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Os Carros das Capas

Os Carros das Capas
por Carlos Alberto Fonseca
Twitter: @eucarlosfonseca
Apresentador do Carnaval Show na Rádio Show do Esporte todas às quartas-feiras às 20h
www.radioshowdoesporte.com.br

Num um expediente inédito, a série "Os Carros das Capas" relembra neste espaço as alegorias e componentes que ficaram eternizados nas capas dos CDs dos sambas-enredo do Grupo Especial. Em meio a citações às alegorias/componentes em si, o leitor vai encontrar também algumas curiosidades sobre a produção, divulgação e desfiles. Inicialmente o texto abordou as capas entre 1990 e 2016. Agora, a série ganha uma atualização, com mais detalhes e informações, indo até o recém-lançado álbum de 2019. Confira:

1990

Começamos esta viagem alucinante pelo universo das capas dos CDs de samba-enredo por 1990. Foi o ano em que o bamba foi brindado com a grande novidade dos sambas do Grupo 1 (que abandonaria esta denominação no mesmo ano) serem comercializados em CD, sem abandonar o LP e o K7. E para estampar a capa, a imagem que centraliza o belíssimo abre-alas da Imperatriz, campeã do carnaval que ficou na história. A alegoria representava as asas da Independência - e no meio dos tripés de frente, o nome do produto todo em amarelo. A capa do LP/CD trazia, além da alegoria, a tarja vermelha indicando o patrocínio da Kaiser. Aliás, propagandas de cervejas na capa do LP/CD erambem comuns na época. Mas, para a tristeza dos amantes da folia, o inesquecível cristo mendigo da Beija-Flor foi simplesmente ignorado na contracapa. A título de curiosidade: quando o comercial do álbum era veiculado na TV, era executado boa parte dos sambas do disco, ao invés da exclusividade da então campeã Imperatriz. Em uma das propagandas disponíveis na internet, o álbum era anunciado com o samba da Mocidade ao fundo. Mal sabíamos que a propaganda televisiva acabara profetizando quem seria a capa do ano seguinte...


1991

Já denominado de Grupo Especial, o álbum de 1991 trouxe em sua capa o lindo abre-alas da Mocidade Independente de Padre Miguel, que em 90 virou o jogo, levou a taça e todo o povo aplaudiu. Como é de profundo conhecimento do leitor, em 90 a verde e branca de Padre Miguel foi a terceira escola a se apresentar na segunda-feira de carnaval, ou seja, desfilando à noite - segunda foto do paragrafo. Entretanto, nota-se na capa do álbum de 91 que a alegoria da escola refletia o dia claro. Isto porque a imagem foi feita no desfile das campeãs, como a maioria das capas do CD dos sambas-enredo são. Ademais, a Kaiser mantinha o patrocínio na capa pelo terceiro ano consecutivo - estava desde o álbum de 1989. Mais uma curiosidade: no LP, além da foto da campeã na capa e da vice na contracapa, havia no verso de ambos os LPs (outra vez, os sambas eram comercializados em LP duplo) as fotos dos desfiles da 3° colocada, no caso o Salgueiro, e da 4° colocada, a Imperatriz. Na verdade, é um expediente que já ocorria em anos anteriores. Não satisfeita, a Mocidade fez o povo delirar, delirar, delirar para garantir o bicampeonato e, consequentemente, a segunda capa seguida.

1992

Dito e feito. A Mocidade deu um banho de felicidade que lhe garantiu um ano mais na capa do álbum. Aliás, aplausos para a fotografia da  capa, tirada da saudosa torre de TV da passarela do samba, que trouxe uma belo ângulo dos primeiros setores do inesquecível desfile feito pela Estrela-Guia. feita da saudosa torre de TV da passarela. Para identificar a "cabeça" do desfile: "Os Mergulhadores" era o nome da inesquecível Comissão de Frente. Ao fundo, o abre-alas, intitulado "A Dança das Águas Submarinas" e mais no fundo aparece a segunda alegoria "Terra: Planeta Água" e o restante dos primeiros setores da escola. Com mais um ano de patrocínio da Kaiser e a produção do disco "de mudança" para a Barra da Tijuca, tudo caminhava para a Mocidade estampar também a capa de 93. Mas, como veremos adiante, não foi bem assim...


1993


...e isto porque uma estonteante Paulicéia Desvairada vinda lá do São Carlos impediu que Padre Miguel brilhasse na capa pela terceira vez consecutiva, consequentemente a empurrando para a contracapa. O exuberante e inesquecível desfile da Estácio de Sá foi bem representado pela imagem de seu abre-alas, que retratava o Theatro Municipal de São Paulo. Assim como aconteceu em 91, a foto da capa foi feita no sábado das campeãs, e percebe-se que o letreiro do abre-alas que levava o nome da agremiação estava aceso - no desfile oficial, o mesmo passou apagado por mais de metade da avenida. No álbum de 1993 foi perceptível uma mudança no nível de produção, já que foi o primeiro disco gravado no saudoso Teatro de Lona da Barra da Tijuca, onde permaneceu pelos cinco carnavais seguintes. Também foi a última vez que a Kaiser estampou sua marca na capa do álbum.

1994

Um dos melhores CDs/LPs da história em termos de produção merecia uma bela imagem de um dos melhores desfiles da história, certo? Certíssimo! O abre-alas "A Festa do Círio de Nazaré" foi escolhido para retratar o "Explode Coração" que sacudiu a Sapucaí e levou o Salgueiro a vitória depois de 18 anos - pena que a Academia teve que esperar mais 16 anos para repetir esse feito. Aliás, pela primeira vez os dizeres de campeã eram estampados tanto no CD quanto no LP, sendo que o letreiro da parte de baixo da capa veio escrito "Salgueiro campeã" ao invés de "campeão". Coisas da língua portuguesa...  

Pela primeira vez, a Brahma estampava sua marca no CD/LP, numa parceria que durou quatro carnavais. Na contracapa, evidentemente, aparecia a Imperatriz. Só que o encarte cometeu algumas gafes - isto sem contar os misteriosos versos "Saber para crescer/Saber para orientar/Saber para amenizar" acrescidos no samba da União da Ilha - como colocar a Mocidade como vice-campeã do ano anterior no verso e creditar o saudoso Edmilton di Bem também como intérprete da Imperatriz...

E por falar em Salgueiro e Imperatriz em capa e contracapa, as duas inverteram posição no ano seguinte, como veremos em seguida.


1995


No projeto gráfico do álbum de 95 aconteceu o inverso de 94, como foi relatado: a Imperatriz foi da contracapa para a capa e o Salgueiro vice-versa. Para a capa, foi usado o mesmo (ou o parecido) recurso de 92, uma imagem tirada diretamente da torre de TV, onde o foco era o belo abre-alas da gresilense. Na imagem é perceptível também, embora com menos destaque, parte da excelente comissão de frente - uma das minhas preferidas. Até mesmo o letreiro temático da Brahma sobre a Copa dos EUA que seria vencida pelo Brasil meses depois apareceu, embora que no fundão da foto e coberta pelo título do produto. Ademais, só a destacar a volta "definitiva" dos arranjos de teclado nos sambas - o que permaneceria até o fim da década.


1996


Para registrar o (para muitos) contestável bicampeonato da verde, branco e dourado da Leopoldina na capa do álbum que conseguiu a enorme proeza de espremer 18 escolas num compacto de 80 minutos (e com boa vontade dava pra acrescer pelo menos 15 segundos a mais para cada obra no disco) a gráfica optou por um recurso usado até então pela última vez em 1989: não colocar o abre-alas na capa. Representando o desfile bicampeão da Gresil, a personagem central da capa de 1996 foi a alegoria "Palácio na Argélia" - a quinta desta apresentação - além de dois recortes menores do abre-alas e um da ala das baianas. Por causa de tais recortes, o patrocínio da Brahma ou de qualquer cerveja desapareceu da capa, restando apenas os dizeres "Imperatriz Bicampeã" num círculo verde. Na contracapa, avistamos a linda e lendária águia da Portela, que 11 de 10 sambistas tem certeza absoluta de que deveria ser a capa daquele álbum...

1997


Para eternizar a grandiosa vitória da Mocidade em 96, a imagem não poderia ser outra a não ser o brilhante e impactante abre-alas "A Criação da Terra", a comissão de frente também ganhou destaque na foto, que na capa foi colocada num fundo verde claro (bem sugestivo, não?) onde acima estava o título do álbum e embaixo os dizeres "Mocidade Independente - campeã". A estrela-guia de Padre Miguel ainda segue sem fazer uma capa solo desde então, mas retornou a mesma 21 anos depois, divindo-a com a Portela, num resultado que... bom, deixe que a gente relate quando for a vez de 2018. E por falar em última vez, foi a derradeira oportunidade também que os sambas-enredo do Rio eram comercializados em LP, bem como a Brahma, que patrocinava a bolacha digital pela última vez.



1998


No ano de sambas muito populares, uma capa aparentemente simples, mas que esconde uma sacada muito bacana: a capa do disco de 98 teve como foco um dos destaques do impactante abre-alas da Viradouro (As Trevas) que serviu para colocar o título do álbum em curva. Mas não é só isso. O abre-alas assinado por Joãosinho Trinta foi tão impactante que uma capa foi pouco. Fizeram logo um pôster dentro do encarte - foto abaixo. À título de curiosidade: pela primeira vez, a ordem de execução do disco era de acordo com o resultado do carnaval anterior, que só não fora obedecida totalmente à risca devido a ausência do Salgueiro, que preferiu produzir seu samba de forma independente após brigar com a BMG. Infelizmente, apesar dos sambas populares que são lembrados até hoje - como Viradouro e Tijuca, por exemplo - o CD de 98 foi um fiasco de vendagem, muito por causa da ausência salgueirense. Outros dois discos foram lançados depois do carnaval, com os sambas e os esquentas em versão ao vivo feito durante os desfiles. Por falar em infelizmente, também foi o último ano em que o álbum foi gravado no Teatro de Lona, desativado em 2002.


1999


A capa de 99 requer uma explicação minuciosa. Neste ano, a gráfica responsável tinha um problemão à resolver, pois, como se sabe, em 98 tivemos duas campeãs e isto remeteu a grande dúvida do século: "Como colocar duas campeãs em uma capa?". A solução foi a mais simples possível, "rachar" a capa colocando um carro de cada escola. A Mangueira e sua homenagem a Chico Buarque foi representada pela alegoria "Sanatório Geral". Já a Beija-Flor e o mundo místico dos Caruanas foi retratada pelo carro "Casa de Açum" que particularmente ficou num ângulo bem esquisito, dando a impressão que a imagem foi feita no setor 1. No fim das contas, ficou um resultado agradável, mesmo não sendo nada de exuberante, com ambos os carros "divididos" por uma arte que remetia a escultura da Praça da Apoteose. Só pra constar: a Imperatriz foi ignorada na contracapa, recorrendo-se à repetição da capa - caso que aconteceria novamente dezenove anos mais tarde - e a lateral da embalagem do disco recebeu o patrocínio do finado banco Bandeirantes, que na época era recém-filiado ao Grupo Caixa Central de Depósitos.


2000


Esta é outra capa que merece ampla explicação, dessa vez por sua criatividade. No ano 2000, nosso país comemorava 500 anos de vida, e como aquele carnaval era temático, a capa do CD não poderia fugir a regra. E o resultado foi o mais criativo possível: capa e contracapa se uniram formando a bandeira brasileira com várias imagens do desfile anterior. Na capa, a Imperatriz foi representada por um componente (que acabou tendo o rosto "dividido" na imagem) uma escultura do abre-alas (O Barroco, segunda foto), uma destaque de alegoria e uma componente da ala das baianas. A contracapa ficou por conta do abre-alas e comissão de frente da Beija-Flor - a propósito, Beija-Flor e contracapa começavam aí um duradouro casamento. Um gráfico bem criativo para celebrar as cinco séculos de nosso país. Sobre os patrocínios, o Banco Bandeirantes estampou sua marca na lateral da embalagem pela segunda e última vez. Ao mesmo tempo pintou um novo patrocinador: a Loterj, responsável pelas famosas raspadinhas no estado do Rio. O reclame da Loterj na bolacha digital do carnaval carioca passou a ser bem frequente durante o governo do casal Garotinho.


2001


A primeira capa do novo milênio foi estrelada pela alegoria "As Mercadorias Africanas" - se não me falha a memória foi a terceira do desfile anterior da Imperatriz. Aliás, deram tanto foco para a máscara deste carro que dá a nítida impressão da mesma estar encarando alguém - e devido a isso, os dizeres "Imperatriz Campeã 2000" (optaram pelo "Campeã 2000" ao invés de "Bicampeã") foi jogado para a lateral da embalagem, junto com o patrocínio da Loterj. Curiosidade: em alguns CDs, a logomarca da Liesa aparecia no canto direito baixo da capa, em outros, a mesma não aparecia. Que estranho... Ah, e a frase "Sambas de Enredo" ficou muito grudada, não?

2002


Apesar do assunto principal ainda ser o contestável resultado de 2001, ("saudado" pelos populares naquele ano por vaias e latinhas atiradas na pista) o CD de 2002 nos trouxe uma capa que beira a pessoa socar a mesa e falar "que p... é essa?". Sabe por que? A "estrela" da vez não era nenhum abre-alas, tampouco uma alegoria qualquer. A imagem escolhida para estampar o tricampeonato da Imperatriz na capa de 2002 foi... um componente da Comissão de Frente! Sim! "Mouros e Cristãos" serviu de inspiração para a capa de 2002 - mencionando, claro, os dizeres "Imperatriz Tricampeã", em letras até bonitas. Como desgraça pouca é bobagem, um integrante da comissão de frente da vice Beija-Flor também estampou a contracapa. Ou seja, foi o CD das comissões. Por outro lado, a produção do disco nos presenteou com o CD Bônus, contendo sambas históricos das agremiações que faziam parte do Grupo Especial daquele ano - além, é claro, do CD com os sambas inéditos. Nos patrocínios, a Loterj ganhou a companhia do Governo do Rio e seu interessante slogan: "Fazendo nosso povo mais feliz" - lema esse que todo mundo sabe que não era levado ao pé da letra pela gestão estadual da época, mesmo com os (cof, cof) quase 90% de aprovação popular. Para finalizar, reproduzo uma história por trás desta capa de 2002 contada pelo amigo Ricardo Dias a este escriba: "O componente que estampou essa capa posteriormente cobrou direitos autorais da LIESA pelo uso da sua imagem. Evidentemente não arrumou nada. Depois disso, a Liga nunca mais usou fotos de componentes nos CD's. O componente é um grande amigo meu que eu prefiro preservar o seu nome". Ele ainda conta que o mesmo componente já havia estampado a capa de 2000.


2003


Antes de chegar na surra de capas da Beija-Flor na década, vamos passar por 2003, ano que tivemos uma gráfica totalmente rosa para registrar o belo campeonato da velha Manga. A alegoria escolhida para estampar a capa foi "O Forte", que era a segunda daquela apresentação. Bela escolha, por sinal, já que o abre-alas era todo em branco e não daria um bom efeito para a capa. Loterj e o Governo do Rio seguiram firmes e fortes no patrocínio. Depois desta, a Estação Primeira teria que esperar mais 14 anos para estampar a capa da bolacha digital mais uma vez...


2004

Num carnaval que contou com a reedição de quatro clássicos da folia de momo, dentre eles "Aquarela Brasileira" e "Contos de Areia", a bolacha digital de 2004 teve como capa "O Paraíso Terrestre: A Segunda Chance", terceira alegoria do (contestado) título da Beija-Flor. Ademais, os patrocínios continuaram os mesmos, Loterj e Governo do Rio de Janeiro - desta vez com outro slogan, digamos, interessante: "Trabalhando cada vez mais" - sendo que na prática não era bem assim, já que o estado vivia o ápice da crise na segurança pública, que só não foi pior a que viria a estourar no fim da década seguinte. Na contracapa, está o consagrado casal Marquinhos e Giovanna, que na época defendia a vice-campeã Mangueira.


2005


No ano do CD que carinhosamente apelido de "ao vivo fake" - porque os fogos estourando e o público vibrando em todas as faixas eram meros efeitos sonoros de computador - dois patrocínios caseiros foram trocados por um patrocínio de grife: saiu a dupla Loterj/Governo do Rio e entrou a Nestlé - que na época passou a investir e patrocinar o carnaval carioca. Sobre a capa, o belíssimo abre-alas da Beija-Flor (Ganância Espanhola) cujo destaque era Fabíola David - guarde esse nome, você o lerá muito por aqui. Na contracapa, a Tijuca, que pela primeira vez se fazia presente na embalagem do disco, foi representada pela sétima alegoria do desfile (Viagens Extraordinárias). Daí o leitor que não possui o disco em casa deve se perguntar: aonde foi parar o inesquecível carro do DNA? Respondo: A imagem do carnaval anterior foi estampar o fundo do estojo do CD - terceira foto do parágrafo. Voltando a falar do patrocínio, a Nestlé também patrocinou o enredo da Grande Rio, o que levou o então intérprete Wander Pires a citar a marca em pleno "Sem Censura" - programa à época apresentado por Leda Nagle.


2006


O disco que é lembrado pela fantástica - para ser bem generoso - cadência imposta no samba da Porto da Pedra e por ser o último registro de Jamelão em vida teve como capa o abre-alas do desfile tricampeão da Beija-Flor (Luz Menino, A Mensagem do Divino e o Reino de Herodes). Três detalhes desta capa: o primeiro é que o carro não foi mostrado completamente, tendo foco para a parte da frente da mesma, cuja destaque é... Fabíola David - estou avisando para guardarem este nome. O segundo é que para a tristeza dos Nilopolitanos, a frase "Beija-Flor tricampeã" não apareceu na capa, bem diferente de 2002, quando os gresilenses avistaram o "Imperatriz Tricampeã". Por último: diferente do costume, a foto que ilustra o disco é do desfile oficial, já que a Deusa da Passarela passou pela Sapucaí por volta das sete da manhã devido ao atraso provocado pelos desdobramentos provocados pelo lastimável desfile da Portela. Na contracapa, o belo abre-alas da Tijuca ao qual o escriba teve oportunidade de ver de perto no desfile das campeãs de 2005. A Nestlé patrocinou o CD pela segunda e última vez. Inclusive, foi a última vez que o CD dos sambas-enredo do Grupo Especial recebeu patrocínios. A Sony/BMG também fazia sua despedida da distribuição comercial do álbum. Até então foi o último álbum com 14 escolas na elite, mas por circunstâncias do destino, o número de faixas no disco voltaria a ser repetido treze anos depois.


2007


Sem patrocínios, de gravadora nova (a Universal Music) e com o intuito de reduzir para 12 escolas, o disco de 2007 trouxe destacada na capa "O Esplendor do Império do Sol", abre-alas do desfile que daria o segundo campeonato à Unidos de Vila Isabel. Esta alegoria, aliás, é muito bonita. A destacar neste álbum à volta da Estácio para a elite com a reedição de "O Tititi do Sapoti", o retorno de Preto Joia à Imperatriz depois de quase uma década, as duradouras introduções de Salgueiro e Porto da Pedra, a popularidade do samba da Viradouro (que chegou a boca das torcidas de futebol) e um título tranquilo que credenciou a Beija-Flor a estar na capa do ano seguinte.

2008


Com a Liesa enfim alcançando sua meta de reduzir o Grupo Especial para apenas doze escolas, o CD de 2008 trouxe na capa o enorme beija-flor que foi o cartão de visitas no abre-alas "O Supremo Dom Divino". Emulando o famoso bordão de Luís Roberto, o destaque deste abre-alas e o título de estrela da capa de 2008 (e de três futuras) foi "sabe de queeeem?" Ela mesma, Fabíola David! De resto, nada de novo. O estilo de gravação, só pra constar, era o mesmo adotado em 1999 - com algumas modificações feitas conforme os anos. E por falar na dona Fabíola, se o caríssimo leitor começava a achar que estavam dando muito destaque a ela, mal imaginava que no ano seguinte a coisa viria a melhorar, se é que me façam entender...



2009


E foi o que fatalmente aconteceu: Fabíola David foi, outra vez, o holofote principal da capa de 2009. Como era de costume, foi destaque principal do abre-alas nilopolitano (Brilho de Fogo - O Rastro Iluminado) onde usava a fantasia "Brilho de Fogo Revela o Paraíso" - segunda imagem. A única coisa boa da Beija-Flor no CD foi o emocionante depoimento do Neguinho da Beija-Flor antes de entoar a faixa 1 do disco. Vale lembrar que à época o veterano intérprete enfrentava um câncer que felizmente foi totalmente curado. No ano de sambas praticamente esquecíveis (salvo dois ou três e a reedição do Império Serrano) foi a última vez até agora (e esperamos que nunca mais) que os sambas-enredo do Especial foram gravados totalmente em estúdio. Ademais, uma capa sem brilho e evitável. A coisa só não ficou pior ainda em 2010 porque um Tambor bateu mais forte...



2010


As preces dos sambistas enfim foram atendidas: mesmo com andamentos inexplicavelmente acelerados em alguns sambas, principalmente na faixa da Mocidade, o primeiro CD da nova década foi gravado na Cidade do Samba (como é feito até hoje, tendo algumas leves mudanças na produção ao longo dos anos) e teve como capa o abre-alas do desfile que deu ao Salgueiro seu nono campeonato, intitulado "Tambores da Academia". Antes deste carro, aparece parte da ala "Maculelê", uma espécie de ala de passo marcado com coreografia. Diferente de 1994, abaixo da imagem aparece os dizeres "Salgueiro Campeão". Ademais, 2010 foi um carnaval que marcou a entrada em definitivo de uma azul e amarela no grupo das protagonistas da folia. Tudo na base de um grande segredo e com um toque de magica na comissão de frente.



2011

 
O ano em que começou o domínio do pavão do Borel. O Abre-Alas, que representava a Biblioteca de Alexandria (que "pegava fogo" durante o arrebatador desfile tijucano no ano anterior) foi a protagonista da capa da bolacha digital de 2011. Um detalhe quase despercebido é que a parte de baixo da imagem chega a mostrar o elemento alegórico da inesquecível comissão de frente da escola, além de uma ala que representava o Império Romano. No mais, 2011 foi marcado pela experiência única do recurso de um intérprete chamar o outro (Faz barulho pro Wantuiiiiiiiiiiiiiiiiiir), pelo incêndio na Cidade do Samba e pelo polêmico título da Beija-Flor, que gerou no ano seguinte uma capa tão ridícula como a de 2009.


2012


O polêmico e contestado título nilopolitano rendeu mais uma capa lamentável no ano seguinte. Tentem adivinhar quem foi o holofote principal da página 1 do encarte... Sim, ela mesma, Fabíola David! Tal qual 2009, ela foi o holofote principal. Sua fantasia na ocasião era "O Beijo na Flor", o destaque principal do abre-alas "Das Lembranças que Trago da Vida" - segunda foto. Como diria um grande amigo meu: "se eu tivesse uma impressora A3 laser, refazia todas as capas". Se viesse o Roberto Carlos na capa até seria aceitável. No mais, se as gírias comuns entre os jovens de hoje surgissem nesta época, todos nós teríamos "ranço" desta sequência de capas da dona Fabíola nos últimos nove anos.


2013


Literalmente, foi uma capa feita à barro. Explicando: para ilustrar o título tijucano na capa de 2013, a alegoria escolhida foi "Do Barro se Fez a Vida", a terceira daquela apresentação - segunda foto. No entanto, ao invés da frente do carro como é tradicional, foi a lateral do mesmo que fora registrada e ficou aparente na arte final, tendo como plano de fundo os arcos da Apoteose. Particularmente não tinha gostado muito do resultado, mas conforme o tempo passei a ver com bons olhos a arte final. Porque, vamos combinar, o fotógrafo esteve inspirado para fazer um registro de tamanha felicidade.


2014


Mudança temática do barro para as flores. Em especial, os girassóis. A "Festa no Arraiá" que trouxe o terceiro título para o Povo do Samba foi retratada pelo carro "Os Girassóis", quarto a se apresentar naquele desfile. Mas, incrivelmente e infelizmente, esta foi a única parte bonita do disco, já que o mesmo deve-se encontrar esquecido na prateleira de 15 entre 10 pessoas que possuem este disco. Com inteira razão e justiça, pois foi neste 2014 que a produção do álbum teve a brilhante, sensacional, maravilhosa e genial ideia de colocar explanações dos carnavalescos antes dos sambas. Algumas ficaram famosas, como o "Maricá, essa grande cantora" antes da execução do samba da Grande Rio, que é motivo de piada até os dias atuais - tá, vamos levar em conta que o responsável por editar as explanações deu uma bela traída no Fábio Ricardo.

2015


Mais uma troca de temática na década. Desta vez, saiu a temática rural e entrou a temática esportiva. Com o desfile sobre Ayrton Senna que sacramentou o quarto título do Pavão do Borel, o abre-alas "Boxe dos Compositores" - que a meu juizo é bem pobre esteticamente, mas relevante à proposta do enredo - serviu como capa para a bolacha digital de 2015. A arte gráfica da capa é a mesma de 2014, só que com as cores diferentes para combinar com a campeã - recurso usado nos biênios 2007-2008 e 2012-2013. O único detalhe "diferente" é que a frase "Tijuca campeã" passou a contar também com o ano correspondente ao título - ficando, portanto, com a legenda "Tijuca campeã 2014". A mesma coisa foi na contracapa, com o "Salgueiro vice-campeã 2014". O recurso da legenda "nome da escola campeã ano" passou a ser usado nas capas desde então, algo que fora usado pela última vez em 2001.


2016


Para retratar na capa mais um título da Beija-Flor - contestado por boa parte dos sambistas devido ao enredo ser sobre Guiné Equatorial, país que vive sob ditadura - nos deparamos com o abre-alas, "A Árvore da Vida e a Floresta Tropical Africana" onde, citando e adaptando aquele famoso episódio do Pica-Pau, "onde tudo é verde, inclusive o tronco". Aliás, reparou quem estava no carro? Reparou mesmo? Sim, Fabíola David estava lá outra vez! Pela enésima vez (na verdade, era "só" a quarta) ela se faz presente na primeira página da bolacha digital. Tal qual fora explicado no caso da Tijuca, a Beija-Flor também entrou no recurso da inclusão do ano, sendo a legenda "Beija-Flor campeã 2015". Aliás, a capa de 2016 acabou involuntariamente entrando para a história por ser a última foto de capa feita da saudosa e histórica torre de TV da passarela do samba, que seria derrubada meses depois em prol das provas de maratona dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que terminariam no palco dos desfiles.

2017


 
Longos e intermináveis quatorze longos anos foram o que os fiéis mangueirenses esperaram para ver sua escola querida campeã novamente e, consequentemente, na capa do CD. Mas o resultado, num geral, foi dos mais decepcionantes dos últimos anos - parecia até um prenúncio do que viria depois. A montagem da nova torre de TV deu um ângulo bastante diferente da antiga, dando uma dimensão mais aberta dos desfiles, talvez até isso tenha dado uma certa estranheza. E a arte gráfica, numa tentativa de remeter as capas dos anos oitenta, não teve um resultado muito feliz - a frase "Mangueira campeã 2016" ficou totalmente em segundo plano ao ser colocada abaixo do título do disco. Ah, faltou o principal: a alegoria escolhida para retratar o título verde e rosa foi o abre-alas "Oyá e Oxum - Orixás de Frente" com destaque para os búfalos de Iansã.

Em ano complicado, marcado pelos acidentes na passarela, a Portela enfim acabou seu calvário que durava 33 anos e foi campeã do carnaval. O que já faria a capa do CD de 2018 ser histórica, pois seria a primeira vez na história que a Águia seria soberna na primeira página do encarte - pra lembrar, em 1970 não existia o recurso de colocar a campeã na capa, em 1980 teve de dividir com Imperatriz e Beija-Flor e em 1985 a supercampeã Mangueira foi pra capa. Um mês depois do carnaval, no entanto, surgiu um percalço: a Mocidade, então vice-campeã, pediu a divisão do título pois o julgador Valmir Aleixo tirou 0,1 da escola em Enredo tendo como base uma versão desatualizada do livro Abre-Alas e este décimo acabou tirando a escola da briga pelo caneco na apuração. Em plenária, a LIESA confirmou o título da verde e branca e, consequentemente, a divisão do mesmo, o que faria que Portela e Mocidade dividissem a capa de 2018 tal qual em 1999, quando Mangueira e Beija-Flor foram campeãs somente no rito tradicional da apuração das notas.

2018

 
Conforme foi explicado no parágrafo anterior, era para o CD dos Sambas-Enredo de 2018 entrar na história pelo fato de pela primeira vez na história a Portela estampar sozinha a capa deste álbum. Mas devido ao trâmite já explicado, ela teve de dividir a página 1 do encarte com a Mocidade - isto sem contar do "azar" que teve ao também perder a faixa 1 para a verde e branca através de sorteio previamente realizado antes da gravação. As estrelas da capa foram os abre-alas "Fonte da Vida" (Portela) e "Bem-Vindos ao Reino Encantado do Marrocos" (Mocidade), "divididas" ao meio pelo título do disco em outro resultado final lastimável. Falando do disco em si, 13 escolas compuseram a trilha para o CD de comemoração dos 50 anos da produção dos álbuns de samba-enredo. E foram 13 pois no ano anterior o rebaixamento foi anulado antes da apuração em razão dos acidentes já mencionados. Como pouca coisa ruim é bobagem, o CD foi aberto por um solo-sonífero de uma viola por intermináveis 72 segundos. Para completar a patacoada, a Beija-Flor venceu o carnaval com um desfile de um total desenredo - justiça seja feita, o sambaço da azul e branca não teve culpa alguma.






2019


 
Enfim, chegamos a 2019. Logo que a Beija-Flor fora campeã de 2018 com uma estética, digamos, muito aquém do que se esperava - a crítica foi bem sucedida, mas o que vimos foi um desenredo puro - veio a cabeça o que viriam a tirar "de melhor" do desfile que dividiu opiniões para colocar na capa. Uns apostaram na última alegoria, outros no Frankenstein de lata. No fim das contas não foi nem um, nem outro. A alegoria escolhida para a capa de 2019 foi "A Ambição", a segunda daquele desfile, que representa "os espaços de criação dos monstros" com réplicas do Congresso Nacional e do prédio da Petrobras, antros de corrupção no país principalmente nesta década. Cá entre nós, haviam fotos bem melhores para ilustrar a capa. Nem a contracapa com a vice-campeã Tuiuti ficou grande coisa. Dos males o menor: não teve a titia Fabíola - mas com o resultado catastrófico bem deu saudade dela na capa...

Fotos: Blog Espaço Carnaval Carioca (Embalagens), O Globo, Wigder Frota, Ouro de Tolo, Acervo Mocidade Independente, Henrique Brazão (encarte de 98), Blog Escolas de Samba do Rio de Janeiro, All Music, Acervo Beija-Flor, Acervo Pessoal Carlos Fonseca, Folha de São Paulo, G1, Veja, Sabrina Albuquerque, Cris Gomes, Sputnik, Divulgação/LIESA, Flickr e Autor Desconhecido