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13 de junho de
2024,
nº 89 Coluna anterior: Em Brasa Rubra, as Pazes com a História Coluna anterior: Alafiou, Sapucaí! ABRAM ALAS, 2025 VEM AÍ!
O jogo começou (de novo) e as cartas estão (novamente) na avenida.
Enredos anunciados, calendário de disputas (quase todos) divulgados... e mais
um carnaval no Grupo Especial do Rio de Janeiro vai ganhando forma. 2025 bate a
porta com novidades que botam dúvidas na cabeça do sambista, mas que brinda o
amante da festa de momo com o resgate da ancestralidade nos temas anunciados. E
a promessa – quem sabe – de um esboço de evolução nos concursos de
samba-enredo. E nessa dança, vamos tentar entender, em quatro tópicos, esse
passo a passo.
As mexidas nas equipes Foram poucas, mas bem significativas. Com a Viradouro mantendo o
time-base campeão em 2024 e a Imperatriz mexendo em direções e trazendo o
coreógrafo Patrick Carvalho, ficou para as outras 10 mexerem em seus
baralhos. As mais impactantes transferências vieram da Silva Teles: o Salgueiro
repatriou de volta ao carnaval carioca o carnavalesco Jorge Silveira
(após o bicampeonato com a Mocidade Alegre) e o intérprete Igor Sorriso
(retornando ao Rio após seis anos, dividindo atenções com a Morada do Samba) – Paulo
Pinna, coreógrafo, também chegou ao Torrão. A busca pelo retorno dos tempos
vitoriosos fez a Mocidade repatriar Renato Lage e Márcia Lage, de
volta à Vintém depois de 23 anos e após ficar de fora dos desfiles de 2024 – a
escola também buscou, da outrora grande rival Imperatriz, o coreógrafo Marcelo
Misailidis e o diretor de carnaval Mauro Amorim. Resgatar seus
grandes dias – após ficar a oito décimos de voltar à Série Ouro – fez a Unidos
da Tijuca apostar em Edson Pereira e nas coreógrafas Ariadne Lax
e Bruna Lopes. O Pereira que (além do Salgueiro) estava na Unidos de
Padre Miguel, pra onde foi Alexandre Louzada (vindo do Borel) fazer
parceria com o estreante na elite Lucas Milato. Mas a grande aposta vem pintada em verde e rosa: Sidnei França,
multicampeão em São Paulo, fará seu primeiro carnaval no Rio de Janeiro pela
Estação Primeira de Mangueira. Mais uma gigantona da folia em seu currículo, já
que em 2025 se dividirá entre a Velha Manga e o Vai-Vai.
Novidades no comando... novidades? De concreto já se sabia o que se confirmara em 25 de abril: Gabriel David assumiu a presidência da LIESA, tornando-se o mais jovem a comandar a organizadora do maior show da terra. Amparado pelo sucesso à frente da direção de marketing da Liga nos últimos anos – impulsionado pela criação da marca Rio Carnaval, o “herdeiro” chegou com a promessa de modernizar e profissionalizar o desfile das escolas de samba. De certo modo, começou com o pé direito ao nomear, entre outras, Evelyn Bastos para a direção cultural – uma das primeiras mulheres negras a ocupar cargos na LIESA. Mas nem deu 15 dias e a “era Gabriel” já entrou com o pé esquerdo, como veremos a seguir... '(Desagradáveis) novidades na estrutura “Abalando todas as estruturas” poderia ser apenas uma referência
ao samba que levou o Camisa Verde e Branco ao seu primeiro rebaixamento em São
Paulo, no longínquo 1996. Mas o motivo da citação é bem pior que um
rebaixamento. A mudança para 3 dias de desfile no Grupo Especial, com a
inclusão da terça-feira de carnaval e 4 escolas por noite, confirmada na
plenária de 6 de maio a base da canetada e sem consulta aos pares que tocam o
carnaval, não só confirmou o que vinha se especulando uma semana antes bem como
uma nova máxima: vale a pena rasgar a tradição pelo buss. As justificativas, além da parte financeira, são o barateamento
dos ingressos, o equilíbrio maior à disputa e (pasmem os leitores) evitar que
aconteçam incidentes como o que ocorreu com a Viradouro no último desfile das
campeãs – quando ela desfilou depois das 6 da manhã e com as alegorias fora de
ordem, devido a quebra de um carro da Imperatriz. A última citada é, de longe,
a desculpa mais estapafúrdia que eu já li. Pode ser um sucesso comercial (como
deve ser), mas todo esse processo não deixa de ser bizarro. E pra justificar o
injustificável, a única boa mudança: o aumento no tempo de desfiles para 80
minutos. Como se não bastasse a “justificativa” oficial, ainda tivemos que
ler defesas como “tava muito cansativo ver os desfiles” e “a mudança vai ser
boa para o sambista”. É mole?
O resgate da ancestralidade Talvez
seja um dos únicos pontos positivos que 2025 apresenta
até
aqui. Dos 12 enredos, oito são de (ou passam pela)
temática afro – cada qual com uma história
diferente. Faltava ao carnaval, festa preta que é, dar essa
atenção mais que
especial às suas raízes. Há quem critique esse
movimento, com um temor de que
haja uma banalização do tema afro, ou, com uma desculpa
esfarrapada de que
“todos os enredos são iguais”, “é tudo
afro” e afins. A primeira parte posso
até fazer um esforço pra entender. A segunda é um
equívoco completo. Como
dizer, por exemplo, que uma homenagem a um dos grandes nomes da MPB, os
rituais
pra fechamento de corpo e o itan africano que conta a visita de
Oxalá ao Reino
de Oyó são “iguais”? Tem lógica nisso?
Como bem apontou Pedro Migão, do Blog
Ouro de Tolo: o Grupo Especial carioca ficou entre 1985 e 2018 sem
apresentar
enredos afro e com raras exceções no período, como
Candaces (Salgueiro 2007). E como eu bem apontei, em
participação recente no “Bar Apoteose”:
o carnaval vive tendências. Já tivemos a “onda” de enredos críticos,
patrocinados, homenagens... essa é só mais uma. Com a diferença que ela volta a
enxergar a raiz do maior espetáculo cultural do país. E quanto aos temas em si? Seguindo a bem-sucedida linha de
apresentar histórias pouco conhecidas do público, a Viradouro aposta em
Malunguinho para buscar a quarta estrela e ser a primeira bicampeã em 17 anos.
Na mesma seara vem o Tuiuti, trazendo Xica Manicongo. Da influência
bantu no Rio, trazido pela Mangueira, até a “água fresca para o senhor
de Ifón” na Imperatriz, temos histórias interessantes. A utopia está
presente com a Mocidade voltando para o futuro. A Vila Isabel
traz as assombrações, no melhor estilo Paulo Barros de ser. A Grande Rio
dá aquele drible maroto no patrocínio estatal, dignos de Rosa Magalhães, ao
abordar a cultura do Pará. As homenagens estão presentes, com a Portela
encerrando o carnaval ao som de Milton Nascimento e a Beija-Flor
reverenciando seu griô Laíla. Ainda teremos Logun-Edé na Tijuca e Iyá
Nassô na UPM. Ancestralidade, diversão, homenagem e utopia não vão faltar. E será que vem mais novidade aí? Façam o jogo, a roleta 2025 vai girar! ' |
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