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REEDIÇÃO LONGE DO NINHO... SAMBAS CANTADOS SOB OUTROS PAVILHÕES
                 

23 de maio de 2025, nº 103


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REEDIÇÃO LONGE DO NINHO... SAMBAS CANTADOS SOB OUTROS PAVILHÕES

Uma notícia impactou o noticiário do carnaval por sua curiosidade. Impactou tanto ao ponto de interromper as férias desta coluna por um momento. E ainda não estamos falando da homenagem que o Salgueiro fará à eterna Rosa Magalhães, nem da exaltação da Imperatriz ao “Camaleônico” Ney Matogrosso, muito menos do tributo que a Viradouro fará à Mestre Ciça em sua plena atividade – num anúncio emocionante na quadra, presenciado por este colunista. O assunto até remete à Niterói, mas bem longe da Avenida do Contorno.

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Unidos da Região Oceânica vai reeditar samba clássico da União da Ilha
(Foto: Reprodução)

Na segunda-feira passada, a Unidos da Região Oceânica, agremiação que desfila no Grupo B do carnaval niteroiense, anunciou para o Carnaval 2026 a reedição de “É Hoje”. Sim, o “É Hoje”, grande clássico da União da Ilha do Governador e um dos sambas mais cantados do carnaval brasileiro – ao lado do “Explode Coração” do Salgueiro, citada num outro texto deste espaço. Até o carnaval passado, a Oceânica era a única escola a desfilar somente no grupo principal desde a volta dos desfiles na cidade, em 2006, perdendo a invencibilidade com o inédito rebaixamento. E para voltar à elite em 2027, vai fazer ecoar o “É hoje o dia da alegria / E a tristeza nem pode pensar em chegar” pelo Caminho Niemeyer no próximo fevereiro – vale lembrar que a própria Ilha já reeditara o samba na Sapucaí, em 2008.

Niterói presenciou nos últimos anos algumas reedições de obras do outro lado da Guanabara, do clássico Orfeu da Viradouro até o pitoresco “138 alô alô” do Jacarezinho. E se os versos “A minha alegria atravessou o mar / E ancorou na passarela” farão mais sentido do que nunca a partir do ano que vem, relembramos aqui as ocasiões em que sambas de uma escola foram cantados por alguma coirmã, na contramão da coluna publicada no início do ano sobre as modificações de letra em reedições. Nesta lista, não iremos considerar as reedições de 2004, a releitura de Festa Profana (outro clássico insulano) feita pela Porto da Pedra no ano seguinte, e a Tradição, campeã com folgas no quesito reeditar sambas de outras agremiações.

 

Teresa de Benguela, Uma Rainha Negra no Pantanal (Unidos do Viradouro 1994): Folia do Viradouro 2023

E aqui está mais um exemplo do que falamos de sambas que atravessaram a Guanabara. Vinda de um campeonato na cidade sorriso, o Folia “pegou emprestado” em 2023 o clássico samba que a xará famosa Unidos cantara na Sapucaí quase trinta anos antes (e que rendeu a melhor colocação dela antes do primeiro campeonato, em 1997), apostando num efeito que funcionou com a Magnólia Brasil – vencedora em 2020 reeditando um samba-enredo da Unidos de São Carlos, atual Estácio de Sá.

O samba até gabaritou, mas o Folia terminou com a quarta colocação. Em tempo: apesar das mesmas cores e serem oriundas do mesmo bairro, o Folia não tem qualquer relação com a Unidos.

 

 

Lenda das Sereias, Rainha do Mar (Império Serrano 1976): Inocentes de Belford Roxo 2006

Um clássico imperiano conheceu o Sambódromo pelos caminhos da terça-feira de carnaval. Então no Grupo B (atual Série Prata), a Caçulinha da Baixada apostou no “berço das sereias, lendário e fascinante” eternizado pelo Reizinho de Madureira há quase vinte anos. O simbolismo maior desta releitura: o samba ser cantado por Tem-Tem Sampaio, filho de Dinoel Sampaio, um dos autores da obra. Em várias entrevistas – inclusive a este SAMBARIO – o intérprete (que em 2026 cantará outra reedição, a de “Orun Ayê” no Boi da Ilha) relata ter se emocionado ao final do desfile.

 A Inocentes terminou na terceira colocação, ficando a oito décimos do acesso ao Grupo A. E Lenda das Sereias seria novamente reeditada, três anos depois, pelo próprio Império Serrano.

 

 

Quando o Samba era Samba (Portela 1994): União do Parque Curicica 2013

No primeiro ano da moderna Série A em dois dias, a tricolor de Jacarepaguá resgatou o hino portelense de 1994 sobre as origens do samba para reverenciar os 90 anos da águia, completados naquele 2013 – outro samba portelense que passou no mesmo grupo foi o de 1981, pela Tradição. A iniciativa da releitura partiu da então presidente da escola, Kátia Paz, que até o carnaval anterior era segunda porta-bandeira da Portela.

A Curicica terminou na décima primeira posição.

 

 

33 Destino Dom Pedro II (Em Cima da Hora 1984): Embalo do Engenho Novo 2018

Seis anos antes da Em Cima da Hora fazer sua própria reedição, o famoso 33 ganhou uma releitura na Intendente Magalhães: em seu terceiro desfile, a azul e amarelo da Zona Norte carioca reaproveitou o clássico samba, posteriormente eternizado por Jovelina Pérola Negra (1944-1998) após a apresentação original na inauguração do Sambódromo.

Voltando à releitura: a escola acabou na quarta colocação, ficando por 1 décimo de obter o acesso, e não mais desfilou depois de 2019.

 

 

Bom, Bonito e Barato (União da Ilha 1980): Boi da Ilha 2024

18 anos depois de cantar “O Amanhã” na Sapucaí – no mesmíssimo Grupo B onde estava a Inocentes, anteriormente listada, a simpática escola boiadeira “pegou emprestado” outro samba da vizinha União. O escolhido da vez foi “Bom, Bonito e Barato”, rebatizado como “Boi, Bonito e Barato”, num daqueles clássicos “trocalhados do carilho” relacionando-a com a escola.

Se com a tricolor em 80 ficou no quase, em 2024 deu taça: o Boi levantou o título da Série Bronze.

 

 

Kizomba, Festa da Raça (Vila Isabel 1988): Tuiuti 2014, Raça Rubro-Negra 2024 e Canto da Alvorada 2025

Já temos sambas que foram reeditados pelo menos duas vezes – como Lenda das Sereias, que encabeça a lista. Três vezes? Somente Kizomba. A histórica obra de Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila, que conduziu à Vila Isabel ao seu primeiro campeonato em 1988, é o único enredo/samba a ter três releituras no carnaval. A primeira foi na Sapucaí, quando o Paraíso do Tuiuti trouxe a Kizomba de volta ao Sambódromo em 2014 – ainda que num andamento impraticável. A segunda aconteceu 10 anos mais tarde, quando a Raça Rubro-Negra levou a obra para a Intendente Magalhães.

E a terceira? Foi em 2025 mesmo, bem longe do Rio de Janeiro. A escola de samba Canto da Alvorada, do carnaval de Belo Horizonte, trouxe Kizomba novamente pra avenida, com a interpretação de Wantuir. E Kizomba acabou campeão novamente, levando o galo ao título do desfile da capital mineira.

 

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