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PAULO DA PORTELA, CENSURA, CASA GRANDE E SENZALA E ASSOMBRAÇÕES DA ILHA

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13 de julho de 2024, nº 2

PAULO DA PORTELA, CENSURA, CASA GRANDE E SENZALA E ASSOMBRAÇÕES DA ILHA

CANETA DE OURO

Paulo da Portela

Numa singela opinião, em minha visão Paulo Benjamin de Oliveira foi o maior sambista da história e digo isso com toda sinceridade e respeito aos outros.

Aprendeu a viver com malandros, sambistas, macumbeiros, políticos, gente da sociedade, artistas, jornalistas e outros.

Paulo era cria da Gamboa, figura popular e respeitosa em todos os setores, caminhava pela Pedra do Sal, Praça Onze, Estácio, Santo Cristo, Morro do Castelo e outros cantos da cidade, era alguém a ser copiado por agir com elegância, habilidade e empenho pelo samba e cultura preta.

Mudou se para o então sertão carioca, o subúrbio Oswaldo Cruz, continuou em sua diretriz unindo se a Dona Ester nas organizações de festejos e fundando as bases da hoje Portela.

Paulo era sambista quase que completo se soubesse sambar, ele compunha, fazia enredo, cantava, tocava instrumentos, de percussão e cordas, desenvolvia enredo, administrava e outros talentos.

Paulo poderia ser dono de todos os sambas oficiais da Portela, porém não se fazia de vaidoso, dando oportunidade e reconhecendo talentos de outros.

Era um acolhedor e uma espécie de embaixador do samba, visitando outras escolas e pessoas da politica, jornais ou influentes em prol do samba, a ponto de inspirar em sua vestimenta o Walt Disney no personagem Zé Cariocas.

Mesmo brigado com a Portela, quando solicitado para receber alguém, se fazia presente e criou a máxima que sambista tinha que ter "pescoço e pés ocupados", que significava gravata e sapato.

No seu falecimento, houve comoção no samba e no mundo festivo do subúrbio e áreas pretas e pobres da cidade, havia presente representantes de todas as escolas de sambas. Foi o maior enterro do subúrbio carioca, houve muitos que fizeram uma caminhada de Oswaldo Cruz a Irajá para seu enterro. Foi o maior gurufim visto, em jornais diziam ter mais de 50 mil pessoas. A cidade enxergou a importância desse homem que políticos tentavam usá-lo e ele os usava em prol de algo que vivia e lutava.

Paulo foi autor dos sambas de 1935, 38, 39 e 40 pela a Portela e de 1946 pela Lira de Ouro de Bento Ribeiro, além de composições ditas de meio de ano.

Paulo viveu de 18 de junho de 1901 a 31 de janeiro de 1949.

PAU COM FORMIGA I

Império e a censura na democracia

Em 1960, o Império Serrano lança seu enredo, o "Retirada de Laguna", tal tema falava da Guerra do Paraguai. Este tema passou pelas escolas Independentes do Leblon, Não É O Que Dizem, Caprichosos de Pilares e Filhos do Deserto sem problema algum, porém o Império Serrano não é igual às outras e a embaixada paraguaia achou uma afronta tal enredo, dizia que a escola estaria humilhando a sua nação. O governo democratico de Juscelino Kubitschek do Brasil começou a pressionar a escola, a associação para que mudasse o tema. E faltando poucas semanas, em nome de uma cordialidade com o país vizinho, mudou-se o enredo para "Medalhas e Brasões".

Tinha que mudar o samba também que já estava em ensaio, uma composição de Silas de Oliveira, Mano Decio da Viola, Fuleiro e Molequinho.

Com a troca de enredo, Silas e Mano Decio tiveram que compor outro samba e colocá-lo na boca do povo.

Claro que a escola desceu prejudicada, improvisada.

Se o regulamento fosse cumprido à risca, a escola teria chegado ao 5° lugar pelo nome que a escola tinha e não pelo valor de seu desfile. Porém Natal da Portela que, insatisfeito com sua escola perdendo pontos por cronometragem, arranjou uma confusão. Bateu no policial chefe da segurança, rasgou mapas de apuração, foi parar no hospital, mas virou a mesa, fazendo que as cinco primeiras colocadas fossem consideradas campeãs. Nesse contexto, Salgueiro, Mangueira, Capela e Império Serrano foram campeãs junto com sua Portela tetra.

PAU COM FORMIGA II

Casa Grande e Senzala

A Mangueira escolheu "Casa Grande e Senzala", baseado no livro de Gilberto Freire. Muitos compositores não gostaram, pois o livro relata que todos se uniram para criar o Brasil, fato inaceitável para quem teve seus antepassados escravizados, suas terras tomadas, sua fé amaldiçoada e nesse contexto, muitos se negaram a escrever como Hélio Turco, mas outros embarcaram para escrever e disputar.

Jurandir, incentivado por Cartola, fez seu primeiro samba enredo com seu parceiro Genaro e com a ajuda sútil do Roberto Paulino, o presidente da escola.

Enredo preparado e sambas na quadra.

Desponta Jurandir e o samba de Comprido como favoritos. Embora o enredo seja mentiroso ou utópico ao extremo, era de força ou esperançoso para o título mangueirense e havia oportunidade de um belo samba.

Jurandir tinha total apoio ao seu samba pela diretoria, mas o morro sorria para o samba de Comprido, Zagaya e Léleu.

No dia da escolha, se vislumbra a vitorias de Jurandir e Genaro, pelo dedo confirmado de Roberto Paulino, mas não contavam com sua honestidade em reconhecer a superioridade do adversário e seu amor a verde rosa.

PAU COM FORMIGA III

A Ilha na pancada do Assombro

A Ilha queria ser grande e não só mais a escola simpática, principalmente com o pífio desfile de 1985.

Marquinho Corrêa, filho do capo Raul Capitão, o senhor do jogo de bicho na Ilha, abraça a escola, investe nela e monta uma equipe contratando Arlindo Rodrigues, um dos magos do carnaval e traz de volta ao microfone a eterna voz da União, o grande Aroldo Melodia.

Arlindo lança o seu "Assombrações", a escola em festa, as parcerias montadas para a disputa. Algumas parcerias já saíram como favoritas pelo nome dos compositores.

Ao ir afunilando a disputa, Franco torna-se favorito, embora pelo nome e torcida Almir Guineto e Didi também disputa o favoritismo. Afinal Almir Guineto era o homem samba e Didi o maior vencedor de samba da época. A parceria de Robertinho Devagar crescia aos poucos.

Os bairros da Ilha se dividiam nas torcidas. O pessoal da Ribeiro era do Almir Guineto, a Estrada da Bica eram do Barbicha, a Cacuia e Cocotá se dividiam entre Didi e Devagar; e Franco invadia todas as veredas.

Fato interessante era que, desde 1978, todos os sambas vencedores eram ora de Didi (1978, 79, 82, 84 e 85), Robertinho Devagar (80 e 83) ou Franco (81).

Na realidade, o samba do Didi e Almir seguia pelo nome e torcida e não por qualidade.

Na semifinal, fugi de casa para ir a quadra. A quadra cheia, uma festa bonita, os três sambas cantaram com afinco, cada um ao seu estilo, mostrando seus valores.

Na hora de anunciar quais fariam a final, a coisa ficou pesada. O samba de Didi e Almir Guineto foi cortado e não foi muito aceito pelos compositores e torcedores. O tempo escureceu e houve troca de socos, na portaria da escola.

Na semana seguinte, a grande finalíssima com Franco de um lado e Robertinho Devagar, Marcio André, Luiz Barbicha e Armandinho do outro. Durante a semana, as especulações eram correntes, falava-se de tudo.

Na semana seguinte, mas uma fuga minha para a quadra na grande finalíssima. O show estava bonito, as torcidas cantando bonito os sambas acompanhando os cantores.

Resultado anunciado: vence Robertinho Devagar e parceria. Franco e sua torcida não aceitam a derrota e mais uma vez acontece troca de socos, mas dessa vez a coisa ficou complicada, pois Franco foi suspenso da ala e troca oficialmente a Ilha pela Caprichosos de Pilares.

Porém na surdina, continua a compor para Ilha junto com J. Brito e Bujão, vencendo as disputas de 87, 89 e 90, retornando à ala oficialmente para 91.


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André Poesia