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TOP 10 SAMBARIO - ENREDOS ENGAJADOS
31 de outubro de 2022, nº 54 Já
listamos por aqui, em época eleitoral, enredos tratassem de
política. É o que consta nas colunas “Política Parece Brincadeira” e “Será que Eu Votei Certo para Presidente?”. Agora voltamos ao assunto com mais enredos engajados que passaram na Avenida.
Algumas escolas fazem questão de levar para seus desfiles temas que estão em alta no debate político e social do Brasil e ainda pautar a opinião pública com questionamentos abafados. Entre os enredos mais engajados politicamente que foram enfocados na Avenida, estão aqueles concebidos em meio a uma ofensiva das autoridades públicas contra a grande festa, de exaltação ao povo negro, e desfiles que dialogam com temas quentes no debate político brasileiro. O Top 10 Sambario enumera mais dez enredos politizados que passaram pelo sambódromos. 10° lugar – A Estácio é dez, o Brasil é mil e a fome é zero (Estácio de Sá 2004) Fome Zero foi uma iniciativa do Instituto de Cidadania, entidade independente, partidária, fundada por Luiz Inácio Lula da Silva e que reuniu uma equipe com mais de 50 pesquisadores e colaboradores, entre os maiores especialistas do Brasil em política social, alimentação, nutrição e saúde. Foi anunciado com prioridade do governo no primeiro discurso quando Lula assumiu a Presidência da República. Um ano após a posse de Lula, a Estácio abordou o programa Fome Zero, em carnaval assinado por Sylvio Cunha.
Abre-alas da Estácio de Sá em enredo de cunho social no carnaval de 2004
Vamos dar as mãos, cidadania pra valer
Brasil, teu povo clama igualdade Praticando a fraternidade A fome vai ter fim Gerando emprego, trabalho e amor Rico estou (Marquinhos, Da Latinha, Pedrinho, Julinho e Pinto) 9° lugar – Nós podemos: Oito ideias para mudar o mundo! (Portela 2005) Em 2004 a Portela recebeu uma proposta de patrocínio da ONU para o enredo de 2005, que era baseado nas “Oito Metas do Milênio”. O tema, “Nós Podemos: Oito ideias para mudar o mundo”, foi assinado pelos carnavalescos Orlando Jr., Nelson Ricardo e Amarildo de Mello. Os oito objetivos da Declaração do Milênio das Nações Unidas consistiam em: 1 – Lutar pela Erradicação da Pobreza e da Fome no Mundo; 2 – Expandir a Oferta de Ensino Básico para as Crianças; 3 – Buscar a Igualdade entre os Sexos e Mais Autonomia para a Mulher; 4 – Reduzir a Mortalidade Infantil; 5 – Aprimorar a Saúde Materna; 6 – Combater as Enfermidades Endêmicas (AIDS, Malária, Ebola, etc); 7 – Assegurar a Sustentabilidade do Meio Ambiente; 8 – Estabelecer Parceria Mundial para o Desenvolvimento. No entanto, as coisas não deram certo para a Portela no desfile. A águia, símbolo da escola apareceu sem asas e terminou sem a participação da Velha-Guarda.
Portela desfila com águia mutilada e dá vexame ao barrar Velha-Guarda
Integrante da Velha Guarda da Portela chora ao ver a ala impedida de entrar no desfile. Eduardo Knapp/Folha Imagem
A ONU e o samba
Parceria ideal Pro desenvolvimento mundial (Noca da Portela, Darcy Maravilha, J. Rocha e Noquinha) 8° lugar – Xingu – o clamor que vem da floresta (Imperatriz Leopoldinense 2017) O enredo da Imperatriz Leopoldinense, assinado pelo carnavalesco Cahê Rodrigues, ao falar da reserva indígena no centro do Brasil, abordou críticas às investidas do poder e das elites contra a demarcação de terras indígenas e os direitos das populações indígenas no Brasil.
Imperatriz Leopoldinense celebrou o Xingu e comprou briga com o agronegócio
As críticas cutucaram o agronegócio, citando “o monstro que roubou as terras dos seus filhos, devora as matas e seca os rios, tanta riqueza que a cobiça destruiu”, como diz a letra do samba. Diversas associações ligadas ao agro se pronunciaram contra a escola. Até políticos congressistas tentaram proibir e censurar de modo geral o desfiles, mas a crítica da Imperatriz era real e procedente, em um tema urgente e absurdo como o massacre às populações indígenas brasileiras.
Lideranças indígenas, como o Cacique Raoni (ao centro da foto) participaram do desfile da verde e branco de Ramos
Jamais se curvar, lutar e aprender
Escuta menino, Raoni ensinou Liberdade é o nosso destino Memória sagrada, razão de viver Andar aonde ninguém andou Chegar aonde ninguém chegou (Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna) 7° lugar – Eu Quero (Império Serrano 1986) A ditadura militar no Brasil foi até março de 1985. No ano seguinte, a Império Serrano, então, celebrou o fim dos anos de chumbo com um dos sambas mais marcantes da década: “Eu Quero”. O enredo de Renato Lage e Lílian Rabelo descrevia sem rodeios e com uma melodia envolvente cada um dos desejos do povo brasileiro naquele período pós-redemocratização: a preservação da natureza, alimentação, moradia, melhores salários, segurança, educação e saúde. Apesar de a ditadura ter acabado em 1985, o serviço de Censura de Diversões Públicas funcionou até 1988, fazendo com que muitos profissionais do Carnaval temessem represálias em suas composições.
Foto do Império no desfile de 1986. Crédito: Ricardo Leoni
Me dá, me dá
Me dá o que é meu Foram vinte anos Que alguém comeu (Aluísio Machado, Luiz Carlos do Cavaco e Jorge Nóbrega) 6° lugar – O conto do vigário (São Clemente 2020) Em 2020, a São Clemente cantou o samba-enredo “O conto do vigário”. Na parceria do samba que foi para a avenida constava a assinatura do humorista Marcelo Adnet (que desfilou como Jair Bolsonaro). O enredo criticou as mamatas e os trambiques típicos da política nacional.
Brasil, compartilhou, viralizou
Nem viu! E o país inteiro assim sambou Caiu na fake news (Marcelo Adnet, André Carvalho, Pedro Machado, Gustavo Albuquerque, Camilo Jorge, Luiz Carlos França, Gabriel Machado e Raphael Candela) 5° lugar – Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco (Mangueira 2018) Em 2018 a Mangueira destilou críticas no enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”. A verde e rosa criticou o corte de verbas para as escolas de samba decretado pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Bispo evangélico, Crivella foi muito criticado por sua postura em relação à maior festa popular não só do Rio, mas do país. O prefeito apareceu no desfile como um boneco de Judas, com um tripé em que se lia: “Prefeito, pecado é não brincar o carnaval!”. Na alegoria, uma referência ao Cristo Proibido, no famoso desfile da Beija-Flor de 1989: novamente um Cristo coberto, com a frase: “Olhai por nós! O prefeito não sabe o que faz”. A plateia entoou o coro de “Fora Crivella”, confirmando que o desfile da Mangueira agradou.
Mangueira criticou o corte de verbas para as escolas de samba decretado pelo prefeito Marcelo Crivella, retratado em alegoria
Se faltar fantasia alegria há de sobrar
Bate na lata pro povo sambar (Lequinho, Junior Fionda, Igor Leal, Gabriel Martins, Gabriel Machado, Alemão do Cavaco e Wagner Santos) 4° lugar – Direito é Direito (Vila Isabel 1989) Apostando no bicampeonato do Carnaval carioca a Unidos de Vila Isabel escolheu como tema para o carnaval de 1989 a celebração dos 40 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com o enredo “Direito é Direito”, dos carnavalescos Paulo César Cardoso, Ilvamar Magalhães e Orlando Pereira. A visibilidade das discussões propostas pela agremiação estaria amplificada por conta de sua privilegiada condição de campeã. O momento político efervescente, quando a nova Carta Constitucional estava recém outorgada era propício para a Escola manifestar seus anseios e reivindicações em relação aos direitos que ainda continuavam a ser negados.
Desfile da Escola de Samba Vila Isabel - Sambódromo da Marquês de Sapucaí, 1989
Hoje, a Vila se faz tão bonita
E se apresenta destemida Unida pelos mesmos ideais Lutando com a maior sabedoria Contra os preconceitos sociais (Jorge King, Serginho Tonelada, Fernando Partideiro, Zé Antonio e J. C. Couto) 3° lugar – Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão? (Paraíso do Tuiuti 2018) A Paraíso de Tuiuti preparou para 2018 um enredo contundente: “Meu Deus, meu Deuus, está extinta a escravidão?”, mostrando como a escravidão e seus efeitos permanecem até hoje. Além de uma sucessão de carteiras de trabalho desfilando, como crítica à impopulares reformas trabalhista e da previdência, no final do desfile o então presidente Michel Temer apareceu caracterizado como um “vampiro neo-liberalista” – como o vampiro da escravidão moderna. Um momento histórico e icônico.
O icônico destaque do “vampiro neo-liberalista” (o vampiro da escravidão moderna)
Outro
momento que entrou para a iconografia crítica dos carnavais
nesse ano foi a ala dos “Manifantoches”, com componentes
fantasiados com patos como o imenso pato de borracha da FIESP (de ima
manifestação de 2017), e camisas aludindo ao verde e
amarelo da CBF, com panelas nas mãos (todos símbolos das
manifestações que pressionaram pelo impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff), mas com grandes mãos sobre os
foliões, manipulando as cordas que os conduziam como fantoches.
Outro setor que causou frisson no desfile da Tuiuti foi a Ala dos Manifantoches
Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião Meu Tuiuti, o quilombo da favela É sentinela na libertação (Cláudio Russo, Moacyr Luz, Anibal, Jurandir e Zezé) 2° lugar – Verás que um filho teu não foge à luta (Império 1996) Em um momento especialmente difícil (como o atual) para a população mais pobre e os trabalhadores brasileiros, o Império Serrano, em 1996, decidiu abordar como enredo o grande sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (1935 – 1997). Ativista dos direitos humanos, concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. As políticas econômicas do governo FHC, que afetavam direitos trabalhistas e a fome e da desigualdade de renda brasileira eram a pauta do dia, e Betinho, oriundo da luta contra o regime militar, representava justamente a luta contra a fome no país.
Betinho, em alegoria do Império Serrano, no desfile de 1996: um símbolo de cidadania
Um filho do verde esperança
Não foge à luta, vem lutar Então verás um dia O cidadão e a real cidadania (Aluísio Machado, Arlindo Cruz, Beto Pernada, Índio do Império e Lula) 1° lugar – Quilombo dos Palmares (Salgueiro 1960) Um dos primeiros enredos considerados engajados foi “Quilombo dos Palmares”, dos carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, na Acadêmicos do Salgueiro, em 1960. Até aquele ano a história dos negros e da resistência à escravidão jamais tinha sido contada em um desfile de escola de samba. Pamplona e Arlindo levaram a história de Zumbi dos Palmares e do mais importante quilombo das Américas para ser contada na Avenida. Em vez de luxo e fantasias rebuscadas, muitos componentes pela primeira vez cruzavam um desfile vestidos de escravos.
Em vez de luxo e fantasias rebuscadas, componentes do Salgueiro estavam vestidos de escravos
Quilombo dos Palmares é considerado um dos primeiros enredos engajados do Carnaval
Meu maracatu é da coroa imperial Meu maracatu é da coroa imperial É de Pernambuco (ele é) Da casa real (Noel Rosa de Oliveira e Anescarzinho) Coluna anterior: Top 10 Sambario - Escolas que levaram Elencos de TV para os Desfiles Coluna anterior: O que está Acontecendo com a "Flor Amorosa de Três Raças" Coluna anterior: Mais Dez Enredos que poderiam virar Roteiros de Dramaturgia Coluna anterior: O Carnaval na TV Brasileira - Carnaval, te Amo! Na Vida és tudo pra mim! Coluna anterior: Desfiles em Respeito ao Cristianismo que os Crentes não viram
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