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O DIA EM QUE ENCONTREI O RIXXA EM PORTO ALEGRE
Edição nº 108 - 25/06/2024

O DIA EM QUE ENCONTREI O RIXXA EM PORTO ALEGRE

Rixxa e Marco Maciel, editor-chefe do SAMBARIO, em 14 de junho de 2019

Durante a caminhada que faço diariamente, começou a tocar o samba da Rocinha de 1992 no fone de ouvido. Cantei junto com Rixxa, em mais uma das esplêndidas atuações do nosso popular Pavarotti do Samba.

O timbre poderoso e primoroso revela um dos maiores cantores que o Brasil já produziu, em todos os gêneros.

Me fez lembrar o encontro involuntário e surpreendente que tive com um dos grandes intérpretes que o Carnaval produziu, num momento inusitado e feliz que completou cinco anos no último dia 14.

Estava eu circulando pelo Mercado Público de Porto Alegre um pouco depois do meio-dia naquele junho de 2019 um pouco antes da pandemia, quando vi aquela figura que me parecia familiar com um olhar perdido observando a multidão.

Com uma camisa da Portela aberta e visível sobre um casaco azul, Rixxa revelava um semblante assustado e, ao mesmo tempo, encantado com o forte sincretismo do Mercado Público da capital gaúcha, recentemente reaberto depois das enchentes no Rio Grande do Sul.

Ao mesmo tempo, eu observava aquele carismática personalidade de meia idade em frente a uma das bancas do local. Perguntava pra mim mesmo: "é o Rixxa?". Só podia ser. Não é possível...

Se não for, o homem poderia ser muito idêntico àquele monstro que envergou o microfone para embalar desfiles memoráveis na Sapucaí como o portelense "Gosto que me Enrosco", de 1995.

A camisa da Portela com a águia reluzente me deu certeza absoluta de que se tratava de fato do dono de uma das maiores vozes do samba e da folia do Momo, no meio do povo. Era mesmo um rolê aleatório que estava prestes a acontecer.

Bará do Mercado Público, patrimônio-histórico cultural de Porto Alegre - Foto: Ederson Nunes/CMPA

Rixxa ficou imóvel por alguns segundos, até se dirigir em direção ao Bará localizado no coração do Mercado Público para fazer uma oferenda. Aquele 14 de junho era o dia seguinte à data referente a Santo Antônio, que representa o orixá na religião afro.

O mosaico de pedras e bronze localizado no piso, no meio da encruzilhada do Mercado, reproduz as sete chaves de Exu, responsável pela abertura dos caminhos.

"Preciso falar com ele", pensei comigo mesmo. Então, me dirigi a um dos meus maiores ídolos no Carnaval, até de forma inconveniente. Afinal, quase interrompi a reverência que Rixxa estava prestes a fazer ao sagrado Bará.

"Com licença, mas você é o Rixxa?", questionei. Diante da resposta afirmativa, comecei a falar sem parar da admiração que tinha por ele, perguntei sobre a razão pela qual estava fora do Carnaval.

O intérprete demonstrou mágoa ao falar mal dos dirigentes das escolas de samba, que não lhe davam mais oportunidades.

Então, o Pavarotti do Samba me pediu rapidamente licença para fazer a sua oferenda ao Bará. O cantor fez uma reza num dialeto africano, enquanto jogava algumas moedas no mosaico.

Passado o momento de louvação, continuamos o diálogo. Citei a gravação que o artista recém havia registrado para o concorrente da parceria de Luiz Pião, finalista do Salgueiro na disputa para o Carnaval 2019, do enredo "Xangô". Por sinal, escrevo este texto no dia do orixá.

Por sinal, a Academia do Samba foi onde Rixxa despontou como intérprete principal pela primeira vez, na segunda metade dos anos 80.



Também falei sobre a seção Intérpretes do SAMBARIO e lembrei um pouco da história de Rixxa, que chegou a dizer pra mim: "Sabe tudo, hein?".

O intérprete aguardava o seu produtor, encarregado de um show que havia encomendado a ele na Cidade Baixa, bairro boêmio de Porto Alegre. Fui convidado para o espetáculo, mas não pude comparecer por razões pessoais.

O produtor foi o responsável pelo clique da foto do encontro que ficou para posteridade, revelando os 30 quilos a mais que eu pesava naquela época pré-Covid. Uma prova de que tudo aquilo não foi uma lenda. Aconteceu, e foi verdade!

Um rolê aleatório para a história!

Mas não irei perder a esperança. Qual será a próxima personalidade do Carnaval que irei atrapalhar involuntariamente sua tentativa de oferenda ao Bará do Mercado Público de Porto Alegre? 


Marco Maciel
Twitter:
@marcoandrews