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Editorial Sambario
Edição nº 85 - 24/09/2021

ANÁLISES DOS SAMBAS FINALISTAS 2022 - PARTE 2


Seguimos aguardando ansiosamente as decisões das escolas quanto aos sambas finalistas, e falta muito pouco para conhecermos os campeões do Grupo Especial do Rio de Janeiro visando 2022. Na semana que vem, os programas "Desafio do Samba" serão gravados na Cidade do Samba para serem exibidos na Globo nos meses de outubro e novembro, sempre na madrugada de sábado pra domingo depois do "Altas Horas", com apresentação de Luís Roberto, Milton Cunha e Teresa Cristina. Confira o cronograma das finais:

PROGRAMA 1: Mangueira, São Clemente e Mocidade
Gravação em 28/9 e Exibição em 16/10

PROGRAMA 2: Imperatriz, Vila Isabel e Salgueiro
Gravação em 29/9 e Exibição em 23/10

PROGRAMA 3: Unidos da Tijuca, Portela e Grande Rio
Gravação em 30/9 e Exibição em 30/10

PROGRAMA 4: Paraíso do Tuiuti, Beija-Flor e Viradouro
Gravação em 1º/10 e Exibição em 6/11

PROGRAMA 5: Apresentação dos 12 sambas-enredo vencedores
Exibição em 13/11

Os horários programados para o começo das gravações de cada agremiação: 10h da manhã pra primeira escola do dia, 14h pra segunda e 18h pra terceira e última.

E aqui iremos concluir as análises dos sambas finalistas, que iniciamos no Editorial anterior. Tentamos demonstrar nossas ideias e avaliações a respeito das obras postulantes, com total imparcialidade. As opiniões dadas são de caráter pessoal (editor-chefe do SAMBARIO, Marco Maciel) e em nada irão influenciar as escolhas oficiais. Tanto que, em alguns casos, eu faço apostas em hinos que não considero meus favoritos. Confira aqui no Editorial por escrito a segunda parte dos comentários dos finalistas, abordando Beija-Flor, Salgueiro, Mangueira, Unidos da Tijuca, Paraíso do Tuiuti e Imperatriz Leopoldinense. Também estamos publicando as análises em vídeo no canal do Sambario no YouTube (se inscreva lá). Críticas, que sejam construtivas!



BEIJA-FLOR

Como algumas outras escolas, também os sambas voltaram para os compositores realizarem alguns ajustes. Mas acredito que, desde o início da disputa, um samba em especial se destaque e seja superior aos demais. A obra que mais poderia fazer frente caiu na semifinal, que é a da parceria do Dr. Rogério, samba 7.

J. VELLOSO E PARCEIROS (Samba 1) - Mocambo de crioulo, sou eu sou eu
- Último samba do grande compositor Jorge Velloso, multicampeão na Beija-Flor, então presidente da ala de compositores nilopolitana, falecido em outubro de 2020.
- É um samba com toda a valentia que marcou as históricas obras da agremiação a partir de 1998. Se mantém fortíssimo e pesado durante todo o tempo, com o puro DNA da azul-e-branco de Nilópolis. Um refrão principal marcante. A cabeça também é de excelente qualidade, já despontando pra um falso refrão antes de aparecer o do meio, também valentíssimo.
- A segunda parte mantém a coesão da melodia até o final. O samba combina bem com o estilo de Neguinho e é perfeito para o andamento cadenciado da bateria da Beija-Flor. O carro de som me pareceu mais à vontade com esse concorrente na última audição na quadra.
- Alguns versos se destacam, como "quem é sempre revistado e refém da acusação/o racismo mascarado pela falsa abolição/por um novo nascimento, um levante, um compromisso/retirando o pensamento da entrada de serviço".
- Talvez o que ameace a vitória é o fato da letra mencionar muito mais a luta do negro contra as mazelas e não destacar tanto a proposta de enaltecer o seu pensamento, seus intelectuais, algo que os outros dois sambas enfatizam mais, de acordo com a sinopse assinada por Alexandre Louzada. Os pensadores surgem no refrão do meio, mas na letra parecem deslocados do restante. O samba meio que tenta repetir a fórmula de lamento do aclamado campeão de 2018.
- Mesmo assim, pra mim é o franco favorito! Sobra na final.

RODRIGO CAVANHA E PARCEIROS (Samba 2) - Na força do meu ancestral eu vou!
- Uma letra simples e melodia que não apresenta muitos diferenciais. Os refrães não chamam atenção.
- Uma transição estranha na primeira parte para o bis que antecede o refrão do meio, parece forçado. Mas tirando o refrão principal, o estribilho "kaô kaô" é a parte de maior explosão, algo que a segunda parte carece. Esta sendo até de melodia retilínea.
- O samba cansou rapidamente na audição do último final-de-semana, mesmo com poucas passadas.
- Pra mim, pouco cotado. Se vencer, vai ser uma grande zebra.
- Neguinho é citado no samba, através de seu primeiro nome artístico: Neguinho da Vala. Se o samba ganhar, seria estranho o intérprete exaltar a si mesmo no desfile.

BRUNO RIBAS E PARCEIROS (Samba 5) - É canto de griô, reparação de fala
- Neguinho também é citado na letra do samba em "Neguinho é voz da liberdade".
- Tem uma melodia mais técnica, bem trabalhada, mas não observo muitos momentos de explosão na obra. Os refrães não têm muita força. O do meio tem uma variação meio confusa.
- Mas o samba tem bons momentos, como o fim da primeira parte.
- A letra também é mais direta, simples, procura deixar claro o enredo.
- Também, na minha opinião, está muito aquém da qualidade do samba 1. Não passou tão bem na audição do fim-de-semana, também cansando. Acho um pouco melhor que o samba 2, da parceria de Rodrigo Cavanha.

Minha torcida: J. Velloso e parceiros
Quem ganha: J. Velloso e parceiros



SALGUEIRO


Uma das finais mais equilibradas, eu vejo chances de vitória para as três obras. Numa safra que também teve recall, com alguns sambas recebendo modificações ao longo da disputa, ainda assim teremos uma final de alto nível. A surpresa ficou por conta do corte do concorrente do multicampeão Marcelo Motta e parceria na semifinal.

XANDE DE PILARES E PARCEIROS - Preta voz que não se cala
- Pelo que dá pra perceber, é uma letra que se desprende da sinopse. A poesia ganha liberdade para homenagear a todo momento grandes baluartes da história da Academia do Samba.
- Almir Guineto, Paula do Salgueiro, Mestre Louro, Noel Rosa de Oliveira, Geraldo Babão, Anescarzinho, Djalma Sabiá, Bala, Calça Larga e Isabel Valença estão todos na letra do samba, ou seja, é repleto de aspas, com alguns enredos clássicos e o hino do Salgueiro "Torrão Amado" também recebendo menções. Ainda assim, é inspirado em vários trechos, como "ainda é 12 de maio", "bala contra o preconceito", "calça larga sobre os pés".
- A letra procura falar da resistência na ótica da história salgueirense, até fugindo da sinopse em alguns momentos, o que pode ser um risco no caso de um julgamento mais rígido no desfile.
- É um samba fortíssimo, robusto, encorpado, com variações melódicas arrojadas que procuram fugir de soluções mais óbvias.
- Tem um falso refrão do meio, e a segunda parte também é interessante porque você sempre pensa que vem mais um bis, como em "ê camará ê camará" e "ôôô mocambo da raça não teme a mordaça".
- O refrão principal é valente e ótimo de cantar, até Quinho recebe uma homenagem no verso "arreda que lá vem Salgueiro", um caco clássico do nosso Melquisedeque.
- Pra mim, é o samba favorito pra vitória. Mas é uma final em que tudo pode acontecer!

DEMÁ CHAGAS E PARCEIROS - Sabiá me ensinou ser diferente
- Há menos menções a grandes sambistas do Salgueiro, há a citação livre a Djalma Sabiá no refrão, além do Torrão Amado. Não sei se a intenção em "da bala que mata feito chibata" foi também homenagear o saudoso compositor Bala.
- Um refrão diferente dos atuais, sendo mais curto, reforçando o "Salgueirô". Momento de maior explosão da obra, mas existe aquela preocupação com o júri oficial, que pode enxergar o temido e famigerado erro de prosódia, ou seja, deslocamento da sílaba tônica. E o ôôô do samba de 1963 "Chica da Silva" que antecede o canto da primeira parte, reforça a nostalgia do samba. Mas não duvido que a harmonia retire o trecho caso o concorrente vença a disputa.
- Mantém o bom nível e melodia coesa durante toda a obra. Um ótimo refrão central e uma segunda parte mais arrojada, com um começo em menor e que se desenrola em versos cursos com total valentia. É uma segunda com a cara do Salgueiro.
- Também representaria muito bem a escola, possuindo pra mim reais chances de vitória numa final equilibrada da Academia. É o que mais me agrada, na minha preferência!

SERENO FUNDO DE QUINTAL E PARCEIROS - Punho cerrado, sou resistência
- O refrão principal lembra um pouco o do clássico "Afoxé" da Cubango de 1979. É a parte forte do samba.
- "Òfi àlá we o, ile lewa" se refere à cantiga de Oxalá, de domínio público, e significa "um pedido de proteção"
- Tirando o refrão, a poesia do restante da obra é direta, dando pra compreender o enredo e a mensagem de resistência de forma clara só acompanhando a letra. Não se preocupa em citar baluartes salgueirenses.
- A primeira parte é de bom nível. O refrão do meio também me agrada.
- O hino cai um pouco na segunda parte, sendo mais arrastado. Já que a sinopse cita o funk carioca, aparece um "eu só quero é ser feliz" praticamente com a mesma melodia do famoso funk dos anos 90. Só no final há uma melhora, na transição pro refrão.
- Bom samba, mas pra mim é o menos cotado da final salgueirense.

Minha torcida: Demá Chagas e parceiros
Quem ganha: Xande de Pilares e parceiros



MANGUEIRA

Recebeu talvez a melhor safra de sambas da temporada. Um enredo em homenagem a Cartola, Jamelão e Delegado não poderia ser diferente. Tanto que grandes obras que poderiam estar na final ficaram de fora. Por exemplo, os sambas das parcerias de Paulo César Feital, Lequinho, Luiz Carlos Máximo e
Ailton Graça (este último, um dos mais belos das eliminatórias da verde-e-rosa).

PAULINHO BANDOLIM E PARCEIROS - Você sabe o que é ter um amor?
- É o meu favorito, inclusive é o samba mais bonito da disputa.
- Tantinho integrava essa parceria, tanto que você nota bastante o estilo dolente do saudoso compositor, que costumava impor muita nostalgia em suas obras.
- É um samba extenso, que prioriza a beleza da melodia, não fazendo questão nenhuma de ser funcional, ficando longe de qualquer pragmatismo. O refrão principal por exemplo é longo, mas de muito bom gosto. Eu temo que não tenha o desempenho considerado ideal na avenida, mas os compositores deixam claro que a intenção é priorizar a riqueza melódica, que é mais lírica, ainda que surjam vários trechos em que a valentia se sobressai. Aposta num refrão central falso.
- Adoro a segunda parte, sobretudo na explosão "sou mestre-sala".
- Bico Doce é um grande intérprete, há tempos vem merecendo mais destaque no Carnaval. Na quadra, ainda defendeu outras obras na disputa, mesmo lendo a letra no prospecto, mas sem deixar cair.

MOACYR LUZ E PARCEIROS - Valei-me Cartola, Jamelão e Delegado
- O refrão principal acho simplório, uma melodia até genérica. E a única rima do trecho é terminada em "ado".
- O restante do samba é classudo, mais pesado, com poucas partes de explosão. Ao contrário do samba da parceria de Paulinho Bandolim, tem uma letra mais curta.
- A primeira parte e o refrão do meio apresentam belos momentos. Mas o samba cai na segunda, cuja letra é mais subjetiva e a transição pro refrão principal não me agrada.
- Samba bonito, mas falta aquele algo mais. Na minha opinião, tinha obras melhores na disputa. Claro que nunca devemos subestimar um nome gigante do samba como Moacyr Luz.
- Vem se apresentando bem, com Pixulé mostrando a categoria de sempre.

EZIO SAN E PARCEIROS - Eu sou a Mangueira, ninguém me segura
- E o filho de Mestre Delegado, um dos homenageados do enredo, disputará a final. Certamente foi a maior surpresa da disputa, com a parceria formada por compositores nem tão conhecidos.
- Tem uma melodia animada, pra cima, mas que nem por isso perde sua qualidade. Uma delícia de ouvir, com vários trechos muito bonitos.
- O belíssimo refrão do meio é o maior destaque da obra.
- Mesmo com a segunda parte também muito agradável, peca em letra com alguns versos duvidosos. "Quem sou eu pra ter direitos exclusivos sobre ela?" poderia ser melhor trabalhado. E as aspas no fim também deveriam ser evitadas. "Que tiram versos da 'cartola'
" e "o samba nasceu 'delegado' à primeira estação", soam forçados.
- Azarão da final, mas é um samba muito simpático que dificilmente sairá da minha playlist.

Minha torcida: Paulinho Bandolim e parceiros
Quem ganha: Paulinho Bandolim e parceiros



UNIDOS DA TIJUCA


Temos dois sambas de melodia pesada e valente na final e um outro que é bem diferente, sendo mais leve e, por que não, mais doce? Considero uma final imprevisível, já que temos dois sambas que reúnem alguns dos compositores mais vitoriosos da atualidade contra uma obra feita por autores cultuados na bolha, mas que há algum tempo não triunfam no Carnaval e que depois de muito tempo voltam a ser aclamados.

LEANDRO GAÚCHO E PARCEIROS - Auê Mawé, é canto Karaxué
- Samba que conta com uma bela participação de David Assayag na gravação de estúdio.
- Melodia bem pesada, prioriza a valentia. Aprecio o refrão do meio. Porém, não gosto tanto do refrão principal.
- Gosto bastante também da explosiva segunda parte, bonita, mas sem perder a intensa pegada, que é a marca dessa obra.
- Bom samba, bem técnico, boas apresentações, mas pra mim é o com menos chances de vitória em meio a uma final bem equilibrada.

DUDU NOBRE E PARCEIROS - Resistência fez raiz em Galdinos, Raonís
- Também tem uma tonelada de melodia, como o da parceria do Leandro Gaúcho. Mas sobra em valentia, vem passando muito bem na quadra.
- Acho a segunda parte o ponto forte, apesar do verso "índio é dono do quinhão mesmo sem a escritura" pecar em riqueza poética.
- O verso "vermelho é a cor do Brasil" do bom refrão do meio reforça a posição política do enredo, afinal Jack Vasconcelos vem se destacando nos últimos carnavais com enredos de esquerda de forte poder de engajamento, principalmente na Tuiuti.
- Também é técnico, é um dos favoritos pra vitória, muito por conta da parceria de peso que assina a obra e do pragmatismo em algumas escolhas.

EDUARDO MEDRADO E PARCEIROS - Erê, vem provar doce mel
- Uma das sensações da temporada. Um samba que contrasta totalmente com seus dois concorrentes.
- Enquanto a narrativa de ambos enfatiza a luta do bem contra o mal, com versos fortes, essa obra é de uma pureza sintetizada na última frase: "o amor vai vencer".
- É um samba doce, como diz o refrão. A parceria focou o cartão-de-visitas do samba nas oferendas à entidade, os espíritos infantis que tomam guaraná na Ibejada. E fecha com "vem brincar no Borel".
- Imaginava um samba mais robusto pro tema, como os das outras parcerias finalistas. Mas Eduardo Medrado e Kleber Rodrigues, que têm como marcas vitórias com sambas diferenciados e que fogem do lugar-comum, aliados ao experiente Anderson Benson apostaram numa obra de vanguarda.
- Medrado é conhecido por sempre tentar inovar na melodia, sendo um compositor cultuado no nicho e identificado com a Imperatriz, onde venceu algumas vezes nos anos 90 e ainda possui vários sambas concorrentes derrotados que não foram esquecidos por quem acompanha as eliminatórias afinco. Mas Medrado não vinha se destacando nas últimas disputas.
- Kleber Rodrigues é um dos autores do aclamado samba da Tuiuti pra 2001, "Um Mouro no Quilombo, isso a História Registra".
- Os compositores acertam em apostar na promissora Wic Tavares, filha de Wantuir, intérprete da Unidos da Tijuca. Pode estar nascendo uma nova estrela no Carnaval. Aliás, muitas mulheres estão pedindo passagem nos microfones principais das escolas, não apenas no carro de som. Grazzi Brasil, Millena Wainer, Nina Rosa, Thati Carvalho, Juliana Pagung, Júlia Alan são alguns bons exemplos.
- Confesso que o samba não me pegou na primeira audição, já que tem uma melodia diferente. É necessário ouvir mais vezes. Uma cabeça que procura se distanciar dos sambas convencionais. Quando você ouve "alto céu, de tupana e yurupari", você percebe que vem algo fora do lugar-comum aí. Mas o que desponta é uma música repleta de variações qualificadíssimas. Que até exige um andamento bem mais cadenciado da bateria Pura Cadência, em virtude da melodia melhor trabalhada do samba.
- O refrão falso do meio mantém a melodia fortíssima e também é grudenta, fixa na mente e no subconsciente rapidamente.
- A segunda mantém o altíssimo nível, você percebe a marca arrojada de Medrado e parceiros na sequência "e se a cobiça e o fogo chegarem na aldeia/deixa a força Mawé ressurgir". Parece que você está ouvindo aqueles concorrentes aclamados da Imperatriz da parceria do começo dos anos 2000 que até hoje a bolha não se esquece.
- O refrão principal é tão marcante que tornou a obra conhecida como "o samba do erê". Fácil de cantar, poucas palavras, parece uma canção infantil que ecoa nos filmes da Disney, em desenho animado. A voz feminina de Wic reforça o predicado.
- O time de canto na quadra ganhou o reforço de Wander Pires. E a cada apresentação, a obra ganha mais seguidores.
- Tem chances reais de vitória! Vamos ver se a Tijuca vai inovar com uma obra que tem chance de entrar pra história recente do gênero ou trazer um samba eficiente, porém mais do mesmo.

Minha torcida: Eduardo Medrado e parceiros
Quem ganha: Dudu Nobre e parceiros



PARAÍSO DO TUIUTI 

Após mudar o enredo, não sem antes anunciar o samba vencedor da disputa para o tema anterior "Soltando os Bichos" que chegou a ter concurso, a escola meio que às pressas promoveu uma nova eliminatória. Na Tuiuti, um samba sobra em relação aos demais.

CLAUDIO RUSSO E PARCEIROS - Tem sangue nobre de Mandela e de Zumbi
- Vitorioso da disputa do "Soltando os Bichos", que não vai desfilar, Claudio Russo e parceiros podem ser os primeiros a vencer a eliminatória de uma mesma escola por duas vezes para uma mesma temporada. E Russo tem o favoritismo!
- Uma primeira parte bonita em termos melódicos, bela cabeça, ainda que tenha alguma semelhança com o início do samba da Tuiuti pra 2020, dos mesmos autores. A divisão silábica é parecida.
- Refrão do meio interessante, em menor, com a segunda mantendo a coesão da melodia. O "cantar cantar cantar" fecha bem o samba e serve de transição adequada pro bom refrão principal.
- Obra de excelentes variações, belo samba!

RAONI VENTAPANE E PARCEIROS - O morro não vai sucumbir
- O samba é curto. Mais pesado e valente, tem muita pegada, ainda que não tenha uma melodia tão diferenciada.
- A parte que mais chama a atenção é a alfinetada direta ao atual mandatário da República. "Quem nega a ciência/não sabe a essência do meu fundamento/nenhum tirano é capaz/de acorrentar os nossos ideais". Os compositores aproveitaram a presença de um setor sobre a ciência pra dar a letrinha, ainda que no texto da sinopse não haja nenhuma crítica direta ao negacionista que governa o país.
- Gosto do samba, mas pra mim é inferior ao samba do Russo, que é mais encorpado.

ELI PENTEADO E PARCEIROS - Meus tambores não se calam
- Samba mais extenso, aposta em excesso de citações e aspas a partir do refrão do meio e durante toda a segunda. No mesmo trecho, você ouve menções a Beyoncê e Benjamin de Oliveira. Depois, Pantera Negra é seguido de Mercedes Baptista e Mãe Stella de Oxóssi. Isso acaba prejudicando a riqueza poética e melodia principalmente da segunda parte, que acaba sendo retilínea.
- É mais cansativo. Alguns trechos têm mais palavras do que a melodia sugere, até no refrão principal aparece este problema. "É tempo de cura/quenossoscaminhos se abram".
- A primeira parte é até interessante, tanto que sugere antes do refrão do meio uma melodia de falso refrão no verso "elegbá exú, agô laroyé". Mas o restante da obra não mantém o mesmo nível, sendo mais longo e arrastado.
- A zebra da disputa, que tem no samba de Russo o favorito, com o de Raoni correndo por fora.

Minha torcida: Claudio Russo e parceiros
Quem ganha: Claudio Russo e parceiros



IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE

Boa safra em homenagem a Arlindo Rodrigues, uma pena o belo samba da parceria de Jéferson Lima, Tuninho Professor e Marquinho Lessa ter ficado de fora da final. Temos dois sambas que priorizam o lirismo e um outro mais valente.

GABRIEL MELLO - Vem me encantar, volta pro seu lugar
-
Gabriel Mello é diretor de Carnaval da Vai-Vai.
- Algo muito raro nas disputas de hoje em dia: um único compositor assinando sozinho um samba. Sabe-se que é necessário um investimento alto pra tentar emplacar um samba-enredo, principalmente no Grupo Especial. Além de um nome de peso sempre exercer uma grande influência. Daí um número sempre alto de compositores, com muitos deles apenas assinando.
- O último samba da Imperatriz de autoria de um único compositor é de 1968: "Bahia em Festa", de Maurílio da Penha Aparecida e Silva, o Bidi.
- A obra com louvor se destaca desde a divulgação dos concorrentes da Imperatriz. Foi uma das últimas gravações realizadas pelo magistral Dominguinhos do Estácio. Na quadra, Leozinho Nunes vem defendendo o samba.
- O samba é todo encantador, como diz o refrão. Uma poesia refinada em primeira pessoa. Melodia toda encaixada, muito bem dividida, refrães fantásticos. O do meio tem um tempero especial, com as citações das passagens de Arlindo pelas coirmãs Salgueiro e Mocidade cantadas com valentia.
- Na segunda parte, depois do estribilho "sonhei com Dalva e fui morar com Deus", a obra desponta para o seu clímax melódico e poético, numa explosão lírica que faz da transiçao pro refrão principal uma maestria. E com um dos mais belos conjuntos de versos da temporada. "Se a saudade é certeza/um dia a tristeza será cicatriz/eterna seja amada Imperatriz". Lindíssimo!
- Pra mim, é o favorito!

ME LEVA E PARCEIROS - Se tu és colombina, eu sou teu arlequim
- Outro samba muito bonito. Assim como o samba do Gabriel Mello, tem um refrão principal mais dolente e um central (falso nesse caso) mais valente.
- Os refrães se destacam bastante nesse finalista. A primeira parte é um pouco mais pesada, mas prepara muito bem pra explosão do ótimo falso refrão do meio, trecho que é a cara de Preto Jóia. Tanto que é o experiente intérprete quem canta o falso refrão na regravação dos finalistas através das vozes oficiais da Imperatriz.
- A letra tem aspas de sambas clássicos de desfiles de Arlindo espalhadas, como "pega no ganzê", "Vera Cruz é Santa Cruz", "quem dera", "reluzente como a luz do dia", procurando explicitar os temas de uma forma mais direta.
- Também é um belo samba que pode chegar à vitória, ainda que eu ache o do Gabriel Mello superior.

MOISÉS SANTIAGO E PARCEIROS - Eu vi, meninos eu vi
- O chamariz do samba é o ótimo refrão principal, cuja melodia você nota a assinatura de Moisés Santiago, tendo alguma semelhança com o refrão do samba de 2016 pra Zezé di Camargo & Luciano. "Arlindo e Luiz coroando a Imperatriz" tem alguma semelhança com "Verde é minha raiz/Imperatriz".
- Diferente dos outros dois sambas que priorizam o lirismo, esse finalista é todo valente, pra cima, mais animado. Na segunda parte, o trecho que lembra o lalá do Lamartine de 1981 é bem interessante.
- Gosto do samba, mas acho o que menos se destaca na final.

Minha torcida: Gabriel Mello
Quem ganha: Gabriel Mello

Que tenhamos grandes escolhas, do agrado da maioria dos bambas. Em 2022, se Deus quiser vai ter Carnaval!

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