PRINCIPAL EQUIPE LIVRO DE VISITAS LINKS ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES ARQUIVO DE COLUNAS CONTATO |
|||||||||||||||||||||||||||
Carnaval e Política - 2º Turno
SE EU VOTEI CERTO SÓ O TEMPO DIRÁ...
- Top 10 Sambario - Dez Sambas Históricos da
Paraíso do Tuiuti
29 de outubro de 2018, nº 36 Conforme prometido (ao contrário de muito político por aí, eu prometo e cumpro), divulgo o segundo turno do Instituto Data Top 10 Sambario – sem margem de erro – com dez sambas enredos que exaltaram líderes políticos ou simplesmente falam em política e eleições. E, por incrível que pareça, ao longo da história dos desfiles, rolaram muitos enredos chapa branca. E, parafraseando um samba da Unidos do Cabuçu, se eu votei certo? Só o tempo dirá... O
título era épico (bem ao estilo da
escola) e à primeira percepção, uma
intenção nobre: sob a narrativa de um griô
(um homem velho e sábio) a Beija-Flor pela enésima vez
“resgataria sua alma
africana” e prestaria homenagem à pequena e pouco
conhecida Guiné Equatorial,
pequeno país do continente negro, exaltando-lhe elogiar belezas
naturais e
lendas da África. Tudo transcorria muito bem no período
pré-carnavalesco até
que jornalistas e pesquisadores começaram a ir além da
página 2: pululavam
reportagens e informações de que a deusa da passarela
haveria recebido um polêmico
patrocínio de R$ 10 milhões para levar à
Sapucaí enredo sobre a violenta
ditadura de Teodoro Obiang, no comando da Guiné Equatorial desde
1979. Após a apuração das notas, a Beija-Flor foi consagrada como a grande campeã do carnaval de 2015, dando a volta por cima depois do fiasco do ano anterior, quando ficou em sétimo lugar, ao homenagear o jornalista José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Ainda no clima da comemoração, uma nova informação aumentou as especulações em torno do enredo da escola de Nilópolis. O carnavalesco Fran-Sérgio, integrante da comissão de carnaval da azul e branca em 2015, afirmou que o patrocínio dado à agremiação veio de empresas brasileiras que têm obras no país africano. Ele citou o nome das empreiteiras Queiroz Galvão e Odebrecht, envolvidas em denúncias da Operação Lava-Jato, e do grupo ARG. O
homenageado Teodoro
Obiang Nguema Mbasogo, de 76
anos, ditador há 39 anos da Guiné Equatorial, é o
chefe de Estado há mais tempo
no poder na África, e o oitavo governante mais rico do mundo,
segundo a revista
Forbes, é frequentador discreto do Sambódromo e
expectador do desfile das
escolas de samba desde 2005. Obviamente, Obiang não desceu de
seu luxuoso
camarote para desfilar na agremiação nilopolitana. A
Guiné Equatorial é um pequeno país da
África Ocidental, formado por duas ilhas e um pedaço
estreito de continente, e
habitado por 700 mil pessoas. Ao mesmo
tempo que é um país miserável, é
também o terceiro maior produtor de
petróleo da África, perdendo apenas para Nigéria e
Angola. Para
escapar da acusação de ter feito
um carnaval financiado por uma das mais cruéis ditaduras do
mundo, conforme
relatório de 2013 do Departamento de Estado do governo
norte-americano, a
comissão de carnaval da Beija-Flor preferiu elogiar belezas e
lendas da África.
Somente em duas passagens, o samba enredo fala diretamente da
Guiné. Uma quando
a chama de Guiné, rima mais fácil. Outra quando se refere
a ela como Guiné
Equatorial. Por
exigência do ditador, um verso do samba
foi modificado para chamar Guiné de Guiné Equatorial,
já que na África mais
duas Guinés — a Bissau e a somente Guiné –
sendo que as duas são vizinhas. A
Guiné é vítima de um surto de ebola e Obiang
não quer que a sua Guiné
Equatorial seja confundida com a Guiné do ebola. Com
mais este controverso enredo, a
Beija-Flor sagrou-se campeã do Grupo Especial, conquistando seu
13º título. Formosa Divina
ilha testemunha dos grilhões Eu
vi a escravidão erguer nações Mas
a negritude se congraça A
chama da igualdade não se apaga Olha
a morena na roda e vem sambar Na
ginga do Balelé, cores no ar Dessa
mistura faço carnaval Canta
Guiné Equatorial (J.Velloso,
Samir Trindade, Jr Beija Flor, Marquinhos Beija
Flor, Gilberto Oliveira, Elson Ramires, Dílson Marimba e Silvio
Romai) ********************
********************************** O
centenário de Miguel Arraes foi o
motivo do enredo da Unidos de Vila Isabel em 2016. Segundo o
carnavalesco Alex
de Souza, foi um enredo menos biográfico e mais das causas
sociais e pelos
direitos das pessoas. “Não é a biografia do Miguel
Arraes, mas é um enredo
politizado, pois fala da luta dos menos favorecidos, fala dos
flagelados da seca”,
afirmou à época o carnavalesco. O tema foi de autoria de
Martinho da Vila, um
simpatizante da trajetória política de Arraes. “Pai
Arraia” é o nome pelo qual os
habitantes mais humildes de Pernambuco se referiam a Arraes. Mesmo
tendo sido a
primeira escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval, a escola do
bairro de
Noel Rosa concluiu o desfile aos gritos de “é
campeã”, do público que lotava as
arquibancadas populares da Praça da Apoteose, no
Sambódromo da Marquês de
Sapucaí, no Rio de Janeiro. 9º
lugar: UNIDOS DE VILA ISABEL – “Memórias
do ‘Pai Arraia’ - um sonho pernambucano, um legado
brasileiro” (2016)
O
homenageado Cearense
que fez carreira política em
Pernambuco, Miguel Arraes de Alencar (1916 - 2005) foi um dos maiores
expoentes
da esquerda brasileira. Formado em direito, Miguel Arraes foi deputado
estadual, federal e governador de Pernambuco por três vezes. Aliado
do ex-presidente João Goulart,
exercia seu primeiro mandato como governador de Pernambuco, quando, no
dia 1º
de abril de 1964, foi deposto pelo regime militar. Arraes ficou 13 anos
exilado
na Argélia.
Voltou
ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia política. Em
1982, elegeu-se
deputado federal pelo PMDB. Em 1986, foi eleito pela segunda vez
governador de
Pernambuco. Em 1990 fundou o PSB, pelo qual conseguiu, por mais uma
vez, ser
eleito deputado federal. Foi governador pela terceira ocasião em
1994. Morreu
aos 88 anos, em 2005, no
exercício de seu último mandato político (como
deputado federal). Três anos
depois, em 2008, sua viúva, Magdalena Arraes, criou o Instituto
Miguel Arraes
com o objetivo de preservar a memória do ex-governador. O
Pai Arraia rendeu o oitavo lugar no
Grupo Especial para a Vila. Com
ternura me chamavam Pai Arraia Onde
os arrecifes desenham a praia Um
sentimento no coração, no
pensamento, soluções reais Liberdade
se conquista com educação Juntei
os artistas e intelectuais (
Martinho
da Vila, Arlindo Cruz, Mart’nália, André Diniz e
Leonel) ********************
**********************************
8º
lugar: UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR –
“Cidade Maravilhosa, o sonho de Pereira Passos” (1997) Em
1997 a simpática Ilha teve como
enredo a transformação da cidade do Rio de Janeiro,
então capital federal, nos
primeiros anos do século XX. A imagem da cidade precisava ser
reconstruída e
transformada em símbolo de modernidade. Sob
o comando do engenheiro Francisco
Pereira Passos (1863-1913) e com inspiração no modelo de
arquitetura e
urbanismo francês, a cidade se transformou em um imenso canteiro
de obras, no
que foi denominado na época como o “bota-abaixo”. O
Rio de Janeiro deixava de
ser a “cidade da morte” para a “cidade
maravilhosa”.
No
entanto, a tricolor não foi feliz em
seu desfile. Para início de conversa, parte do abre-alas
não chegou à avenida.
A falta de dinheiro que já atingia várias escolas –
como a Estácio de Sá que havia
sido campeã do Grupo Especial cinco anos antes e que caiu
naquele carnaval –
também afetou demais a União da Ilha. O carnavalesco
Roberto Szaniecki, nem viu
o carnaval assinado por ele passar na Sapucaí: fora demitido
pela direção da
escola na véspera do desfile.
Apesar
de todas as intempéries, aquele foi o ano da estreia de Ito
Melodia como
intérprete absoluto da Ilha, já que até o ano
anterior, o filho do legendário
Aroldo Melodia era cantor de apoio de seu pai.
Muitos
críticos condenaram a escolha
desse enredo porque o ex-prefeito Pereira Passos expulsou grande
parcela da
população carente de sua época do centro da cidade
e, sendo as escolas de samba
fruto da criação desse segmento da
população, homenagear essa personalidade não
seria algo confortável. O
homenageado Na
primeira década do século passado, o
Rio de Janeiro passava por graves problemas sociais, decorrentes, em
grande
parte de seu rápido e desordenado crescimento, alavancado pela
imigração
europeia e pela transição do trabalho escravo para o
trabalho livre. Na ocasião
em que Pereira Passos assume a Prefeitura da cidade (de 1902 a 1906), o
Rio de
Janeiro, com sua estrutura de cidade colonial, possuía quase um
milhão de
habitantes carentes de transporte, abastecimento de água, rede
de esgotos,
programas de saúde e segurança. Na
região central do Rio de Janeiro – a
Cidade Velha e adjacências – eclodiam
habitações coletivas insalubres
(cortiços), epidemias de febre amarela, varíola,
cólera, conferindo à cidade a
fama internacional de porto sujo ou "cidade da morte", como se
tornara conhecida. A
reforma urbana de Pereira Passos
visou o saneamento, o urbanismo e o embelezamento, dando ao Rio de
Janeiro ares
de cidade moderna e cosmopolita.
Apesar
das melhorias sanitárias e
urbanísticas, o plano do plano do ex-prefeito implicou em um
alto custo social,
com o início das formações de favelas na cidade. A
Ilha ficou em 12º lugar em 1997,
quase caindo para o acesso A. Fiz
brilhar Pintei
meu Rio qual retrato de Paris Com
a cidade iluminada O
carioca tem a noite mais feliz Mostrando
ao mundo a riqueza nacional Meu
Rio agora é belle époque tropical (Bujão,
Carlinhos Fuzil e Wanderlei Novidade) ********************
****************************** 7º
lugar: UNIDOS DE VILA ISABEL –
“Aruanã-Açu”
(1974) Algumas vezes, a censura de um regime político interna afetava a cultura popular, inclusive os desfiles das escolas de samba, que sofriam interferência governamental para que não só calassem sobre fatos desagradáveis para a ditadura, como tivessem que louvar o regime, fazer-lhe propaganda. Assim foi com o Salgueiro de Pamplona, que em 1967 apresentou a “História da Liberdade no Brasil” – o carnavalesco dizia que agentes do DOPS costumavam rondar a quadra da escola e não foram poucas as vezes que subitamente faltava luz durante os ensaios. E também com o Império Serrano quando apresentou “Heróis da Liberdade”, como vimos na coluna 35. Em
1974, o músico e escritor Martinho da Vila, compositor da escola
de samba
Unidos de Vila Isabel, inscreveu um samba para o carnaval da escola
naquele ano,
“Aruanã Açu”, em que cantava a
resistência dos índios Carajás diante do
progresso desenfreado. O samba foi censurado e por
imposição do governo
militar, a escola foi obrigada a substituir não só o
samba como também o viés
do enredo. Sai a saga do povo carajá e o tema sofreu uma guinada
de 180 graus, passando
a elogiar um dos megaempreendimentos do regime, a estrada
Transamazônica.
Segundo
contou Martinho, em entrevista, o samba ufanista foi mal recebido pelo
público,
e
ele próprio teve que conspirar politicamente
para que a Vila Isabel não fosse rebaixada: “era tempo de
opressão e a
diretoria da Vila, na época presidida pela Pildes Pereira, foi
pressionada pela
censura política e, sob ameaça, foi obrigada a cortar o
meu samba, tachado de
subversivo, e mudar o desenvolvimento do enredo, passando a fazer uma
exaltação
à estrada Transamazônica”, conta Martinho no
documento “Relatório Comissão da
Verdade
- Tomo I - Parte II - Violações
aos Direitos
dos Povos Indígenas. A
Vila desfilou sob vaias, xingamentos e indiferença. O compositor
percebeu que a
queda para o Segundo Grupo era iminente. Aí, Martinho conta que
lembrou da Beija-Flor
de Nilópolis que, em anos anteriores, para se segurar entre as
grandes, apresentou
enredos puxa-saco e se deu bem. “Lá na avenida mesmo eu
comecei a articular
politicamente”. Martinho explicou que a escola conseguiu uma
decisão do governo
do antigo estado da Guanabara, na pessoa do ex-governador Chagas
Freitas
(nomeado pelo Palácio do Planalto) determinando que naquele ano
nenhuma escola
caísse.
O
samba de Martinho descartado pela Vila foi renomeado para “Tribo
dos Carajás” e
gravado pelo artista em seu disco “Canta, canta, minha
gente”, lançado em 1975.
Das
dez escolas que desfilaram no grupo
Especial de 1974, a Vila Isabel tirou o último lugar. No
entanto, graças à
articulação política liderada por Martinho da Vila
junto ao governo do Estado,
a Riotur determinou que nenhuma escola cairia para o Segundo Grupo. A
decisão
beneficiou as duas últimas colocadas (Vila e Unidos de
São Carlos), que não
desceram. Para o carnaval de 1975, o Grupo Especial contou com 12
escolas: as
dez que desfilaram no ano anterior e mais União da Ilha do
Governador e Unidos
de Lucas, respectivamente as escolas campeã e vice do Segundo
Grupo em 74. A
grande estrada que passa reinante Por
entre rochas, colinas e serras Leva
o progresso ao irmão distante Na
mata virgem que adorna a terra O
uirapuru, o sabiá, a fonte, As
borboletas, perfumadas flores, A
esperança de um novo horizonte Traduzem
festa, integração e amores (Paulinho
da Vila e Rodolpho) ********************
****************************** 6º
lugar: TUPY DE BRÁS DE PINA – “Brasil,
glória e integração” (1975)
A
Tupy de Brás de Pina tem em seu
currículo muitos enredos em homenagem a grandes personalidades,
especialmente
das artes. Fundada em 1948, ao longo de sua trajetória, a azul e
branco
decantou nomes como Dorival Caymmi (1985), Chiquinha Gonzaga (1972),
Wilson das
Neves (2017), Gonçalves Dias (1962), Almeida Junior (1960) e
Nélson Rodrigues
(1982), e da folia, como Clóvis Bornay (1996), Armando Campos
(1993) e Oswaldo
Sargentelli (1994).
A
Tupy ganhou notoriedade pela
apresentação do antológico samba “Seca do
Nordeste” no carnaval de 1961, quando
foi vice-campeã do antigo Segundo Grupo (atual Grupo de acesso
A), perdendo
para a Unidos do Cabuçu. No entanto, a escola do subúrbio
da Leopoldina também
resolveu pegar carona no artifício dos enredos ufanistas que
algumas escolas
recorreram durante a década de 70. Em 1975, resolveu exaltar o
Plano de
Integração Nacional, um programa de cunho
geopolítico criado em 1970 pelo
governo militar brasileiro, durante o mandato do general Emílio
Médici.
A
proposta do PIN era baseada na
utilização de mão de obra nordestina liberada
pelas grandes secas do final da
década de 60 e na noção de vazios
demográficos amazônicos. É desta época que
surgiram os lemas “integrar para não entregar” e
“terra sem homens para homens
sem terras”.
O
PIN previa que cem quilômetros em cada lado das estradas a ser
construídas
deveriam ser utilizadas para a colonização por cerca de
quinhentas mil pessoas,
ou seja, uma meta de assentar cem mil famílias. A rodovia
Transamazônica foi a
principal via escolhida para a colonização.
A
escola venceu o Segundo Grupo em 1975
e obteve o direito de ascender ao Grupo Especial. No ano seguinte, deu
seguimento aos temas ufano-nacionalistas, exaltando as cores do
pavilhão
brasileiro, com o enredo “Riquezas áureas da nossa
bandeira”. Ao
todo, a Tupy desfilou na elite do
samba em quatro oportunidades: 1958, 1959, 1972 e 1976. Já
bastante decadente,
a agremiação enrolou sua bandeira em 1998, quando subiu
do Acesso E para o D
com um terceiro lugar. Ressurgiu das cinzas em 2015, depois de mais de
quinze anos
sem desfilar. Meses após o carnaval de 2018, foi anunciada a
transferência de
sua vaga para uma agremiação ligada a torcedores do
Botafogo de Futebol e Regatas
– a Botafogo Samba Clube. Assim, a charmosa e lendária
Tupy de Brás de Pina
voltou a se chamar saudade. Hoje,
quando um novo sol Brilha
no horizonte Um
panorama fascinante Surge
a integração nacional Vejam
que o Brasil se enobrece Dando
o valor que merece, Ao
trabalhador rural (Ala
dos Compositores) ********************
****************************** 5º
lugar: UNIDOS DE VILA ISABEL – “Soy
loco por ti América: A Vila canta a latinidade”
(2006) E
deu Bolívar no samba! Rica e
profissional como nunca antes imaginado, a Unidos de Vila Isabel se
tornou a
campeã do carnaval de 2006. Foi o segundo título da
escola, que havia vencido
pela primeira vez com o histórico “Kizomba”, em
1988. Se no ano do centenário
da abolição a escola vinha de uma pobreza quase
franciscana, sem quadra,
ensaiando na rua, dando sangue, suor e lágrimas em sua
apresentação, a situação
foi o oposto em 2006. O enredo “Soy loco por ti,
América”, de Alexandre
Louzada, foi patrocinado pela petrolífera venezuelana PDVSA, que
investiu cerca
de R$ 1 milhão dos quatro milhões de reais gastos pela
escola. À
época do desfile, o presidente da
Vila, Wilson Moreira Alves, o Moisés, disse que pretendia fazer
uma “gestão
empresarial” na escola. Segundo o dirigente, o patrocínio
da PDVSA foi
fundamental para que a branco e azul pudesse trazer alegorias ricas.
A
euforia com o tema e o patrocínio estrangeiro
era tanta que correram boatos de que até o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez
(1954 - 2013), fosse desfilar com a
escola na Sapucaí, fato que não se confirmou na avenida.
“Procuramos explorar a
união cultural da América Latina, resgatar a identidade
de nosso povo. Foi um
tema polêmico, que mexeu com diversos interesses
políticos. Mas somos artistas.
Não fizemos propaganda política. Falamos apenas sobre a
integração cultural. Daí
vem os pensamentos de Bolívar como espinha dorsal de nosso
trabalho. Mas não é
a política que nos interessa”, justificou Louzada, que
após o título na Vila,
se transferiu para a Beija-Flor, onde passou a integrar a poderosa
comissão de
carnaval, que garantiu à escola de Nilópolis o
bicampeonato de 2007/2008 e mais
o caneco de 2011.
A
Vila terminou a apuração empatada com
a Grande Rio em 397,6 pontos, mas venceu no principal quesito de
desempate,
samba-enredo. Curiosamente, foi por causa de seu samba que a Vila se
envolveu
em uma polêmica meses antes do carnaval. Martinho da Vila,
presidente de honra
e nome mais importante da escola, brigou com a diretoria por ter tido o
samba
que inscreveu eliminado, e não participou do desfile. Arriba,
Vila Forte
e unida Feito
o sonho do libertador A
essência latina é a luz de Bolívar Que
brilha num mosaico multicor Para
bailar “La Bamba”, cair no samba Latino-americano
som No
compasso da Felicidade “Irá
pulsar mí corazón” (André
Diniz, Serginho 20, Carlinhos do Peixe e Carlinhos
Petisco) ********************
****************************** 4º
lugar: SÃO CLEMENTE – “Já vi este
filme” (1991) Depois
de apresentar no desfile do
Grupo Especial de 1990 o samba-enredo “E o samba sambou”
(que será reeditado em
2019) – no qual criticava a privatização que
transformou o carnaval em show business – e
obter assim a sua
melhor colocação de sua história, a
agremiação preto e amarelo do bairro de
Botafogo anunciou o tema “Já vi este filme”,dos
carnavalescos Carlinhos
D’Andrade, Roberto Costa e César d’Azevedo. A escola
almejava ser ainda mais
contundente na crítica e na irreverência que a
notabilizaram.
A
letra do samba se refere, ainda que
simbolicamente, a personagens da política brasileira. O enredo
tem como fio
condutor o personagem Clementius e se passa em um futuro muito
distante, mais
precisamente em 2991, exatos mil anos depois daquele carnaval. Com
muita
malícia, irreverência, humor, sentido figurado e uma boa
dose de cinismo, a
escola perpassa toda a história política brasileira, com
setores representando
o Descobrimento, a escravatura e o tráfico negreiro (os
“saturnafricanos”,
segundo os carnavalescos), Tiradentes, a chegada da Família
Real, a
Independência, a Proclamação da República
até chegar à presidência de Fernando
Collor. Era o auge da criatividade do trio Andrade, Azevedo e Costa,
uma
espécie de Monty Python da folia carioca.
Devido
à excepcional colocação obtida em
1990 (sexto lugar), a apresentação da São Clemente
era bastante aguardada. A
escola encerrou o desfile de domingo, com 4.500 componentes em 24 alas.
Apesar
do tom irônico e bem-humorado do
desfile, havia um quê de pessimismo no ar, pois a escola abria e
encerrava a
apresentação com a mesma alegoria (ou melhor, dois carros
distintos, mas
confeccionados exatamente igual, apresentados no início e no
final do desfile)
representando o final dos tempos, o caos social, a desesperança,
a decadência
humana, significando que tudo é cíclico, com as coisas
terminando da mesma
forma que começam. Ou seja: já vimos este filme!
Das
16 escolas daquele inchado Grupo
Especial de 1991, a São Clemente chegou em 11º lugar. Como
o regulamento previa
o rebaixamento das quatro últimas, a escola da zona sul desceu
para o Grupo 1-B
(atual Série A) junto com Lins Imperial, Império Serrano
e Acadêmicos da Grande
Rio. Passaram
os anos foi aberta a exceção Diretamente
vai às urnas o povão Cansado,
confiscado, sem saber o que
fazer Vendo
“Clementius” novamente no poder É
brincadeira quá, quá, quá Pau-brasil
que nasce torto Sempre
torto vai ficar (Manoelzinho
Poeta, Jorge Melodia, Jorge Moreira, Severo e
Haroldo Pereira) ********************
******************************
3º
lugar: UNIDOS DO CABUÇU– “Será que
eu votei certo para presidente?” (1990) Depois
de ter sido marcada como a
escola das homenagens a personalidades (Beth Carvalho em 1984, Roberto
Carlos
em 1987, Os Trapalhões em 1988 e Milton Nascimento em 1989), a
Unidos do Cabuçu
resolveu enveredar para a sátira, vertente que estava muito em
voga na época. Em
1990, graças ao tapetão que a
garantiu no Grupo Especial, a escola abriu o desfile de domingo: a Lins
Imperial, vice-campeã do Segundo Grupo em 1989, havia impetrado
uma ação
judicial requerendo o direito de desfilar na categoria principal, vaga
já
garantida à campeã Acadêmicos de Santa Cruz. Assim,
para formar as 16 escolas da
elite do carnaval, a Cabuçu foi mantida. O
enredo questionava: “Será que votei certo para
presidente?”. O Brasil vivia
dias de esperança no início daquele ano. Depois da
primeira eleição direta para
presidente, vencida por Fernando Collor de Mello, o povo acreditava que
a volta
da democracia finalmente seria consolidada e os eternos problemas
sócio-econômicos acabariam de uma vez por todas. O
desfile da Cabuçu aconteceu antes da
posse de Collor. Cerca de um mês depois, houve o famigerado
confisco das
poupanças, liderado pela ministra da Economia Zélia
Cardoso de Melo, prejudicou
milhares de famílias e a inflação galopante
não havia sido de todo controlada. O
enredo não rendeu o esperado e, apesar da garra dos componentes,
de cara a
escola manifestava as dificuldades enfrentadas no pré-carnaval.
A
escola presidida por Therezinha Monte
usou e abusou da sátira e crítica política.
Vários bonecos com componentes representando
Collor.
Outro
carro alegórico da escola
representava os candidatos derrotados na eleição de 1989
com pernas femininas –
uma alusão ao “Cabaré do Barata” um programa
humorístico exibido na TV Manchete
que era apresentado por Agildo Ribeiro em que ele contracenava com
fantoches de
políticos como Fernando Collor de Mello, Leonel Brizola, Luiz
Inácio Lula da
Silva, e outros bonecos oriundos do programa Agildo no País das
Maravilhas, que
era exibido na TV Bandeirantes.
Em
outra alegoria, uma destaque bem
gordinha (hoje em dia se diria “plus size”) representava a
inflação enorme que
o Brasil vivia.
Das
16 agremiações do Grupo Especial, a
Unidos do Cabuçu chegou em último lugar, sendo rebaixada
para o Grupo 1-B
(atual Série A). Desde então, a agremiação
não retornou mais à elite do
carnaval. Senhor
Presidente Pra
essa miséria ter fim Faça
um governo capaz Dê
melhor vida, amor e paz O
povão espera assim (Afonsinho,
João Anastácio, Walter da Ladeira e Carlinhos do
Grajaú) ********************
****************************** 2º
lugar: IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – “Liberdade,
liberdade. Abra as asas sobre nós” (1989) Em
um ano, a Imperatriz Leopoldinense
foi do oito ao 800. Em 1988, a verde e branco do bairro de Ramos tinha
feito “Conta
outra que esta foi muito boa”, de Luiz Fernando Reis,
ex-carnavalesco da
Caprichosos de Pilares. Era um enredo político, de protesto, e a
escola não se
saiu muito bem: chegou em último lugar. Salva
pelo tapetão, para o ano
seguinte, a direção da escola optou por fazer um enredo
nos moldes antigos,
exaltando o centenário da Proclamação da
República. A princesa Isabel passou de
vilã a heroína em um ano. Se em 88, o samba falava
“De 71 com a realeza / me
mandou uma princesa / que fingiu me libertar”, em 89, a escola
cantava a plenos
pulmões “pra Isabel, a heroína / que assinou a lei
divina (...).
O
ano de 1989 também marcou o primeiro
desfile do carnavalesco Max Lopes na Imperatriz, que apresentou um
espetáculo bem
luxuoso. A escola contou a história do fim da
monarquia brasileira
e a proclamação da república tendo como
personagens históricos, D. Pedro II,
princesa Isabel e marechal Deodoro, além de citar fatos como a
Guerra do Paraguai,
a chegada dos imigrantes europeus no final do século 19 e a
abolição da
escravatura.
Uma
das imagens que mais marcaram este
desfile e que simbolizava a grandiosidade da escola foi a de um carro
alegórico
que retratava a Guerra do Paraguai. Sobre o cavalo mais alto, veio o
destaque
Zacarias de Oxóssi, representando Duque de Caxias montado em
cima de um cavalo,
que era mais alto do que a torre de televisão do
Sambódromo. A
posição do componente ultrapassava os
nove metros e meio da torre de televisão. Ao se aproximar do
monumento, um
mecanismo fez com que o cavalo abaixasse. O destaque tirou o
chapéu e a
alegoria passou tranquilamente, para delírio do público
que lotava as
arquibancadas da Sapucaí. Não
há como deixar de lembrar também
que em 1989 houve o duelo luxo versus lixo. Enquanto a Imperatriz vinha
riquíssima e soberana, Joãosinho Trinta encheu a avenida
de mendigos, com o
enredo da Beija-Flor: “Ratos e urubus, larguem a minha
fantasia”, que igualmente
extasiou o público, marcou época e, há quem diga
que foi o maior desfile de
todos os tempos. Na
apuração, como as menores notas
“caíam”,
Imperatriz e Beija-Flor terminaram empatadas. O quesito de desempate
era
samba-enredo, e como “Liberdade, liberdade” só
recebeu notas dez (na véspera, o
samba havia ganho o Estandarte de Ouro do júri oficioso do
jornal O Globo), a escola
foi consagrada campeã com um desfile memorável. O
título devolveu a Imperatriz
ao grupo das grandes escolas na época, já que a entidade
vinha chegando nas
posições intermediárias nos últimos
carnavais. Na
noite quinze reluzente Com
a bravura finalmente O
marechal que proclamou Foi
presidente Liberdade,
liberdade Abra
as asas sobre nós E
que a voz da igualdade Seja
sempre a nossa voz (Niltinho
Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir) ********************
******************************
1º
lugar: BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS “Educação
para o desenvolvimento” (1973) “Brasil
Ano 2000” (1974) “O
grande decênio” (1975) Até
hoje quando se fala em enredos
ufanistas ou adesistas, a primeira ideia que vem à cabeça
são os enredos da
Beija-Flor desenvolveu na primeira metade da década de 70.
É
importante contextualizar aquela época.
A Beija-Flor nem sonhava em ser a potência carnavalesca que se
tornou e nem
possuir o gigantismo que a simbolizou nos carnavais seguintes, com a
Era
Joãosinho Trinta. A Beija era apenas uma escola da Baixada
Fluminense que a
muito custo lutava para se manter no Grupo Especial.
A
agremiação já era comandada pela
família Abraão David desde a década de 60. Em
1965, Aniz Abraão David (o Anísio),
então já em ascensão no jogo do bicho, teve uma
rápida passagem pela
presidência da escola. Posteriormente, seu irmão mais
novo, Nelson, foi eleito
presidente, em 1972. Naquele ano, em virtude da
comemoração do sesquicentenário
da Independência do Brasil, várias escolas apresentaram
temas de exaltação à
pátria. Para
o ano seguinte, a direção da
Beija-Flor resolveu ir além no ufanismo e resolveu prestigiar os
feitos do
governo militar, no sentido de angariar a simpatia do regime e dos
jurados dos
desfiles, que eram escolhidos pela poderosa Empresa de Turismo do
então estado
da Guanabara, a Riotur. A
escola apresentou um enredo sobre a
educação em 1973 e conquistou o vice-campeonato do
Segundo Grupo, retornando à
divisão principal treze anos depois. Veja
que beleza de nação O
Brasil descobre a educação Graças
ao desenvolvimento E
a reforma do ensino O
futuro, o amanhã Está
nas mãos destes meninos Vamos
exaltar Vamos
exaltar As
professoras Que
ensinam o bê-a-bá (César
Roberto Neves e Darvin)
A
partir da chegada da Beija-Flor ao
Grupo Especial, Anísio tornou-se patrono e presidente de honra
da escola,
transformando-se numa espécie de mecenas, e assumindo cada vez
mais as decisões
na entidade.
Em 1974, a escola contratou uma carnavalesca novata, recém-formada pela Escola de Belas Artes, que havia sido aluna de Fernando Pamplona e tinha trabalhado na equipe de carnavalescos do Salgueiro: a jovem Rosa Magalhães. A artista desenvolveu para a Beija-Flor o enredo “Brasil Ano 2000”, na qual fazia uma projeção de como seria o país na virada do século caso prosperassem todos os programas desenvolvimentistas dos governos militares. Apresentando
uma competente organização,
bom desenvolvimento dos quesitos e contando com a adesão da
comunidade, a
Beija-Flor chegou em 7º lugar. Como não houve rebaixamento
naquele ano, como
vimos quando falamos sobre a Vila Isabel e seu
“Aruanã-Açú”, a escola de
Nilópolis se manteve por mais um ano na divisão principal. É
estrada cortando A
mata em pleno sertão É
petróleo jorrando Com
afluência do chão Sim
chegou a hora Da
passarela conhecer A
idéia do artista Imaginando
o que vai acontecer No
Brasil no ano dois mil Quem
viver verá Nossa
terra diferente A
ordem do progresso (Walter
de Oliveira e João Rosa)
Em
1975, Beija Flor teve como tema de
seu desfile o “Grande Decênio”, samba de autoria do
cantor e compositor Bira
Quininho (ver seção Intérpretes).
A escola, que
encerrou o desfile, exaltou as realizações
dos 10 primeiros anos dos governos militares do Brasil. Assim, a escola
encerrava a trilogia de exaltação aos feitos do regime de
exceção.
Das
doze concorrentes no Grupo
Especial, a escola de Nilópolis classificou-se com folga, ao
obter o sétimo
lugar, e mantendo sua vaga para o carnaval de 1976, que viveria uma
revolução
provocada por um baixinho maranhense. Mas isso é assunto para
outra coluna. É
de novo carnaval Para
o samba este é o maior prêmio E
o Beija-Flor vem exaltar Com
galhardia O
Grande Decênio Do
nosso Brasil que segue avante pelo
céu, mar e terra Nas
asas do progresso constante Onde
tanta riqueza se encerra Lembrando
PIS e PASEP E
também o FUNRURAL Que
ampara o homem do campo Com
segurança total (Bira
Quininho) Gerson Brisolara (Rixxa Jr.) rixxajr@yahoo.com.br |
Tweets by @sitesambario Tweets by @sambariosite |