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ALÔ ALÔ BRASIL, ALÔ ALÔ CARNAVAL... VIVA O CINEMA NACIONAL!
         

25 de junho de 2024, nº 35

ALÔ ALÔ BRASIL, ALÔ ALÔ CARNAVAL... VIVA O CINEMA NACIONAL!


Amigos do Sambario! Quem vos escreve é Túlio Rabelo, do canal TR - Sambas de Enredo. Estamos no mês em que é celebrado o Dia do Cinema Brasileiro (19 de Junho), data em que 126 anos atrás, o italiano Affonso Segretto registrou as primeiras imagens do Brasil, dando início ao cinema nacional. Sendo assim, nesta nova coluna, faço a lembrança de alguns enredos que renderam homenagem ao cinema nacional.

“Essa Dupla é Uma Parada (Eliana Macedo e Adelaide Chiozzo)” - Unidos de Bangu 1978

Começamos com uma verdadeira relíquia recém resgatada e por isso peço licença para me alongar mais na apresentação deste primeiro enredo citado. O canal CTAv Centro Técnico Audiovisual publicou em fevereiro de 2024 um vídeo simplesmente fantástico, cujo material advém do SRTV - Serviço de Rádio e Televisão da Embrafilme. Imagens que fazem os olhos brilharem, os ouvidos delirarem de fascinação. São imagens da disputa de samba enredo da Unidos de Bangu para 1978. As homenageadas do enredo “Essa Dupla é Uma Parada”, as atrizes Eliana Macedo (1926-1990) e Adelaide Chiozzo (1931-2020), estão presentes assistindo e apreciando os sambas. Grande Otelo (1915-1993) também se fez presente, sendo lembrado no enredo junto a citação de Oscarito. No vídeo é possível ouvir, completo ou em trechos, 8 sambas concorrentes + o samba campeão, bem como agradecimentos dos homenageados. Curiosamente, em uns dois segundos da gravação, é possível ver também um pequeno registro do desfile da escola.


Segue foto das duas homenageadas e do Grande Otelo no evento:


 
O título do vídeo cita o Império Serrano, que estava homenageando Oscarito em 1978. Entretanto, exceto com a participação de um componente no evento, não notei a presença do Império Serrano no vídeo. Mas não é impossível imaginar que tenha acontecido gravação semelhante para o tema da serrinha. Tal evento, pelo que pesquisei, fazia parte de uma série de eventos que aconteciam por todo o país chamado “Nosso Cinema 80 anos”, notável nas fotos abaixo:

 
Beleza, mas como é que sabemos qual samba ganhou a disputa? Eu não tinha ideia de qual samba venceu, então pesquisei nos jornais da Hemeroteca Digital….

 
Note que em 03/02/1978 o Jornal do Brasil cita, em matéria perto do desfile, que o samba que vai embalar Bangu na avenida é o de Crioulo Nilo, que tinha os versos: “recordar em passarela / duas estrelas tão belas / e os seus triunfos / revivendo suas histórias / hoje coberta de glórias”. Sabendo disso, encontrei tal samba sendo tocado nesses momentos do vídeo: 07:35 - 08:58; 23:59 - 24:51. Em pesquisa prévia ao SIAN (Sistema de Informações do Arquivo Nacional), não era possível achar a letra de Unidos de Bangu 1978 com pesquisa simples. Sabendo da notícia jornalística e a partir do que é cantado no vídeo, usei o verso “Carnaval do Fogo” e assim encontrei o arquivo com a letra completa. A partir disso, notei que infelizmente o vídeo não traz o samba completo, faltando os versos finais.


 

Letra transcrita: “Vamos recordar em passarela / Duas estrelas tão belas / E os seus feitos triunfais / Revivendo a sua história / Hoje coberta de glória / Exaltando seus talentos nos cinemas nacionais / Sinfonia Carioca / Carnaval no Fogo foi a grande sensação / Aviso aos navegantes, fato marcante / Quando Adelaide Chiozzo cantou esta canção… / Que beijinho doce, que ele tem / Depois que beijei ele, nunca mais amei ninguém... // Que coisa boa é gostar de alguém // Agora fale com sinceridade / Hoje eu sinto saudade / Do filme que passou...  / Quando em cena aparecia, / Oscarito e Grande Otelo / Toda plateia sorria  / Eliana, seu talento e beleza / Que a todo Brasil conquistou  / Sendo a dupla uma parada, / Adelaide e Eliana / Hoje o Unidos consagra... (ao recordar...)

Segue uma playlist, onde além deste vídeo raro e do samba campeão, coloquei separadamente o registro dos 8 sambas concorrentes: 

Eu, particularmente, gostei mais de alguns sambas concorrentes do que do próprio samba vencedor. O primeiro concorrente é lindo, com o marcante refrão “Revista do Rádio / Vamos falar de Eliana / E Adelaide Chiozzo / No enredo maravilhoso”. Refrão bem gostosos como “Bate palma minha gente / Para matar as saudades / Vamos aplaudir de novo / Eliana e Adelaide” e “No cinema… / A dupla é a atração / Eliana na dança / E Adelaide na canção” poderiam muito bem ter embalado a escola. O concorrente dos versos “Exaltamos nestas lindas telas / Estas cenas tão belas / Que ficaram marcadas / Eliana e Adelaide… essa Dupla é uma Parada / E brilham as estrelas na avenida iluminada (Oh…)” traz melodia de extrema inspiração.

A seguir falarei de outro samba desse ano de 1978, para a Mocidade Independente de São Mateus de Juiz de Fora/MG. Também há a informação de que a Combinados do Amor de Niterói/RJ rendeu homenagens ao cinema nacional naquele ano. 

“Cinema Nacional 8 Décadas de Ouro” - Mocidade Independente de São Mateus 1978

Continuando portanto em 1978 e com a então comemoração dos 80 anos do cinema nacional. Outra vez, lembrando uma raridade do canal CTAv Centro Técnico Audiovisual, advinda do acervo do SRTV - Serviço de Rádio e Televisão da Embrafilme. O enredo sobre o cinema agora lembrado vem de Juiz de Fora/MG, com um samba espetacular da Mocidade Independente de São Mateus. As imagens são lindas, rica em cores, alegria… nostalgia!!!


Escute o samba enredo, de Gilberto Vaz de Melo (Jubinha), Vornei Leite de Oliveira e Luiz Antônio, gravado em raro compacto por Edna Santos e Trio Bemol.

 
Letra transcrita: Através da nossa história / Oito décadas de glórias do Cinema Nacional / A Mocidade Independente / Une o passado ao presente neste Carnaval / Sublime, a ideia, fato que surgiu (que surgiu) / De um sonho fascinante / Esse pensar gigante / “O Cinema do Brasil” / (Valores…) Valores… imortais de nossas telas / Emoldurando a passarela / É um só todo a engalanar / Mostrando do nosso acervo cultural / Personagens e imagens / No cenário nacional // Oi, roda a fita roda / Que o roteiro vem mostrar / O fascínio de uma arte / “Um grande elenco a desfilar” // (Lalaiá…) Neste enredo de alegria / No painel da ilusão / Canta meu povo canta / Dentro da imaginação (Através…)

“E o Cinema Virou Samba, tem Pipoca no Ar” - Acadêmicos do Sossego 1996

Agora estamos em 1996, ano em que a Sossego fazia sua estreia no carnaval carioca, obtendo o vice-campeonato do Grupo E. O desfile, resgatado por Almir Jhunior, é um dos raros momentos de desfiles da Avenida Rio Branco disponíveis na internet.

 

Assim que você adentra ao vídeo, você observa ao fundo um samba bem gostoso, com refrão popular. Para registrar em vídeo o samba, busquei a letra no Jornal O Fluminense 2º Caderno de 15/02/1996 e, a partir disso, montei duas passadas de áudio do samba. Infelizmente, para isso, tive de fazer remendos, mas vale o registro. O verso “E encontrar Leila Diniz”, por exemplo, só encontrei em um segundo específico do vídeo, tendo ficado feliz quando o encontrei na época em que editei. Escute o samba dos excelentes Heraldo Farias, Vicentinho, Flavinho Machado, Jorge Baiano e Jorge Russo.

 

Letra transcrita: “Alô alô Brasil / Alô alô Carnaval / Eu sou a Sossego / Mostrando o cinema nacional // Luz, câmera e ação / Tem pipoca sambando pra lá e pra cá / Acendem as luzes do coração // A sessão vai começar // Não é proibido sonhar / Pegar Um Trem Para as Estrelas / A Caminho do Céu / E encontrar Leila Diniz / Maria Bonita / O Samba da Vida cantando / Mostrando o que é ser atriz // De lá Este Mundo É Um Pandeiro / Rio, Fantasia e amor / Lampião O Cangaceiro / Nas Noites Cariocas de esplendor // Não sou Cafajeste / Nem O Ébrio vagabundo / Vou Pintando o Sete / Com Todas as Mulheres do Mundo / Quando o Carnaval Chegar / O lanterninha já partiu / Não Adianta Chorar, eu vou despertar / Bye Bye Brasil”.

Outros enredos…

Nesta coluna, optei por ter como foco os três casos acima, mas neste momento faço a lembrança de outros enredos destinados ao cinema nacional.

Em 1973 a Independentes de Cordovil desfilou pelo Grupo 2 com o tema “Festival do Cinema Brasileiro”, cujo samba, de autoria de Lola, Pernambuco e Carlinhos foi gravado em disco:

 

Os mais conhecidos do Carnaval Carioca, sem dúvidas, são os temas do Salgueiro 2011 “Salgueiro Apresenta: O Rio no Cinema” e da Caprichosos de Pilares 1988 “Luz, Câmera e Ação”.


  

Em São Paulo, a Acadêmicos do Tucuruvi rendeu homenagem a Mazzaropi no Carnaval de 2013, bem como a Colorado do Brás, que em 2017 apresentou “Luz, Câmera, Ação, a Colorado Apresenta: a ‘Roliúde’ No Sertão”. Veja o desfile da Tucuruvi em 2013:

  

Se eu estendesse a todos os atores e atrizes, jamais terminaria essa coluna. Mas, vale a lembrança de Estácio de Sá, que em 1986 homenageou Grande Otelo, bem como outros Blocos de Enredo ao longo do tempo.

Vale lembrar homenagens a cineastas como Glauber Rocha, na Lins Imperial em 1983, Cacá Diegues na Inocentes de Belford Roxo em 2016 e, Zé do Caixão, lembrado no enredo da Unidos da Tijuca 2011 e da Independente Tricolor 2018. As companhias cinematográficas também foram tema de enredo, como a Atlântida Cinematográfica, lembrada pela Camisa Verde e Branco em 1976 em "Atlântida e suas Chanchadas", Bloco Unidos do Cabral em 1977 “Assim era a Atlântida” e pela Unidos do Jacarezinho em 1995 “E o Jacarezinho descobriu a Atlântida, a tela perdida”, além da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, vedete dos anos 50, que foi enredo da Rosas de Ouro em 1989. Veja a vinheta da Rosas:

 

Veja a letra do Bloco Unidos do Cabral de 1977, extraído do Sistema de Informações do Arquivo Nacional:


No âmbito virtual, o cinema já passou também, viu! Lá nos primórdios, na LICAV (Liga do Carnaval Virtual) a G.R.E.S.V. Rainha Negra ficou em terceiro lugar no Grupo Especial com o enredo “Cinema - Asas da Imaginação - Do Brasil para o mundo, a nossa arte de entreter”. Em 2008, no Carnaval Virtual a  GRESV Acadêmicos do Setor 1 fez o enredo “Retratos do Brasil , Luz, Câmera, Ação”, sendo campeã de seu grupo. Agora em 2024, na LIESV, quem canta o cinema nacional é a Vagalume Sossegado com o tema “Traz uma História de Cinema”, embalado por samba do compositor Edson Jóia, cujo letra é: Tupi or not tupi / Eis a questão do cinema brasileiro / Vistoriando a Baía da Guanabara / Minha mente se depara / Com uma história de sucesso / Brilhantemente a cinédia surgiu / Carmem Miranda ganhou fama internacional / Primeira estrela do cinema nacional // Quá, quá, quá...vamos sorrir e cantar / Se liga que a chanchada está no ar / Desajeitado o Jeca sambou / Mas com o samba triste de Orfeu ele chorou // Aqui não é Hollywood / Mas com atitude / O cinema novo evoluiu / É de arrepiar, Zé do Caixão querendo almas levar / E pra romper os grilhões / Da famigerada censura / A pornochanchada erotizou com humor / Com talento se deu a manifestação / Carlota Joaquina e Tieta / Vem gargalhando com o Auto da Compadecida / Da Central do Brasil a Cidade de Deus / Vejo na tela a cara de nossa gente / Esse povo de bravura de um bacurau / Assiste sua história real / Astros e estrelas / Do Carnaval Virtual // Sou iluminado / Em cena um VAGALUME SOSSEGADO / Eis a sétima arte no telão / Magia que encanta o meu coração //