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Leia também:
- Os enredos que o Carnaval Virtual inspirou no Real - Obrigado Crivella! Alguns concorrentes para 2019 que ficarão na memória - Como já é de praxe, o SAMBARIO mais uma vez analisa alguns grandes sambas que poderiam ir mais longe nas eliminatórias e que não merecem cair no esquecimento. Os hinos que ficaram na quadra, analisados pela equipe do site dos sambas-enredo, estão na sub-seção Sambas Eliminados, da seção Comentários dos Sambas. O colunista Carlos Fonseca também se encarregou de comentar seus principais concorrentes numa série de três colunas (primeira parte, segunda parte e terceira parte) no seu espaço Sambando por ai... E vale enaltecer o retorno da seção Fonogramas, no site Galeria do Samba, que relembra sambas-enredo derrotados de várias épocas. A seguir, as análises dos sambas que farão falta na Sapucaí no próximo ano. Beija-Flor 2019 (J. Velloso) -
Numa disputa de nível decepcionante, se formos considerar o fato
da Beija-Flor exaltar seus 70 anos de história, o samba 13 era o
que mais chamava atenção na eliminatória em
relação aos demais. Fugindo do estilo dos hinos longos e
densos que a Deusa da Passarela vem levando desde 1998, a parceria
apostou numa música embalada por refrães envolventes,
ligada a uma levada gostosa de ouvir, mas nunca deixando de ser
valente. No refrão principal, os compositores citam a Mirandela,
nome da Estrada em Nilópolis onde a escola ensaia. Bem superior
à fusão anunciada depois da final, o samba acabou
eliminado na semifinal. NOTA DO SAMBA: 9,5. Clique aqui pra ver a letra do samba
Salgueiro 2019 (Luiz Pião)
- A emoção bate forte no peito do sambista logo nos
primeiros segundos da faixa, quando você ouve aquele grito de
guerra comum na segunda metade dos anos 80: "Alô meu Salgueiro
querido". É Rixxa, há algum tempo ausente do Carnaval, o
encarregado de cantar a obra na primeira passada. E o Pavarotti da
folia, um dos melhores intérpretes de todos os tempos, valoriza
a melodia do lindo samba de forma comovente, sem o acompanhamento da
bateria. Com Rixxa cantando alguns tons abaixo, o samba flui de forma
extraordinária, embalado por ótimos refrães. O
hino tem uma primeira em menor e gingada, optando pela
utilização por um refrão no meio e um outro falso
na sequência, pra dar prosseguimento na segunda. O resultado
final é fantástico, trata-se de um samba de melodia
fácil, que rapidamente gruda no ouvido. Na segunda e terceira
passadas na gravação, ocorre o choque de
gerações. Sai o velho Rixxa, de atuação
antológica, dando lugar aos mais jovens Zé Paulo Sierra e
Evandro Malandro, e consequentemente o tom da obra sobe com os dois
cantores, mas sem cair a qualidade. Curioso o último verso "Prevalece a união, Salgueiro", justamente num dos mais turbulentos momentos políticos vividos pela Academia. Chegou à final. NOTA DO SAMBA: 9,9. Clique aqui pra ver a letra do samba
Salgueiro 2019 (Antônio Gonzaga)
- Tambem finalista da Academia do Samba, que apresentou uma
ótima safra pra exaltar Xangô, mais uma vez a parceria de
Antônio Gonzaga bateu na trave. O também ótimo
samba apresenta ainda mais pegada, uma grandiosa
interpretação de Marquinhos Art'Samba e tem como ponto
forte o falso refrão do meio impulsionado por contracantos, a
partir do "Ele bradou na aldeia (Salgueiro)/E aqui vai bradar (Salgueiro eu sou)...".
A cabeça do samba também é fortíssima, bem
como a melodia gingada no trecho que antecede o já citado
refrão central falso. A segunda parte é um pouco mais
pesada e é encerrada com outro refrão falso, sintetizando
o arrojo do samba. O único porém da obra é o
refrão principal, que começa bem com o "deixa trovejar, deixa trovejar". No entanto, os compositores optaram por colocar palavras demais para pouca melodia nos últimos versos. "Lá do alto da pedreira/nosso padroeiro/traz justiça e esperança/para os filhos do Salgueiro"
tem um canto atropelado e reto, o que atrapalha a fluência
musical. Mas longe de comprometer o resultado final de mais um belo
samba-enredo. A hora do jovem Antônio Gonzaga ainda vai chegar. NOTA DO SAMBA: 9,7. Clique aqui pra ver a letra do samba
Portela 2019 (Gera)
- Na boa safra trazida pela Portela pra falar sobre Clara Nunes, este
era particularmente meu samba favorito. Na gravação, um
expediente semelhante ao já comentado samba da parceria de Luiz
Pião pro Salgueiro é utilizado. Um intérprete das
antigas grava a primeira passada, para outro da nova
geração (Evandro Malandro, coincidentemente um dos
cantores do samba-enredo de Pião) registrar as seguintes. O
experiente Gera, com passagem pela Águia de 2000 a 2004 e
atualmente integrante do carro de som da Vila Isabel, assina esta
excelente obra, cuja beleza na melodia da cabeça impressiona
pelo tom mais classudo ("Ah que lugar/semeou a brasilidade em seu altar").
Após um pequeno refrão de dois versos, o tom menor que
complementa a primeira parte prepara para o excelente refrão do
meio ("Quem não teme quebrantos... é Guerreira"), ainda que as batidas e esperadas rimas "Guerreira/sereia/clareia"
proporcionem uma ótima sonoridade. Na sequência o
"ôôô" pela metade da canção "O Canto
das Três Raças" faz uma preparação adequada
para a segunda parte, em que a valentia prolifera. Inclusive o efeito
do ôôô da famosa música eternizada por Clara
foi bem melhor executado neste concorrente do que na obra vencedora,
que inclusive já o subtraiu da versão definitiva. O
refrão principal é bastante gingado, e muito bem
construído. Poderia ter ido mais longe nas eliminatórias
portelenses, sendo desclassificado nas primeiras etapas. NOTA DO SAMBA: 9,8. Clique aqui pra ver a letra do samba
Portela 2019 (Toninho Nascimento) -
Se a maioria dos sambas da disputa portelense era dolente em virtude da
emoção em falar de Clara, a parceria de Toninho
Nascimento e Luís Carlos Máximo fugiu à regra e
trouxe um samba com todo o estilo dos compositores que tantas
vitórias conquistaram no Portelão: valentíssimo. O
hino fica devendo em relação aos sambas que fizeram em
2012 e 2013, mas a audição é muito
agradável, sendo defendido com garra por Anderson Paz (que
também assinou) e Bico Doce. Tem um refrão principal
forte, que aposta no efeito da repetição do verso "Chegou Yaô de Oyá". Tem vários trechos cantados rapidamente, puro DNA da parceria. Outro ponto positivo do samba é o trecho "Ô
mestre/traz o pandeiro e a viola que eu quero ver/se a moça de
saia rendada rebola/rebola, oi, rebola que eu quero ver/se a moça de saia rendada rebola",
apesar do excesso da palavra "rebola" me remeter a uma sensualidade que
Clara não tinha. O samba segue com muita pegada, com seu
refrão "Eu andei na areia que é de Iemanjá"
sendo outro destaque no conjunto melódico. A parte final do
samba serve apenas como uma discreta preparação para o
refrão final, ainda que não tenha sido muito adequada,
já que ela não possui a explosão que o
refrão tem. Um bom samba, mas pelo naipe dos compositores e
tendo Clara Nunes como enredo, esperava-se mais. Eliminado antes da
semifinal. NOTA DO SAMBA: 9,5. Clique aqui pra ver a letra do samba
Portela 2019 (Samir Trindade)
- Samir não conseguiu seu tetracampeonato particular na sua
escola de coração, perdendo a oportunidade de igualar
Waldir 59 (1954-57), David Corrêa (1979-82), Diogo Nogueira e
Ciraninho (2007-10), Júnior Scafura (2008-11) e Luís
Carlos Máximo (2011-14) caindo duas etapas antes da final (junto
com a parceria de Toninho/Máximo). Era inferior aos três
anteriores da parceria que desfilaram na Sapucaí. Para 2019,
apostou num refrão emocionante ao estilo da vizinha
verde-e-branca de Madureira, com um "lalaiá lalaiá" que
é mais comum ouvir no Império Serrano. A letra
está em primeira pessoa (bem como o samba vencedor) e a melodia
é dolente, ainda que o resultado final tenha sido irregular. A
explosão só aparece nos refrães, além do
falso ("Eparrei Oyá Oyá...,
também cantado por Alcione no começo da faixa). Os quatro
versos que antecedem o refrão principal também não
parecem combinar com o que vem a seguir. Foi gravado por Clara
Santhana (intérprete de Clara no musical "Deixa Clarear") e
defendido por Tinga. NOTA DO SAMBA: 9,4. Clique aqui pra ver a letra do samba
Mocidade 2019 (Domenil)
- Finalista na disputa da Mocidade, esta obra em nada deve à
vencedora. Bastante dolente e com a cara da escola, o samba tem a
particularidade de não ter nenhum refrão. Os melhores
trechos do samba são os falsos, em especial o do meio, de linda
melodia ("Já virou primavera chegando em flor...").
A partir do falso refrão que menciona a paradinha,
há uma clara intenção de homenagear o
clássico samba-enredo de 1990. Nos três últimos versos, o trecho "Vou virar virando pra eternidade" possui melodia similar ao "Meu ziriguidum fez brilhar no céu". Me remete aos sambas do começo dos anos 90, sobretudo pela cabeça ser um dos trechos mais notáveis ("Amor, meu amor, não me deixe com saudade"),
expediente semelhante utilizado pelo samba vencedor.
Ótimo samba-enredo, bem defendido por Bruno Ribas,
Marquinho Art Samba e Tem Tem Júnior. NOTA DO SAMBA: 9,7. Clique aqui pra ver a letra do samba
Unidos da Tijuca 2019 (Dudu Nobre)
- O retorno de Laíla à Unidos da Tijuca, onde dirigiu o
Carnaval no começo dos anos 80, foi determinante para a
agremiação voltar a ter um alto nível na disputa
de sambas. Excetuando o Carnaval 2016, quando a safra também foi
de qualidade, os sambas tijucanos eram apenas corretos e funcionais.
Para 2019, a sinopse sobre o pão que misturava religião
com a citação a povos como os do Egito e da
Mesopotâmia (dos quais Laíla parece ter obsessão)
não dava a impressão de que poderia inspirar os
compositores. Mas felizmente, estes souberam explorar o apelo religioso
do texto e construíram obras emocionantes que chegavam a se
aproximar até de músicas do gênero gospel, com
versos similares a orações. Tanto que o hino vencedor
é o que mais pode ser tachado de "samba-gospel". Por mais que o
samba que a Tijuca levará para a Sapucaí seja um dos
melhores do ano, o hino da parceria de Dudu Nobre, finalista na
disputa, era superior. E mais: um dos melhores concorrentes derrotados
da década. Começa com um incomum nos dias de hoje "ôôôôôôô lalaiá"
inserido entre o refrão principal e a primeira, que
provavelmente cairia se fosse eleito. O samba mantém uma
regularidade melódica impressionante, do primeiro ao
último verso. São muitos os trechos de destaque, como "A aura do Pavão pode vencer o mal", "Pra transformar um mundo tão cruel/Convoquei o povo lá do Morro do Borel", "Pros negros, o samba, a alegria e as palmas", "Ninguém vai secar nosso axé/A massa precisa de amor e fé" e "Eu sou Tijuca/Não me fale de alforria/Não existe liberdade/Sem o pão de cada dia". É um samba-enredo que, mesmo todo dolente, não deixa de ter valentia,
cuja explosão desponta no falso refrão principal, muito
bem antecedido por um curto refrão, num recurso que costuma dar
certo. Na impecável gravação, Dudu Nobre tem uma
magistral interpretação na primeira passada, entregando o
bastão pra Vítor Cunha, que mantem a altíssima
qualidade deste lindo samba, que por algum pecado (com o perdão
do contexto do enredo) não desfilará na Passarela do
Samba. Uma pena! NOTA DO SAMBA: 10. Clique aqui pra ver a letra do samba
Imperatriz 2019 (Róbson Lourenço)
- A fraca sinopse sobre o dinheiro tinha como intenção
gerar sambas leves para o tema, como foi visto na inexpressiva safra
gresilense para 2019, de longe a pior da escola nos últimos
anos. Mas um foi exceção. Este dolente e
pesadíssimo samba defendido pelo experiente Alexandre D'Mendes.
Diante do texto simplório redigido pelos carnavalescos, os
compositores tentaram reinventar o enredo, construindo uma ótima
poesia para a obra e evitando clichês vistos em praticamente
todos os concorrentes, como as citações a Tio Patinhas, e
"moeda virtual" pra rimar com "espaço sideral" (isto presente no
samba campeão). Possui três refrães, sendo o melhor
deles o do meio "Lá no Valongo tinha/venda de negra mina/Oxum menina que já foi Imperatriz". O outro mais curto tem um ótimo efeito em "Amor em ouro e ouro em dor". Possui outros versos inspirados como "Se acabar o dinheiro/não há de faltar o pandeiro/o verbo, a inspiração", "cobiça capaz de enlouquecer a mente sã/luziu em agonia no afã/foi a perdição de Midas", "nessa roleta da vida não se anda só" e "o faz de conta vem brincar".
Disparado o melhor samba da eliminatória gresilense, acabou
cortado nas primeiras semanas, ficando claro que o estilo do
samba-enredo desejado pelos carnavalescos era outro. Tanto que o que
desfilará na Sapucaí é praticamente uma marchinha.
A sinopse e o enredo não mereciam este ótimo samba. NOTA DO SAMBA: 9,6. Clique aqui pra ver a letra do samba
Porto da Pedra 2019 (Altay Veloso)
- A disputa da Porto da Pedra para essa temporada teve uma
contradição. No anúncio do enredo sobre
Antônio Pitanga, foi possivel notar os compositores Altay Veloso
e Paulo César Feital reunidos com o consagrado ator, posando pra foto
juntamente com autoridades da escola, dando a entender que o samba
seria encomendado à parceria da dupla. No entanto, mais tarde
foi confirmada a eliminatória na agremiação. E
Feital e Altay participaram da disputa, com este samba sofisticado em
primeira pessoa de formato pouco convencional. São
refrães extensos, com versos entoados rapidamente, mas que
não deixam de ser sensacionais. Uma primeira parte
quilométrica, mas sem ser cansativa, muito pelo
contrário. E uma segunda mais curta, o que não significa
que seja apenas uma reles preparação para o refrão
principal. Tem grandes sacadas, como o já inesquecível "Fiz Camila no dendê/Rocco no canjerê"
do memorável refrão do meio. A gravação
é um tanto estranha, onde predominam uma percussão com um
órgão, enquanto Igor Vianna e Thiago Brito cantam o tempo
todo com as vozes duplicadas. Carlos Fonseca em sua coluna Sambando por aí... e também no programa Carnaval Show na Rádio Show do Esporte
afirma que o ritmo se assemelha a um jazz. Finalista da disputa,
acabou derrotado, para tristeza dos sambistas nas redes sociais. Se
fosse para a Sapucaí, seria favorito ao Estandarte de Ouro da
Série A. NOTA DO SAMBA: 9,7. Clique aqui pra ver a letra do samba
Leia também: - Os enredos que o Carnaval Virtual inspirou no Real - Obrigado Crivella! |
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