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A HISTÓRIA DE JAMERSON, O COMPONENTE QUE ESTAMPOU A CAPA DO CD DE 2002 – A ÚLTIMA DA IMPERATRIZ (ANTES DE 2024)
      
   
A HISTÓRIA DE JAMERSON, O COMPONENTE QUE ESTAMPOU A CAPA DO CD DE 2002 – A ÚLTIMA DA IMPERATRIZ (ANTES DE 2024)


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7 de março de 2023, nº 78


Quem é colecionador da discografia de samba-enredo – daqueles que preservam o colecionismo da mídia física em meio a era de plataformas digitais – guarda na mente as capas de todos os álbuns do carnaval, do vinil à bolacha digital. Os mais perfeccionistas (ou saudosistas?) argumentam, por exemplo, que as capas do passado – da era dos repeats - são melhores que as de agora – do tempo dos streams. Em épocas onde o CD físico era popular e vendia a rodo, a expectativa era grande para todo fim de ano correr pra loja e adquirir os sambas do próximo carnaval e, claro, ver qual imagem retrataria a campeã do desfile que passou. A alegria era dobrada se fosse a sua escola do coração que estivesse na primeira página do encarte.



Alegria que viverá os torcedores da Imperatriz Leopoldinense daqui a alguns meses, por exemplo. Com a conquista do título de 2023, a escola voltará a estampar a capa do álbum oficial do Grupo Especial carioca após 22 anos. A arte que irá eternizar o desfile sobre as fabulas cordelistas da chegada de Lampião ao céu e ao inferno só será conhecida nas plataformas de música (e talvez nas cada vez mais raras mídias físicas) ali por novembro, gerando expectativa de sambistas e, claro, torcedores gresilenses.



Entre eles, o protagonista da última capa da escola de Ramos nos discos oficiais.



“Fiquei sabendo por amigos”, conta Jamerson Oliveira, o componente que estampou a capa do CD de 2002, na última vez em que a Imperatriz esteve nela. Atuante no carnaval há mais de 30 anos, ele entrou para o universo das comissões de frente por influência do avô. Retornou justamente neste ano, ajudando a Imperatriz a quebrar o jejum de 22 anos sem conquistas fazendo parte do corpo coreógrafico liderado por Marcelo Misailidis.



Jamerson já era um rosto conhecido nas capas de CD. Estampara a capa do álbum de 2000 – aquela toda desenhada na bandeira do Brasil, como celebração ao carnaval dos 500 anos. Mas 2002 acabou sendo sua capa mais “famosa”.
 

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A capa do CD de 2002, tendo Jamerson como protagonista (Foto: Reprodução)



Por muitos anos a identidade do componente-personagem foi preservada. Pelo menos foi até a publicação dessa matéria. Também acreditou-se que Jamerson não gostou nada de ver sua foto na capa de 2002 e teria processado a LIESA pedindo direitos autorais. “Eu nunca procurei a LIESA pra pedir direitos autorais das capas”, esclarece de uma vez por todas. Este colunista faz sua mea-culpa: acreditara numa história contada anos atrás por um amigo em comum e reproduziu neste SAMBARIO na seção Os Carros das Capas, cuja última atualização é de 2019. Surfando no “hipe” do título leopoldinense, este que vos escreve relembrou a história (pelo menos a versão que conhecia) nas redes sociais. A história viralizou. E chegou no personagem daquela capa.


E antes que a Imperatriz estampe a capa de 2024, vamos à [verdadeira] história de sua última capa, a de 2002, contada por seu protagonista:



Jamerson com o troféu do campeonato de 2023 da Imperatriz (Foto: Redes Sociais)

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SAMBARIO: Como você descobriu que estava na capa do CD do carnaval de 2002?

Jamerson: Fiquei sabendo por amigos, assim como aconteceu em 2000. Aquelas fotos não foram de estúdio, são de avenida. A foto foi escolhida por alguém e foi divulgada. 

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SAMBARIO: Anos depois surgiu a história de que você teria processado a LIESA pelo uso da sua imagem. Isso foi verdade? Qual é a real história?

Jamerson: Isso só ficou em história. Eu nunca procurei a LIESA pra pedir direitos autorais das capas do CD. Ouvi falar em boatos dos anos que se passaram que não colocaram mais personalidades do carnaval na capa do CD por conta disso [o suposto processo]. Isso não procede. Nunca tive acesso ligado a alguém da Liga.

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SAMBARIO: Quando começou tua história no carnaval?

Jamerson: Parte dos meus familiares eram amantes do samba. Meu avô era de comissão de frente, meus pais desfilavam na Imperatriz. E foi lá que eu fui apresentado aos desfiles em 1989. Depois eu só voltei a desfilar em 1994.

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SAMBARIO: E como você foi parar em Comissão de Frente?

Jamerson: Meu avô sempre contava as histórias quando ele desfilava em comissão e sempre me despertou uma curiosidade muito grande. Chegou em 1994, eu estava na Portela, e o locutor anunciou uma seletiva anunciando que precisavam de homens negros e altos pra desfilar na comissão de frente [o enredo era Quando o Samba Era Samba]. Me inscrevi e consegui passar. O coreógrafo era o Jerônimo. Desfilei em 1994 e 1995. 

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SAMBARIO: E a tua chegada na Imperatriz foi como?

Jamerson: De 95 pra 96 encontrei o Chopp (a quem chamo de padrinho) num ônibus e ele me perguntou: “pô negão, quer participar da comissão de frente da Imperatriz?”. Eu falei: “mas eu já desfilo lá”. “Eu sei, mas vou te apresentar ao coreógrafo [Fábio de Mello] e vou colocar você lá”. E 1996 foi meu primeiro ano da Imperatriz, fui pra lá muito feliz.

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SAMBARIO: Mouros e Cristãos foi a comissão de frente que a Imperatriz levou no tricampeonato em 2001 (e acabou retratada na capa do álbum de 2002), e você estava lá. Como foi todo processo (ensaios, montagem da coreografia) até chegar ao resultado final?

Jamerson: Não foi diferente dos processos que acontecem nos dias atuais. O desafio principal que era colocado na cabeça no componente era fazer a escola ser tricampeã e apresentar um excelente espetáculo pro público. Nós éramos muitos unidos, a comissão sabia muito bem do objetivo e ensaiava bastante. 

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SAMBARIO: A gente sabe que o Desfile das Campeãs daquele ano foi tenso. A escola foi recebida com vaias e objetos atirados das arquibancadas. Como foi lidar com aquele ambiente?

Jamerson: Na época, havia manifestação de algumas pessoas que não estavam satisfeitas com o tricampeonato, mas a diretoria nos deu total apoio. Algumas pessoas jogaram objetos na bateria e na comissão de frente, mas foi só no setor 1. Eu não tive oportunidade de observar protestos durante o desfile [das campeãs].

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SAMBARIO: Você voltou a fazer comissão de frente na Imperatriz esse ano. Pelo visto deu sorte...

Jamerson: Foi uma realização muito grande poder voltar à Imperatriz e principalmente no quesito que eu tenho histórico familiar. Eu fui apresentado ao carnaval através da Imperatriz pelos meus pais. Poder voltar a ver pessoas da comunidade que ainda participam da escola, de tudo que a escola gere, poder ver a diretoria tão empolgada e sem medir esforços pra colocar a comunidade junto pra voltar a ganhar carnaval. Foi um feito muito grande. Estou feliz em ter ajudado a Imperatriz [na conquista do título], principalmente no quesito que eu amo.

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A comissão de frente da Imperatriz em 2023

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SAMBARIO: Modéstia à parte... qual é sua melhor capa: 2000 ou 2002?

Jamerson: 2002. É uma capa que mostra bem a figura do componente do carnaval tanto na capa quanto na contracapa. Mas gosto muito da de 2000 também, porque ela tem uma diferença. É bem trabalhada, uma obra de arte. Mas particularmente, como eu falei, gosto da capa de 2002.

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SAMBARIO: E agora que você finalmente vai “passar o bastão”, qual imagem merece ser a capa de 2024?

Jamerson: Se pudesse colocar a foto dos 3 mil componentes da Imperatriz seria maravilhoso. O componente retrata uma felicidade muito grande. Ele demonstra o que foi o enredo. Também penso em três alegorias: a 2 [Rebuliço no Olho do Mamulengo], 4 [Um Lugar no Céu] e 5 [O destino do valente], porque eu também penso no trabalho do carnavalesco.

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