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EM CLIMA DE OLIMPÍADAS: A FRANÇA NO SAMBA-ENREDO

           

29 de julho de 2024, nº 37


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EM CLIMA DE OLIMPÍADAS: A FRANÇA NO SAMBA-ENREDO


Amigos do Sambario! Aqui é Túlio Rabelo, do canal no YouTube TR - Sambas de Enredo. Nesta nova coluna, em clima de Olimpíadas, irei lembrar de sambas enredos que abordam a França, seja em sua totalidade ou de forma parcial, por meio de alguma figura histórica ligada à França, algum momento histórico, algum ideal etc. Iniciaremos com uma homenagem a eterna Carnavalesca Rosa Magalhães, que nos deixou em 25/07/2024, aos 77 anos, na véspera da Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, evento no qual ela no Rio 2016, foi diretora artística da Cerimônia de Encerramento. 

A França por Rosa Magalhães

Em 1994, a Imperatriz Leopoldinense foi a grande campeã do Carnaval Carioca com o enredo “Catarina de Médicis na Corte Dos Tupinambôs e Tabajeres”. Catarina Maria Romola di Médici (1519-1589), peça chave do enredo, era uma nobre italiana que virou Rainha Consorte da França entre 1547 e 1559, ao ser esposa do Rei Henrique II. Curiosamente, a história real presente no enredo, traz à tona uma festa que ocorreu às margens do Rio Sena no século XVII quando índios do Brasil foram levados a Paris para se apresentarem à corte francesa. Rio Sena que foi por onde as delegações se apresentaram na Cerimônia de Abertura das Olimpíadas de Paris 2024.

O refrão do meio “Mon amour, c'est si beau / Esse jogo, essa dança / Tabajet, tupinambaux” do samba oficial de Márcio André, Alvinho, Aranha e Alexandre D’Mendes, representa bem essa conexão entre Brasil e França naquele momento.

Para ilustrar o tema, aumentar o entendimento do enredo, também farei lembrança de um samba que participou daquela disputa, cantado pelo saudoso Aroldo Melodia: “Lá vem ela… / A verde e branco radiante de alegria / Com o Brasil e a França na folia / Antigamente… / Para os franceses era tradicional / Decoravam as cidades / Pra receber a Corte Real / Aí… nosso Brasil foi convidado / E muito bem representado / Por Tabajaras e Tupinambás  / Com seus encantos e belezas / E os costumes naturais // Sacode, balança  / Nessa festa todo mundo dança // Nas margens do Rio Sena / O cenário foi montado [...]”

Passados 14 anos, a França volta à lembrança da Imperatriz Rosa Magalhães, no tema “João e Marias” de 2008 e novamente na voz de Preto Jóia. Segue trecho do samba oficial, de Josimar, Di Andrade, Carlos Kind, Valtencir e Jorge Arthur: “Maria uma Princesa / Também sonhava / Um dia um Príncipe encontrar / E ouviu do Rei de França / Em meio ao luxo e a bonança / Maria Antonieta tu serás / Em Portugal, outra Rainha, Dona Maria / A louca não podia governar / Delirava temendo a revolução / E entrega o Reino à João / Regente assim se fez, e o Imperador Francês / Ordena a invasão // Ou ficam todos / Ou todos se vão / Embarcar nessa aventura / E "Aur revorir Napolão" // Cruzaram mares / Chegaram ao Brasil / São novos ares / Progresso e a transformação / Vieram as Marias, toda fidalguia, Dom João [...]”.

França e Rosa, de novo, voltariam a se unir em 2017 na São Clemente, no enredo “Onisuáquimalipanse”, com samba bem bonito de Toninho Nascimento, Luis Carlos Máximo, Anderson Paz, Gustavo Albuquerque, Marcelão da Ilha e Camilo Jorge. O enredo apoia-se em fatos reais da história francesa, especificamente da época do Rei Luís XIV, o Rei Sol, para ironizar a política brasileira. De forma menor, a França também está no enredo do Império Serrano 1982 “Bum-bum Paticumbum Prugurundum”, quando é citado no samba Jean-Baptiste Debret, pintor, desenhista e professor francês.

 “O Samba é o Embaixador”... na França “Uma Festa Brasileira”

Seguindo com festejos em solo francês, bem como foi contado em Imperatriz 1994, temos mais dois casos a citar. Em Cima da Hora 1978 “O Samba é o Embaixador” e Império Serrano 1994 “Uma Festa Brasileira”.

O carnaval da Em Cima da Hora é pouco conhecido pelo público, pois não temos, até então, gravação do samba enredo. A agremiação vinha de uma década mágica, tendo apresentado “Os Sertões” somente dois anos antes. Entretanto, passou por duas quedas seguidas, indo do Grupo 1 de 1976 pro Grupo 3 de 1978. Momento então que dá a volta por cima, sendo campeã do grupo. O samba enredo tem uma letra muito bonita, que só de ler, você entende a riqueza do tema. O enredo, em sua utopia, imagina o samba chegando a Paris, em uma festa surreal. Segue a transcrição da letra do samba enredo de Dodô Marujo e Zeca do Varejo: “O samba quando na França chegava / O céu parisiense se transformava / O Sena estava espelhado se encapelou / Pra receber o mais novo Embaixador // A partir daquele dia / Foi aquela euforia / Sambou alunos e mestres  / Sambou Rei, sambou Rainha // O francês não conhecia / Esse ritmo envolvente / A cuíca e o pandeiro / Empolgou aquela gente / No Arco do Triunfo / Um minuto ele parou / Genoveva, na colina / Do samba participou // Sambou Rei, sambou Rainha / A partir daquele dia / A partir daquele dia / Sambou Rei, sambou Rainha”.


O Império Serrano no Carnaval de 1994 tem basicamente o mesmo enredo da Imperatriz do mesmo ano. E não se engane, para mim ambos foram magnificamente desenvolvidos. Com um samba lindo de Lula, Zito e Beto Pernada, eternizado na voz de Roger da Fazenda, “Uma Festa a Brasileira” tem grande destaque na discografia imperiana. Segue alguns versos: “Lá se vão / Marujos, tabajaras e tupinambás / Até as margens do Sena / Mostrar a dança solene / As maravilhas da Renascença / Onde o Rei e a Rainha / Ficam encantados com uma festa brasileira // Que zoeira, que zoeira / Tem batuque na Corte / Dia e noite, noite inteira / O novo mundo / Mostra a arte em brincadeira // [...]”.

Mais uma vez, faço a lembrança de obras da disputa de samba, para aumentar o entendimento do enredo.

Primeiramente, o samba de Luiz Carlos do Cavaco, cantado por Quinzinho, com versos de grande inspiração: “Lá tão distante aqui / Eclodiu um movimento inovador / A arte e a ciência fluíram / E aos Reinos traziam sonhos de conquistador / A corte fez chegar ao novo mundo Marujos pra levar o nosso índio / E numa quantidade tão pequena / Às margens do Sena foram apresentar // Ôôôôô jogos de guerra / Empunhando a própria lança / Ôôôôô era bonito / E tão festivo aquela dança // Foi singular e reluzente aquela imagem / De pompa selvagem / Em terra estrangeira / Todo esplendor de uma festa brasileira / Hoje a festa continua / Com mais brilho e visual / O mundo inteiro cultua / Legado no meu Carnaval // E assim eu vou.../ Nesta avenida tão feliz enfim / A alegria se apossou de mim / Simbolizo a festa brasileira”

 

Outra obra muito bonita, é o samba de Arlindo Cruz e Aluísio Machado, com um refrão fascinante, fruto da genialidade dos compositores: “A vida é o apogeu / E a arte faz presença / O Império renasceu / Faz renascer a Renascença”.

 

Seis enredos bem franceses…

Neste momento, irei trazer seis enredos em que a França e/ou a Revolução Francesa tem papel crucial no enredo.

O mais conhecido entre os seis, é Grande Rio 2009 “Voilá, Caxias! Para Sempre Liberté, Egalité, Fraternité, Merci Beaucoup, Brésil! Não Tem de Quê!” que rendeu o que pra mim é um belíssimo samba e desfile. Wantuir embala o poderoso refrão “Minha alma é tricolor! / O meu orgulho é minha bandeira / Oui. Voilá! / A Grande Rio balança / Le mon amour é a França / Vem brindar!” (Deré, Emerson Dias, Rafael Ribeiro e Mingau).

Em São Paulo, a Vai-Vai declamou a França em 2016, com o enredo “Je Suis Vai-Vai, bem-vindos à França”. Embora o samba e o desfile não sejam tão marcantes assim, considero uma homenagem digna. O samba de Zeca do Cavaco, Zé Carlinhos, Ronaldinho FQ e Dodô Monteiro foi interpretado por Wander Pires, cujo refrão principal é “Mon Amour / A voz do povo é quem diz / Sou raça sou raiz / Há tantos carnavais / Je Suis Vai Vai”.



Ainda em São Paulo, em 2018, a Império de Casa Verde fez um enredo que relaciona a situação política e econômica do Brasil com o panorama histórico que motivou a Revolução Francesa, sob o título “O Povo, a Nobreza Real”. No Rio a Revolução Francesa e seus ideais, foi o tema da Acadêmicos de Santa Cruz, pelo Grupo de Acesso de 2006.

Vamos agora voltar a 1994, a Leão de Nova Iguaçu tinha um intérprete que se tornaria um dos melhores da atualidade, Pixulé. E lá estava ele, novinho, cantando a bonita homenagem à França. O refrão “É mon amour pra lá / É um tal de mon petit / Leão traz França à Sapucaí” é bem envolvente. Veja a vinheta (créditos ao Carnaval Completo) deste animado samba de Hugo Bispo, Paulinho Madrugada e Paulinho Careca na voz do Pixulé.

Agora uma agremiação prestes a ter um crescimento exponencial. Estamos em 1998, e a Paraíso do Tuiuti canta a França em desfile pelo Grupo B. Devido a raridade do desfile e da gravação do samba, compartilho aqui os dois. Segue a letra transcrita: “Alegria... Oui oui a França esteve aqui / E mais forte que armas de fogo / Sua cultura conquistou o nosso povo / A missão francesa trouxe arte e ciência / O Jornal do Comércio a influência / O Rio imitou Paris / A Bela Época foi um tempo feliz / Tinha o brilho do teatro de revista / Hoje na Sapucaí eu sou artista // Marinheiros e mulheres / O amor nos cabarés / O can-can  / Alegria dos cafés // O que ficou entre nós / Teatro, cinema, literatura / A culinária dá água na boca / Do pão francês o Rio é freguês / Dos arraiais, avante anarriê / Nossas quadrilhas encantando outra vez // E também o perfume / A moda e muito mais (muito mais) / Tem chofer nessa folia / A minha escola é toda charme e alegria”

Escute o samba oficial de Sirley, Jurandir, Alceu, Binho e Moreno:

Debret, J.Carlos, Verger…

Talvez eu não lembre de todos aqui, mas faço a lembrança agora de três nomes ligados à França, ou sendo francês, ou nascendo lá, ou ainda se inspirando na cultura de lá.

Debret foi certamente enredo várias vezes na história. Cito aqui Salgueiro 1959 e Unidos de Lucas 1979. Tenho um carinho muito grande pelo samba da Unidos de Lucas, dos compositores Altair, Erodilson e Joãozinho, que é um samba muito bonito.

Pierre Verger, fotógrafo autodidata, etnólogo, antropólogo e escritor franco-brasileiro, mais conhecido como Fatumbi, está marcado na história carnavalesca pela homenagem da União da Ilha em 1998. Por sua vez, a Acadêmicos da Rocinha, em 2009, trouxe o Rio de J. Carlos para a avenida. Um Rio bem francês, mesmo J. Carlos sendo brasileiro.

Escute o samba da Unidos de Lucas 1979

Algumas citações a França em sambas de enredo:

Beija Flor 2003 “Na França é tomada a Bastilha / O povo mostra a indignação / Revoltado com o diabo / Que amassou o nosso pão”

Vila Isabel 1998 “[...] Raios divinais iluminaram a humanidade / Na França movimentos radicais / Deram ao mundo outra mentalidade // No girar da coroa, a liberdade / Igualdade ecoa no meu cantar / A Vila, numa boa, agita o Carnaval / É fraternidade universal”

Imperatriz 1970 “O Rei mandou me chamar / Pra casar com sua fia / O dote que ele me dava  / Oropa, França e Bahia”

União da Ilha 1981 “[...] As cocotes me chamaram de cherrie / Mon amour, oui oui, mon petit / O bonde de ceroulas eu peguei / Pra ver a "Aída" no municipal / Na Avenida Central eu vi / A moda e o charme de Paris // Tudo era festa E meu povo era feliz // [...]”

Salgueiro 1974 “Não cantaram em vão / O poeta e o sabiá / Na fonte do Ribeirão./ Lenda e assombração / Contam que o Rei criança / Viu o Reino de França no Maranhão [...]”.

Unidos de Lucas 1980 “Esta história / Repleta de crendice e emoções / Fala de um Rei que mandou / Invadir o Maranhão / Fala de bumba e também de assombração // Retrata um passado belo e imortal  / Que Lucas apresenta neste Carnaval // Tudo começou / Na Era Colonial / Chegou uma expedição francesa / Para fundar a França Equinocial / Mas Jerônimo de Albuquerque / Com galhardia junto ao povo lutou / Expulsando os invasores / Com tenacidade e ardor [...]”

BÔNUS

Após o fechamento da coluna, me veio a lembrança de mais um enredo sobre a França. Um samba muito bonito da Leandro de Itaquera para 1998 na voz do Quinzinho, cujo enredo era "Brasil e França, unidos pela sedução". Deixo vocês com um vídeo raro, originalmente disponibilizado por Ariovaldo Pereira Nunes, de um desfile especial da Leandro de Itaquera em Suzano/SP.

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