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Sambas eliminados Confira as avaliações sobre sambas-enredo derrotados nas eliminatórias Anos 70 a 90 VEM, DINDINHA (Salgueiro -
1972) – A
ruptura na estrutura dos sambas enredo proposta pelo Salgueiro no
ano anterior com “Festa para um rei negro” resultou
numa mudança de mentalidade entre os compositores. Para o enredo
“Mangueira, minha querida madrinha”, os compositores
Hayblan e Noel Rosa de Oliveira, este último acostumado com o
estilo samba-lençol que reinava até o final dos anos 60
(Quilombo dos Palmares, Chica da Silva), tiveram que se adaptar
aos novos tempos e apresentaram uma obra com versos mais curtos e
uma melodia mais próxima dos blocos carnavalescos. A estrutura
é parecida com a do “Pega no ganzê”, com a
repetição do refrão principal a cada estrofe
cantada. A letra
do samba é pura homenagem, a começar no tratamento
carinhoso à
verde e rosa, chamando a Mangueira de “dindinha”
(diminutivo de dinda). Na primeira parte, os compositores
salgueirenses se orgulham de serem afilhados de uma escola deste
porte (“Mangueira é nossa madrinha/ o Salgueiro faz
saber/ está na hora de homenagem/ a quem fez por merecer”).
Na segunda estrofe, há uma bonita referência a dois poetas
da
Estação Primeira, Cartola e Nelson Cavaquinho, que
são
evocados com dois de seus principais sambas, respectivamente
“O sol nascerá (A sorrir)” e “A flor e o
espinho” (“Um ensinando a sorrir/ pra melhor levar
a vida/ outro a fugir de um sorriso/ com ironia sofrida”).
O vencedor da disputa para o carnaval de 1972 foi novamente Adil
de Paula, o Zuzuca. Para contemporanizar, o cantor Jair
Rodrigues, em seu LP "É isso aí", lançado no final
de 1971, gravou tanto o samba que venceu, "Tengo,
tengo", quanto o que perdeu, depois denominado "Vem,
dindinha". NOTA DO SAMBA: 9,5 (Rixxa Jr). Baixe
este samba O AMIGO DO REI
(Portela - 1973) –
O sambista Antonio
Gilson Porfírio, o Agepê, nascido no Morro do Juramento,
ingressou na ala de
compositores da Portela anos antes de estourar nacionalmente com o
sucesso
“Moro onde não mora ninguém”, música
lançada em compacto em 1975. Três anos
antes, ele e seu fiel e mais constante parceiro, o alagoense Antonio
José
Feitosa, o Canário, compuseram seu primeiro samba enredo para a
águia azul e
branca de Madureira na disputa do enredo “Pasárgada, o
amigo do rei”, baseado
no poema homônimo de Manuel Bandeira e escolhido para marcar o
cinqüentenário
portelense. A letra representa um universo onírico e pueril, com
um certo viés
libertário, bem afeito à proposta do poema, como
expõe o trecho Procuro a fé na paz que morre
/ O suor
escorre e corre ao vento o meu refrão / Eu quero o dia quero o
amor cantar /
Correr, nadar em riso e flores. No entanto, em nenhum momento, o
samba de
Agepê e Canário mencionam o cinqüentenário da
Portela. Talvez seja esta uma das
razões pelas quais a obra não foi a escolhida. De resto,
o samba é muito bonito
e vibrante. A obra ficou em segundo lugar, perdendo para a
composição de David
Corrêa. Agepê gravou “O amigo do rei” TERRA
AZUL (Portela – 1973)
- Foi uma disputa de sambas acirrada
na Portela para o carnaval do cinqüentenário da escola em MENINO BOM (Portela - 1974) - Gravado no primeiro LP de David Correa, também chamado de “Menino Bom”, o samba de Romildo e Carlito tem um refrão simples e de pegada, como era característico nos sambas da época “Ê, batuta, ê ê ê ê/ Sou Portela toda prosa / carinhosa por você”. A letra é muito poética e, apesar de deixar claro que o homenageado está morto, não é fúnebre. Inclusive, tem uma sacada muito interessante - “Abra uma porta no céu / Volte de novo pra cá / Bar do Gouvêa é casa cheia / de saudade e esperar”. Lindo o trecho em que compara as músicas de Pixinguinha com forças da natureza: “Ensinou a lira ondular suave / a canção foi sua nave / a natureza chorou / o orvalho virou pranto / rolado com mais encanto / molhado com mais amor”. David Corrêa, durante as eliminatórias de o “Mundo Melhor de Pixinguinha”, sofreu um acidente de carro que impediu sua participação. Não sei se ele tinha um samba em seu nome ou se defendia este - o encarte do disco é um pouco vago ao descrever os acontecimentos. O fato é que, em seu disco, não há seu nome nos créditos. O samba é bonito, apesar de inferior ao polêmico campeão. NOTA DO SAMBA: 8,8 (João Marcos). Baixe este samba TRIBO DOS
CARAJÁS (Vila
Isabel -
1974) –
Em 1974, a Vila Isabel realizou um dos desfiles
mais trágicos de sua história. A razão vem das
próprias
eliminatórias do samba-enredo com o qual a
agremiação
desfilaria naquele ano. Martinho da Vila novamente estava
concorrendo em sua escola, com uma grande chance de ganhar e ver
seu samba ser tocado na avenida. Só que o célebre
compositor
não contava com um lastimável imprevisto: a bela letra do
samba, exaltando a liberdade indígena, que não havia se
deixado
escravizar pelo homem branco, incomodou a famigerada ditadura
militar, ainda muito influente no Brasil no início da
década de
70. A ditadura já havia interferido no mundo do samba em outras
ocasiões, como, por exemplo, ocorreu no Salgueiro, em 1967, e no
Império Serrano, em 1969, carnavais cujos temas falavam sobre
liberdade. A censura proibiu a Vila de desfilar com um samba
contraditório aos ideais militares e pressiondada, a escola fora
obrigada a escolher outro samba para o carnaval de 1974. A
diretoria da agremiação optou então por uma
pequena mudança
no tema do desfile: ao invés de homenagear os povos
indígenas
do alto Xingu, a Vila Isabel se aproveitou do mesmo título do
enredo para exaltar a integração nacional entre
índios e
brancos oriunda da criação da Rodovia
Transamazônica (um dos
"feitos" do regime militar). A escola de Noel não só
havia deixado de incomodar os militares, como agora também
estava "puxando o saco" deles, algo que é, na minha
opinião, lamentável. O samba cantado não era mais
composto
pelo Martinho, mas sim da autoria de Rodolpho e Paulinho da Vila
(que aliás, para mim, é uma obra pavorosa). Toda essa
confusão
também irritou os componentes da escola, que, por fim, se
revoltaram e fizeram um desfile pífio, completamente
atravessado. O resultado foi a 10º lugar do Grupo 1, a
última
colocação no placar geral. Para sorte da escola, o
então
governador do Rio de Janeiro, Chagas Freitas, determinou que
nenhuma escola seria rebaixada para o Acesso, como
"agradecimento" a homenagem feita pela agremiação na
avenida a Transamazônica. Quanto ao samba do Martinho que fora
eliminado em decorrência a esse tumulto, ele é realmente
excepcional. A letra é extremamente bonita, pois narra de forma
poética e compreensiva o enredo inicialmente proposto pela
escola. Durante a primeira parte da obra, a letra insiste em
falar da felicidade sentida pelos índios em viver numa terra
tão rica e fértil como o Brasil, local onde eles eram
livres
para ter suas próprias manifestações culturais.
Tal liberdade
exaltada no samba, a mesma que antes já havia incomodado o
regime militar, é lindamente descrita no trecho "Tribo
dos Carajás/Noite de lua cheia, Aruanã/Menina moça
é quem
manda na aldeia/A tribo dança/E o grande chefe pensa em sua
gente/Que era dona deste imenso continente". Seguida
dessa primeira parte, vem o refrão central que tenta mostrar
poeticamente a ligação existente entre os povos
indígenas e os
recursos naturais abundantes no ecossistema brasileiro ("Respeitando
o céu/Respirando o ar/Pescando nos rios/E com medo do mar").
A partir desse trecho do samba, a obra sofre uma mudança de
ângulo, pois deixa de ser uma homenagem ao estilo de vida dos
índios e torna-se um alerta ao destruição
maciça das
comunidades indígenas. Um exemplo disso é o refrão
"E
o índio cantou/O seu canto de guerra/Não se
escravizou/Mas
está sumindo da face da Terras", que é, na
minha
opinião, um do mais inteligentes já compostos para um
samba-enredo. Para finalizar, o samba possui uma melodia leve,
discontraída e empolgante, além de um animadíssimo
refrão
principal. "Tribo dos Carajás" pode ser encontrado no
LP do próprio compositor, "Canta canta, minha gente",
onde o coro o entoa aos mais plenos pulmões. NOTA DO SAMBA:
10 (Gabriel Carin). Clique aqui para
ver a letra do samba ESTRELA DE
MADUREIRA
(Império Serrano - 1975) - O samba de Acyr Pimentel e Cardoso, de
derrotado pela obra de Avarese no concurso que definiu o hino
oficial do enredo "Záquia Jorge", se tornou um dos
maiores clássicos do samba e também da MPB graças
à
antológica gravação de Roberto Ribeiro em seu
primeiro disco
solo, de 1975. O Império, para o desfile de 1975, optou por um
samba mais leve e animado (a obra de Avarese), preterindo
"Estrela de Madureira", de melodia lírica e
emocionante. Embora o samba vencedor do concurso imperiano de
1975 seja empolgante, "Estrela de Madureira" para mim
é muito mais bonito e figuraria facilmente na lista dos melhores
sambas-enredo da história, tamanha a beleza de sua melodia, bem
como a poesia de sua letra. NOTA DO SAMBA: 10 (Marco Maciel). Clique
aqui para ver a letra do samba IMPÉRIO DOS ARUÃS (Portela - 1976) – Faixa do disco “Menino Bom”, de David Correa, é de autoria de David, Norival Reis e Joel Menezes. A letra deste, em comparacação com o samba campeão, de Noca da Portela, é mais didática em determinados aspectos, sendo mais específico em relação, p.ex., à Catarina de Palma, filha de Manuel Breves Fernandes, que recebeu em testamento a sesmaria de Breves. Como observa-se na sinopse de 1976 da escola, que está no portal PortelaWeb (www.portelaweb.com.br), “Em BREVES é que existem os fantásticos FUROS de BREVES, labirintos extraordinários de mil fios ligados entre os flancos de Marajó e rochas do continente e que foi tecido pela ação intermitente das águas, pelo dinâmico trabalho do rio.”. O samba de David exalta a beleza de Catarina, muito ressaltada na sinopse, no setor da colonização: “Catarina de Palma encantava corações / Seu sorriso seduzia / a própria valsa nos salões”. O refrão – e o samba só possui um único refrão - é bem simples, como quase todos os dos anos 70: “Bumba, sinhô / Bumba, sinhã! / É de Marajó / e cuidado com Boi Bumbá”. No entanto, é um samba inferior ao campeão, desconsidera pontos importantes da sinopse (como os gaiolas, p.ex.) e tem menos força melódica que o de Noca. Porém, é sempre interessante escutar um samba concorrente desconhecido de um grande compositor, que vivia a sua melhor época criativa. NOTA DO SAMBA: 8,2 (João Marcos). Baixe este samba AI, QUE
SAUDADES QUE EU TENHO (Vila
Isabel - 1977) – Na
minha singela opinião, a derrota do
Martinho mais imbecíl que já aconteceu na Vila Isabel.
Imbecíl
não porque o samba campeão era ruim. Nem porque a escola
fez um
mal desfile. Simplesmente, porque a escola do Boulevard desprezou
por completo a oportunidade que bateu a sua porta. E o nome dessa
oportunidade é antológico: Arlindo Rodrigues. Após
vários
anos de experiência na Mocidade Independente, o célebre
carnavalesco preparou o desfile da Vila Isabel de 1977, cujo
enredo seria uma espécie de reedição de um tema
já
apresentado pelo artista em 1970, quando ainda estava no
Salgueiro: uma emocionante recordação de antigos
carnavais. O
título do enredo já passava bem a idéia proposta
pelo Arlindo:
"Ai, que saudades que eu tenho". A Vila Isabel fez um
dos carnavais mais lindos de tua sua história, com fantasias e
alegorias deslumbrantes, todas nas cores da escola (azul e
branco), além da tradicional bateria, sempre muito bem
cadenciada. Tudo era bonito e empolgante... No entanto,
infelizmente, faltou algo explosivo, para imortalizar de vez o
desfile da agremiação e quem sabe até talvez
consagrar o
primeiro campeonato da Vila Isabel mesmo 11 anos antes de
antológico "Kizomba, a festa da raça". Enfim, faltou
um SAMBA! Mas o que me irrita é que esse samba existiu,
só que
acabou não indo para o desfile da escola. Esse samba foi
composto pelo Martinho e possui o mesmo nome do enredo do
Arlindo, "Ai, que saudades que eu tenho". Trata-se do
que é, para mim (e também para a maioria), o melhor
samba-enredo derrotado do Martinho. A obra é extremamente
animada, empolgante, de melodia mágica e de letra
inteligentíssima. Tudo nele é, sem exagero,
surpreendente! A
começar pelo refrão de cabeça, que consegue
empolgar até quem
não gosta de samba, sem ser oba-oba ou apelativo. Falo do
extraordinário "Minha Vila tá legal/Sempre brigando pra
ganhar o carnaval", que fora composto com um felicidade
sem par. Durante a primeira parte da obra, Martinho faz simples,
porém certeiras citações as antigas
tradições do carnaval
carioca, que despareceram para sempre da cultura popular. Isso
deixa o samba com um ar didático, mas que em momento mostra de
forma explícita a tentativa de abordar o enredo da Vila Isabel,
pois Martinho elaborou nada mais que uma nostálgica
recordação
dos saudosos tempos de Noel Rosa. Por isso, o samba flui tão
levemente nos ouvidos dos sambistas, já que ele aborda todo
enredo da escola discontraidamente. Em relação ao
refrão
central, tão comentado por ter sido praticamente repetido do
samba salgueirense de 1970, não me adimira em nada sua
presença. Como já foi até retratado em uma
crônica do
colunista Rixxa Jr. aqui no Sambario, Arlindo Rodrigues era o
verdadeiro "Rei das reedições", pois é famoso por
ter carnavalizado novamente diversos enredos já abordados pelo
Salgueiro nos tempos em que ele ainda era parceiro de Fernando
Pamplona. É óbvil e evidente que o artista deveria ter
gostado
do refrão "Abre a roda, meninada/Que o samba virou
batucada" e decidiu constá-lo na sinopse do enredo, o
que foi depois reaproveitado pelos compositores da Vila Isabel.
Só que Martinho da Vila é um gênio e decidiu
incorporar o
refrão ao tema polêmico: "Sai
da roda, meninada/Que o
samba virou batucada". Afinal, para que ficar na roda,
se o samba já não é mais o que era antes,
não passando de uma
simplória batucada? As demais partes do samba são
críticas
mais que diretas a crise que o mundo samba vivia (e ainda vive).
Porém, tais críticas ainda sim não tornam o hino
pesado, pois
elas não passam de meras perguntas sobre o desaparecimento das
tradições do carnaval cujas respostas, obviamente,
não
existem. A obra, como um todo, é um grande lamento, mas que
não
perde o ar de humor e empolgação. Um samba excepcional,
que,
como já disse antes, poderia ter rendido um inédito
título a
escola caso fosse para a avenida. Infelizmente, isso não
aconteceu e a Vila amargou uma mera 5ª colocação.
Que pena! A
obra consta no LP "Rosa do povo" e a belíssima
interpretação de Martinho, aliada ao alto astral
proporciondo
pela bateria da escola, aumenta ainda mais o balanço do samba. NOTA
DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin). IEMANJÁ,
DESPERTA (Vila
Isabel -
1978) –
O ano de 1978 é verdadeiro senão em matéria
de samba-enredo. No LP oficial, produzido pela célebre Top Tape,
encontramos uma das mais bizarras safras da história do
carnaval. Um dos piores sambas presentes nesse disco hediondo
veio, por mais incrível que pareça, da grande escola do
Boulevard, a Vila Isabel. Trata-se de uma marcha-enredo pavorosa,
o pior samba da história da escola, pois possui uma letra pobre
e uma melodia chatíssima. Porém, numa gigantesca
contradição,
o samba do mestre Martinho da Vila, concorrente derrotado nas
eliminatórias da agremiação, é, sem
dúvida, fascinante.
"Iemanjá, desperta", denominação depois dada a
obra
pelo próprio compositor, está anos-luz a frente do hino
campeão, levado pela escola na avenida. É um samba de
letra
riquíssima, tratando do belo enredo em homenagem a
Iemanjá de
forma magistral. Interessante a como Martinho prefere mais fazer
uma exaltação carinhosa a orixá do que abordar
rigorosamente
todas as crenças e tradições constadas no enredo
da escola,
já que ele aborda as grandes interligações
existentes entre
África e Brasil. O tema, segundo o departamento cultural da Vila
Isabel, falava de várias manifestações culturais
afro-brasileiras e Iemanjá era apenas uma das personagens do
enredo, no entanto Martinho prefiriu santifica-lá e
tranforma-lá numa verdadeira protagonista. Isso tornou o samba
uma grande oração, uma prece em devoção a
orixá. A melodia
é uma das mais líricas que o sambista já compusera
para sua
escola. Durante a primeira parte do samba, ela é leve, delicada,
mas ao mesmo tempo, imponente, toda estruturada para despontar no
delicioso refrão "Iemanjá,
Iemanjá/Iemanjá, Iemanjá".
Já na segunda parte, onde o compositor cita os presentes que
serão entregues a Iemanjá, ela é mais
discontraída, animada,
embora ainda não perca o lirismo inicial. Enfim,
"Iemanjá,
desperta" é um samba sensacional e saber que ele fora
derrotado por um que diz horrorosidades do tipo "Lendas e
crenças/Vamos mostrar pra vocês/Oh vovô, por favor,
conte
outra vez" é mais que revoltante. É odioso! Como de
praxe, o samba eliminado fora gravado pelo próprio autor e
consta no disco "Presente" (1977). NOTA DO SAMBA:
9,8 (Gabriel Carin). FLOR MULHER (Portela - 1978) - Belíssimo samba da
parceria Joel Menezes, Carlito Cavalcanti e Noca da Portela para
o enredo portelense de 1978 "Mulher à Brasileira". É
bem superior ao samba vencedor, com dois refrões de
explosão (o
que o hino oficial da Portela de 1978 não tem) mais duas partes
bem líricas - bem como o tema sugeria -, além de
envolventes.
É um samba do estilo David Corrêa: lírico e
animado. Quem
esteve naquela final de samba-enredo garante que a torcida por
esta obra era muito maior e que a decepção foi grande
quando a
contestada obra de Jair Amorim e Evaldo Gouveia foi anunciada
vencedora. Embora o samba oficial tenha rendido bem no desfile,
com certeza este samba seria muito mais cantado. Regravado por
Roberto Ribeiro com o nome "Flor Mulher" em seu LP de
1978. NOTA
DO SAMBA: 9,8 (Marco Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba SAUDADE COLORIDA
(Portela
– 1981) - Agepê já era um nome
consagrado entre os cantores de sucessos populares, presença
freqüente em
programas televisivos (Buzina do Chacrina, Clube dos Artistas) e
percorria o
Brasil inteiro com shows quando resolveu concorrer novamente com um
samba
enredo para a disputa na sua Portela. O tema era “Das maravilhas
do mar, fez-se
o esplendor de uma noite”, um delírio carnavalesco
assinado por Viriato
Ferreira. Nos anos 1970 e TÔ QUE TÔ (União da Ilha
-
1984) - Interessante
a diversidade de estilos que marcou a disputa da União da Ilha
do Governador para o enredo “Quem pode, pode, quem não
pode...”, em 1984. De um lado, a tradição e a
experiência
de dois legendários sambistas: Aurinho da Ilha e Didi. Do outro,
a juventude e a emergência musical de um médico e sambista
nas
horas vagas chamado José Franco Lattari (1952-2008). Com esse
samba concorrente, Franco – que já havia vencido pela
primeira vez na Ilha com "1910 - Burro na Cabeça", em
1981 – desenvolvia um estilo de samba enredo mais próximo
ao samba de bloco, mais picado, mais acelerado, antagonizando com
o estilo clássico de Didi e Aurinho. Nesta obra, já se
percebe
algumas características bem marcantes da obra carnavalesca de
Franco: samba acelerado, em tom maior, mas sempre com uma estrofe
caindo para menor (Se você quer amor... vou dar/ se você
quer me dar... me dê/ venha ver que saudade/ louca, vou beijar
sua boca/ só você não vê), que o
compositor imprimiria
sua marca em hinos posteriores, como “Extra Extra”
(1987), “Festa profana” (1989), “De bar em bar,
Didi, um poeta” (1991), “Abracadabra, o despertar da
magia” (1994), etc. O enredo “Quem pode, pode...”
abordava os ditos populares. No entanto, ao invés de enfileirar
ditados (como fizeram Aurinho e Didi), Franco procurou
colocá-los estrategicamente: “quem pode, pode”;
“nem tudo, moreno, que balança cai”; “a voz do
povo é a União” (este último numa
alusão ao nome da
entidade). Após perder a disputa na quadra, “Tô que
tô” foi gravado por Alcione, no LP “Da cor do
Brasil”, numa espécie de compensação e
rapidamente se
tornou um sucesso comercial, sendo um campeão de
execuções nas
emissoras de rádio e de televisão e nos bailes de
carnaval.
Caso tivesse ganhado, esse samba teria tudo para ser um
verdadeiro sacode naquele primeiro ano do sambódromo e, sem
dúvida, teria sido um dos mais cantados na passarela do samba. O
samba é bastante comunicativo e cairia como uma luva para uma
voz tipo Aroldo Melodia, apesar de que o intérprete da
União da
Ilha naquela ocasião fora Quinzinho. NOTA DO SAMBA:
9,6 (Rixxa Jr). Clique aqui para
ver a letra do samba
VIDA BOA (Imperatriz
Leopoldinense - 1984)
– Logo após o término do desfile de 1983, a
Imperatriz Leopoldinense resolveu deixar de lado seus enredos culturais
e barrocos desenvolvidos entre 1980 e 1983 por Arlindo Rodrigues para
entrar
na onda dos chamados enredos críticos que começavam a
contagiar o carnaval brasileiro no período pré-Nova
República. Com a ida de Arlindo para o Salgueiro, a escola de
Luizinho Drummond chamou a dupla Rosa Magalhães e Lícia
Lacerda – que fora campeã dois anos antes pelo
Império Serrano – para desenvolver “Alô,
mamãe”, um carnaval que pretendia fazer uma crítica
à então conjuntura político-econômica
brasileira. Sem o poderio financeiro característico dos anos
anteriores, a verde e branco de Ramos passou por dificuldades, a
começar pela escolha do samba, considerado um dos mais fracos da
história da Imperatriz (e olha que levou a assinatura de craques
como Guga, Velha e Tuninho Professor). Mesmo não apresentando a
força e o favoritismo dos anos anteriores, a escola conquistou o
4º lugar. O samba derrotado, de autoria de Serjão e do
campeoníssimo Zé Catimba, que foram parceiros em “O
teu cabelo não nega (Só dá Lalá)”, do
bicampeonato de 1981, tinha uma levada animada bem típica das
obras da União da Ilha do Governador, beirando o marcheamento. A
letra era cheia de ironias (alô
mamãe/ a vida aqui tá um colosso/ tô andando
só de tanga/ tô com a corda no pescoço) e
procurava, de uma maneira gaiata, mostrar que o cenário
brasileiro estava difícil, mas com fé e bom humor, o povo
brasileiro teria como superar as dificuldades. Um dos refrões
era bem forte e poderia causar um ótimo efeito na avenida (vou gozar com a cara dele, mãe...
vou gozar).
Por refletir exatamente um momento da realidade brasileira, a obra
mereceu gravação da cantora Alcione, em seu LP “Da
cor do Brasil”. Só para lembrar, o título do
enredo, era uma referência ao discurso proferido pelo cantor
Agnaldo Timóteo em sua chegada na Câmara Federal. O
artista simulou um telefonema dado a sua mãe logo após
sua diplomação como deputado, em 1983. O discurso
começava com a frase “alô, mamãe”, e
tornou-se uma espécie de bordão de Timóteo. NOTA DO SAMBA: 8,5
(Rixxa Jr). Clique
aqui para ver a letra do samba - Baixe
este samba
PEGUEI UM ITA NO NORTE (Salgueiro - 1993) - A obra que ganhou no Salgueiro nesse ano é um dos sambas mais conhecidos de todos os tempos. Acredito que 70% dos brasileiros sabem cantar o seu refrão: "Explode coração / Na maior felicidade / É lindo o meu Salgueiro / Contagiando e sacudindo esta cidade". Porém, havia uma obra melhor nos concorrentes, ela era de autoria de Luiz Fernando, Fernando Baster, Sereno e Diogo. O seu refrão é muito bom: "Me faz um dengo, meu xodó / Eu sou Salgueiro, nem melhor e nem pior". A primeira parte era bem cadenciada, maravilhosa. Mas a melhor parte desse samba com certeza era o seu refrão central: "A saudade bateu no balanço do mar / Meu olhar, marejou / Marejou, meu olhar", uma melodia interessantíssima. A segunda parte é maravilhosa também. Era uma obra que não ia fazer tanto sucesso, mas este samba era muito melhor que o que ganhou. Tanto é, que na época, muitas pessoas criticaram a diretoria da escola. Fica aí mais um samba excelente que acabou não ganhando. NOTA DO SAMBA: 10 (Vitor Ferreira). Clique aqui para ver a letra do samba - Baixe este samba
O SAMBA É A
MINHA ESCOLA (Vila Isabel –
1997)
– Primeiro samba enredo composto por Mart’nália como
integrante da ala de compositores da Vila Isabel. Para concorrer na
disputa para o enredo “Não deixe o samba morrer”, a
filha de Martinho se cercou de músicos tarimbados, que
são pratas da casa na escola e que, casualmente, formavam a
banda de apoio de seu pai, como Claudio Jorge, Agrião e Paulinho
da Aba. O samba é simplesmente maravilhoso. Letra inspirada,
poética e nostálgica, que decantava os antigos carnavais.
No entanto, a obra caiu na semifinal. Mart’nália gravou o
samba em seu disco “Minha cara”. Papai Martinho,
desclassificado junto com a filha, também gravou o dele, com o
nome de Prece ao Sol, presente no disco “Coisas de Deus”. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Rixxa Jr). Clique
aqui para ver a letra do samba - Baixe
este samba
AO CHICO COM CARINHO (Mangueira - 1998) - Sem palavras. Sambaço, aço, aço... um dos melhores que já ouvi. O samba que ganhou era muito bom, mas esse é muito superior. O refrão principal é de intenso agrado, paracido com os dos anos 70, com o "olê olê". A primeira parte é de intenso agrado. O refrão central - que na verdade não é refrão, pois não é repetido - é bom, mas acho a pior parte desse samba. A segunda parte é maravilhosa, um dos melhores trechos de um samba-enredo que já ouvi na vida. Pena, mas muita pena mesmo esse samba não ter ganho. NOTA DO SAMBA: 10 (Vitor Ferreira). Clique aqui para ver a letra do samba - Baixe este samba QUEM DESCOBRIU O BRASIL FOI SEU CABRAL... (Imperatriz - 2000) - Sambaço, com todas as letras. Se fosse colocar as melhores partes aqui, colocaria a letra do samba inteiro. A primeira parte é maravilhosa, de começo apoteótico. O refrão central é apenas bom. O começo da segunda parte é a melhor deste sambaço: "foi por acaso, aquele dia / da tempestade à calmaria / foi seu Cabral, sequer sabia / que descobriria o nosso Brasil". O refrão principal também é maravilhoso. Uma coisa tem que ser dita: a decadência dos compositores, que nos anos 90 e o começo dos anos 2000 só traziam obras-primas. E hoje... é melhor nem falar, com todo o respeito. NOTA DO SAMBA: 10 (Vitor Ferreira). Clique aqui para ver a letra do samba - Baixe este samba Anos 70 a 90 |
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