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TIGRES DE NITERÓI

TIGRES DE NITERÓI

PRESIDENTE Thiago Meiners
CARNAVALESCO  Mateus Schappo
INTÉRPRETE  Pitty Di Menezes
CORES Laranja e Preto
FUNDAÇÃO 12/08/2007
CIDADE-SEDE Niterói-RJ

A Tigres de Niterói retorna ao carnaval virtual para tentar fazer o que não conseguiu na CAESV 2008, chegar a LIESV. Abaixo um pouco da história da escola:

A G.R.E.S.V. Tigres de Niterói foi fundada em 12 de agosto de 2007. A Tigres foi fundada porque o atual carnavalesco Rodrigo Oliveira contou sobre a LIESV para seus amigos. Um dos amigos que gostava de carnaval, se interessou pelo projeto e criou a Tigres. Como ele não tinha contato com a internet, passou a presidência para Rodrigo Oliveira em 2008. Sob o comando de Rodrigo Oliveira, a Tigres fez um bom desfile no CAESV 2008, não ficando no 7º lugar, por causa do não envio do figurino da Comissão de Frente, o que resultou em perdas de pontos e no 11º lugar. A Tigres de Niterói após o carnaval de 2008 juntou sua equipe com a Lira de Ouro formando uma única escola, então a Tigres enrolou sua bandeira e passou a defender o vermelho e branco da Lira de Ouro. Após ter passado o carnaval de 2009 e mais alguns meses, um amigo do Rodrigo Oliveira e do seu irmão Thiago Meiners, se interessou por carnaval, após as eliminatórias da Paraíso do Tuiuti, escola onde o pessoal da LIESV tinha um samba concorrendo e também se interessou pelo projeto e resolveu criar uma escola de samba virtual. O então presidente Bernardo Antunes resolveu “desenrolar” o pavilhão da Tigres, já que é uma escola que já desfilou uma vez, tendo seu nome já conhecido. A agremiação conquistaria seu primeiro título em 2011, no Grupo de Acesso. No Grupo Único em 2012, obteve o vice-campeonato, perdendo o título na última nota para a Ponte Aérea.

A escola retornou à LIESV em 2020 orgulhosa de ter inspirado vários enredos para o Carnaval Real, como o Alabê de Jerusalém (Viradouro-2016), Mazzaropi (Acadêmicos do Tucuruvi-2013) e Hakuna Matata (Colorado do Brás-2019). 2021 marcou seu retorno ao Grupo Especial.


Ano

Enredo

Colocação

2021 Canção do Subdesenvolvido 15º (Especial)
2020 Candomblé Jejê – A Velha Raça Brasileira 3º (Acesso)
2013 Hakuna Matata - A Canção Jambo Bwana 7º (Especial)
2012 Em Cena... Mazzaropi   2º (Único)
2011 História para o Rei 1º (Acesso)
2010 Ópera Negra – O Alabê de Jerusalém 3º (Acesso)
2008 O Tigre Viaja ao Passado e Descobre Como Era a Vida dos Escravos no Brasil

11º (CAESV)

SINOPSE ENREDO 2021

Canção do Subdesenvolvido

Apresentação e Justificativa do Enredo

Nos longínquos anos da década de 1960, a discussão sobre as relações entre o Brasil e os Estados Unidos ocupava diversos espaços de debate. No ano de 1961 em meio à luta por reformas de base, Carlos Lyra musicou a peça teatral “Um Americano em Brasília” de Chico de Assis e Nelson Lins e Barros. Inspirada na peça, surgiu a “Canção do Subdesenvolvido”, em parceria com Chico de Assis, que integrou o disco “O Povo Canta” lançado pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes, um polo de agitação cultural formado por estudantes e intelectuais de esquerda.

Nessa canção, os autores problematizavam a subserviência da nação em relação aos ingleses e norte-americanos explicitamente. Além disso ampliavam a questão da dominação econômica para o campo cultural ao dizer que assim como eles, os brasileiros consumiam “rock balada” e “filme de mocinho”. Contudo, criticavam esse sentimento de igualdade ao dizerem que apesar de “dançarem” e “cantarem” como americanos e ingleses, os brasileiros não viviam como estes.

Em 1964, ano do Golpe Militar, o disco foi retirado de circulação e o teatro do CPC da UNE, recém-construído, foi metralhado pelo Movimento Anti-Comunista (MAC).

“Eu tive problema depois do golpe por causa dessas canções. Elas foram proibidas de tocar nas rádios e nos lugares pelos militares e valeu uma ‘perseguiçãozinha’ contra mim também. Se eu não tivesse me exilado, eu teria sido preso com certeza para interrogatório. Antes que acontecesse alguma coisa, peguei minha trouxa e fui morar na matriz, logo nos Estados Unidos, junto aos donos do Brasil que era menos perigoso”, ironiza. Apesar do exílio e perseguição, o compositor é saudosista. “Tudo era mais bonito”, lembra. “Nós tínhamos ditadura militar, mas nós tínhamos resistência. As coisas aqui no Brasil eram feitas com harmonia, com melodias bonitas. Eram feitas com a intenção de, além do protesto, fazer arte” .

A importância da História está em seu papel de nortear o homem no espaço e no tempo, dando-lhe a possibilidade de compreender a própria realidade. Ao conhecermos as versões dos acontecimentos, visualizamos um quadro comparativo e reflexivo entre o ontem e o hoje e nos situamos na linha do tempo. Assim, ao revisitarmos diferentes momentos da história do Brasil, realizamos também uma reflexão sobre os acontecimentos políticos, econômicos e sociais e a forma com que estes fatores contribuíram para que o gigante adormecido despertasse como um “anão subdesenvolvido”.

Em uma notável frase, Josué de Castro nos diz que que “O subdesenvolvimento não é, como muitos pensam equivocadamente, insuficiência ou ausência de desenvolvimento. O subdesenvolvimento é um produto ou um subproduto do desenvolvimento, uma derivação inevitável da exploração econômica colonial ou neocolonial, que continua se exercendo sobre diversas regiões do planeta” .

Assim, fazendo da arte um grito de contestação e questionamento, a Tigres de Niterói vem brincar o carnaval tendo a “Canção do Subdesenvolvido” como inspiração. A partir das críticas conduzidas pela música acrescentamos outros vieses da história de influência e dominação estrangeira sobre terras tupiniquins.


Setorização

Setor 1: Um Gigante Adormecido ou um Anão Subdesenvolvido? Bem vindo a Terra dos Papagaios!

Somos um gigante adormecido ou um anão subdesenvolvido? Será que a história pode nos dar a resposta para essa pergunta? Nosso país – desde os tempos do descobrimento até os dias atuais – é descrito e apreciado por sua grandeza territorial, seus recursos naturais (quase um paraíso idílico), além do tão propagado ’jeito brasileiro de ser” que, entre outras diversas qualidades, nos tornam um país único. E por quê, com tantas qualidades (quiçá oportunidades) não conseguimos “despertar”? É cultural. Desde sempre fomos subservientes e treinados para o subdesenvolvimento. Assim descreve a história…

A coroa portuguesa quando financiou as navegações marítimas no século XV tinha como principal objetivo a expansão comercial e a busca por novos territórios além de outros motivos não menos importantes como a expansão do cristianismo (catolicismo) e o caráter aventureiro das navegações na tentativa de superar os perigos do mar (perigos estes, reais e imaginários). Sendo assim, no ano de 1500, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral chegou ao litoral do “Novo Mundo”, e, logo que os navegadores portugueses desembarcaram nessas terras tiveram o primeiro contato com os índios – por eles chamados de “selvagens”. A ocupação portuguesa no Brasil teve como principais características: civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar e dominar – semelhante a outras colonizações europeias, como, por exemplo, a espanhola. Logo no início do processo de ocupação há um “desencontro de culturas” marcado pela conquista e extermínio das populações indígenas por meio de conflitos, doenças e pragas trazidas pelos portugueses em suas naus e caravelas . “Invasão em vez de descobrimento?”.

E o território que antes houvera sido Pindorama e, por algum tempo chamado de Ilha de Vera Cruz deu lugar a Terra de Santa Cruz ou dos Papagaios… Nosso Brasil… “Achado” em 1500 e em 1500 “esquecido”. Por um longo período, nossa terra americana permaneceu quase que em abandono. A Índia continuava a ser o grande alvo das navegações marítimas portuguesas.

A constatação gradativa das riquezas naturais presentes em território brasileiro aliadas à promessa da existência de muito ouro, pedras e outros metais preciosos fizeram com que as viagens de exploração marítima fossem substituídas pelas expedições terrestres com objetivo de invadir e dominar os espaços considerados privilegiados em recursos naturais . E assim, este gigante de dimensões continentais permaneceu adormecido durante a sua formação histórica enquanto esteve – e ainda está(!?) – submetido aos interesses de diferentes nações que ao obedecerem a lógica mercantilista e religiosa acabaram determinando a nossa subordinação cultural, econômica e política.

O Brasil é uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Em lindas tardes de abril
Correi pras bandas do sul
Debaixo de um céu de anil
Encontrareis um gigante deitado.

Santa Cruz… hoje o Brasil
Mas um dia o gigante despertou
Deixou de ser gigante adormecido
E dele um anão se levantou
Era um país subdesenvolvido.


Setor 2: Durante o Período Colonial… Reina o Interesse de Portugal

Apesar das descrições de deslumbramento feitas por Pero Vaz Caminha (escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral) os portugueses não deram muita atenção aos domínios brasileiros nos primeiros anos. Nesse tempo estavam mais interessados no comércio com as Índias e se limitaram a algumas expedições de reconhecimento, proteção do território e exploração do pau brasil – existente em grande quantidade no litoral – que foi meramente extrativista não dando origem a uma ocupação efetiva. O trabalho de derrubar árvores e preparar a madeira para embarque era feito pelos indígenas e uns poucos europeus que permaneciam em feitorias na costa.

A ocupação portuguesa em solo brasileiro só ocorreu de fato por volta de 1530. O território já possuía o nome de Brasil quando foi dividido em catorze capitanias hereditárias objetivando enfrentar a resistência das populações indígenas e principalmente defender a costa das invasões francesas e holandesas – visto que as terras brasileiras eram consideradas “patrimônio lusitano” segundo o Tratado de Tordesilhas que dividia o “novo continente” entre portugueses e espanhóis. Esta maneira de ocupação do território sob o formato de Capitanias Hereditárias não funcionou bem para a maioria e, por isso, a coroa portuguesa mudou o formato para o sistema de Governo Geral – criado em 1549 com o intuito de organizar e administrar a colônia.

Para este empreendimento em termos de trabalho lançou-se mão do escravismo – escolha esta explicada pelo forte e rentável tráfico negreiro já praticado por Portugal há tempos. Para Caio Prado Júnior a colonização do Brasil tomou o aspecto de uma vasta empresa comercial voltada à exploração dos recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. Segundo ele, “este é o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes”.

Além de contar com o interesse da coroa, a colonização também se desenvolveu graças à ação dos missionários da Companhia de Jesus. Os padres jesuítas vieram para o Brasil com objetivo de catequizar as populações nativas e por meio de sua ação acabavam dando uma justificativa religiosa à presença dos portugueses. A disseminação do cristianismo acabava dando sustentação a toda exploração e aculturamento praticado nesse tempo. Dessa maneira, dava-se início a um dos mais longos períodos da história brasileira – por mais de 300 anos os portugueses empreenderam negócios rentáveis à custa de uma estrutura administrativa centralizada e voltada para os exclusivos interesses da Metrópole.

Durante as guerras Napoleônicas, Portugal foi invadido pela França, o que levou a transmigração da Corte Portuguesa para o Brasil – sua colônia mais próspera. A vinda da família real da Europa para as Américas em 1808 ocorreu sob escolta britânica e ocasionou uma série de mudanças que contribuíram para o desenvolvimento comercial, econômico e cultural da nação, mas, também deixou um enorme rombo nas finanças brasileiras, tendo em vista os inúmeros gastos e extravagancias da corte portuguesa enquanto esteve por estas terras.

A crise do sistema colonial, as ideias iluministas e os processos de independência ocorridos na América Inglesa e na América Espanhola acabaram por influenciar o processo de Independência do Brasil. Além disso, a própria elite agrária brasileira era favorável a uma separação entre Portugal e Brasil pois via a possibilidade de se livrar definitivamente dos monopólios metropolitanos e da submissão aos comerciantes portugueses que pretendiam recolonizar o Brasil que havia sido elevado à categoria de Reino Unido durante o período Joanino (reinado de D. João VI).

O rompimento definitivo ocorreu a partir da exigência de retorno imediato do príncipe Regente para Portugal (D. Pedro havia assumido a regência do Brasil após o retorno de seu pai para a então metrópole). A ordem, lida por Maria Leopoldina culminou na assinatura da declaração de independência e, posteriormente com um grito às margens do Rio Ipiranga, conforme registrado na história oficial (será? – Atualmente, os historiadores não têm evidência que comprovem o grito do Ipiranga).

E o restante dessa história, todos conhecem, ou, pelo menos, parte dela.


Setor 3: O Quintal do Capital Internacional – As Ordens da “Ilha Velha”

E passado o período colonial
O país passou a ser um bom quintal
E depois de dar as contas a Portugal
Instaurou-se o latifúndio nacional, ai!
Subdesenvolvido, subdesenvolvido

Após a Independência, o Brasil inaugurou oficialmente sua inserção como periferia do sistema capitalista dominado pelos ingleses. Os Tratados comerciais eram favoráveis àquela “Ilha Velha” e provocaram uma crise de arrecadação no Império. Somavam-se às baixas tarifas aduaneiras e os empréstimos feitos por D. Pedro I para comprar o reconhecimento da independência do Brasil de Portugal .

Então o bravo povo brasileiro
Em perigos e guerras esforçado
Mas que prometia a força humana
Plantou couve, colheu banana.
Bravo esforço do povo brasileiro
Mas não vi o capital lá do estrangeiro

Em finais do século XVIII ocorreu na Inglaterra a Revolução Industrial, quando então a mesma passou a defender o livre comércio em detrimento ao mercantilismo. No século XIX, a Inglaterra configurava-se como potência comercial e industrial dominante sendo também o principal fornecedor de bens industrializados para o Brasil.

As nações do mundo para cá mandaram
Os seus capitais tão “desinteressados”
As nações, coitadas, queriam ajudar
E aquela “Ilha Velha” não roubou ninguém

No conjunto de suas transformações, a Revolução Industrial abriu portas para que o sistema capitalista consolidasse novas relações de produção, demanda e consumo. Sendo visivelmente marcadas pela competitividade e a busca pelo lucro, as práticas capitalistas exigiam que a Inglaterra ampliasse os seus mercados consumidores. Todavia, a permanência da escravidão era vista como um entrave para a ampliação dos mercados. Afinal de contas, um escravo não recebia salário e, muito menos, poder de compra. Por conta dessa necessidade, os ingleses deram fim à escravidão em todas as suas colônias e passaram a ser grandes defensores do abolicionismo internacional culminando na edição da Lei Bill Aberdeen (1845) – quando a Inglaterra adotou uma postura agressiva em relação ao tráfico de escravos africanos taxando navios negreiros como piratas.

País de pouca terra, só nos fez um bem
Um “big” bem, un “big” bem, bom, bem, bom
Nos deu luz, ah! Tirou ouro, oh!
Nos deu trem, ahhh! Mas levou o nosso tesouro

A Inglaterra tornou-se a principal potência mundial – dominava o comércio internacional e a marinha inglesa governava os mares ajudando a garantir mercado consumidor para seus produtos. Além disso, administrava as finanças internacionais por intermédio do padrão ouro, influenciava políticas internacionais a fim de liderar o sistema internacional na direção desejada por ela, onde qualquer movimento de contestação frente aos seus interesses eram repelidos.

No Brasil, a dependência financeira em relação à Inglaterra foi reforçada com novos empréstimos para os esforços de guerra do Império na região da Cisplatina e mais tarde na Guerra do Paraguai, o que gerou aumento significativo do endividamento nacional e fez com que a dependência brasileira deixasse de ser apenas comercial e passasse a ser também financeira em relação à Inglaterra. Além disso, os ingleses eram responsáveis por grande parte do capital estrangeiro investido no Brasil, especialmente nas ferrovias e nos serviços de utilidade pública, além de manterem o monopólio dos empréstimos brasileiros. Eram de origem britânica os bancos comerciais que financiavam a indústria, o comércio e a agricultura – também eram inglesas a maior parte das linhas de navegação com o resto do mundo.

Setor 4: Fareis tudo que seu novo mestre mandar? Made In USA!

Enquanto a hegemonia britânica foi perdendo influência na política e na economia brasileira, principalmente após o fim da Monarquia, aos poucos, os Estados Unidos da América foram se sobrepondo no campo comercial especialmente devido ao fato de serem o maior comprador do café brasileiro desde meados do século XIX. O aumento da procura pelo café nos mercados consumidores da Europa e, principalmente dos EUA, fez com que os fazendeiros brasileiros optassem por plantar apenas este produto, no modelo de plantation , de forma que em meados do século XIX a produção brasileira representava metade da produção cafeeira mundial.

E nossos amigos americanos
Com muita fé, com muita fé
Nos deram dinheiro e nós plantamos
Só café!
É uma terra em que plantando tudo dá
Pode se plantar tudo que quiser
Mas eles resolveram que nós iríamos plantar
SÓ CAFÉ! SÓ CAFÉ!

Destaca-se a relação de complementaridade entre a submissão econômica e a influência política que a Inglaterra exercia e que os EUA passaram a exercer gradualmente sobre o Brasil. Tal ação baseia-se principalmente na Doutrina Monroe, resumida na frase “América para os americanos”, e que expressa a ideia de que todos os territórios do continente possuem direito à independência. Na prática, a Doutrina Monroe augura que os Estados Unidos deveriam exercer a sua política externa como forma de deter as intervenções europeias, principalmente britânicas. A águia expõe as garras do imperialismo norte-americano sobre a américa-latina e, por consequência, sobre o Estado brasileiro.

Bento que bento é o frade – frade!
Na boca do forno – forno!
Tirai um bolo – bolo!
Fareis tudo que seu mestre mandar?
Faremos todos, faremos todos…

Ao final do século XIX os Estados Unidos continuavam a consumir mais de 50% das exportações brasileiras de café, além de serem também o principal comprador das exportações de borracha, que desde 1870 tinha a entrada livre de impostos naquele país. Somando-se os dados da borracha aos números do café, cerca de 95% exportações brasileiras para os Estados Unidos tinham sua entrada isenta de quaisquer impostos, o que dava ao governo americano um grande poder de barganha.

Começaram a nos vender e nos comprar
Comprar borracha – vender pneu
Comprar madeira – vender navio
Pra nossa vela – vender pavio

Durante as décadas do século XX a política externa dos Estados Unidos demonstrou uma clara intenção de controlar eventos em todo o mundo de maneira a favorecer seus próprios interesses e, suas vitórias nas duas guerras mundiais contribuíram ainda mais para isso. Era a expansão da política do “Big Stick”, (ou grande porrete, em português) – cujas intenções eram proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos na América Latina ante as potencias europeias que vinham perdendo cada vez mais influência nos países da América Latina.

Durante os anos de 1960 e 1970 os EUA apoiaram golpes militares que se sucederam em diversos países, inclusive no Brasil. Era a resposta que davam aos anseios de progresso das massas, às lutas destemidas pela democracia e a libertação nacional. Sem contar com suficiente apoio político apelaram para os generais treinados nas Academias e Escolas de Guerra dos Estados Unidos, onde se incutem as ideias desnacionalizantes da propalada interdependência, as concepções do anticomunismo e do elitismo de casta. Usurpando o Poder esses regimes abriram o caminho para as multinacionais, entregaram as riquezas naturais aos monopólios internacionais, contraíram dívidas vultosas que escravizam as nações latino-americanas aos banqueiros da América do Norte . Era a consolidação do imperialismo dos EUA sobre o Brasil e os demais países latino-americanos.

Com o golpe, “a elite orgânica do capital multinacional e associado tomou o Estado. Era escolhida a via do desenvolvimento dependente. E o empresariado teve papel relevante neste desfecho”, escreve Silva na dissertação. “Essa via trouxe uma maior liberdade para o capital estrangeiro e uma maior associação entre ele e o empresariado nacional. Nessa associação, limitaram-se as possibilidades de transferir os ganhos sociais do desenvolvimento para a classe trabalhadora,

Setor 5: American and Brazilian Way of Life

Junto das empresas multinacionais vem o modo de vida norte-americano – cujo ideal exclui a diversidade de outras culturas. Para além disso, tinha como características primordiais o nacionalismo, o liberalismo, o consumismo e a valorização do poder aquisitivo. Os Estados Unidos venderam a imagem da felicidade pelo consumismo, em que comprar, gastar e ter tempo livre são o centro de tudo.

Os Estados Unidos conseguiram exportar também sua cultura se infiltrando em outras nações, por meio do cinema, da música e da literatura. Difundiram também a ideia de self made man, homem que faz sozinho, ou seja, aquele homem que deixava a pobreza através do seu trabalho se tornando um empresário rico e bem-sucedido. Acima de tudo, souberam desfrutar o espaço de poder desobstruído pela crise europeia do pós-guerra.

Só mandaram o que sobrou de lá
Matéria plástica,
Que entusiástica
Que coisa elástica,
Que coisa drástica
Rock-balada, filme de mocinho
Ar refrigerado e chiclet de bola
E coca-cola…!

Assim os americanos disseminaram seu estilo de vida, o “american way of life”, conquistando inclusive o Brasil com a política da Boa Vizinhança.

País amigo desenvolvido
País amigo, país amigo
Amigo do subdesenvolvido
País amigo, país amigo

Após 521 anos de exploração, o Brasil é um país que apresenta uma enorme desigualdade social refletindo em diversos aspectos relacionados à qualidade de vida: enquanto uma parcela muito pequena da população é muito rica, a maioria é pobre. Dentre tantos fatores, a falta de dinheiro é dos principais inibidores para o acesso aos meios essenciais que permitem às pessoas usufruir das condições básicas de vida, que apesar de essenciais, nem todos desfrutam. A falta dessas condições faz com que o brasileiro não coma, não beba e muito menos viva igual o americano.

Os problemas sociais no Brasil são um reflexo do subdesenvolvimento, e, mesmo o país tendo melhorado no aspecto social nas últimas décadas, ainda há muitos males que afetam a vida da população brasileira e vão além dos problemas com alimentação: desemprego, violência, altos índices de criminalidade, problemas com saúde e educação, falta de moradia – problemas comuns às pessoas que vivem nas cidades de qualquer uma das regiões brasileiras.

Apesar das mazelas sociais que o afligem, o brasileiro com o seu mundialmente conhecido “jeitinho” acaba por encontrar uma forma criativa de resolver problemas e superar obstáculos do dia a dia. Quando você pensa que já tentou de tudo o brasileiro e acaba achando uma solução, por vezes “não convencional”.

Embora tamanha inventividade, a atitude do brasileiro em relação à própria nacionalidade é um pouco paradoxal: por um lado, ele adora o país, tem orgulho da cultura, da natureza, de tudo. Por outro lado, nota-se certo “complexo de vira-lata”, como já dizia o escritor Nelson Rodrigues, se referindo ao fato de que o brasileiro se acha inferior em comparação com outras nacionalidades, é “um narciso às avessas”, diz ele.

O povo brasileiro embora pense, dance e cante
como americano
Não come como americano
Não bebe como americano
Vive menos, sofre mais
Isso é muito importante
Pois difere os brasileiros dos demais
Personalidade, personalidade
Personalidade sem igual
Porém… subdesenvolvida, subdesenvolvida
E essa é que é a vida nacional!

Mas, sempre damos o nosso jeitinho de ser feliz… O brasileiro desperta a essência malandra e mestiça do caráter nacional presente em personagens como Macunaíma e Zé Carioca “(…) mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma e no corpo a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro” . O brasileiro vive a batucada, exporta alegria e traz referências artísticas, de sabores, canções – deixamos o americano louco. No fundo, é o “made in brazil” que encanta…

Porém, a luta e a reflexão sobre a construção (ou descontrução) de um caratér nacional deve continuar. Precisamos entender o passado, lutar no presente e construir um futuro diferente. Sem desigualdade social, sem exigências culturais ou modelos de praxe para seguirmos. Sobrevivemos até hoje. Agora, vamos viver e mostrar pro mundo o que é ser “Made in Brazil”.

Autor do enredo: Mateus Schappo e Thiago Meiners

Leia a sinopse de 2020 da Tigres de Niterói

Leia a sinopse de 2013 da Tigres de Niterói


Leia a sinopse de 2012 da Tigres de Niterói

Leia a sinopse de 2011 da Tigres de Niterói

Leia a sinopse de 2010 da Tigres de Niterói