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Série de coluna anterior: A História do Carnaval na TV Brasileira 12 de outubro de 2023, nº 62 Como
é doce ser criança outra vez. Enredos sobre o universo
infantil são uma constante nos desfiles de escola de samba. Em
geral, estão entre os mais abordados, junto com os temas
afro e sobre o próprio Carnaval.
A temática infantil geralmente resulta em desfiles leves, coloridos e de imediata comunicação com o público. Se fizermos um levantamento nos últimos 60 anos, vamos encontrar quase duas centenas de enredos relacionados às crianças. E nesta Semana da Criança o Top 10 Sambario relembra alguns dos enredos sobre a infância já levados à Avenida. 10° lugar – “O Mundo Encantado de Monteiro Lobato” (Mangueira 1967) Foi a primeira vez que uma escola de samba apresentou um enredo baseado na literatura infantil brasileira. Com um desfile contagiante sobre a vida e a obra do escritor brasileiro Monteiro Lobato, assinado pelo carnavalesco Julio Mattos, a verde e rosa foi a campeã do Carnaval de 1967. A cantora Eliana Pittman, que naquele ano assistiu pela primeira vez a um desfile, ficou empolgada com o samba e resolveu gravá-lo no seu álbum “É Preciso Cantar”, lançado ainda em 1967. Foi a primeira vez que um samba-enredo foi gravado, e o sucesso motivou as escolas a lançarem, no fim daquele ano, o primeiro LP com os sambas a serem apresentados no desfile do ano seguinte. O próprio Jamelão não cansava de repetir que este samba foi um dos melhores que ele cantou na avenida. E assim Neste cenário de real valor Eis o mundo encantado Que Monteiro Lobato criou (Darcy da Mangueira, Batista da Mangueira e Luiz) 9° lugar – “Carnaval de Ilusões” (Vila Isabel 1967) / “Parece Até Que Foi Ontem” (Vila Isabel 1985) “Carnaval de Ilusões” foi o primeiro samba de Martinho da Vila para a Vila Isabel. Ele teve que musicar um poema já pronto do compositor Gemeu sobre contos infantis. Muito já se falou sobre este desfile, assinado pelos carnavalescos Gabriel do Nascimento e Dario Trindade, e sobre o samba, revolucionário em seu formato, mas que não teria sido bem compreendido pelo júri e nem por um avaliador supostamente sonolento chamado Chico Buarque de Hollanda. A animação e exuberância do desfile rendeu um 4° lugar à Vila, sua melhor colocação no carnaval até então. Ciranda, cirandinha Vamos todos cirandar Vamos dar a meia volta Volta e meia vamos dar (Martinho da Vila e Gemeu) Já
o ano de 1985 foi um momento maravilhoso da Vila Isabel, com um
carnaval assinado pelo “Mago das Cores”, Max Lopes (1937
– 2023). O enredo pretendia que o grande público presente
ao desfile recordasse de seu tempo de criança e participasse de
uma grande festa. Brincadeiras da infância e personagens das
histórias infantis tomaram conta da avenida ao som de um
inspiradíssimo samba-enredo.
Entra nessa roda
Menino vem cirandar Eu perdi a conta Na ponta do meu polegar (David Corrêa, J. Macêdo e Tião Grande) 8° lugar – “Sonho Infantil” (Arranco do Engenho de Dentro 1978) O ano de 1978 marcou a inauguração da Marquês de Sapucaí, e o Arranco foi a primeira escola da história a pisar na passarela. Para celebrar a data simbólica (era também a estreia da agremiação na elite), o enredo da escola do Engenho de Dentro, desenvolvido pelo carnavalesco Helio de Andrade, tratava dos sonhos de criança, fazendo alusão à realização do sonho do Arranco em desfilar na Avenida ao lado das grandes agremiações. Entretanto, o que era pra ser um grande desfile tornou-se um tremendo desastre: o Arranco foi prejudicado pelo atraso no sorteio dos jurados, e ainda teve uma concentração tumultuada, atrapalhada por policiais truculentos. O presidente da escola na época, Wladimir da Costa Neves, inclusive, foi inexplicavelmente barrado pelos policiais de entrar na Avenida. Pra piorar, a uma forte chuva danificou seriamente alegorias e fantasias da escola e molhou o couro dos instrumentos da bateria, que naquela época era algo fatal. A escola foi rebaixada. No sonho infantil, tudo foge a realidade
Uvas se transformam em belas damas Presentes chegam dançando Surge o mundo de ilusão Nas histórias que contava a vovozinha (Aldyr do Arranco e Sinval) 7° lugar – “Parabéns Pra Vocês” (Unidos do Jacarezinho 1988) Uma homenagem aos comunicadores infantis da televisão, rádio, cinema, teatro e do circo. E também aos artistas que dedicaram obras e trabalhos às crianças. Com muita animação, foram retratados na Sapucaí personagens e programas de TV como Palhaço Carequinha, a Turma do Balão Mágico, Os Trapalhões, Xou da Xuxa (representada no desfile por Rogéria), Lupu Limpim Clapá Topó (as iniciais na língua do P dos atores Lucinha Lins e Cláudio Tovar, que apresentavam o programa infantil de mesmo nome na TV Manchete nos anos 80), Sítio do Pica-Pau Amarelo, Domingo no Parque (quadro infantil do Programa Silvio Santos), entre outros. O desfile, assinado pelo carnavalesco Lucas Pinto, rendeu ao Jacarezinho o vice-campeonato no Grupo 1-B, e o direito da escola ascender ao Grupo Especial no ano seguinte. Hoje sou criança, sou folia
Jacarezinho faz a festa Oh! Quanta euforia Pra vocês nossos amores Comunicadores infantis Sei dizer que a hora é de alegria E venham cair nesta folia (Macambira e Batista do Jacarezinho) 6° lugar – “Vamos Brincar de Ser Criança” (Imperatriz Leopoldinense 1978) Desenvolvido por Max Lopes, o bonito enredo da agremiação de Ramos surgiu do poema “Epígrafe”, do escritor Manuel Bandeira, e falava sobre a importância de relembrar os tempos de infância para amenizar as angústias e os problemas da vida adulta. O samba-enredo é uma das obras primas do repertório da Imperatriz. A verde e branco foi vice-campeã do Grupo 2 e ganhou o direito de desfilar no grupo principal em 1979. Lá, laiá Lá, laiá Sou criança, sou folia Sou vontade de brincar (Guga, Tuninho Professor, Aranha, Zé Katimba e Sereno) 5° lugar – “Hoje Tem Marmelada” (Portela 1980) Campeã naquele ano junto com a Imperatriz e a Beija-Flor (sim, houve um empate triplo no campeonato), a Portela fez um belo desfile homenageando o circo. Palhaços, malabaristas e acrobatas num mar azul e branco invadiram a Avenida, em um trabalho fabuloso do carnavalesco Viriato Ferreira. O título do enredo, “Hoje tem marmelada”, teria sido uma crítica ao resultado do carnaval do ano anterior, quando a Portela ficou na terceira colocação. Como é doce
Ser criança outra vez E me atirar nos braços da alegria Quero me perder na minha imaginação E brincar na ilusão (David Correa, Jorge Macedo e Norival Reis) 4°
lugar – “O Sol da Meia-Noite, Uma Viagem ao País das
Maravilhas” (Beija-Flor 1980) / “Uni-Tuni-Tê, a
Beija-Flor Escolheu Você” (Beija-Flor 1993)
De acordo com o carnavalesco Joãosinho Trinta, o enredo foi inspirado na fala de uma criança que, questionada sobre o que faria se tivesse poderes, respondeu que faria o sol brilhar à meia noite. O desfile é uma história narrada por uma Preta Velha, e tem duendes, Saci Pererê, Emília, Branda de Neve, Dona Baratinha e muitos outros personagens. Preta velha imaginou uma estória e vai contar Preta velha já falou que nós vamos viajar Galopando em cavalos alados Chegamos ao país das maravilhas Iluminado pelo sol da meia-noite Bela fantasia infantil (Zé Maranhão, Wilson Bombeiro e Alceu) Em
1993, a carnavalesca Maria Augusta chegava à Beija-Flor com a
difícil missão de substituir ninguém menos que o
grande Joãosinho Trinta, que estava à frente da escola
desde 1976 e tinha dado incríveis cinco títulos à
agremiação de Nilópolis nesse período. A
expectativa com o desfile da escola era imenso, já que todos
queriam ver como viria a Beija-Flor sem João. Principalmente
porque o brilhante carnavalesco havia construído uma identidade
na azul e branco. A imprensa falava inclusive em uma “nova
Beija-Flor”. O tema de Madame Augusta ia completamente na
contramão da linha adotada pelo carnavalesco anterior, mas era
assim, dessa maneira, que ela pretendia exorcizar a presença de
João. O tema não pedia nudez, a escola não teria
alegorias gigantescas. A escola veio leve, alegre, vibrante e com
fantasias coloridíssimas! Tudo de muito bom gosto. Além,
claro, da vibração e garra habituais da comunidade
nilopolitana.
Vai, criança beija-flor
Voar no azul do infinito Quem semeia paz e amor Faz o mundo mais bonito Se esta via fosse minha Eu mandava ela brilhar (Wilson Bombeiro, Edeor de Paula e Sérgio Fonseca) 3° lugar – “A Viagem Fantástica do Zé Carioca à Disney” (Rocinha 1997)
O carnaval de 1997 foi agraciado com dois desfiles no grupo especial com a temática infantil. Além do Acadêmicos da Rocinha, o Império Serrano levou para a Avenida “O mundo dos sonhos de Beto Carreiro”, que contava a história do lendário sertanejo que, depois de uma visita à Disney, nos Estados Unidos, resolveu vender tudo que tinha para criar o maior parque multitemático da América Latina. Mas quem falou mesmo da Disney nesse ano foi a Rocinha. Para desenvolver o enredo, o fio condutor foi o famoso personagem Zé Carioca. Zé Carioca, malandro
Bem brasileirinho faz no pé Incendeia esse terreiro (Gilson da Ilha Porchat, Carlinhos Mustang, Wilsinho Saravá e Jorge Mirim) 2° lugar – “É Brinquedo, É Brincadeira: a Ilha Vai Levantar Poeira” (União da Ilha 2014) Um verdadeiro enredo de criança feliz. Assinado pelo carnavalesco Alex de Souza, o desfile da União da Ilha do Governador de 2014 não levou o título, mas foi aclamado pela crítica e pelos amantes do Carnaval como um dos melhores desfiles do ano, recebendo muitos prêmios, inclusive o Estandarte de Ouro de Melhor Enredo. O enredo de 2001 do Tigre era de temática infantil, mas com um tom crítico: foi uma homenagem ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Desenvolvido pelo carnavalesco Cahe Rodrigues, que atualmente comanda os pincéis da Imperatriz Leopoldinense, a escola de São Gonçalo fez um belo desfile falando sobre a importância de respeitar o direito das crianças, para que uma vida melhor para elas se torne realidade, transformando este desejo em sonho possível, através de muita luta para que elas tenham saúde, educação, família, cultura, esporte, lazer, atenção carinho. Hoje a ilha vem brincar.. Amor!
Vem sorrindo cirandar que eu vou Dar meia volta, volta e meia no seu coração Ser criança não é brinquedo não! (Paulinho Poeta, Régis, Gabriel Fraga, Carlinhos Fuzil, Canindé e Flávio Pires) 1° lugar – “Ibejís – Nas Brincadeiras de Criança: Os Orixás que Viraram Santos no Brasil” (Renascer 2016) Assinado por Jorge Caribé, o enredo da Renascer se aproveitou das brincadeiras de criança, de algodão doce, pirulitos e brigadeiros para saudar os orixás africanos que se transformaram nos santos protetores das crianças: São Cosme e São Damião. Olha o pique-esconde
Comigo não tá De Cabra-cega não sei cirandar Uni-duni-tê, quem vai me tirar Quero futuro pro meu bê-a-bá (Cláudio Russo, Moacyr Luz e Teresa Cristina) BÔNUS – “Branca de Neve e os Sete Anões” (Vizinha Faladeira 1939) O ano era o de 1939 – primórdio dos desfiles das escolas de samba. A Vizinha Faladeira, fundada sete anos antes, já despontava como uma das principais entidades da categoria (detentora) de um título em 1937. Dona de um estilo ousado e inovador de se apresentar, levou para a Avenida um dos contos da Walt Disney. Naquele ano de 1939, a Vizinha fazia um carnaval imponente, o maior de toda a década de 30, com carros e destaques luxuosos e, pela primeira vez, com uma ala só de crianças. Infelizmente, os jurados entenderam que, por se tratar de um tema estrangeiro, a escola deveria ser desclassificada. Tanto que a Vizinha pode ser considerada também a precursora dos desfiles de protesto, pois no ano seguinte ela desfila passando por trás dos julgadores, levando uma faixa dizendo “Devido às marmeladas, adeus Carnaval. Um dia voltaremos”. Cinquenta anos depois de enrolar a bandeira, suas cores azul, vermelha e branca, voltaram a representar a escola nos desfiles. Série de coluna anterior: A História do Carnaval na TV Brasileira |
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