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CADINHO DA ILHA - ATÉ QUE DEUS LHE AJUDOU
CADINHO DA ILHA - ATÉ QUE DEUS NOS AJUDOU

Cadinho da Ilha

A primeira vez que ouvi a voz de Cadinho da Ilha foi naquela que eu considero uma das mais icônicas gravações dos discos dos grupos de acesso.

Mesmo que a junção do Boi da Ilha do Governador para o Carnaval 2003 tenha sido contestada, aquela levada deliciosa do samba sobre Cabo Frio sempre me faz vibrar.

Quando soube da partida de Cadinho, meu primeiro ato foi reproduzir o "Lindas praias, dunas brancas", em que gravou ao lado de Flávio Martins e Gilson Bacana.

Já devo ter escutado no mínimo umas 10 vezes depois da triste notícia.



O timbre tradicional, rouco e calejado de Cadinho sempre soou como um agrado para meus ouvidos.

A negritude de sua voz carregava a verdadeira essência do samba em suas origens.

Que me faz lembrar até de algumas lendas do ritmo.

Na minha opinião, a mais brilhante interpretação de "Chico Rei", para mim o maior samba da história do Salgueiro, é de Noel Rosa de Oliveira.

Na antológica gravação para o LP "História do Brasil Através dos Sambas de Enredo - O Negro no Brasil" de 1976, o saudoso compositor e intérprete salgueirense emociona.

Com um timbre rasgado e sofrido que revela todo o sentimento da obra-prima, numa comoção incrível a cada verso.

Como se estivesse encarnando o monarca africano capturado como escravo.

E que comprou sua alforria após desbravar o famoso jeitinho brasileiro séculos atrás, ao 'esconder o pó de ouro entre os cabelos'.



Um dos mais consagrados e cultuados sambistas da humanidade trouxe um tom de voz semelhante para o ritmo: Bezerra da Silva.

Trazendo da favela uma interpretação rústica e única.

Sim, o samba tem espaço para todos os estilos.

O Carnaval eternizou algumas das mais brilhantes vozes de todos os gêneros musicais em termos de afinação e técnica, como Jamelão, Roberto Ribeiro, Abílio Martins, Rixxa e Wander Pires.

Já Cadinho sempre me remeteu àqueles guerreiros que resistiram e superaram todas as adversidades para levantar a bandeira do samba.

Afinal, boiadeiro tem raça e se esmera!

Ao lado de nomes como Aloísio Villar, Roger Linhares, Nando Pessoa e Marquinhus do Banjo, ajudou a popularizar o simpático Boi da Ilha do Governador.

A agremiação boiadeira nos ofereceu grandes sambas nos anos 2000 como "Orun Ayê" e outras grandes obras das quais Cadinho foi um dos compositores.

O mesmo grupo emplacou o samba-enredo de 2012 da União da Ilha do Governador sobre a Inglaterra no Grupo Especial, através do memorável refrão "Vou botar molho inglês na feijoada".

O querido Boi que chegou a ficar cinco anos sem desfilar.

Mas que retornou recentemente com toda a força, sendo campeã da Série Bronze no último mês de fevereiro.

E que cantará a vida do também saudoso Quinho no Carnaval 2025, na Série Prata.

Assim como no texto de Carlos Fonseca em sua homenagem, também lembrarei pra sempre com carinho de Cadinho pelo valor afetivo.

Seu auge foi numa época em que eu começava a desbravar a discografia de sambas-enredo.

Ao mesmo tempo, Cadinho ajudou uma nova geração de sambistas a conhecer o clássico insulano "O Amanhã", através de sua gravação na reedição do Boi em 2006.



Sempre quando ouço o belo "Águas de Oxalá" do Boi de 2005, repito com ele o caco "MEU FILHO".

E aquela introdução divertida do irreverente samba de 2007 com o cavaquinho simulando o sinal de ocupado antes do verso: "Alô alô, tem Boi na linha"?

Obrigado, Cadinho da Ilha!

Parafraseando seu grito de guerra: até que Deus nos ajudou!

E com certeza vai continuar pra sempre ajudando a todos os sambistas!



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Marco Maciel
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@marcoandrews