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CINCO ENREDOS ESQUECIDOS DE PERSONALIDADES
        

8 de junho de 2024, nº 34

CINCO ENREDOS ESQUECIDOS DE PERSONALIDADES


Amigos do Sambario! Quem vos escreve é Túlio Rabelo, do canal TR - Sambas de Enredo. Nesta nova coluna, com viés de curiosidade, apresento 5 enredos com homenagens bem raras e específicas, digamos que inesperadas, a personalidades do Brasil e de todo o mundo. Vale enfatizar, antes de mais nada, que são todos enredos dignos, homenagens de real valor, mas que, por não serem lembradas pelas agremiações, são peças raras. Considerando que a presente coluna foi escrita em Junho de 2024, vale dizer que essa conjuntura pode mudar no decorrer do tempo, com esses homenageados sendo mais lembrados. Venha comigo, em mais uma viagem ao fundo do precioso baú cultural dos Blocos de Enredo e das Escolas de Samba.

1 - Bloco Alegria de Copacabana 1977 (Leila Diniz)


Breve ficha da homenageada: Atriz brasileira e mulher à frente de seu tempo, Leila Diniz morreu jovem, aos 27 anos, vítima de um acidente aéreo, no dia 14 de junho de 1972. Ela estava no voo 471, da Japan Airlines, que voltava da Austrália e caiu em Nova Delhi, capital da Índia. A atriz fez presença em 14 filmes, 12 telenovelas e várias peças teatrais, tendo sido protagonista da primeira novela produzida pela Globo, "Ilusões Perdidas", em 1965.

 
Passados cinco anos de sua morte, o Bloco Alegria de Copacabana levou para a avenida em 1977 o enredo “O ABC de Leila Diniz”, tendo obtido a décima colocação no primeiro grupo dos Blocos de Enredo. A letra destaca que Leila foi o símbolo do amor, a soberana do Arpoador, além de citar Janaina, sua filha, nascida em 1971. Infelizmente, não temos a gravação deste samba enredo, pois não houve LP dos Blocos naquele ano. Até aconteceu um Especial de TV no Programa Rio Dá Samba, com João Roberto Kelly (TV Rio), mas não há rastro deste vídeo até o fechamento desta coluna. Pode ter havido alguma gravação rara deste samba, mas não há rastro também. Embora eu tenha colocado uma foto da letra acima, extraído do site Arquivo Nacional, segue, para facilitar, a transcrição da letra, dos compositores Sérgio e Bororó: Hoje tudo é alegria / Hoje vamos todos exaltar / Num belo cenário / Uma estrela está cantando / O seu ABC todos vão cantando / Leila, ô Leila Diniz / Garota de Ipanema // Tão bela / Cheia de amor pra dar / Como pode o destino / Pra tão longe te levar? // A praia, o sol, o mar / Tudo isso amou / O samba e Janaína / A sua amada menina / No palco, no cinema, na TV / A linda morena / Todos gostavam de ver // Leila você que foi o símbolo do amor / Assim cantamos todos em seu louvor / Oh Soberana do Arpoador // Foi o que foi / Ensinou o ABC / Foi Mangueira / E Flamengo até morrer

Após a postagem da coluna, João Perigo, pesquisador do Carnaval de Niterói, fez a lembrança de outro enredo em homenagem a Leila Diniz, na Souza Soares pro Carnaval niteroiense de 1976. Letra transcrita: Chegou a hora do samba / Homenagear quem foi tão querida / Leila Diniz que viveu a vida / Como deve ser vivida / Desde menina mostrou / Seu talento, seu valor // E hoje, nesse momento de glória / Retratamos sua história / Neste Carnaval // Como professora despontou / Junto aos seus alunos / No teatro e no cinema / Deu um verdadeiro show de interpretação / Quem não se lembra da banda / De Ipanema que a consagrou // Vem de ré que estou de primeira / Cantarolando nesta linda brincadeira // Abram alas pessoal! / Tem banana na banda / No Carnaval!

2 - Acadêmicos do Sossego 1983 (Millôr Fernandes)

 
Breve ficha do homenageado: Millôr Fernandes (1923-2012), nome artístico de Milton Viola Fernandes, foi um desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Ficou marcado por suas colunas de humor gráfico em publicações como Veja, O Pasquim e Jornal do Brasil.

 
No Carnaval de 1983, a Acadêmicos do Sossego levou pra avenida o enredo “Papáverum Millôr”, uma homenagem a Millôr Fernandes. O nome do enredo é, na realidade, o nome de um livro de poesia do Millôr, lançado inicialmente em 1967. Curioso é que a agremiação estava na elite de Niterói, mas não fez presença no LP daquele ano, ficando sem registro fonográfico (a não ser que exista uma gravação mega rara que não temos conhecimento). Segundo a matéria acima do Jornal O Fluminense, o carnavalesco era Antenor e os compositores Paulinho Macalé e João Jururu. Segue a transcrição da letra: Iluminado pela arte e humor / Ao editar o Pif-Paf Millôr / Delineou… o seu começo / Sua pena traçou e troçou / Pintou Painéis e virou (o que) / Nossas mágoas pelo avesso / No mais rico estilo atual / Os aspectos convencionais / Da vida… “Social” / Glosa com sátiras intelectuais / Pois é… // Computa, computador computa / E vai vencendo o homem nessa luta // Trazendo a visão Lógica / Da nova semântica “Nuclear” / É a revelação teológica / No palco a representar / Abre como um novo mundo / Seu “livro branco do humor” / E o Sossego com azul de fundo / Mostra todo o esplendor // (E por fim…) Por fim de mim a semente / Cairá e nascerá a flor / E peço simplesmente / Chamar Papáverum Millôr

3 - Unidos de São Cristóvão 1977 (Jacob do Bandolim)


Breve ficha do homenageado: O carioca Jacob Pick Bittencourt (1918-1969), mais conhecido como Jacob do Bandolim, é um dos músicos mais importantes da história do Choro, trazendo ao estilo instrumentos que não eram associados ao gênero, como o sanfona e o vibrafone. É autor de clássicos do choro como Noites Cariocas, Vibrações, Assanhado, Doce de Coco e Receita de Samba.


Disputando o grupo principal dos Blocos, o Unidos de São Cristóvão obteve com essa homenagem a terceira colocação, que lhe rendeu participação nos desfiles das campeãs. Faço aqui a lembrança de dois sambas, o Vencedor de Gaguinho e o Finalista de nada mais, nada menos, que o grande poeta Aluísio Machado. Do Vencedor temos a letra (foto acima), enquanto do Finalista do Aluísio tem-se letra e rara gravação, extraído de compacto simples. O samba do Aluísio Machado é muito bonito. Pela letra, o Vencedor também parece ser. Segue a transcrição da letra do Vencedor: Na passarela uma alegria sem fim / São Cristóvão apresenta / Jacob do Bandolim / Ele com seus acordes musicais / Suas composições / Ficaram na história nacional / Ôôô Lapa / Sua história é tão sublime / Nesse palco iluminado / Jacob sempre será lembrado // Toca, toca Bandolim / Um chorinho dolente / Um samba gostoso / É que mexe com a gente // Em seu leito sonhou / Com um mundo encantado / No Parnaso Musical / Jacob foi consagrado / E hoje em sua homenagem / Cantaremos nesse Carnaval // Naquela mesa está faltando ele / E a saudade dele / Está doendo em mim

Confira o Samba Finalista do Aluísio Machado, cantado pelo próprio Aluísio:

 
Segue a transcrição da letra: Canta… Canta meu povo este enredo / Ao Mestre que se foi tão cedo / Instrumentista, musicista e muito mais / Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó / Jacob… / Viveu entre as notas musicais (laraiá…) / Lalaraiálalaiálalaiálalaiá / A cuíca chora / Também chora o tamborim (que tamborim…) / Saudade sonora de Jacob do Bandolim / Entre sustenidos e bemois / Se fazia presente a maestria / Nunca estava só estando a sós / Trazia nos dedos a harmonia / Entre tons e semitons / Numa sucessão de sons / Nasceu esta melodia / Lalaraiálalaiálalaiálalaiá / A cuíca chora / Também chora o tamborim (que tamborim…) / Saudade sonora de Jacob do Bandolim

4 - Difícil É O Nome 1984 (Garrincha) 


Breve ficha do homenageado: Dispensa comentários explicar quem foi Garrincha (1933-1983). Manoel Francisco dos Santos foi um dos maiores craques da história da Seleção Brasileira e do glorioso Botafogo. Sua história de amor com Elza Soares também marcou época, tendo infelizmente convivido com o alcoolismo em sua vida. Morreu de forma prematura, deixando saudades a todo mundo.


No ano seguinte à sua morte, como podes ver pela letra acima, o então Bloco Difícil É O Nome de Pilares fez a merecida homenagem ao craque, com enredo intitulado “Rei dos Reis”. Sétima colocada no grupo principal dos Blocos, talvez o desfile tenha sido transmitido na época pela Manchete. Segue a transcrição da letra, cujo compositores são Altair Milton e Vanderlei: Levanta, meu povo / É bela esta homenagem / A este artista genial / Que deslumbrou o mundo inteiro / Com sua arte e magia / Voltadas para o futebol / Ele só nos trouxe alegria / Monstro sagrado do futebol brasileiro / Menino grande, sem maldade e ambição // E com seus dribles e maneiras / Na seleção brasileira / Consagrou-se campeão //  Fantástico! Extraordinário! / O poder da criação / Assim diziam os jornais / Não encontravam a definição / Na seleção ou nos clubes das cidades / Só deixou saudades / Por onde passou / Mas hoje nosso heroi / Já foi embora / E o Difícil lembra agora / Ele foi o “Rei dos Reis” // Balança, ginga / Finge que vai, mas não vai / E assim o marcador / Ele deixava pra trás



5 - "Exaltação à Alexander Fleming" (O Pai da Penicilina)

 
Breve ficha do homenageado: Alexander Fleming (1881-1955) foi um biólogo, botânico, médico, microbiólogo e farmacologista britânico. Notabilizou-se por descobrir a penicilina, que são antibióticos do grupo dos betalactâmicos profusamente utilizados no tratamento de infecções causadas por bactérias sensíveis.


O quinto samba que cito aqui, é um caso à parte, tendo sido gravado no LP “5 Grandes do Samba Enredo” de 1979. Embora tenha sido lançado de forma desvinculada, como um samba de carreira, é possível que “Exaltação à Alexander Fleming” (homenagem ao pai da penicilina), tenha tido vínculo com alguma agremiação carnavalesca, pois aparenta ser um samba enredo, cujo estilo lembra bem os anos 1960.

Nossa maior suposição, é que o samba advém da Unidos do Morro Azul, seja como um samba vencedor ou concorrente, seja para um desfile oficial ou paralelo (na época era comum ter desfiles paralelos bancados por jornais). Nonô Crioulo (Nonô do Morro Azul/Nonô do Jacaré/Claudionor Santana [pai de Guará e avô de Xande de Pilares]), um dos compositores deste samba, é considerado poeta-mor desta agremiação que depois  se uniu com mais duas agremiações carnavalescas para fundar a Unidos do Jacarezinho. Já o portelense Milton de Luna, rodava as Escolas e os Blocos, tendo vencido algumas disputas na Unidos da Tijuca, no Jacarezinho e na Caprichosos, enquanto Silvinho do Pandeiro, tem história anterior a Portela desconhecida.

Quanto à homenagem em si, pauta desta coluna, é muito curioso ver uma homenagem a uma personalidade que não é brasileira, ainda mais sabendo que por muito tempo houve uma restrição no Carnaval para que só se fizessem temas nacionais. Com uma letra inspirada, com palavras raras do vocabulário, “Exaltação à Alexandre Fleming” faz jus a presença nesta coluna.

Segue a letra, cujo compositores são Milton de Luna, Nonô Criolo e Silvinho do Pandeiro, sendo este último também o intérprete: Nos fins do século passado / Na Inglaterra nasceu / Aquele que não morreu sem antes ver / Realizado o grande sonho seu / Cientista emérito / E notável pesquisador // Que num sopro divino / A celebridade alcançou // Depois de infrutíferas experiências / Dotado de inteligência nobre / Deus lhe deu a clarividência / E ele no mofo descobre / Meios de prolongar a nossa existência / Debelando o fantasma da infecção / Surge para a humanidade / Mais uma redenção // Glórias à Fleming… / Que em sua missão divina / Notabilizou-se na medicina / Descobrindo a penicilina



E pra finalizar… Viva o Centenário de Ramón Valdés e viva o tenor Vicente Celestino

Finalizando a coluna, faço a lembrança dos enredos que a Unidos do Madruga, agremiação virtual do Editor-Chefe deste site, Marco Maciel, vem apresentando na LIESV. Com homenagens a atriz Larissa Manoela, ao piloto de F1 Nakajima e, em 2024, ao centenário de Ramón Valdés, nosso eterno Seu Madruga, a agremiação é um show à parte, no que tange a homenagens inesperadas, que fogem do convencional, ao passo que são de real merecimento. Lagarto Feroz, também da LIESV, homenageará o saudoso tenor Vicente Celestino, cujo samba enredo tive o prazer de compor. Neste ramo do Carnaval Virtual e também no de Maquete é mais fácil encontrar homenagens inesperadas.

Unidos do Madruga 2024 (Paulo Carvalho, Flávio Santos e Ewerton Fintelman): Monchito seja bem-vindo / À nossa passarela virtual / Vamos cantar e contar sua história / Nessa homenagem em nosso Carnaval / Ganhou o mundo com seu talento / Tin Tan, sua inspiração / Idas e vindas do velho lobo do mar / Tatuagem a velejar / Pequenos papéis, sem um tostão furado / A fome apertou, aluguéis atrasados / A sorte sorriu na superação / Obrigado, eterno amigo / Roberto Bolaños, nossa gratidão // "Quero ver seus olhinhos de noite, serena" / Nos acordes do seu violão / Talento notável, um grande sucesso / "Supergênio" da televisão // "Aí vem o Chaves", nasce Seu Madruga / Boa gente que vive sem perder a fé  / Amai os inimigos, abaixo à vingança / E ode à esperança / Tripa Seca, Racha Cuca, Alma Negra / Ao Chapolin, os vilões tão consagrados / Nunca sairá de cena / Estará pra sempre no imaginário / Madruga, essa gente lhe saúda / Celebra Ramón, nosso Don centenário! // Arriba, Ramón Valdés! / Pro Madruguinha vamos tirar o chapéu / Com seu humor e jeitinho de malandro / O verdadeiro brasileiro mexicano.

Lagarto Feroz 2024 (Tulio Rabelo): "Amigos de serenata" / Sou Vicente Celestino / A noite lindamente estrelada / Mensagem me passa… / É chegada a hora de partir!!! / Antes de ir… / Desta derradeira traição / Revejo a vida que vivi / Desde o "Luar do Sertão" / Operetas encenei / No teatro, no cinema encantei / E até no picadeiro / Minha vida é um colosso enredo // Sou seresteiro, sertanejo, trovador / Quando o assunto é desamor... um ébrio / Mia Gioconda elegias de amor / Mais que tudo sou um grande tenor // Tenor... faço da melancolia / A mais pura poesia / A tristeza é na verdade alegria / Ah, coração!!! / Mesmo que o véu do esquecimento me adorne / Sei que a porta aberta estará / Minha obra aqui ficará / Enquanto lá no céu hei de cantar / Hoje em opereta neste espaço / Agradeço ao Lagarto / Que essa homenagem coloriu (É com vocês...) // O povo é quem diz: / "Vicente Celestino / A voz orgulho do Brasil!"

No momento do fechamento desta coluna, tais sambas ainda não tinham ido ao estúdio. Fique ligado nas redes sociais da LIESV para conferir esses e outros sambas assim que lançar o CD de 2024.