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18 de setembro de 2024, nº 38
Coluna anterior: Sambas de Enredo na Voz de Jair Rodrigues Coluna anterior: Alô alô Brasil, alô alô Carnaval... Viva o Cinema Nacional! Coluna anterior: Cinco Enredos Esquecidos de Personalidades HOMENAGEM AO COMPOSITOR JACY INSPIRAÇÃO Amigos do Sambario! Quem vos escreve novamente é Túlio Rabelo, do canal no YouTube TR - Sambas de Enredo.
Desta vez, para homenagear o grande compositor e puxador Jacy
Inspiração, nascido em 1946. Com um estilo
melódico sensacional, Jacy é de fato
Inspiração para muitos sambistas. Não o
conheço pessoalmente, mas sou um profundo admirador de sua obra.
Como apreciador da história dos sambas de enredo e como
compositor, tenho Jacy como um pilar, uma referência. E digo
mais, mesmo que seja uma opinião impopular, Arrastão de
Cascadura 1989 “Zezé, um Canto de Amor e
Raça” é para mim o MELHOR SAMBA ENREDO DE TODOS OS
TEMPOS. Dito isso, nesta coluna vou apresentar uma pesquisa a respeito
de sambas de enredo que ele fez, sejam os oficiais, quanto
também raros áudios de sambas que concorreram pelas
agremiações e tive o prazer de encontrar. O foco
será então mais nos sambas enredo, nas
informações a que tive acesso no decorrer de minhas
pesquisas. Vale destacar, que aqui no site Sambario, tem a ficha do
Jacy Inspiração, que você pode conferir clicando aqui.
De início, segue uma matéria do O Jornal, do dia 15/03/1973, no qual Jacy é entrevistado e conta um pouco de sua trajetória até aquele momento. Na matéria, como podemos ver, Jacy vincula a origem de seu nome artístico ao Maestro Villa Lobos, bem como é citado sua admiração pelo Império, sua presença no desfile do Salgueiro como folião e no do Bloco Quem Quiser Pode Vir como puxador. Jacy também destaca que sua primeira aparição foi no Festival de Favelas de 1969. A matéria não cita, mas Jacy iniciou sua trajetória na Unidos de São Carlos e no Bloco Vai Quem Quer, de Catumbi. Mais ou menos naquele momento, o poeta Jacy Inspiração lançava compactos e o seu excelente disco de 1974.
É importante citar que Jacy Inspiração já foi tema de um documentário, nos anos 2000, intitulado “Jacy Inspiração – A Cara do Brasil”, dirigido pelo francês Clément Craustez, o qual resume as dificuldades encontradas pelo sambista no processo de compor o samba, escolha e ainda para conseguir sucesso na avenida. No documentário, é mostrado bastidores de um samba concorrente de Jacy Inspiração e Henrique Badá pra Unidos da Tijuca 2008 [procurei e não encontrei a gravação deste samba], bem como imagens raras do Bloco Coração da Coroa, que pelo que pesquisei seriam imagens dos anos 90 e que este seria um Bloco de Empolgação. É mostrado também a participação de Jacy em outros Blocos. Sambas Enredos Oficiais No que tange a samba enredo, melodias encantadoras e atemporais embalam sua trajetória. Não há como decifrar a magia que é ouvir as melodias de Jacy Inspiração. Só ouvindo pra sentir o arrepio. No Arrastão de Cascadura, oito ótimos sambas embalaram a agremiação na avenida. “Mambembes e Mamulengos” (1980, com Amauri, Barreto e Netinho); “Brasil Verde e Amarelo” (1982, com Amauri e Netinho); “Barravilhosa” (1983, com Netinho e Amauri); “Águas Lendárias” (1984, com Netinho e Amauri); “Depois do Mal Feito, Chorar Não é Proveito” (1985, com Netinho e Amaury); “Festa para Orfeu Negro” (1988); “Zezé, um canto de amor e raça” (1989, com Netinho, Amaury e Bebeto Arrastão); “As Icamiabas” (1996, com Amaury, Netinho e Guto, reeditado em 2024). O samba de 1982 é uma verdadeira carta de amor ao Brasil: “Que lindo / Emoldurar-te em poesia / Num canto cheio de esperança / Bordado em ouro / E neste cenário de belezas mil / Viajar aos quatro cantos / Pra te decantar Brasil [...]” Em 1985, vestido de natureza e bordado de poesia, mergulhamos na folia com os mais belos “Eu sou…” e “Sou eu…” de todos os tempos. “Sou eu as Sete Quedas que você matou / Pedaço de floresta que você sei lá / Sou eu a borboleta que beijava a flor / Eu sou o passarinho que cantava o amor / Sou eu, sou eu, sou eu / O arco-íris que enfeitava a serra / Sou eu, sou eu, sou eu / A luta pelo pouco que ainda resta // Ai, eu sou / Ai, eu sou / Retalho das belezas / Que o progresso lentamente exterminou [...]”. A impactante mensagem final fecha o samba com chave de ouro: “Que mundo é esse mamãe / Que mundo é esse / Que até parece que está chegando ao fim / Que mundo é esse mamãe / Que mundo é esse / Que se maltrata a natureza tanto assim”. Um ano antes de homenagear Zezé Motta, o Arrastão de Cascadura foi campeão do terceiro grupo com uma homenagem a Haroldo Costa, cujo título do enredo era “Festa para Orfeu Negro”. O samba, lindo tal qual o do ano seguinte, desperta em mim o desejo de um dia vê-lo com uma gravação caprichada, uma reedição, chegando ao conhecimento dos sambistas. O único registro que temos não é completo. O Jacy Inspiração cantou quase todo em uma entrevista dada ao programa Apolo do Samba, apresentado por Jorginho Leandro, no dia 29/07/2017. Confira a letra: “Vem que é hora / Vem extravasar sua alegria / E festejar com o negro / Hoje também é seu dia / Vem de lá... Menininha / Espalha seu axé para essa massa / Bailam iaôs / É da raiz / O passo e o compasso do dançar do povo / É Dona Santa... Rainha do Maracatu / Paraíso abriu-se em flor // Quem um dia lamentava na senzala / Se fez majestade, coisas do amor // Chico Rei / Inteligência, esperança, liberdade / É a luta, é o sangue, é a raça / Ecoa o brado forte de Zumbi / Uma saudade, uma estrela Clementina / Cintilando forte na constelação / É arte, a cultura e o talento / É o negro muito mais razão // Esta pele não desbota / Faz o mundo multicor / E me envolve / Na beleza deste show” Assista a entrevista completa Chegamos então ao que na minha opinião é o MELHOR SAMBA ENREDO DE TODOS OS TEMPOS. “Zezé, um Canto de Amor e Raça” (1989), ganhador de Estandarte de Ouro, é um samba que merecia ter sido regravado centenas de vezes, estar no rol dos clássicos do gênero, ser quem sabe regravado por Neguinho da Beija-Flor em suas coletâneas. A emoção que este samba passa é inexplicável. Que letra!!! “Sou um pedacinho desta festa / E lá vou eu nesta folia / Peito aberto pra te decantar / Oh Zezé, tu és razão deste poema / Da nossa escola muito mais que tema / Tu és a própria arte viva no cordão / Quero é mais eternamente ver-te em cena / Nos palcos dos teatros desta vida / Negra pura, flor mulher / Sinto que o vento sopra um canto de amor / Hoje as raças se irmanam / Tudo se transforma neste show // É a dança, é a ginga / Deixa o corpo balançar / Este mar de alegria / Faz a onda te levar // Emoldurei-te em pensamento / Bordei a tela no meu coração / Poxa, tu estavas tão bonita / Revivendo a Negra Xica, que fascinação / Anda que ainda é tempo / Tempo de mostrar bem mais / É a glória do artista / Mais que artista, um mito que não se desfaz // O talento corre os ares / Corre chão / É Zezé / Nos braços da multidão”. Em 1996, com direito a reedição em 2024, o Arrastão encanta com as Icamiabas, em mais um samba de raríssima inspiração. Começa bem “Amazônia / Ao me vestir de verde nesta festa / Venho descrever em poesia / A viagem encantada na floresta”, fascina com seu refrão do meio “E deixa o sol brilhar / Com todo seu clarão / Pra gente caminhar / Por essa imensidão” e finaliza de forma antológica “Se de presente eu ganhar / Uma alegria sem fim / Vai ser tão gostoso dividir”, com talvez o refrão mais bonito de todos os tempos. Jacy Inspiração ganhou em outras agremiações também, com sambas dignos de antologia. Engenho da Rainha 1986 "Ganga Zumba, Raiz da Liberdade" , reeditado em 2007, é o melhor samba da história da agremiação e ganhou Estandarte de Ouro: Jacy fez parte da tripla junção de sambas enredos da Grande Rio para “No Mundo da Lua” (1993), que rendeu um samba aclamado na história da agremiação. Em 2000, na Unidos da Tijuca, seu samba “Terra dos Papagaios... Navegar foi preciso!”, com Henrique Badá e Édson de Oliveira, embalou a agremiação ao desfile das campeãs vindo de um acesso no ano anterior. “É lindo ver tremular / Bem alto o seu pavilhão / E repartir esta alegria com a multidão // Paz, amor e esperança / Uma voz anunciou / É chegada a nova era / Abençoada pelo Criador” Dois anos depois, na Cubango, vence com “África, o exuberante paraíso negro” (com Celso Tropical, Rogerão e Gilberth Castro). Segundo relatos, Rico Medeiros gravou a versão da disputa da campeã do Grupo B, cujo áudio infelizmente não temos disponível até o momento. Dez anos depois, no Império da Tijuca, um samba que talvez tenha passado batido por muita gente, devido ao sucesso que foi o Acesso de 2013 e a passagem pelo Especial em 2014. "Utopias - viagens aos confins da imaginação" (Fernandão, Henrique Badá, Jacy Inspiração e Cabral Gadioli), de 2012, tem o toque de Jacy Inspiração. A gente ouve e vê a linha melódica de Jacy ali. Uma poesia de real valor e mais uma vez Jacy traz mensagens de paz e alegria para a humanidade: “Que bom fantasiar o dia-a-dia / Mesmo que seja utopia / A vida fica mais bonita assim / Quero extravasar minha alegria / Desfilando por lugares que em sonho conheci”. Pérolas Desconhecidas - Sambas Concorrentes Vamos agora mergulhar por sambas concorrentes do Jacy. Sambas que tive o prazer de trazer à tona em meu canal TR - Sambas de Enredo. Você sabia que Jacy Inspiração, junto a Nêgo, Nogueirinha e Washington, era favorito a vencer na Unidos da Tijuca para 1992 “Guanabaran, o Seio do Mar”? O samba, gravado por David do Pandeiro era digno de antologia. Graças aos relatos de Luciano Brás, ao acervo de Flávio Souza e a digitalização de Bruno L. Surcin, temos este fonograma raríssimo. Aprecie! “Gira baiana, quero ver girar / Deixa a brisa no compasso te levar / Navegando no balanço desse mar // Oh doce fonte… / Que inspira, encanta e seduz / Obra que a mãe natureza / Divinamente moldou / Na imaginação eu sou / O índio que habitava aquela aldeia / Talvez Fenício que a mensagem / Duas pedras escreveu / Vi portugueses chegando / O barco aportando, tudo era de paz / Aventureiros nas águas / Prenúncio de guerra, conquistas demais / Guanabaran... testemunha viva dessa história / Nesse encontro de raças / Me vem à memória cantar e louvar // Odoiê, Odoyá / Na crença, no rito, na reza / Mistérios e frutos / No seio do mar // Suas ilhas são... / Pedaços de um coração / Recantos que guardam segredos / Refúgios pra se deleitar / As luzes de um palco da vida / Momento de raro esplendor / Na dança as ondas do tempo / O show da cabrocha que ao mundo encantou / E ao te ver assim... cartão postal do Rio / Desaguando junto a multidão / Te preservar é dar a vida mais razão”. Seguindo na Unidos da Tijuca, em 2003 um bom samba para o enredo Agudás, em parceria com Nego, Jacy Inspiração, Gilberth de Castro e Henrique Badá. Já em 2004 um samba que poderia muito bem ter vencido e entrado para a história. David do Pandeiro, assim como em 1992, é a voz da parceria. Temos gravação do acervo de Flávio Souza feita ao vivo na quadra, bem como a gravação de estúdio. Jacy Inspiração, Gilberth Castro, Rogerão e Henrique Badá são os compositores. Confira a letra: “Deixa a máquina do tempo me levar / Nesse mar de fantasia vou navegar / Pensamento voa longe e me faz sonhar / E foi sonhando que o homem encontrou / A luz da ciência, o Q da questão / Mergulhado nas pesquisas viajou / Deu asas a imaginação / E foi criando tanta coisa / Quem sonha não sonha em vão / Hoje a Tijuca engalanada / Vem interagir com a multidão // Amor amor é hora / Vem comigo despertar / São tantas as maravilhas que um sonho traz / A gente também é capaz // Parecia ser loucura / Que um objeto mais pesado do que o ar / Um dia percorresse o infinito / Que vontade de voar / Experiências, alquimistas / Mistérios ou magia, eu sei lá / Eu quisera ser um mago / Para um sonho desvendar / Nessa luta em busca da eternidade / A energia faz o coração pulsar / O desfecho dos segredos da clonagem / Fica por conta do futuro revelar // Vai... meu sonho vai buscar / Além do horizonte existe um algo mais / Quem sabe no amanhã eu possa recriar / É lindo ver o povo desfrutar”. Segue AO VIVO NA QUADRA E segue a VERSÃO DE ESTÚDIO COMPLETA Em um registro a capela, cedido ao canal, meu amigo Edson Brasil relembrou Unidos do Uraiti 1992. Segundo relato dele: “Tem um samba de Jacy Inspiração que não esqueço. Ouvia na Rádio Nacional (Programa do Tárcio Santos) e tinha certeza que era da Unidos do Uraiti 1992. Gravava alguns em fita k7, mas perdi com o tempo. Era o Jacy Inspiração na gravação do samba”. Complementando a informação, Luciano Brás relatou o seguinte: “Esse é de fato o samba da Unidos do Uraiti 1992. O próprio Jacy Inspiração cantou na avenida. Ouvi esse samba umas duas vezes só na época”. Confira a letra: “Ao transportar… / O Reino que Ossanha encantou / Em verso me encontro na mata / Nos quadros que o artista moldou / Arreda menina do medo / O que assombra essa imensidão / Saci, Boitatá não importa / Se a lua me empresta o clarão / Fascina ver tanta beleza / É a natureza enfeitando o chão // Nesse enfeite com sabor de vida / Tanta história pra contar / No bailar das flores o compasso / Faz a vida me purificar // Canta passarinho canta / O seu toque de alvorada / Ecoa forte pelos ares / Salve os Deuses, salve a África! / Mistérios que rodam no tempo / Nós vamos desvendar nessa folia / É lindo ver o povo irmanado / Em defesa da ecologia // Do infinito Guaraci desponta / Iluminando a flor de um novo dia / Navego nesse mar com esperança / Extravasando minha alegria”. Há também o registro a capela, cedido por Luciano Brás e Edson Brasil, de um samba finalista de Nego, Jacy Inspiração, G. Martins e Adão Conceição na Grande Rio em 1994. Era um samba bem cotado na época. Representando os sambas mais recentes, lembro aqui do concorrente de sua parceria (Jacy Inspiração, Sérgio Gil, Lee Santana, Lucas, Maurício, Hermerson, Fernando De Lima, Jorge Lapa) para a Estácio de Sá em 2019 “A Fé que Emerge das Águas”. Nesta coluna procurei compartilhar informações a que tive acesso referente a carreira de Jacy Inspiração no âmbito do samba enredo. Logicamente a vida do Jacy Inspiração vai muito além do que citei aqui. Inclusive o Documentário, citado no início da coluna, destaca isso. Finalizo agradecendo ao Jacy Inspiração por tudo que fez e faz pelo nosso samba. MELODIA, ALMA, PAZ, ALEGRIA, INSPIRAÇÃO. “SE DE PRESENTE EU GANHAR UMA ALEGRIA SEM FIM, VAI SER TÃO GOSTOSO DIVIDIR…” Leia as colunas anteriores de Túlio Rabelo Inscreva-se no canal SAMBARIO no YouTube
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