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CAMISA 10

CAMISA 10

PRESIDENTE Matheus Rodrigues
CARNAVALESCOS  Jhony Saldanha e Alison MacMoraes
INTÉRPRETE  Léo do Cavaco
CORES Vermelho e Branco
SITE http://gresvcamisadez.webnode.com.br/
CIDADE-SEDE Campinas-SP

Escola que estreia na LIESV, herdando o legado da antiga Acadêmicos de Madureira, que obteve o acesso no desfile da CAESV em 2008. Com um enredo sobre Oswaldo Cruz, a escola conquistou o vice-campeonato do Grupo de Acesso 2009 e o direito de desfilar no Especial em 2010, onde ficou até 2012. Desde 2013, se apresenta no Grupo de Acesso.

Ano

Enredo

Colocação

2014 Da Consolação ao Paraíso... sou Sampa, sou Samba... sempre fui 6º (Acesso)
2013 Do Feitiço à Redenção: o Caminhar da Humanidade Entrelaçado pelo Fascinante Fruto Proibido 5º (Acesso)
2012 2012: Alea Jacta Est! 18º (Único)
2011 Não Vejo, Não Ouço, Não Falo... Sinto! 10º (Especial)
2010 Boom... e a Humanidade Acordou 12º (Especial)
2009 De Paraitinga ao Palácio da Saúde. Oswaldo Cruz, o Médico do Brasil

2º (Acesso)


ENREDO 2014

Da Consolação ao Paraíso... sou Sampa, sou Samba... sempre fui

"Com a força e tradição dos batuques africanos, Camisa 10 mostra que Sampa não é o túmulo do samba"

 

"...O BATUQUE QUE VEM DE LÁ..."

Uma vez o grande Vinícius de Moraes disse que "São Paulo era o túmulo do samba". E por muito tempo tal ideologia permeou o imaginário nacional, contudo a cidade mostra a cada ano que sabe fazer samba de qualidade e que tem uma linda história de construção do grande samba paulista. Por essa razão, a Camisa 10 tem o grande prazer de apresentar ao público da LIESV um pouco sobre a trajetória de tradição do samba paulista.

No início, na então Província de São Paulo, ele se estruturou e se fortaleceu nas grandes fazendas para onde os negros foram levados como escravos para plantar primeiro a cana-de-açúcar e depois, em ainda maior número, para desenvolver o lucrativo cultivo do café. Alí ele era dançado nas senzalas e nos terreiros, ao som de grandes bumbões cavados com fogo em enormes troncos de árvores. Essas concavidades cilíndricas eram depois recobertas com couro de animais e produziam uma batida grave e profunda que se tornou a marca do samba paulista.

Eram os mesmos tambores que serviam para embalar o jongo, uma dança religiosa de roda que só era dançada a noite, geralmente em locais afastados ou no meio da mata e na qual os dançarinos se movimentavam em sentido anti-horário, acompanhados pela batida dos tambores jongueiros, denominados Caxambu ou Candongueiro.

A principal região fornecedora de braços escravos para o Brasil havia o costume de homenagear Deusa da Fertilidade, através de uma dança ritual, na qual acontecia a umbigada, que é o encontro dos corpos do dançarino e da dançarina na região do ventre. Não era um ato licencioso, nem carregado de sensualidade, mas uma forma ritualizada de se louvar a fertilidade da natureza. Essa prática foi conservada no jongo que é uma dança "com fundamento", isto é, com fundo religioso.

 

"...O SAMBA RURAL E O SINCRETISMO..."

Foi a fusão do samba de roda nordestino com a dança do jongo, comum no interior paulista, que acabou dando origem ao famoso samba de bumbo, que tornaria Campinas nos anos 20 e 30 do século passado uma força legendária nas disputas sambísticas de Pirapora do Bom Jesus.

O samba foi chegando ao território urbano e tomando seu lugar nas cidades interioranas paulistas, através das festas profano-religiosas, sendo cantado e dançado na Festa de Coroação dos Reis do Congo, durante a fase da escravidão e mais tarde na Festa de Santa Cruz ou na Festa de São Benedito. Essa era uma estratégia para que ele fosse aceito entre os senhores mais renitentes, pois louvava-se o Santo homenageado naquele dia cantando e dançando o samba que deixava assim de ser visto como uma dança de negro e com fundamento, isto é, ligada às práticas religiosas africanas, tornando-se gradativamente uma dança cristianizada.

Foi esse samba de origem rural, (que vicejou em muitas cidades interioranas como Itú, Campinas, Capivari, Tietê, Piracicaba e também em Vinhedo, no bairro da Capela) que foi sendo levado no final do século XIX e primeiros anos do XX, para a capital do estado de São Paulo pelos negros que já libertos da escravidão, não encontravam trabalho na lavoura, devido às várias crises porque passou a cafeicultura. Eles tiveram então que buscar uma ocupação urbana na capital do estado, cidade que nesse período crescia e se industrializava rapidamente, atraindo por isso muitos migrantes provindos do interior.

 

"...A IMIGRAÇÃO E A BOÊMIA..."

Ali esses migrantes interioranos se fixaram nas regiões onde condições adversas  dificultavam uma ocupação urbana pelas classes mais abastadas. Nesses terrenos pouco valorizados formaram-se assim os três grandes territórios negros tradicionais da cidade de São Paulo: Barra Funda, Bexiga e Baixada do Glicério. Mais tarde, isto é, após a segunda Guerra Mundial, bairros como Casa Verde, Peruche, Vila Matilde, ou Taboão se constituíram com grande concentração de população afro-brasileira, locais onde o samba até hoje é uma força, tradicional e agregadora.

Nesses bairros onde viviam os negros e os brancos pobres o samba foi aprendido e dançado pelos imigrantes, fossem eles de origem portuguesa, italiana ou espanhola, pois sendo vizinhos e companheiros nas duras lidas cotidianas necessárias para se obter uma subsistência mínima, eram também parceiros nos momentos de festa e congraçamento. O samba ganha assim um caráter integrador, pois através da música e da dança, esses novos brasileiros, também pobres e migrantes, vão conseguindo seu lugar no espaço econômico, mas também no espaço cultural e de lazer das cidades que se desenvolviam. Adoniran Barbosa, Chico Pinga e Tókio, além de Germano Matias são exemplos de brancos, filhos de imigrantes, que muito contribuíram para o samba paulista.

O samba nas primeiras décadas do século XX passou a ganhar novas forças nas cidades paulistas, através do Carnaval. Nessa época eram os cordões que faziam sucesso no carnaval negro, uma manifestação popular ainda em fase de consolidação. A princípio os cordões se apresentavam ao som de marchas sambadas compostas pelos próprios sambistas, porque elas permitiam um desfile cheio de evoluções, realizado para agradar um público ainda em fase de conquista e sempre sob o beneplácito, cuidadosamente negociado com a polícia.

Esses sambistas negros e brancos não se esqueciam das suas profundas raízes rurais e pelo menos uma vez por ano retornavam ao interior para, em Bom Jesus de Pirapora, se encontrarem com outros grupos de sambistas vindos de Tietê, Capivari, Piracicaba, Campinas, São Roque e de muitos outros lugares ainda mais distantes. Ali, além de louvar ao Bom Jesus, promoviam acirradas disputas de samba, feitos de improviso, criados coletivamente e dançados nos grandes barracões que serviam de alojamento aos romeiros. Era ali nos barracões que os paulistanos se embebiam de suas raízes e tradições afro-rurais para continuar montando seus cordões carnavalescos, manifestações urbanas, mas com forte e decisiva influência do jongo, do samba de roda, do samba de bumbo, frutos dessa cultura rural interiorana.

 

"...O SAMBA ATRAVESSANDO FRONTEIRAS...."

Foi esse intenso contato interior/capital que trouxe para São Paulo uma primeira leva de sambistas tradicionais, nascidos e formados no interior do Estado e que criaram e mantiveram os cordões com seus constantes e quase obrigatórios retornos anuais à Pirapora, até os anos 50. Os Sambas tipicamente paulista, resultam de uma tradição cultural que provinda com o povo negro do interior do Estado, se urbanizou e se fortaleceu na capital, tendo por base a manifestação carnavalesca dos Cordões e continuou ainda por algumas décadas sendo mantida nas reuniões realizadas nos dias de festas religiosas negras na Barra Funda ou no Jabaquara. Esse samba que, de rural se tornou urbano e carnavalesco, deixou marcas indeléveis na história do grupo afro-paulista. Ele começou a perder força, entretanto, quando em 1968 o carnaval foi oficializado por um prefeito carioca, Faria Lima, que solicitou a um "carnavalesco" também carioca que redigisse os regulamentos do desfile de Momo.

Durante os dias de carnaval, os cordões saíam pelo centro da cidade "extraoficialmente", arrastando o povão pelas ruas, enquanto os chamados corsos carnavalescos - desfiles de automóveis enfeitados - tomavam conta da Avenida Paulista, levando as famílias aristocratas elegantemente fantasiadas.

O samba paulistano tem, portanto, uma longa história e tradição. Quem foi ao Theatro Municipal lotado na noite da cerimônia de tombamento do samba como patrimônio imaterial pôde ouvir muito dos sambistas homenageados contarem sobre a repressão a que foram submetidos por serem considerados marginais e vagabundos.

Historicamente renegada numa São Paulo que tentou se identificar como branca e europeia, a cultura negra paulistana sempre esteve presente com força na vida da cidade, e o samba é parte disso. Dos bailes de raça às gafieiras, dos sambas "extraoficiais" dos cordões carnavalescos às escolas de samba, passando pelas rodas dos bairros populares, a história do samba paulistano se confunde com a presença negra na cidade.

 

"...O TEMPLO DO SAMBA PAULISTA..."

O samba paulista se mostra honrado e provou ao mundo inteiro a sua tradição. São Paulo, essa enorme metrópole com todas as suas cores, sua diversidade cultural, criadora de tendências, geradora de idéias juntamente com sua população tem influenciado em novas formas de se fazer e cantar samba.

Tendo as escolas de samba como grandes defensoras da cultura afro-brasileira, o desfile das escolas de samba de São Paulo hoje se tornou um espetáculo cheio de emoções e uma enormidade de surpresas. Desfiles memoráveis passaram no Sambódromo do Anhembi ao som de belíssimos sambas de enredo. E a Camisa 10 espera que a cada ano o Templo do Samba Paulista seja agraciado com mais desfiles inesquecíveis.