-Rua

Ponto de Exu Tranca-Ruas

 

3º lugar: ACADEMICOS DO CUBANGO 1979 / 2009 – “Afoxé”

Depois de seis carnavais seguidos no Grupo de Acesso A, a Acadêmicos do Cubango havia sido rebaixada em 2008 para o Acesso B, que corresponde à terceira divisão do samba. A escola decidiu que para 2009 – na tentativa de retornar ao Grupo A – iria reeditar um dos maiores sambas de sua história: “Afoxé”, de Heraldo Faria e João Belém, responsável pelo pentacampeonato da Cubango no ano de 1979, quando a agremiação ainda desfilava em Niterói.

Cinquenta anos depois, “Afoxé” deu um novo campeonato à Cubango. A verde e branco do Morro do Abacaxi dividiu o título do Grupo B com a Unidos de Padre Miguel e ambas ascenderam ao Grupo A.

O afoxé tem três significados. É, ao mesmo tempo, um ritmo, um instrumento musical e tem um significado religioso.

No ritmo, o afoxé também é conhecido como Ijexá (nome de uma nação africana). Afoxé é um ritmo do candomblé. A marcação do agogô é sua batida característica, tornando esse ritmo facilmente identificável.

O afoxé instrumento musical é composto de uma cabaça pequena redonda, recoberta com uma rede de bolinhas de plástico. Pode ser de madeira e/ou plástico com miçangas ou contas ao redor de seu corpo. O som é produzido quando se gira as miçangas em um sentido, e a extremidade do instrumento (o cabo) no sentido oposto. Antigamente era tocado apenas em centros de umbanda e no samba. Atualmente, o afoxé ganhou espaço no reggae, música pop e no estilo musical conhecido como axé music.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

E na questão religiosa, o afoxé também é chamado de “candomblé de rua”. Trata-se de um cortejo de rua que sai durante o carnaval. Sua origem remonta a uma tradição milenar africana: os caminhos sagrados para chegar aos orixás. As principais características são as roupas, nas cores destas divindades africanas, as cantigas em dialeto iorubá e instrumentos de percussão, como atabaques, agogôs, afoxés e xequerês. O maior divulgador desse tipo de afoxé é o grupo baiano Filhos de Gandhi, que sai às ruas nos dias de carnaval em Salvador, todos vestidos de branco, cantando músicas sobre a paz, o amor e a fraternidade, e que o cantor e compositor Gilberto Gil é padrinho do grupo desde a década de 1970.

O refrão principal do samba-enredo da Cubango é uma reza sagrada ao orixá Oxalá: Ofi la laê, Olê loá / Ofi la laê, Olê loá.


Oxalá Oxalufã

 

Ponto de Oxalá

 


2º lugar: IMPÉRIO DA TIJUCA 1971 – “O Misticismo da África ao Brasil”.

 

Em 1971, o Império da Tijuca seguiria a tendência lançada pelo Salgueiro anos antes, cantando o enredo “O Misticismo da África ao Brasil”. Um dos mais belos sambas da história da agremiação, o hino foi composto por Mário Pereira (Marinho da Muda), João Galvão e Wilmar Costa, e rendeu muita popularidade ao Imperinho. Graças à genial construção melódica e descrição perfeita do enredo, o samba caiu nas graças da opinião pública e ajudou a escola do Morro da Formiga a conquistar um honroso 8º lugar e permanecer no Grupo Especial para o ano seguinte.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

A música foi regravada por nomes importantes da MPB, como Clara Nunes e Martinho da Vila. A letra começa descrevendo o cenário em que os africanos escravizados praticavam seus rituais em solo brasileiro (Lua alta, sons constantes/ ressoam os atabaques/ lembrando a África distante) e depois, inspirados nos cânticos religiosos, os refrões dão o tom respeitoso e ao mesmo tempo festivo do enredo (lá na mata tem mironga/ eu quero ver/ lá na mata tem um coco/ este coco tem dendê). O refrão final desemboca com um ponto de umbanda da Linha das Sereias: tem areia, ô, tem areia/ tem areia no fundo do mar, tem areia.

As Sereias são seres que vivem nas dimensões aquáticas do Plano Encantado da Vida. Manifestam-se na Umbanda dentro da chamada Linha do Povo do Mar, sob a regência do Orixá Iemanjá.

Quando incorporam em suas médiuns, umas ficam sentadas, como que de lado, e outras ficam em pé. Quando incorporam, as Sereias não costumam falar. As que ficam sentadas movem o tronco e os braços, como se estivessem nadando e se banhando nas ondas. As que ficam em pé, se movem com passos de dança e fazem uma linda coreografia mágico-religiosa. Nesses movimentos, vão recolhendo todas as cargas energéticas negativas do ambiente, dos seus médiuns e da assistência.

As sereias são higienizadoras, têm um poder de limpeza e purificação inigualável pelas outras Linhas de Umbanda, uma vez que nos trazem de forma potencializada as Energias da Dimensão Aquática onde vivem.


Sereia – Linha do Povo do Mar

Ponto de Sereia / Iemanjá

 

1º lugar: ACADÊMICOS DO SALGUEIRO (2016) – “A Ópera dos Malandros”

 

Aqui falaremos de um samba concorrente que chegou até a finalíssima do Salgueiro, mas perdeu a disputa. Estamos falando do samba da parceria de Antônio Gonzaga, Rodrigo Moreira e Escafura para o enredo “A Ópera dos Malandros”. O carnavalesco Renato Lage se inspirou na obra de Chico Buarque de Hollanda. Todos os tipos de malandros estavam contemplados no enredo: o que “samba miudinho e entra faceiro na roda”; o que “vai flanando triunfal por entre deuses e meretrizes, rainhas e monarcas”. Tem, ainda, o mestre-sala das alcovas, o bailarino dos salões, o cavaleiro errante dos morros cariocas; “o pensador dos botequins, filósofo das mesas de bar!” e, para encerrar, o malandro de fé, que fecha o corpo e abre os caminhos ao próprio destino.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

O refrão principal (apesar de estar no meio do samba) trazia um ponto famoso da Pomba Gira Dama da Noite, cantando nas giras de Exu, onde a malandragem se manifesta. O trecho foi muito bem escolhido pelos compositores: Dói dói dói dói dói / Um amor faz sofrer / Dois amor faz chorar.

O samba tinha uma levada diferente, bem ao estilo inovador que o Salgueiro sempre gostou. No entanto, a obra esbarrou na final da disputa com outro samba que foi arrebatador na quadra e se tornou antológico, o famoso “Malandro Batuqueiro”, de autoria de Marcelo Motta, Fred Camacho, Guinga, Getúlio Coelho, Ricardo Fernandes e Francisco Aquino. Não fosse isso, quem sabe o “dói, dói, dói” pudesse ser tão apoteótico quanto o samba que ganhou. Quem sabe?

Confira o ponto de Pomba Gira Dama da Noite e logo abaixo o samba que perdeu a final de 2016, mas que passou a ser executado pela escola como samba de “esquenta”.


Pomba Gira Dama da Noite

 

Ponto de Pomba Gira Dama da Noite:

 

Samba Dói, dói, dói

       


BÔNUS TRACK – PORTELA (2024) – “Estão Queimando Vela”

 

Em 2024, a Portela desfilou com o tema “Um Defeito de Cor”, baseado no livro homônimo, de autoria da escritora mineira Ana Maria Gonçalves. A obra conta a história de uma mãe africana que viaja ao Brasil em busca do filho, de paradeiro incerto. O tema foi escolhido pela escola por ter relação direta com a ideia de afeto e o sagrado feminino.

E ONDE ENTRA O PONTO DE MACUMBA?

No samba-enredo, de autoria de Rafael Gigante, Vinicius Ferreira, Wanderley Monteiro, Jefferson Oliveira, Hélio Porto, Bira e André Do Posto 7, não há diretamente uma cantiga ligada à umbanda ou candomblé. No entanto, o intérprete Gilsinho sempre antes das apresentações da Portela – inclusive antes do desfile oficial no sambódromo da Sapucaí – entoava um ponto de umbanda em saudação ao orixá Xangô, conhecido como “Estão Queimando Vela”.


Xangô, o orixá da justiça

Ponto de Xangô – Estão Queimando Vela


       

Série de coluna anterior: A História do Carnaval na TV Brasileira


Gerson Brisolara (Rixxa Jr.)

rixxajr@yahoo.com.br