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DOMINGUINHOS CANTA EM SILÊNCIO


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29 de julho de 2024, nº 3

DOMINGUINHOS CANTA EM SILÊNCIO E DERROTA POLÊMICA DE LECI NA MANGUEIRA

PAU COM FORMIGA

Minutos de silêncio

A Unidos de São Carlos era uma especie de escola ioiô, já que não vencia no grupo principal, descia, e vencia embaixo. Para 76 lançou o enredo "A Arte Negra na Legendária Bahia" de Julio Matos, um tema que exaltava a fé do Candomblé e a cultura africana. Era um temática que estava em voga na época, pois as escolas Império Serrano, Unidos de Lucas e Mocidade Independente também traziam temas ditos afro.

A São Carlos, com o sucesso de 75, vinha confiante em ter boa colocação. Os sambas foram lançados na quadra as parcerias eram as:

Elmo e Ary Silva
Augusto Nunes e Aroldo Santos
Vanderlei Caramba, Caruso e Dominguinhos do Estacio
Naval e Nivaldo
Osvaldo Guedes, Enio e Freitas
Carlos Alberto
Baiano, Jorge Canario e Jaime
Djalma Branco
Marly Santos
Dario Marciano e Aderbal Moreira
Zózimo, Djalma das Mercês e Tim
Luiz Chimbirra e Agenor
Jacy Inspiração e Oliviel
Leleco e Walter
Lourival Boa Memória

Conforme vinha afunilando a disputa, as diferenças e mumunhas iam surgindo, principalmente entre os favoritos, ou queridos pelas alas ou diretores e a principal rivalidade surgiu entre os sambas de Djalmão e do Dominguinhos, ambos do morro, ambos do mesmo contexto.

Dominguinhos preferido por alguns diretores e Djalma pela bateria, que tinha forte influência pelo fato de ter sido diretor antes de ser compositor, ter Delmo como o puxador, que era irmão de Nelson Galinha, um dos lideres do ilegal do morro e batuqueiro de raiz, forte poder na bateria.

Em certo dia Djalmão soube que Dominguinhos estaria na quadra negociado sua vitoria. Não pensou duas vezes, se armou e se dirigiu para a mesma. Chegando lá encontrou Dominguinhos e outros, apontou sua arma na direção e se preparou para atirar. Aroldo Santos, sentindo que a coisa não iria ficar boa, entrou na frente e impediu que fosse deflagrado o pior.

Os cortes continuaram e a final era entre ambos, quadra quente e animada, o morro desceu forte. Na hora do resultado, deu Dominguinhos do Estácio e parceiros.

A bateria se calou, não tocou, não pela qualidade do samba e sim pelo respeito ao derrotado, o seu preferido. Dominguinhos cantava e ela em silêncio, como um luto, ficou muda por muitos minutos, até que por ordem de um dos líderes que determinou o toque, ela tocou, mas se via que não por prazer e sim pelo São Carlos.

PAU COM FORMIGA

Mangueira no marketing da ditadura


Depois do carnaval de 1979, a Mangueira precisava acontecer, mostrar algo mais forte e de apoio popular e do poder. Então buscou em seu novo enredo "Coisas Nossas", um jeito de angariar simpatia de quem mandava no Brasil, para propagar algo vantajoso para a escola. Com o dinheiro sempre escasso, a busca devia ser constante.

Foram 15 sambas para quadra e o que se destacava era o de Leci Brandão e parceiros.

Chegam na final os de Ney João, Aírton e Carlos Roberto; Jorge Zacarias; e Leci Brandão, Zagaya e Quincas.

Todos davam como certa a vitória de Leci, se não fosse considerado político, de protesto e era conhecedor que as diretorias vigentes, desde que Leci entrou para a ala, a via como uma compositora política, com viés de esquerda, uma comunista. Coisa que atrapalhava sua força na escola, embora talento era o que não a faltava na arte de compor, cantora, artista, divulgadora da escola e mangueirense.

Leci chegou à final por uma forma de enfatizar uma mostragem de democracia, falsa com certeza. Enfim Lecy era mulher e assumidamente homossexual, numa época anti democrática e preconceituosa.

Fraca era a safra de samba enredo e a única composição que não exaltava a Petrobrás nos dez itens obrigatórios era a da parceria de Leci. A Mangueira tinha a promessa de levar uma boa grana para ajudar a escola. Se vencesse Leci, o dinheiro não chegaria.

Houve empate e Sinhozinho, presidente do júri, dá seu voto de minerva para o desempate ao samba de Ney João, Aírton e Carlos Roberto. Muitos ficaram em desagrado com a não vitória do samba de Leci.

No desfile, a Mangueira não aconteceu, o samba era considerado muito fraco, de letra pobre e melodia pífia, a ponto de Jamelão com sutileza no desfile das campeãs da Portela tecer a crítica à sua escola pedindo um bom samba para o ano seguinte.

PAU COM FORMIGA

Alívio de Manaceia

Em 1953 a Portela estava decidida a ser a majestade real, querendo superar o Reizinho de Madureira de todo o jeito. Era uma coisa pessoal de Natal, afinal eles haviam sido tetracampeões do desfile oficial e conseguiram anular o resultado de 1952 que daria a vitória certa para os portelenses. Por tanto, a academia de Oswaldo Cruz estava mordida.

Escolheram o enredo "Seis Datas Magnas" e deram para Manaceia fazer o samba. Mas Candeia e Altair Prego (futuro esposo de Tia Doca), viram o enredo e também escreveram um samba para a alegria de Manaceia, que fazia os sambas de enredo, mas não gostava, pois achava que se limitava, não havia uma criação poética e seguia uma criação não dele. Quando surgiram outro sambas, se encantou e se viu no futuro fora dessa responsabilidade.

O samba de Candeia e Altair fincou, foi abraçado pelas pastoras e venceu a disputa, abrindo portas para outros jovens como Picolino, Waldir 59, Jorge Porém...

Dizem que Mano Décio da Viola também fez um samba, não há dados que confirme, mas é certo que o samba de deboche que os portelenses cantaram em Madureira contra o Império era dele.


CANETA DE OURO

Antenor Gargalhada

Antenor foi um dos primeiros gigantes do samba no Morro do Salgueiro, dono de uma senhora voz que diziam que atingia Vila Isabel com sua potência e exímio compositor. Fundador, compositor oficial e principal figura da escola da Azul e Branco do Salgueiro, popular no morro e um dos anfitriões a quem chegasse para as rodas de sambas salgueirense. Sua figura era de extrema importância que, ao morrer, a escola não desfilou.

MUMUNHAS DO SAMBA

Casos que causam

Há um ledo erro em dizer que a talentosa Dona Ivone Lara é a primeira mulher a fazer samba enredo, tal fato é inverídico.

Em 1965, a diretória do Império Serrano resolveu fazer com que a ala dos compositores unissem a Silas de Oliveira e fizessem um samba só para o enredo "Os Cinco Bailes da História do Rio", do quarto centenário do Rio de Janeiro em 1965. Assim, a ala que tinha em seu plantel Alcyr Pimentel, Nina Rodrigues, Maneco, Antonio Fuleiro, Bacalhau, Ailton Negão, Ozório de Lima, Aldno Sá e outros em reunião fizeram o samba. Mas Silas não gostou, achou uma colcha de retalho e melodicamente inconstante. Então ofereceu se para fazer uma outra composição e a diretoria concordou.

Silas chamou Bacalhau para ser parceiro dessa empreitada, ambos compuseram. Mas num ponto a melodia ficou manca e nessa hora Dona Ivone Lara chegava à casa de Silas e consertou tal trecho. Na mostra do samba na quadra, o prospecto não vinha com o nome de Dona Ivone e seu primo, o famoso mestre Antônio Fuleiro, reclamou da falta de seu nome na parceria, que no ensaio seguinte foi incluído.

Quanto ser a primeira autora é erros vil, pois a Unidos da Ponte no grupo inferior já desfilava com sambas de uma mulher: a presidente e compositora Carmelita Brasil, da Unidos da Ponte. Dos anos de 1959 a 64, todos os sambas eram de suas autoria, ora só, ora em parceria e a Dona Andreza do Jacarezinho em 1946 teve sua composição cantada pela Unidos do Morro Azul em parceria com Nonô Crioulo nos desfiles no campo do Vasco.

Nos anos 30, havia a compositora Odeth Serra da Azul e Branco do Salgueiro que, junto a Pedro Barcelos, teve uma quadra de seus versos cantado no desfile.

Por tanto antes de Dona Ivone Lara, houve Carmelita Brasil, Dona Andreza e Odeth Serra (parente de Iracy Serra, pai de Almir Guineto, Chiquinho e Mestre Louro).

Louvemos todas as guerreiras que souberam se impor a ala até então só de homens.

Salve as Odette Serra (Salgueiro), Andreza (Jacarezinho), Ivone Lara (Império), Maria Aparecida (Caprichosos), Varinha (Mangueira), Lecy Brandão (Mangueira), Gisa Nogueira (Portela), Tia Gertrude (Lucas), Mariazinha (Vila), Cila da Portela, Ivanísia (Vila), Aninha Guedes (Vila) entre outras.



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André Poesia