Os Carros das Capas
Os
Carros das Capas
por Carlos Fonseca
Twitter: @eucarlosfonseca
Num
expediente inédito, a série "Os Carros das Capas"
relembra neste espaço as alegorias e componentes que foram
eternizados nas capas dos CDs dos sambas-enredo do Grupo Especial. Em
meio a citações aos protagonistas, o leitor vai encontrar
algumas curiosidades sobre a produção dos discos,
divulgação e desfiles.
Inicialmente, o texto abordou as capas entre 1990 e 2016, com sua
primeira atualização esticando sua abordagem até o
álbum de 2019. Agora, em sua segunda atualização
(publicada em maio de 2024), são destacadas as capas de 1990
até 2024. Confira:
1990
Começamos
então por 1990. Ano em que o bamba foi brindado com uma grande
novidade: os sambas do Grupo 1 (em seu último desfile com esta
denominação) passariam a ser comercializados em CD, sem
abandonar o LP e o K7 – ao menos por estas terras, já que
o álbum de 1986 fora lançado para o mercado
internacional. Para estampar a capa, a imagem que centraliza o
histórico abre-alas da Imperatriz, campeã do
“carnaval que não acabou, que representava as asas da
Independência. No meio dos tripés de frente, aparecia o
nome do produto todo em amarelo. Além do principal, isto
é, a alegoria da escola campeã vigente, a tarja vermelha
trazia o patrocínio da Kaiser - aliás, propagandas de
marcas no disco do Carnaval eram bastante comuns, como veremos mais a
frente por aqui. Porém, para a tristeza dos amantes da folia, o
inesquecível Cristo mendigo da Beija-Flor foi ignorado na
contracapa, sendo preterido por uma imagem da Comissão de
Frente.
A
título de curiosidade: quando o comercial que anunciava o disco
era veiculado na TV, vários sambas eram executados no fundo
musical ao invés da trilha sonora da campeã vigente, num
expediente que seria fixado com o passar dos anos. Em uma das
propagandas disponíveis na internet até pouco tempo, o
disco do Carnaval era anunciado com o samba da Mocidade tocando. Mal
sabíamos que a propaganda televisiva acabara profetizando quem
seria a capa do ano seguinte...
Fotos de capa e contracapa: Arquivo Manchete (Bloch Editores)
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1991
O já denominado Grupo Especial, como conhecemos
desde os tempos atuais, trazia na capa do álbum o lindo
abre-alas da Mocidade Independente de Padre Miguel, da
inesquecível abertura do consagrado desfile que levou a
taça e todo o povo aplaudiu. Mas um detalhe nela chama
atenção: a verde e branca foi a terceira escola da
segunda-feira de Carnaval, ou seja, fazendo seu desfile todo à
noite - segunda foto do parágrafo. E a imagem que foi eternizada
na capa retrata a alegoria no desfile das campeãs, quando o
“Vira-Virou” passou pelo Sambódromo com o dia claro
– uma prática comum dos discos de samba-enredo até
fins da década de 2000. Fora isso, a Kaiser mantinha o
patrocínio pelo terceiro ano consecutivo e o verso do encarte
nos LPs oficiais trazia fotos da terceira (Salgueiro) e quarta
(Imperatriz) colocadas do ano anterior, outro expediente
costumeiro.
Não
satisfeita, a Mocidade voltou ao Sambódromo e, fazendo outro
desfile memorável, garantiu o bicampeonato e, consequentemente,
a segunda capa seguida. Fazendo o povo delirar. Delirar, delirar...
Foto de capa: Arquivo Manchete (Bloch Editores)
Foto de contracapa: Wilson Pastor
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1992
Delirando e delirando numa overdose de alegria, lá estava a
Mocidade outra vez na primeira página do encarte. O banho de
felicidade foi retratado na capa de 92 com um belo ângulo da
inesquecível abertura com a comissão de frente vestida de
"Os Mergulhadores" e o abre-alas "A Dança das Águas
Submarinas". Mais ao fundo na imagem aparece a segunda alegoria "Terra:
Planeta Água" e o restante dos primeiros setores da escola. Com
mais um ano de patrocínio da Kaiser, uma imagem frontal do
desfile vice-campeão do Salgueiro na contracapa e a
ausência da Santa Cruz (que conseguira o direito de desfilar na
elite semanas antes do Carnaval) na lista de faixas participantes, o
povo de Padre Miguel sonhava estampar a capa de 93. Mas, como veremos
adiante, não foi bem assim...
Foto de capa: Wilson Pastor
Foto de contracapa: Manchete (Bloch Editores)
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1993
Pois
um desvairado Leão vindo do Morro de São Carlos acordou a
Estrela-Guia do sonho da terceira capa consecutiva. A estonteante e
inesquecível Paulicéia Desvairada levou a Estácio
de Sá ao primeiro (até hoje único) campeonato e
à (até hoje única) capa do CD do carnaval. O
histórico desfile foi bem representado pela imagem de seu
abre-alas, que retratava o Theatro Municipal de São Paulo. Assim
como ocorrera dois anos antes com a Mocidade, a foto da capa foi feita
durante a passagem pelo Desfile das Campeãs - percebe-se que o
letreiro do abre-alas, que enfrentou problemas durante o cortejo
oficial, está aceso. Mas a mudança perceptível no
álbum de 1993 não foi apenas na escola da capa: a
produção foi diferenciada, já que foi o primeiro
(do total de seis) disco de samba-enredo gravado no Teatro de Lona da
Barra da Tijuca. A Kaiser patrocinou a capa do álbum pela
última vez.
Fotos de capa e contracapa: Bloch Editores
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1994
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Aquele que é considerado um dos melhores álbuns de
samba-enredo da história em termos de produção
merecia estampar na capa uma bela imagem de um dos melhores desfiles da
história, certo? Certíssimo! O abre-alas "A Festa do
Círio de Nazaré" foi escolhido para retratar o Ita que
explodiu o coração da Sapucaí e levou o Salgueiro
à vitória depois de 18 anos - pena que depois dela a
Academia teve que esperar mais 16 anos para soltar o grito de
campeão novamente. Quanto aos detalhes técnicos da capa:
pela primeira vez o letreiro de campeã era estampado tanto no CD
quanto no LP, apesar de que em 94 colocaram "Salgueiro campeã"
ao invés de "campeão". Ah, as licenças
poéticas da língua portuguesa...
Na parte dos patrocínios, a cerveja foi trocada: saiu a Kaiser e
entrou a Brahma, que voltava a estampar sua marca no CD/LP do carnaval
após 7 anos. Na contracapa, evidentemente, aparecia o abre-alas
da vice Imperatriz. A título de curiosidade: o encarte do disco
cometeu algumas gafes, indo dos misteriosos versos "Saber para
crescer/Saber para orientar/Saber para amenizar" acrescidos na letra da
União da Ilha do Governador à colocar a Mocidade como
vice-campeã do ano anterior na última página e
creditar o falecido Edmilton di Bem também como
intérprete da Imperatriz...
Já que falamos em Salgueiro e Imperatriz, as duas inverteram
posições (e não seria a primeira vez disso na
história) no ano seguinte, como veremos em seguida.
Fotos de capa e contracapa: Bloch Editores
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1995
Cinco
anos depois, lá estava a Imperatriz de volta à capa do
disco, “empurrando” o Salgueiro para a contracapa. Num
recurso similar ao do álbum de 1992, uma imagem tirada da antiga
torre de TV focando o primeiro setor do desfile gresilense, com o belo
abre-alas em primeiro plano. Também é perceptível,
na parte de baixo e com menos destaque, a comissão de frente
(“A Dança da Corte Francesa”) marcante pelo famoso
“jogo” de leques. Até mesmo o letreiro
temático da Brahma pela Copa do Mundo vencida pelo Brasil meses
depois apareceu, embora que no fundão da foto e coberta pelo
título do disco. Sublinhando os detalhes técnicos:
destacar a volta definitiva dos arranjos de teclado nos sambas - o que
permaneceria até o fim da década – e as mesmas 16
faixas pelo segundo carnaval consecutivo, fato inédito
“ajudado” pelas ausências de São Clemente e
Villa Rica no compilado oficial.
Fotos de capa e contracapa: Bloch Editores
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1996
Para retratar o [até hoje discutível] bicampeonato da
Imperatriz, a capa do álbum de 1996, marcado pela enorme proeza
de espremer 18 escolas num CD de 80 minutos (o LP duplo teve
durações normais, com faixas ultrapassado seis minutos),
optou por um recurso utilizado até 1989: não destacar o
abre-alas e fazer “colagens” de outros momentos-chave do
desfile campeão dividindo a imagem. A alegoria escolhida foi
“Palácio na Argélia”, originalmente a quinta
do desfile, que divide a arte com recortes do abre-alas e de uma
componente da Ala das Baianas. O tal recurso fez com que o álbum
não tivesse patrocínios pela primeira vez em 11 anos,
limitando-se a estampar o selo "Imperatriz Bicampeã" num
círculo verde. Na contracapa, avistamos a histórica
imagem da inesquecível águia da Portela com a
máscara nos olhos, aquela que muitos (a exceção
dos leopoldinenses, claro) queriam que realmente fosse a capa de 96...
Fotos de capa e contracapa: Bloch Editores
Arte da capa: André Teixeira
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1997
Para
eternizar a grandiosa vitória da Mocidade com seu “Criador
e Criatura”, a imagem não poderia ser outra: a abertura do
desfile campeão, com os “Frankensteins” da
comissão de frente e o abre-alas "A Criação da
Terra" em primeiro plano. O momento foi destacado numa arte de capa em
formato similar a uma moldura simples e com um fundo verde claro (bem
sugestivo, não?) onde acima estava o título do
álbum e embaixo os dizeres "Mocidade Independente -
campeã". Nos detalhes técnicos: foi a última vez
que os sambas-enredo do Rio de Janeiro eram comercializados em LP, a
última vez que Brahma patrocinava o álbum e também
a última vez da Mocidade sozinha numa capa de CD do carnaval
– voltando a ela quando a dividiu com a Portela, em 2018.
Foto de capa: Armando Borges/Arquivo Mocidade Independente
Foto de contracapa: Manchete
Arte da capa: André Teixeira e Emil Ferreira
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1998
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O
ano que apresenta uma capa que aparentava ser simples mas que escondia
uma sacada daquelas brilhantes: retratando a primeira capa da Viradouro
na história, uma imagem que focava o destaque principal do
impactante abre-alas (“As Trevas”) que ainda serviu para
colocar o título do álbum na curva que a fantasia fazia.
Mas quem pensa que foi “apenas” isso se engana: conforme o
encarte vai se abrindo, a foto se transforma num pôster - foto
abaixo – com a imagem da alegoria em ângulo aberto. O
abre-alas da vice-campeã Mocidade estampava o verso da
embalagem. Fechando com a parte técnica: a partir daquele ano, a
ordem de execução do CD (e passava a ser apenas CD, como
foi até 2023) passou a ser de acordo com o resultado do carnaval
anterior. Ordem que só não foi seguida à risca
devido a ausência do Salgueiro no disco oficial por
divergências com a gravadora – a escola lançaria seu
samba em um CD independente. Aliás, pela vez última os
sambas do carnaval carioca foram gravados no Teatro de Lona da Barra,
desativado anos depois. Mas ficou para a história uma safra de
sambas populares e uma capa daquelas coisas que só a genialidade
de Joãosinho Trinta foi capaz de fazer – e desafiar -
à direção de arte gráfica do disco.
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Foto da capa: Bloch Editores
Foto de contracapa: Fabrizia Granatieri
Arte da capa: André Teixeira
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1999
Essa
é uma daquelas que requer uma explicação
minuciosa. Com duas campeãs pra colocar em uma só capa, a
produção gráfica teve de se virar pra solucionar o
empate da maneira mais criativa... ou pelo menos tentar. No fim, duas
alegorias de Mangueira (“Sanatório Geral”) e
Beija-Flor (“Casa de Açum”) foram
“divididas” por um efeito visual do arco da Praça da
Apoteose. Aliás, as imagens dos dois carros (autoria não
informada) estão em ângulos bem diferentes do que era
usual, dando a impressão que foram feitas na curva do Setor 1.
Só pra constar: naquela máxima de que em empate
não tem vice, a Imperatriz – terceira colocada de 98 - foi
ignorada na contracapa, recorrendo-se à montagem reproduzida na
capa. Após um ano sem patrocínio, o disco do Grupo
Especial recebeu um novo apoio: o finado banco Bandeirantes, à
época pertencente ao Grupo Caixa Central de Depósitos. E
a história da capa rachada ganharia um novo capítulo 18
anos depois.
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Arte da capa: L&A Studio
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2000
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Outra
capa que merece ampla explicação. Não por
complexidade de contexto, e sim por uma solução bem
criativa. No carnaval temático que celebrava os 500 anos da
chegada de Cabral ao Brasil, o CD “se vestiu” de
verde-amarelo com a bandeira brasileira formada na fusão de capa
(Imperatriz) e contracapa (Beija-Flor) com várias imagens do
desfile de 99 dentro da arte. O mesmo recurso é repetido no
encarte. Aos detalhes: a Imperatriz (capa) foi representada por um
componente (com o rosto "dividido" na imagem), uma escultura do
abre-alas (“O Barroco”, segunda foto do parágrafo),
uma destaque de alegoria e uma componente da Ala das Baianas, enquanto
a Beija-Flor (contracapa) foi representada por imagens do abre-alas e
comissão de frente (“O passeio da corte portuguesa”)
- a propósito, era a partir dali que a escola de
Nilópolis se tornaria uma presença constante na
contracapa... Nos patrocínios, o Banco Bandeirantes (pela
segunda e última vez) ganhava a companhia da LOTERJ.
Aliás, o reclame da loteria estadual no disco do carnaval
carioca passou a ser bem frequente durante o governo da Família
Garotinho. E o “componente com o rosto dividido” da
Imperatriz ainda voltaria a aparecer na capa pouquíssimo tempo
depois...
Fotos da capa: Alberto Vilar
Fotos da contracapa: José Carlos Dias
Arte da capa: Alberto Vilar e Lêka Coutinho
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2001
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A
primeira capa do novo milênio pode não ter sido a mesma
criativa da última do milênio passado, mas a escola que a
estrelou seguiu a mesma. Uma imagem fechada da alegoria "As Mercadorias
Africanas" foi a escolhida para eternizar o bicampeonato da Imperatriz
na primeira página do encarte do CD de 2001. Aliás, deram
tanto foco para a grande máscara que dá impressão
da mesma estar dando aquela “encarada” em quem vê o
disco. Com o abre-alas da Beija-Flor na contracapa e as baterias de
campeã e vice no verso do encarte e da embalagem, o
anúncio "Imperatriz Campeã 2000" (ao invés do
tradicional e esperado "Bicampeã") foi jogado para a lateral da
embalagem, junto com o patrocínio da LOTERJ.
Duas curiosidades: em alguns exemplares do disco, a logomarca da LIESA
aparecia no canto direito baixo da capa, em outros, a mesma não
aparecia. Provavelmente alguma questão de prensagem, já
que o CD também foi vendido nas quadras das 14 escolas
pertencentes a elite naquela ocasião. Ah, e a frase "Sambas de
Enredo" ficou muito grudada, não?
Fotos da capa e contracapa: Alberto Vilar
Arte da capa: Alberto Vilar e Lêka Coutinho
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2002
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Se
o tricampeonato da Imperatriz até hoje (e chegou a ser "saudado"
por populares do Setor 1 naquele ano por vaias e latinhas atiradas na
pista), a capa do CD de 2002 que retrataria o oitavo título
leopoldinense não fugiria a discussão. Diferente do
habitual, a imagem escolhida para a capa foi de Jamerson Oliveira
(guardem este nome!), componente da comissão de frente "Mouros e
Cristãos". A sua expressão sorridente na imagem foi
acompanhada do anúncio "Imperatriz Tricampeã" e dos
patrocínios da LOTERJ e do governo do estado. O mesmo recurso
foi utilizado na contracapa, onde um integrante da comissão de
frente da Beija-Flor aparece. Ou seja, foi o CD das comissões.
Falando dos detalhes técnicos, a produção do disco
nos presenteou com o CD Bônus (o branquinho) contendo sambas
históricos das agremiações que faziam parte do
Grupo Especial daquele ano - além, é claro, do CD verde
com os sambas inéditos.
Por muito tempo acreditou-se que Jamerson Oliveira não teria
gostado de ver sua imagem na capa do CD de 2002 e acionou juridicamente
a LIESA cobrando direitos autorais. E, devido a isso, a Liga teria
decidido não mais colocar componentes nas capas de CD para
evitar mais problemas. O boato chegou ao conhecimento do autor desse
espaço através de um amigo que temos em comum (Ricardo
Dias) e constava na atualização anterior da série.
Foi uma grande lenda urbana que circulou no meio do carnaval por anos
até ser desmentida pelo próprio Jamerson a este SAMBARIO numa reportagem de 2023. “Só
ficou em história. Eu nunca procurei a LIESA pra pedir direitos
autorais das capas do CD. Ouvi falar em boatos dos anos que se passaram
que não colocaram mais personalidades do carnaval na capa do CD
por conta disso [o suposto processo]. Isso não procede. Nunca tive acesso ligado a alguém da Liga.”, contou Jamerson, que seria a inspiração da vez que a escola de Ramos voltou a capa, 22 anos mais tarde.
Fotos da capa e contracapa: Alberto Vilar
Arte da capa: Alberto Vilar e Lêka Coutinho
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2003
17
anos depois, a Mangueira voltava a estrelar sozinha a capa do CD do
Grupo Especial – em 99, como já recordamos, a verde e rosa
teve de dividi-la com a Beija-Flor. O momento escolhido para eternizar
o arrebatador desfile mangueirense foi uma foto central da alegoria "O
Forte", segunda a passar pela avenida naquela
apresentação. Uma escolha que, particularmente, combinou
muito bem com o projeto gráfico – apesar do abre-alas ser
lindo e ter um belo efeito, não se sabe que efeito daria com o
seu estilo predominantemente branco. LOTERJ e Governo do Rio seguiram
firmes e fortes no patrocínio da bolacha digital. E pela quarta
vez seguida, a Beija-Flor estava na contracapa – com uma
componente da comissão de frente. E depois desta, a
Estação Primeira teria que esperar mais 14 anos para
estampar a capa do disco outra vez...
Fotos da capa e contracapa: Alberto Vilar
Arte da capa: Alberto Vilar e Lêka Coutinho
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2004
No carnaval que
celebrou os 20 anos da Passarela do Samba com o inédito
expediente das reedições, dentre eles “Aquarela
Brasileira” e “Contos de Areia”, e que alçaria
o “jurado Adilson” ao sucesso na apuração, a
bolacha digital de 2004 teve como capa “O Paraíso
Terrestre: A Segunda Chance”, terceira alegoria do (também
discutível até os tempos atualis) título da
Beija-Flor, que após quatro contracapas seguidas finalmente
chegava a primeira página do encarte – sozinha, a escola
de Nilópolis não estrelava a capa desde o LP de 1984.
Ademais, os patrocínios do disco continuaram sendo de LOTERJ e
Governo do Rio de Janeiro - desta vez com outro slogan, digamos,
interessante: “Trabalhando cada vez mais” – na
última vez que apoios estatais apareciam. Na contracapa,
Marquinhos e Giovanna representavam a vice-campeã Mangueira.
Fotos da capa e contracapa: Alberto Vilar
Arte da capa: Alberto Vilar e Lêka Coutinho
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2005
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O
disco do “ao vivo fake” – o texto pode estar
estragando a memória afetiva de alguém, pois os fogos
estourando e o público vibrando em todas as faixas eram meros
efeitos sonoros de estúdio – teve, além das
mudanças no ambiente de gravação, a troca de
patrocínio: Governo do Rio de Janeiro e LOTERJ deram lugar
à Nestlé, que à época entrou com tudo (e
nada prosa) no que se diz a investimentos no carnaval. Sobre a capa, o
belíssimo abre-alas da Beija-Flor (“Ganância
Espanhola”) cujo destaque era Fabíola David –
guardem esse nome, ele será muito citado daqui pra frente... Na
contracapa, a Tijuca (pela primeira vez) foi representada pela
sétima alegoria do desfile (“Viagens
Extraordinárias”). Até aí tudo bem. Mas o
caro leitor que não possui o CD em casa deve se perguntar:
“aonde foi parar o carro do DNA?” A resposta: no fundo do
estojo do CD - terceira foto. Voltando a falar da Nestlé:
além da capa, a empresa alimentícia também
patrocinou o enredo da Grande Rio (o título “Alimentar o
Corpo e a Alma Faz Bem” era o slogan da marca à
época), levando a um momento impagável de Wander Pires,
então intérprete da escola, que com todos os vibratos
possíveis citou a patrocinadora em pleno “Sem
Censura” – então apresentado por Leda Nagle –
após cantar o samba...
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Foto da capa: Henrique Matos
Foto da contracapa: Alberto Vilar
Arte da capa: Fabio Oliveira
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2006
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Lembrado
e destacado pela demasiada cadência na faixa do Porto da Pedra e
por ser o último registro de Jamelão nos álbuns de
samba-enredo, o CD de 2006 tem como capa o abre-alas do desfile
tricampeão da Beija-Flor (“Luz Menino, A Mensagem do
Divino e o Reino de Herodes”). Três detalhes: a alegoria
aparece num ângulo completamente fechado, com foco para a parte
da frente da mesma, cuja destaque é... Fabíola David
– já avisamos ao leitor para guardar esse nome, correto? O
segundo: ao contrário da Imperatriz quatro anos antes, a frase
“Beija-Flor tricampeã” não aparece na arte.
Terceiro e último: diferente do costume, a foto que ilustra o
disco é do desfile oficial, já que a Deusa da Passarela
passou pela Sapucaí por volta das sete da manhã. Na
contracapa, o belo abre-alas da Tijuca (licença para uma
passagem pessoal do escriba: foi uma das primeiras alegorias que tive
oportunidade de ver de perto, no desfile das campeãs daquele
ano). A Nestlé patrocinou o CD pela segunda e última vez.
Aliás, foi a última vez que o CD dos sambas-enredo do
Grupo Especial recebeu patrocínios. Na mesma tacada, a Sony/BMG
fez sua despedida da distribuição comercial do
álbum.
Foto da capa: Henrique Matos
Foto da contracapa: Agência Foto BR
Arte da capa: Fabio Oliveira
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2007
Com
patrocínios definitivamente excluídos, de gravadora nova
(a Universal Music) e em pleno processo de redução do
Grupo Especial, o disco de 2007 trouxe na capa uma imagem destacada de
“O Esplendor do Império do Sol”, abre-alas do
desfile que daria o segundo campeonato à Unidos de Vila Isabel
no ano anterior – “Zona Franca Industrial” foi a
alegoria que representou a Grande Rio, pela primeira vez na contracapa.
Quanto aos detalhes técnicos: destaques à volta da
Estácio para a elite com a reedição de "O Tititi
do Sapoti", o retorno de Preto Joia à Imperatriz depois de quase
uma década, as duradouras introduções de Salgueiro
e Porto da Pedra, a popularidade do samba da Viradouro (levado
às arquibancadas através das torcidas de Botafogo e
Vasco) e um título que credenciou a Beija-Flor a estar na capa
do ano seguinte.
Fotos da capa e contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
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2008
Com
a LIESA alcançando a meta de reduzir o Grupo Especial para
apenas doze agremiações, o CD de 2008 ganhou mais tempo
para introduções, alusivos e trouxe na capa o enorme
beija-flor cartão-de-visitas no abre-alas “O Supremo Dom
Divino”, eternizando o histórico desfile sobre a
África. Citando o famoso bordão de Luís Roberto,
notório torcedor da escola de Nilópolis, o destaque deste
abre-alas e o título de principal estrela da capa (a segunda em
três anos) foi “sabe de quem?”. Ela mesma,
Fabíola David! Que ganharia (ainda) mais destaque no ano
seguinte, como veremos no próximo parágrafo...
Fotos da capa e contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
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2009
Outra
vez, a mãe de Gabriel David foi a estrela da capa. No desfile
bicampeão de 2008 – eternizado por ela na capa de 2009
– ela foi o destaque central do abre-alas (na segunda foto)
“Brilho de Fogo - O Rastro Iluminado”, usando a fantasia
“Brilho de Fogo Revela o Paraíso. Com Fabíola na
capa e aquela considerada uma das piores safras de samba-enredo na
setlist, o destaque fica à emocionante abertura feita por
Neguinho da Beija-Flor, agradecendo pelas orações em prol
de sua recuperação de um câncer que enfrentava
à época em que o disco foi gravado. E assim terminava a
segunda fase da “Era Cia dos Técnicos” na
discografia de sambas-enredo da elite carioca, que no ano seguinte
pegou a estrada e fez mudança de ares. E a Fabíola
só não emplacou a terceira capa consecutiva pois um
Tambor bateu mais forte...
Fotos da capa e contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
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2010
A
discografia do carnaval do Rio adentrou 2010 de casa nova: era na
Cidade do Samba que o álbum do Grupo Especial passaria a ser
registrado. E o primeiro disco da nova era teve como capa
“Tambores da Academia”, abre-alas do desfile campeão
do Salgueiro – na imagem eternizada na página um do
encarte, ainda aparece uma parte da tradicional ala
“Maculelê”, que fazia uma coreografia de passo
marcado. Diferente de 1994, a arte da capa apresenta a
descrição “Salgueiro Campeão” (no
masculino). Quanto aos detalhes técnicos, destaque ao retorno da
União da Ilha à elite e os andamentos inexplicavelmente
acelerados nas faixas da Mocidade e Portela, além da
última vez que Quinho do Salgueiro (1957-2024) cantou a primeira
faixa do disco.
Fotos da capa e contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
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2011
A
capa do primeiro CD de samba-enredo da nova década já
nasceu histórica: pela primeira vez, a Unidos da Tijuca figurava
nela. Para eternizar o arrebatador e inesquecível
“É Segredo”, uma imagem do carro abre-alas “E
Assim Nasceram Muitos Segredos...”, uma
representação da Biblioteca de Alexandria que,
literalmente, “pegava fogo”, numa
representação do acidental incêndio provocada por
Júlio César em 48 a.C. Detalhe: fora do plano, na parte
de baixo da imagem, aparece o tripé da inesquecível
comissão de frente, além da ala que aparecia a frente da
alegoria. No mais, 2011 ficou marcado pela experiência
única do recurso de um intérprete chamar o outro para
cantar a faixa seguinte. Afinal, “faz barulho pro
Wantuiiiiiiiiiiiiiiiiiir”...
Fotos da capa e contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
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2012
A
Beija-Flor estava de volta à capa do disco do Grupo Especial
após três anos. E ela também. Fabíola David,
eterna destaque do abre-alas da azul e branco, uma vez mais estampava a
primeira página do encarte – agora vestindo “O Beijo
na Flor” como figura principal do abre-alas “Das
Lembranças que Trago da Vida” - segunda foto – no
desfile em homenagem ao cantor Roberto Carlos. Bom, fora mais uma capa
estrelada pela de fato nilopolitana, precisa resumir mais alguma coisa?
Fotos da capa e da contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
2013
Literalmente
feita ao barro, a capa de 2013 eternizou “Do Barro se Fez a
Vida”, terceira alegoria do desfile tijucano sobre Luiz Gonzaga.
Mas reparem que a foto utilizada foge do padrão convencional das
capas, trazendo um registro da parte traseira da alegoria, focando as
esculturas laterais e com os arcos da Praça da Apoteose ao
fundo. O pacote gráfico padrão da capa, usado desde 2011
e que sofrera leve alteração no ano anterior, apareceria
pela última vez. Particularmente, é uma das capas mais
inteligentes já feitas. Pois, aqui entre nós, sintetiza
um ângulo pouco usual da passarela do samba – capitalizado
pelo fotógrafo, num momento de rara felicidade.
Foto da capa: Mario Samagaio
Foto da contracapa: Diego Mendes
Arte da capa: Fabio Oliveira
2014
Mudança
temática (do barro para as flores) e de pacote gráfico
(das letras retas para o título ondulado) marcaram a capa do
Carnaval da Copa. A “Festa no Arraiá” da Vila foi
eternizada na capa através da quarta alegoria do desfile,
“Os Girassóis”. Os brilhantes Claudinho e Selminha
Sorriso representavam a Beija-Flor na contracapa. Mas, incrivelmente e
infelizmente, a parte bonita do disco parou aí pois a
produção do álbum, numa daquelas síndromes
de “reinventar a roda”, teve a brilhante (pra não
dizer o contrário) ideia de colocar as explanações
dos carnavalescos antes da execução dos sambas. Algumas
ficaram para a eternidade, como o “Maricá, essa grande
cantora” largado por Fábio Ricardo na faixa da Grande Rio
sobre a cantora Maysa, notória moradora da cidade fluminense,
numa “memorável” trapalhada da edição
que rende muitos memes até hoje.
Foto da capa: Diego Mendes
Foto da contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
2015
E
a temática mudou de novo. Desta vez, a rural deu lugar a
esportiva. Com o desfile sobre Ayrton Senna que sacramentou o quarto
título da Tijuca, a capa de 2015 eternizou o abre-alas
“Boxe dos Compositores”. A arte gráfica da capa
seguiu a mesma do ano anterior, com a “sutil”
diferença nas cores ilustradas, em total alinhamento com a
campeã vigente – em recurso usado nos biênios
2007-2008 e 2012-2013. Outro “detalhe diferente” é
que o selo de campeão da capa passou também a informar o
ano correspondente ao título - ficando, portanto, a legenda
“Tijuca campeã 2014” – o mesmo foi feito na
contracapa, com o “Salgueiro vice-campeã 2014”, em
recurso usado até hoje.
Fotos de capa e contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
2016
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Retratando
e eternizando mais um título da Beija-Flor (com o polêmico
enredo sobre Guiné Equatorial, país africano que vive sob
ditadura), a capa de 2016 apresenta uma imagem fechada do abre-alas
“A Árvore da Vida e a Floresta Tropical Africana”.
Alegoria daquelas que, citando e adaptando a frase daquele famoso
episódio do Pica-Pau, “onde tudo é verde, inclusive
o tronco”. Aliás, a capa de 2016 acabou,
involuntariamente, entrando para a história por ser a
última foto de capa feita da antiga torre de TV, derrubada meses
depois em prol das provas de maratona dos Jogos Olímpicos do Rio
de Janeiro, que terminariam no Sambódromo. Tal como a Tijuca na
bolacha digital do ano anterior, o título da Deusa também
foi legendado com o ano da conquista do troféu, ficando
“Beija-Flor campeã 2015”.
Pra que ninguém dê falta: Fabíola David estava
presente na capa, como destaque no abre-alas. Mas, com menos destaque
em relação as anteriores.
Fotos de capa e contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
2017
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Longos e
intermináveis quatorze longos anos depois, a
Estação Primeira brilhava novamente na capa do CD. Mas o
resultado, num geral, foi dos mais decepcionantes dos últimos
anos - parecia até um prenúncio do que viria depois. A
montagem da nova torre de TV deu um ângulo bastante diferente em
relação à antiga, dando uma dimensão mais
aberta dos desfiles. Talvez até por isso rolou uma estranheza.
Além do mais, a arte gráfica, numa tentativa falha de
remeter as capas dos anos 80, não foi feliz na tentativa - a
legenda “Mangueira campeã 2016” ficou totalmente em
segundo plano sendo colocada abaixo do título do disco. Falando
do principal: a alegoria escolhida para retratar a homenagem à
Maria Bethânia foi o abre-alas “Oyá e Oxum -
Orixás de Frente”, com destaque para os búfalos de
Iansã.
Num triste ano marcado pelos acidentes nos desfiles de Tijuca e Tuiuti,
quem sorriu foi a Portela, que enfim foi campeã do carnaval
após 33 anos. Ou seja, por si só a capa de 2018 já
seria histórica, já que em 1970 a presença da
campeã na capa ainda era inexistente, em 1980 a Águia
dividiu-a com Imperatriz e Beija-Flor e em 1985 foi preterida pela
supercampeã Mangueira. Mas o sonho da capa solo portelense foi
embora no tapete do Aladdin, após a LIESA confirmar o
título da Mocidade e a divisão do troféu de
campeã um mês depois da apuração após
o julgador Valmir Aleixo tirar um décimo da verde e branca tendo
como base uma versão desatualizada do livro Abre-Alas.
Foto da capa: Alexandre Vidal
Foto da contracapa: Luiz Alvarenga
Arte da capa: Fabio Oliveira
2018
19 anos depois, uma nova capa dividida na discografia de samba-enredo.
Para eternizar os dois desfiles campeões de 2017 na primeira
página, foram escolhidos os abre-alas – “Fonte da
Vida”, da Portela, e “Bem-Vindos ao Reino Encantado do
Marrocos”, da Mocidade. Na arte, os dois carros estão em
imagens fechadas e foram “divididos” ao meio na diagonal
pelo título do álbum. A exemplo de 99, a mesma arte
estampa a contracapa, ignorando a terceira colocada – no caso, o
Salgueiro. O disco de celebração dos 50 anos da
produção dos álbuns de samba-enredo apresentou
(mais) uma capa contestada pelos bambas. E foi aberto por uma
interminável introdução de voz e violão com
Wander Pires (a Mocidade ocupou a primeira faixa, superando a Portela
num sorteio), pra completar o “parabéns”.
Fotos de capa e contracapa: Henrique Matos
Arte da capa: Fabio Oliveira
2019
Mais
uma vez a Beija-Flor na capa, mais uma vez com um campeonato até
hoje discutível. Pelo conjunto visual nada luxuoso que fora
apresentado, despertou-se a curiosidade de qual imagem eternizaria o
Frankenstein mais teatralizado e menos carnavalesco na capa de 2019. Se
alguém pensou que seria Fabíola David novamente...
não foi dessa vez: a estrela escolhida foi “A
Ambição”, segunda alegoria daquele desfile, que
apresentava réplicas do Congresso Nacional e da sede da
Petrobras, fazendo uma analogia aos casos de corrupção na
política que permearam pela década. Pela primeira vez o
Paraíso do Tuiuti figurava na embalagem do disco como
vice-campeã. Pela última vez (até agora) o Grupo
Especial teve 14 faixas. Pela única vez a ficha técnica
no encarte teve três (!) páginas. Também pela
última vez, o disco foi gravado na Cidade do Samba. E mais uma
vez o resultado do projeto gráfico do CD foi criticado pelos
bambas e colecionadores.
Foto da capa: Henrique Matos
Foto da contracapa: Alexandre Vidal
Arte da capa: Fabio Oliveira
2020
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Dezenove
virou vinte-vinte, e o CD do carnaval carioca fez o caminho inverso de
10 anos antes: voltou a ser feito integralmente em estúdio. A
ficha técnica foi de três para cinco (!) páginas.
Na composição dos sambas, as primeiras incursões
de pesos pesados como Marcelo Adnet, Sandra de Sá e Jorge
Aragão. Com o projeto gráfico diferente (quarta troca em
4 anos), o histórico desfile mangueirense em
louvação aos heróis esquecidos pela
história oficial foi eternizado numa foto frontal e destacada do
abre-alas “Mais Invasão do que Descobrimento”
– num recurso bem semelhante à capa de 2001. Pela primeira
vez (acabaria sendo a única), a Viradouro estampava a contracapa
– com uma imagem alta de “Histórias e
Mistérios Sem Fim”, seu abre-alas. E assim, 2020 fechava
capítulos importantes: o CD do último carnaval antes da
pandemia também foi o último a ser produzido por
Laíla (1943-2021) e com direção de Zacarias
Siqueira de Oliveira (1931-2020).
Foto da capa: Léo Queiroz
Foto da contracapa: Fábio Costa
Arte da capa: Fábio Oliveira
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2022
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Após
um ano sem disco de samba-enredo e sem desfiles por conta da pandemia
de Covid-19, o carnaval voltava a tona – e de cara nova –
para 2022. Eternizando o desfile vencedor de 2020, a Viradouro voltava
à capa do disco representada por Verônica Maciel,
integrante da ala “Terno de Reis (O Palhaço)”, que
fazia referência à grupos de musicistas que fazem
apresentações músico-teatrais dos palhaços
do Reisado. Uma notável novidade estava no título do
álbum: assim como a data dos desfiles foi mudada, de fevereiro
para abril, a frase “Sambas de Enredo”, usada desde 1970,
foi trocada por “Rio Carnaval 2022”, em referência a
marca oficial dos desfiles, lançada em outubro de 2021. A
mudança duraria apenas um ano, como veremos adiante.
Mas a personagem da capa do carnaval da volta tem por trás uma
história emocionante: Verônica perdeu o pai no dia em que
a Viradouro conquistou seu segundo campeonato – 26 de fevereiro
de 2020. Já debilitado, um de seus últimos pedidos foi
que a filha não desistisse de desfilar na escola de
Niterói. Ela atendeu o pedido. Foi campeã. E virou
estrela da capa. Uma história significativa para um carnaval
tão significativo.
Foto da capa: Renata Xavier
Foto da contracapa: Fat Press
Arte da capa: Tátil Design
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2023
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O
ano de duas capas para uma campeã estreante. Não captou?
A gente explica: a Grande Rio enfim conquistou o seu sonhado
título e teve direito a primeira capa de CD na sua
história. Para eternizar o “Exu venceu”, foi
escolhida uma foto traseira da histórica comissão de
frente (“Câmbio, Exu”), trazendo o ator Demerson
D'Alvaro interpretando a figura central do enredo em cima de um globo
terrestre de ferro – uma das imagens marcantes daquele desfile
– com os arcos da Apoteose aparentes ao fundo. Tudo certo? Nem
tanto. A arte da capa foi duramente criticada pelos bambas, por
destacar menos o desfile campeão em prol da identidade visual da
Rio Carnaval. Diante da rejeição uníssona, uma
nova versão da capa foi divulgada às vésperas da
divulgação do álbum completo, corrigindo os pontos
criticados – a primeira não foi descartada, sendo a
versão das plataformas digitais. Ao menos, a frase "Sambas de
Enredo" voltou para o título do disco, se unindo a marca Rio
Carnaval.
Selminha Sorriso representava a vice-campeã Beija-Flor na
última contracapa da história. Sim, última. Pois
foi em 2023 (com um lançamento bem tardio) que os sambas do
Grupo Especial carioca foram lançados em CD pela última
vez. Dali pra frente, a modernidade seria – definitivamente
– maior do que a tradição.
Foto da capa: Ricardo Almeida
Foto da contracapa: Eduardo Hollanda
Arte da capa: Caio Marcelino
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2024
E
chegamos a 2024. O álbum do Carnaval dos 40 anos de
Sambódromo trazia um mix de modernidade e nostalgia no
inédito expediente de gravação na Cidade das
Artes. Do moderno, a primeira vez que os sambas eram lançados
exclusivamente nas plataformas de streaming, abolindo definitivamente a
bolacha digital e a tradicional contracapa com a vice-campeã
vigente. Do passado, a inspiração para a capa. De volta
ao nobre espaço após 22 anos, a Imperatriz Leopoldinense
viu a arte gráfica de 2024 redesenhar sua capa de 2002 para
eternizar o desfile campeão de 2023, com destaque para um
integrante da comissão de frente. Se lá no tri foi
Jamerson Oliveira, o escolhido da vez era Michel Henrique, vestido como
um cangaceiro do bando de Lampião em “Pelos Cantos do
Sertão”.
Foto da capa: Vitor Melo
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E as capas do amanhã, como serão? A avenida e a criatividade responderão.
Fotos: Blog Espaço Carnaval Carioca (embalagens),
O Globo, Wigder Frota, Blog Ouro de Tolo, Acervo Mocidade Independente,
Henrique Brazão (encarte de 98), Blog Escolas de Samba do Rio de
Janeiro, All Music, Reprodução/YouTube, Acervo
Beija-Flor, Acervo Pessoal Carlos Fonseca, Folhapress, G1, Veja,
Sabrina Albuquerque, Cris Gomes, Sputnik,
Divulgação/LIESA, Flickr, Fernando Grilli/Riotur, Vitor
Melo/Rio Carnaval e Autor Desconhecido
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