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Samba Paulistano
    
16 de maio de 2020, nº 43

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SE VOCÊ NÃO CONHECE, VENHA CONHECER - PARTE 4
por Bruno Malta

Nessa série de quatro partes, o SAMBARIO apresenta um pouco da história do Carnaval de São Paulo. Falaremos dos desfiles, palcos e pavilhões da capital paulistana. Trazendo histórias, personagens, curiosidades, desfiles notáveis, sambas marcantes e o momento atual de cada uma das principais agremiações da cidade.

Depois de falarmos das quinze escolas com mais destaque ao longo da história carnaval paulistano, chegou a hora de conhecermos um pouco mais de sete escolas que também marcaram e marcam seu espaço no Carnaval da cidade . Hora de falarmos de Barroca Zona Sul, Pérola Negra, Tom Maior, Leandro de Itaquera, Colorado do Brás, Imperador do Ipiranga e Lavapés.

Barroca Zona Sul 

Batizada pela Mangueira, o Barroca herdou suas cores; Atualmente, está no Grupo Especial (Foto: Guilherme Queiroz/SRZD)

Fundação: 7 de agosto de 1974

Madrinha: Estação Primeira de Mangueira

Cores: Verde e Rosa

Bairro: Jabaquara

Onde desfila: Grupo Especial 

Exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=zCZJuX9p_zg

Fundado em 1974, o Barroca Zona Sul teve um início muito bom como escola de samba obtendo uma longa passagem pelo Grupo Especial. Entre 1977 e 1994, só em 1987, não esteve na elite. De lá pra cá, no entanto, existiram muitos insucessos e anos distantes do grupo de elite. Após uma curta passagem entre 2003 e 2005, marcada pela virada de mesa que a salvou do rebaixamento, no grupo principal, a verde e rosa chegou a estar na quarta divisão do samba em 2014, realizada fora do Anhembi. De lá pra cá se organizou e voltou a elite em 2020 (Benguela… A Barroca clama a ti, Tereza!), permanecendo no grupo para o próximo Carnaval.

Pérola Negra 

Oscilante em resultados nos últimos anos, o Pérola Negra tentará retornar a elite em 2021 (Foto: Cláudio L.Costa/SRZD)

Fundação: 7 de agosto de 1973

Madrinha: Acadêmicos do Salgueiro

Cores: Azul, Preto, Vermelho e Branco

Bairro: Vila Madalena

Onde desfila: Grupo de Acesso I

Exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=N-3kdfVuJPs

Fundado em 1973, o Pérola Negra começou sua trajetória com uma longa passagem pelo Grupo Especial entre as décadas de 70 e 80. No entanto, a partir de 1984 (10 Anos de Samba), sofreu rebaixamentos e só voltou pra elite em três oportunidades (1990Shangri-lá Tupiniquim, Sonho, Fartura e Milagres, 1996 Navegar é Preciso e 2001 —A Vida Pela Paz. Solidariedade) Em 2007, (Venda como arte, comércio como sua principal representação) começou outra longa sequência na elite que durou até 2012 (A pedra que canta também sambaItanhaém, hoje a Pérola é você!). Desde então, não conseguiu se firmar no grupo e virou uma espécie de ioiô entre Especial e Acesso. Em 2020 (Bartali TcherainA estrela cigana brilha na Pérola Negra!), acabou rebaixada pela quarta vez em nove anos.

Tom Maior 

Tom Maior é uma escola que virou figurinha carimbada na elite nos últimos anos (Foto: Cláudio L.Costa/SRZD)

Fundação: 14 de fevereiro de 1973

Madrinha: Camisa Verde e Branco

Cores: Vermelho, Amarelo e Branco

Bairro: Sumaré

Onde desfila: Grupo Especial

Exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=zkQYdHtqOBE&t=12s

A Tom Maior é mais uma das escola fundada na década de 70, especificamente em 1973, que sofreu pra se firmar no carnaval . Até 2005, (Sabendo usar… não vai faltar!) a escola teve curtíssimas passagens pela elite, que somavam. até então, apenas cinco apresentações no Grupo Especial. No entanto, de 2005 em diante foram quinze desfiles na elite (em dezesseis anos). Se afirmando definitivamente. Conseguiu o maior resultado de sua história em 2018 (O Brasil de duas Imperatrizes: De Viena para o novo mundo, Carolina Josefa Leopoldina; De Ramos, Imperatriz Leopoldinense), quando teve a mesma pontuação da campeã, mas perdeu o título pelo desempate, ficando em quarto lugar, com um desfile inesquecível sobre as Imperatrizes.

Leandro de Itaquera

Fundada por Leandro Alves Martins, a Leandro de Itaquera já foi muito mais forte do que é atualmente (Foto: Desenvolve Itaquera)

Fundação: 3 de Março de 1982

Madrinha: Nenê de Vila Matilde

Cores: Vermelho e Branco

Bairro: Itaquera

Onde desfila: Grupo de Acesso I

Exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=4Jcqs5Bnzgw

Fundada em 1982, a Leandro de Itaquera começou sua trajetória com bastante impacto… Estreou na elite em 1989 (Babalotima História dos Afoxés) com o histórico Babalotim e lá permaneceu até 2006 (A Nova Passarágua do samba orgulhosamente apresenta Festas e tradições paulistas sobre as águas de um Novo Tietê) com um raro hiato em 1996 (300 Anos de Zumbi, a Festa é Nossa), consolidando como escola de Especial no período. Só que desde então, acumulou desfiles fracos e rebaixamentos. Esteve na elite em 2009 (Leandro de Itaquera faz a festa das periferias do Brasil para o Mundo. Salve salve, nossa estrela Regina Casé), 2010 (Sob Um Manto de Amor e Paz, Sou Leandro de Itaquera Desfilando o Vermelho e Branco no Meu Carnaval) e 2014 (Ginga Brasil, Futebol é Raça. Em 2014 a Copa do Mundo começa aqui), sendo rebaixada nos dois últimos e desde então não conseguiu ter a força de outrora nem mesmo no Grupo de Acesso. Hoje, está mais perto do Acesso II que da elite.

Colorado do Brás 

Vivendo uma fase de evolução, o Colorado do Brás busca a afirmação na elite em 2021 (Foto: Bruno Gianelli/SRZD)

Fundação: 1 de outubro de 1975

Madrinha: Camisa Verde e Branco

Cores: Vermelho e Branco

Bairro: Brás

Onde desfila: Grupo Especial

Exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=64baLFseMdc

O Colorado do Brás nasceu em 1975 é oriundo da torcida de um time de futebol de várzea da região central da cidade. Desde a sua fundação, a escola teve problemas para se afirmar no Grupo Especial, estando quase sempre no Acesso ou em grupos inferiores. Além da atual passagem, a sequência de destaque da agremiação na elite é entre 1986 (Ah!, Se eu Fosse Noé) e 1988 (Catopês do Milho Verde, de Escravo a Rei da Festa) quando fez o inesquecível Catopês que, apesar da obra histórica, acabou rebaixado. Nos últimos anos, teve uma grande ascensão e em 2021 irá para o terceiro ano consecutivo na elite. 

Imperador do Ipiranga

Imperador desde 2018 não conseguiu estar nos principais grupos da folia paulistana. (Foto: Cláudio L.Costa)

Fundação: 27 de Setembro de 1968

Madrinha: Gaviões da Fiel

Cores: Azul, Amarelo, Verde e Branco

Bairro: Ipiranga/Vila Carioca

Onde desfila: Grupo de Acesso II

Exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=In4AGJyC3Jo&t=12s

A Imperador do Ipiranga foi fundada em 1968, mas teve dificuldades e chegou a não desfilar por dois anos durante a década de 70. No entanto, a partir de 1978 virou uma escola de força considerável, que alternava entre Especial e Acesso. Sua maior sequência na elite foi entre 1979 (Homenagem em Forma de SambaSílvio Santos) e 1983 (Ymembuy), mas até 2010 (Da Antiguidade a Tecnologia: Medicina, A Nobre Arte de Salvar Vidas) sempre teve perambulando no grupo especial. Em 2018 (Solidariedade. A explícita magia de sonhar, amar e viver, em prol do bem) caiu para o Grupo de Acesso II e permanece por lá sendo coadjuvante desde então.

Lavapés

Origem de tudo e dona de sete títulos, a Lavapés sonha em retornar aos dias de glória (Foto: Reprodução)

Fundação: 9 de Fevereiro de 1937

Madrinha: Não tem 

Cores: Vermelho e Branco

Bairro: Liberdade 

Onde desfila: Grupo de Acesso de Bairros I

Samba 2020: https://www.youtube.com/watch?v=X_LllXIbAO4

Origem de tudo no samba paulistano, a Lavapés é da região central da cidade e foi fundada em 1937. Possui sete títulos do Grupo Especial na era pré oficialização. Revelou inúmeros baluartes que fizeram história em outras agremiações como Tadeu, mestre de bateria do Vai-Vai e Carlão, presidente de honra do Unidos do Peruche. Desde a oficialização da folia, sofreu com a desorganização interna e foi sumindo dos principais grupos da folia paulistana. A esperança, no entanto, ressurgiu com a vitória no Grupo de Acesso II de Bairros em 2020. Com novo nomefoi adicionado Pirata Negro ao Lavapése o comando de Aílton Graça, consagrado ator global e de muito contato com escola de samba, há chance de um futuro melhor para a agremiação.

Os palcos, os desfiles e as curiosidades do Carnaval de São Paulo

Um resumo da história do Carnaval de São Paulo

Pré-Oficialização

Já que falamos dos pavilhões que ajudaram a construir essa história ao longo dos últimos cinquenta anos, é o momento de recontarmos a trajetória do Carnaval Paulistano nesse período. Falaremos dos palcos, dos anos, das polêmicas e, sobretudo, de tudo que construiu a folia em São Paulo.

A oficialização do desfile das escolas de samba na capital paulista só aconteceu em 1968, quando o carioca Faria Lima, então prefeito da cidade, chancelou a festa e passou a subsidiar o cortejo. Apesar disso, já existia uma competição nos anos anteriores. Entre as décadas de 50 e 60, os títulos da folia paulistana foram conquistados por cinco escolas. Lavapés, sete títulos (1950, 1951, 1952, 1953, 1956, 1961 e 1964), Nenê de Vila Matilde, seis títulos, (1956, 1958, 1959, 1960, 1963 e 1965), Unidos do Peruche, cinco títulos (1957, 1962, 1965, 1966 e 1967), Garotos do Itaim, dois títulos (1955 e 1956) e Brasil de Santos, um título, (1954). 

A Oficialização e a transição para a Era Tiradentes

Com a ratificação da prefeitura, o cenário das escolas de samba mudou. Se o público até então, se dividia entre blocos, cordões e escolas, com o aval oficial da gestão pública, isso mudou. 

Sem o dinheiro, os cordões e blocos passaram a migrar com o objetivo de ser escolas de samba e competir com as escolas tradicionais da época, criando uma nova ordem na folia paulistana. O público (devido a essa unificação) cresceu. Mesmo com um tricampeonato a Águia Guerreira entre 1968 e 1970, a chegada de novas escolas, unida a transição dos blocos e cordões, fez com que a ordem de grandeza se reinventasse. Três anos após ser fundada, a Mocidade Alegre iniciou a jornada que desaguaria num tricampeonato, entre 1971 e 1973. Nos quatro anos seguintes, foi a vez do Camisa Verde e Branco ser o campeão. Originário do cordão, o alviverde da Barra Funda carrega até hoje, o fato de ser o único tetracampeão sozinho, sem divisão de conquistas. O último título da sequência marca também a estreia da nova passarela do Samba, a Avenida Tiradentes. Após nove anos de desfiles oficiais na Avenida São João, centro velho da cidade, a festa é transferida – no reboque do aumento considerável de público e mídia – para a Zona Norte, próximo do que hoje, é a estação da Luz e da própria Tiradentes. A intenção da mudança era facilitar a logística e atrair mais público, já que havia mais espaço para arquibancadas e desfilantes na nova pista. 

Desenho da pista da Avenida Tiradentes no Carnaval de 1990 (Foto: Acervo/Folha)

Foi na nova pista que o Carnaval de São Paulo viveu uma fase de transição e conseguiu emplacar grandes clássicos de sua história. No primeiro ano, o Trevo da Barra Funda trouxe Narainã, A Alvorada Dos Pássaros e consagrou-se campeão com um grande samba. Naquele mesmo ano, uma escola que não era tão forte, também teve um clássico samba-enredo. O Rosas de Ouro contou a história de Átaulfo Alves, o Poeta de Miraí com sutileza, poesia e genialidade. A obra ficou tão conhecida que foi regravada por Jair Rodrigues.

Nos anos seguintes, outras grandes escolas começaram a conseguir resultados e desfiles inesquecíveis. O Vai-Vai, conquistou seu primeiro campeonato, contando a história de Noel Rosa, o samba, composto por Oswaldinho da Cuíca, também é um dos mais marcantes da história da Tiradentes e foi cantado anos depois por Monarco da Portela. No ano seguinte, apesar do campeonato do Camisa Verde Branco, munido por mais um grande samba, foi a Mocidade Alegre que escreveu em sua trajetória, mais uma apresentação inesquecível sendo aclamada pelo público, ao levar o enredo A Revolta dos Malês. Em 1980, a Morada conseguiria o campeonato contando com mais um enredo de matiz africana e também munido por um samba poderoso que sacudiu a Tiradentes, fazendo que a escola trocasse a Noite da Choradeira pela Noite da Vitória

Entre 1981 e 1982, os títulos ficaram com o Vai-Vai que também apresentou mais um obra inesquecível composta pelo craque Oswaldinho da Cuíca no enredo Orun AiyêO Eterno Amanhecer, mas a Mocidade Alegre e o Camisa Verde e Branco apresentaram o melhor samba-enredo de sua história em cada ano, respectivamente. Se a escola do Limão cantou com incrível competência o enredo “Visungo Canto de Riqueza” em 1981, no ano seguinte, foi a vez do Trevo sacudir a Tiradentes com o inesquecível Negros Maravilhosos “Mutuo Mundo Kitoko”. Mesmo sem o campeonato, ambas foram vice em cada ano, a dupla fez história. Vale também que o período é marcado pelos grandes sambas, em especial, por dois clássicos do gênero na cidade. O primeiro foi obra da pequena, quase irrelevante, Cabeções de Vila Prudente que trouxe o inesquecível Do Iorubá Ao Reino De Oyó, composto por Dom Marcos, nome marcante do samba da Selva de Pedra. O segundo já tem digitais mais poderosas e vem da Zona Leste. A Nenê de Vila Matilde nos brindou com uma composição pra lá de marcante no enredo Gosto é Gosto e Não se Discute de autoria de Armando da Mangueira, outro nome fundamental para o gênero da cidade. Falando de resultado, foi a vez da então jovem, Rosas de Ouro surpreender e conquistar um bicampeonato. Com dois grandes sambas sobre a Nostalgia e o Largo São Francisco, a Roseira começava a dar os sinais de que seu lugar no panteão das gigantes era questão de tempo.

Vai-Vai na passarela da Tiradentes em 1984. Desfile se consolidou na pista de rua da Zona Norte (Foto: Acervo)

Em 1985, a correria em São Paulo foi grande devido ao fato de que a campeã seria convidada para desfilar entre as campeãs do Rio, na Marquês de Sapucaí. Quebrando um jejum de quinze anos sem conquistas a Nenê levantou a Tiradentes e é, até hoje a única agremiação paulistana que desfilou no palco da folia carioca. No entanto, a história poderia ser diferente caso o Barroca Zona Sul, que animou como ninguém o público com sua inesquecível apresentação sobre Chico Rei, não tivesse estourado o tempo de desfile e tivesse sido punida com oito pontos na apuração. Com os pontos retirados, a verde e rosa seria a grande campeã naquele ano. Outro fato importante daquela safra é o espetacular samba do Unidos do Peruche sobre Águas Cristalinas que capitalizou de vez a carreira da intérprete Eliana de Lima

Em 1986, o título voltou para as mãos da Saracura, mas a apuração foi confusa e gerou a primeira grande cisão de gestão das escolas de samba. Naquele ano, a leitura das notas foi interrompida, houve briga generalizada e até proposta de dez campeãs. O Camisa Verde e Branco, na figura de seu mandatário, Carlos Alberto Tobias, chiou bastante e ameaçou, ainda durante aquele Carnaval, o rompimento com a UESP, então organizadora do Carnaval. Nos meses seguintes surgiu a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, atual gestora dos Grupos Especial e de Acesso que são realizados no sambódromo do Anhembi. Os destaques musicais daquele ano ficam por conta do ótimo samba do Trevo e do samba campeão do Vai-Vai

Quadro com as notas da confusa apuração de 1986 (Foto: Reprodução)

No ano seguinte, já com a gestão da Liga, o Vai-Vai se sagrou bicampeão com o enredo A volta ao Mundo em 80 minutos, mas novamente, sob protestos de outras agremiações como o Camisa Verde e Branco e o Rosas de Ouro. Naquele ano, sambas dessas duas escolas (Barra Funda Estação Primeira e São Paulo, Seu Povo Sua Gente) somado a ótima e surpreendente trilha do Acadêmicos do Tucuruvi (Brasil em Aquarela) eram os principais destaques. Para 1988, o Carnaval de São Paulo viveu seu auge musical. Pelo menos sete dos doze sambas daquela safra, eram no mínimo excepcionais. São eles: Amado Jorge, a História de uma Raça Brasileira, O Cientista PoetaPaulo Vanzolini, Boa Noite São PauloConvite para Amar, O Poeta Falou Zona Leste Somos Nós, Filhos da Mãe Preta, Madeira de LeiPaulo Machado de Carvalho e Catopês do Milho Verde, de Escravo a Rei da Festa. Com uma grande safra os desfiles foram de alto nível e consagraram o tricampeonato da Saracura. A Mocidade Alegre e o Camisa Verde e Branco dividiram um doloroso vice-campeonato. 

No ano seguinte, surge a primeira menção de um sambódromo definitivo. A nova prefeita, Luiza Erundina, pela primeira vez menciona a possibilidade da construção de uma passarela para as escolas de samba de São Paulo. Alinhado com a ideia da mandatária, estava Leandro Alves Martins, presidente da caçula Leandro de Itaquera, que estrearia naquele ano na elite do samba paulistano com o histórico samba Babalotim. Naquele desfile, o campeão seria o Camisa Verde e Branco com o enredo Quem Gasta Tudo Num Dia, No Outro Assovia. No entanto, o resultado daquele seria polêmico. Com um desfile espetacular para os padrões da época, com um grande samba composto pelo enorme Ideval Anselmo e munida de reforços como Laíla, Jamelão e Joãozinho Trinta, o Unidos do Peruche, sairia aclamado da pista como principal candidato ao campeonato. Na leitura das notas, o júri recheado de jurados cariocas—entre eles, Dona Zica, histórica torcedora da Mangueira e do Camisatrazidos pelo mandatário do Trevo da Barra Funda consagrou a escola alviverde como a grande vencedora de 1989. Além dos sambas de Peruche e Leandro, consagrados como os melhores daquele ano, também vale escutar o ótimo samba do Rosas de Ouro sobre a Vera Cruz e o samba campeão.

Chegando ao que seria o último ano dos desfiles na pista de rua da Zona Norte, o Carnaval de São Paulo começa sua era de empates. Em 1990, Camisa Verde e Branco e Rosas de Ouro dividiram o campeonato com dois desfiles de temáticas distintas, mas igualmente bons. Se o Trevo optou pela crítica política falando de Sarney, a Roseira resolveu falar ludicamente sobre o Sábado. Além dos desfiles campeões,o Peruche conseguiu levantar novamente o público com mais uma grande apresentação, mas terminou novamente com o vice-campeonato. Menção honrosa para a estreia dos Gaviões da Fiel. Sem experiência na elite e lutando contra escolas consagradas, a Fiel Torcida foi rebaixada, mas adquiriu experiência, para pouco tempo depois ser mais uma das agremiações na briga pelos títulos. E foi assim que as escolas de samba se despediram da Tiradentes. Com uma evolução notória ao longo de catorze anos, chegava a hora da ida para a passarela definitiva do Sambódromo do Anhembi.

A Era Anhembi no Carnaval de um dia só

Início da Era Anhembi não foi dos mais organizados. Pista tinha um desenho bem diferente do atual com recuo ficando do lado direito e não do esquerdo como é atualmente (Foto: Acervo Folha)

Mesmo inacabado e ainda com muito por fazer, o Anhembi foi inaugurado em 1991. Com um desfile que ficou marcado pela adaptação das escolas a nova “casa”, mais uma vez, o resultado foi um empate entre Camisa Verde e Branco e Rosas de Ouro, duas das escolas que tinham bons sambas-enredo naquele ano. Outros destaques positivos nesse quesito foram o bom samba da Mocidade Alegre, sobre os planos econômicos e o ótimo samba do Águia de Ouro, que mesmo rebaixada deu seu recado com competência. No ano seguinte, a Roseira venceu sozinha e consagrou seu melhor samba em toda história como uma espécie de hino da cidade de São Paulo. Além da escola da Brasilândia, também merece muito destaque os bons sambas do Trevo sobre a lua e dos Gaviões da Fiel sobre a cidade de São Paulo.

Gaviões da Fiel e seu desfile do Tabaco entraram para a lista de grandes injustiçadas do Carnaval de São Paulo (Foto: Reprodução/Internet)

Em 1993, o título voltaria a ter dois donos. Na Barra Funda, festa do Trevo e no Bixiga festa da Saracura. No Anhembi, um abraço de paz entre Solón Tadeu (Vai-Vai) e Magali dos Santos (Camisa Verde e Branco), um tanto quanto armado, segundo Zulu (locutor da apuração) contou anos depois. Os destaques em samba-enredo foram as duas campeãs e os Gaviões da Fiel que trouxe uma obra ousada e cheia de força para falar da chave. No ano seguinte, o título contou com uma chancela “VIP” no julgamento e premiou a escola de “japonês” da Freguesia do Ó. A Roseira foi campeã falando de Ângela Maria, a Sapoti. Apesar disso, a Fiel Torcida reclama até hoje de uma nota 6 pra lá de injusta e controversa, em seu clássico samba, composto pelo genial Grego, A saliva do santo e o veneno da serpente”. Outro destaque positivo daquele ano foi o ótimo e surpreendente desfile da Leandro de Itaquera que contou com um belo samba sobre o Tietê.

O Carnaval ganhou mais espaço na mídia. Com divulgação nacional em TV (Desde o ano anterior, a TV Globo transmitia os desfiles para todo o país) e com o sucesso dos Gaviões da Fiel, o sambódromo lotou para acompanhar os desfiles. Com uma apresentação memorável, a Fiel Torcida garantiu seu primeiro campeonato, com o mais conhecido samba-enredo da cidade. O ano também reservou boas apresentações, de Rosas de Ouro, Vai-Vai e Nenê de Vila Matilde. Além disso, a estreia da X-9 Paulistana chamou atenção. Em 1996, foi a vez de outra alvinegra sacudir o sambódromo. Com um desfile marcante sobre a noite paulistana e com a atriz Lilian Gonçalves de fio condutor, a Saracura arrebatou o público, se conectou de maneira umbilical com o sambista, garantindo assim mais uma taça para sua galeria. Campeã do ano anterior (com seu belo samba), a Mocidade Alegre e a sua vaidade também foram destaques dignos de lembrança. Um fato marcante foi o primeiro rebaixamento do Camisa Verde e Branco. Punido por conta de seus problemas no desfile, o Trevo sofria a primeira queda de sua gloriosa história.

Em 1997 veio a grande surpresa da década... Com um desfile impactante, colorido e que contou pela primeira vez com a presença dos artistas de Parintins em São Paulo, a Xis garantiu seu primeiro campeonato com outro clássico do samba paulistano. Apesar da imensa chiadeira dos rivais, especialmente do povo da Saracura, o campeonato da rubro-verde foi justíssimo. Outros destaques daquele ano foram as alvinegras do Bixiga e do Bom Retiro que levaram mais uma vez ótimas composições para o Anhembi. No ano seguinte o título voltou para as mãos do Vai-Vai, com seu inesquecível Japão. Sacudindo e deixando o povo maluco com seu desfile a Saracura arrebatou o Anhembi com seu fantástico samba, composto por nomes históricos como Zeca do Cavaco e Zé Carlinhos, reforçando a conexão criada em 1996. Outros destaques foram a Nenê (e o seu melhor resultado desde 1985) falando sobre a Estação Primeira de Mangueira e os Gaviões da Fiel, que exaltaram o Corinthians mas ficaram apenas em quinto lugar, por causa da punição imposta pela Liga. Naquele ano o rebaixamento foi suspenso pela organização do Carnaval, que visava aumentar o número de escolas na elite, criando então a divisão principal da folia paulistana em dois dias, como acontecia no Rio de Janeiro desde 1984.

No último ano com o desfiles em apenas um dia, São Paulo teve mais uma vez duas campeãs e, dessa vez, duas escolas “irmãs” em cores e trejeitos. O Vai-Vai, mais uma vez conquistou a taça (com seu enredo sobre Nostradamus). Já os Gaviões fez uma apresentação diferente e arrebatadora graças ao seu ótimo samba, composto por Alemão do Cavaco, José Rifai e Ernesto Teixeira, sobre a lenda de Dom Sebastião perdido nos Lençóis do Maranhão. Aquele ano também reservou muitos problemas nos desfiles de Rosas de Ouro sobre Dante Alighieri, Nenê de Vila Matilde falando de São Paulo e a Mocidade Alegre exaltando a Bahia. Com tudo isso, o destaque positivo ficou por conta da surpreendente apresentação do Acadêmicos do Tucuruvi sobre Santa Catarina e a simpática exibição da X-9 Paulistana sobre o Mercosul. Com isso, se encerrava mais uma era. No ano seguinte, o Carnaval da elite das escolas paulistanas passou a contar com 14 participantes, divididas em dois dias de desfile, entrando assim no formato mais duradouro de sua história. 

A consolidação do Carnaval Paulistano e os desfiles em dois diasOs anos 2000

Anhembi nos anos 2000 já mudou bastante em relação ao da inauguração (Foto: Acervo Folha)

Na virada do milênio, o Carnaval de São Paulo passou pela sua última grande transformação. Com dois dias de desfiles, o ano 2000 é marcado pelo Carnaval temático sobre a história dos 500 anosaté entãodo Brasil. Cada escola contou um período da trajetória do país. Campeãs em 1999, Gaviões e Vai-Vai voltariam a brigar pelo título com lindos sambas e ótimos desfiles sobre a chegada de D.João e a redemocratização, respectivamente. Outros destaques do ano foram X-9 Paulistana e a era do Café, a Nenê e o período Vargas e o Tucuruvi com a ditadura militar. O título, novamente, foi dividido entre a Saracura, que conquistava o tricampeonato e a Xis, que surpreendeu o mundo do samba e até si mesmo ao conquistar a taça. No ano seguinte, os desfiles voltaram a ter temáticas diferentes, mas o título seguiu dividido. Dessa vez entre a escola do Bixiga, que sagrava-se tetracampeã e a Águia Guerreira da Zona Leste que quebrava um jejum de 16 anos sem campeonato. Outros destaques do ano foram a surpreendente exibição da Roseira sobre Caio de Alcântara Machado, a Fiel Torcida e o seu big bang e o a simpática apresentação do Trevo sobre o Sertanista Orlando Villas Bôas. 

Em 2002 não teve empate. Como num jogo de xadrez, o Rei Gavião derrubou os rivais, Camisa Verde e Branco com seu divertido número 4 e o Rosas de Ouro com seu pão e entrou para a história com seu fantástico enredo “Xeque-Mate”. É preciso citar também o fantástico samba da Nenê de Vila Matilde sobre a reforma agrária como um dos destaques daquele Carnaval. No ano seguinte, o repeteco do resultado da campeã é o marco do ano. Falando das cinco regiões do Brasil sem usar o verde da Amazônia, os Gaviões da Fiel se tornaram bicampeões do Grupo Especial, era a primeira consagração do carnavalesco Jorge Freitas. A surpresa ficou pela vice-campeã. Após quinze anos, a Mocidade Alegre voltava a brigar pelo título, com o inesquecível desfile sobre Omi, que gerou um dos clássicos do gênero samba-enredo em São Paulo. Também é necessário citar a ótima passagem do Trevo sobre João Cândido e a exibição da Império de Casa Verde que estreava na Elite falando de Nhô João e chamou a atenção pela força de suas alegorias, mesmo estando envolvida na confusão que impediu o rebaixamento naquele ano.

Gaviões da Fiel dominou o início dos anos 2000 sendo bicampeã da folia em 2002–2003 (Foto: Albano Mendes/Anhembi Parque)

Sem rebaixamento no ano anterior, mas novamente com Carnaval temático, São Paulo entrou no Carnaval dos 450 anos com uma pergunta: Quem poderia derrotar os Gaviões da Fiel? Atual bicampeã do Grupo Especial, a agremiação era a grande favorita para o tricampeonato e tudo parecia seguir por esse caminho até que um incidente envolvendo o último carro destruiu o sonho alvinegro. Com estouro de tempo e problemas em Harmonia e Evolução, a Fiel saiu do sonho do tri para o pesadelo do rebaixamento. Sem a Torcida Que Samba no páreo, o título parecia possível para qualquer uma das grandes escolas. Já sob a administração de Solange Bichara, a Morada do Samba se sagraria campeã com um desfile que não esbanjou luxo, mas teve muita força no chão e muita disciplina nos quesitos. Outros momentos dignos de nota foi a ótima safra de sambas-enredo (Imperador, Peruche, Império, Nenê, Gaviões, Mocidade…) e a apresentação da Caçula do Samba que surpreendeu e conquistou o terceiro lugar.

Em 2005, sem os Gaviões da Fiel no grupo, era a hora de uma outra organizada estrear. A Mancha Verde abriu os trabalhos com competência e de cara deixou seu nome registrado. Apesar disso, o ano foi marcado pelo equilíbrio, com a vitória do Tigre Guerreiro, rompendo as expectativas em torno das grandes, Mocidade Alegre (Clara Nunes), Vai-Vai (Imortalidade) e Rosas de Ouro (Mar de Rosas). O tigre faturou o troféu com uma crítica irreverente, inteligente e sobretudo pertinente. Um desfile para a história do Anhembi. Além das já citadas, também é válido mencionar a X-9 Paulistana e sua homenagem a Chitãozinho e Xororó, a Vila Maria exaltando o Circo e o Tucuruvi falando da Cantareira

Em 2006 ocorreu o esperado encontro entre Gaviões da Fiel e Mancha Verde. Temendo problemas, brigas e confusões, a Liga, amparada por um artigo do regulamento da época, criou uma categoria à parte para a dupla e as limou do julgamento do Grupo Especial. Posteriormente, a Fiel Torcida conseguiu uma liminar que a trouxe de volta para a disputa do Grupo Especial, mas com um desfile problemático, marcado pelo estouro do tempo, a agremiação acabou, novamente, rebaixada. Já a Mancha, que disputou sozinha o grupo das esportivas, acabou fazendo uma emocionante apresentação sobre os injustiçados do mundo, tendo inclusive um dos grandes sambas daquela safra. Alheia a toda a confusão, a Império de Casa Verde sagrou-se bicampeã exaltando o Boi Nelore, vencendo no desempate o Vai-Vai, que apresentou São Vicente como enredo. Também merecem destaque a Roseira que exaltou a Diáspora Africana com um belo samba e o novo rebaixamento do Camisa Verde e Branco. 

Mocidade Alegre também é um nome fundamental da década; Escola venceu três campeonatos (Foto: Reprodução/Internet)

A partir de 2007, o Carnaval de São Paulo passou a ser dominada pelo histórico trio de ferro (Mocidade Alegre, Vai-Vai e Rosas de Ouro). Com a queda acentuada do Tigre Guerreiro, esse trio passou a dominar os desfiles. Naquele ano, a Morada garantiu o sexto campeonato de sua história falando do Riso, mesmo com fortes concorrentes como a Vila Maria que exaltou Cubatão e o Vai-Vai que falou do plástico. Já sobre samba-enredo, a cidade contou com uma safra de alto nível com destaques para Mocidade Alegre, Águia de Ouro, Unidos de Vila Maria, Império de Casa Verde, Pérola Negra e Vai-Vai

No ano seguinte, a Saracura, com uma forte crítica social criada por Chico Spinoza, dá um verdadeiro sacode no Anhembi e garante o campeonato virando o jogo em cima da Mocidade na última nota. A Unidos de Vila Maria que exibiu luxo e riqueza falando sobre o Japão, ficou em terceiro lugar. Aquele Carnaval marcou o fim do Grupo Especial das Escolas Esportivas, o retorno definitivo dos Gaviões da Fiel para a elite e a criação da Superliga das Escolas de Samba, grupo opositor da Liga/SP formado por escolas como Vai-Vai, campeã naquele ano, Mancha, Gaviões e Império.

Tigre da Império em 2009. Casa Verde foi uma das escolas que surgiram nessa década (Foto: Gazeta Press)

Com o grupo rachado entre duas Ligas (Liga e Superliga), o Carnaval 2009 ficou marcado pelo altíssimo nível dos desfiles. Com pelo menos, cinco grandes apresentações, o equilíbrio se refletiu numa leitura de notas marcante. Com virada na última nota a Mocidade Alegre conquistou o sétimo campeonato de sua história com um enredo sobre coração assinado por Sidnei França. O Vai-Vai, vice-campeão, falou sobre a saúde e teve um samba excepcional. Falando da Fábrica dos Sonhos, da Roda e dos feriados, Rosas, Gaviões e Império fecharam o grupo dos desfiles das campeãs. É justo mencionar também os ótimos sambas de Tom Maior e Nenê de Vila Matilde. Apesar do grande samba, a Águia acabou rebaixada pela primeira vez em sua história.

Fechando a década, a Roseira sagrou-se campeã do Carnaval pela primeira vez em dezesseis anos. Com o enredo sobre o chocolate, a azul e rosa superou velhas rivais como Vai-Vai e Mocidade Alegre e arrebatou o campeonato. Comemorando o centenário do Corinthians, os Gaviões da Fiel sacudiram o Anhembi com uma ótima apresentação, mas terminaram apenas em quinto lugar, gerando protestos de sua gigantesca torcida. Outros destaques daquele ano foram os bons sambas de Mancha Verde (mestres), Acadêmicos do Tucuruvi (São Luís do Maranhão) e, principalmente, Pérola Negra (Rolando Boldrin).

Domínio da Mocidade, títulos com emoção e novas campeãsOs anos 2010

A década começou com o fim da Superliga e a reunificação de todas as entidades do Grupo Especial na Liga/SP. Em termos de resultados, o domínio passou a ser da dupla Mocidade Alegre e Vai-Vai. Em 2011, a Saracura amparada pelo fantástico samba, sagrou-se campeã pela 14ªvez. Num Carnaval marcado pelos problemas da Morada do Samba, a alvinegra da Bela Vista superou ótimos desfiles de Tucuruvi (Nordestinos) e Mancha (Gênios) para conquistar o campeonato. Nota de destaque fica por conta dos ótimos sambas de Unidos do Peruche (Teatro Municipal) e Nenê de Vila Matilde (Sal) que, apesar de serem rebaixadas, brindaram com belas composições. 

Vai-Vai conquistou o campeonato em 2011 e 2015 baseando seu desfile em um grande samba (Foto: Daigo Oliva/G1)

No ano seguinte, a Liga completou 25 anos e foi presenteada com grandes apresentações. Mordida com o sétimo lugar e vinda de um incêndio à um mês do Carnaval, a Mocidade sacudiu o sambódromo e conquistou o campeonato numa apuração recheada de problemas. Brigas, notas rasgadas e até incêndio em carro alegórico foram momentos vistos naquela triste terça-feira gorda de carnaval. Ficou de alento o bom nível de desfiles, com grandes apresentações, não só da campeã, como de Rosas de Ouro (Roberto Justus), Vai-Vai (Mulheres), Gaviões da Fiel (Lula) e Mancha Verde (Odu Obará) e a estreia da Dragões da Real (Mães). 

Em 2013 o Carnaval contou com uma apuração sem público e uma grande mudança no júri. Paralelo a isso, a Mocidade Alegre se reafirmou com a mais forte do momento e conquistou um bicampeonato superando o Rosas de Ouro no desempate. Apesar disso, quem encantou mesmo foi o Águia de Ouro com sua reverência a João Nogueira, conquistando a maior pontuação do júri e perdendo apenas por. caestouro do cronômetro. Outros bons momentos daquele ano são o retorno da Nenê para a elite com um fantástico samba e as boas composições de Tatuapé (Beth Carvalho) e Império de Casa Verde (saúde). No ano seguinte, a campeã novamente foi a Morada com uma apresentação emocionante sobre a fé. As principais ameaças ao tricampeonato da escola foram a Roseira (Inesquecível) e, principalmente, o Águia que, mais uma vez, homenageou um músico consagrado (Dorival Caymmi) e arrebatou público e crítica. Apesar de um ano recheado de bons desfiles, como Tucuruvi (universo infantil) e Dragões (NostalgiaAnos 80), a safra de sambas-enredo ficou devendo.

Tricampeonato da Morada reafirmou a escola como a mais forte da última década (Foto: Claúdio Lira/LIESSP)

Em 2015, o desafio de treze agremiações era superar a então tricampeã. Praticamente imbatível, a rubro-verde exibiu sua competência para cantar a vida e obra de Marília Pêra. Só que a escola do Limão não imaginava a catarse conquistada pela eterna rival Saracura, na sua apresentação sobre Elis Regina. Com um show de comunicação, o Vai-Vai conquistou seu décimo quinto campeonato e pôs fim ao domínio da Morada. Outros momentos dignos de menção daquele ano foram os ótimos desfiles de Gaviões da Fiel (baralho), Tucuruvi (marchinhas) e Nenê de Vila Matilde (Moçambique). Em relação a parte musical, o ano conto com uma boa safra, com destaque para o samba da campeã, da Nenê e da X-9 sobre a chuva. No ano seguinte, a ordem de forças do Carnaval de São Paulo teve grandes mudanças. Jorge Freitas, após quase dez anos, deixou o Rosas de Ouro rumo ao Império de Casa Verde e provocou a grande transformação do ano. Com um conjunto plástico impressionante, não teve mistério capaz de impedir o terceiro título do Tigre Guerreiro. Em segundo lugar, ficou o Tatuapé que surpreendeu falando da Beija-Flor. Mocidade (Ayô), Vai-Vai (França) e Vila Maria (Ilha Bela) completaram o grupo das campeãs. Já a Roseira, após vários anos brigando pelo título, terminou em décimo primeiro lugar, chegando a ficar e ameaçada pelo rebaixamento. O quesito samba-enredo teve o Unidos do Peruche, retornando ao Grupo Especial, como o principal destaque

Título do Tatuapé em 2017 abriu uma série de conquistas inéditas (Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo)

2017 foi outro ano com muitas surpresas. Amparada por um grande samba, o Vai-Vai era o grande favorito com sua homenagem a Mãe Menininha, mas não conseguiu traduzir isso na pista e foi surpreendido por apresentações de alto nível de Tatuapé (Zimbábue) e principalmente dos Dragões (Asa Branca). No resultado final, o título foi parar na Zona Leste após dezesseis anos, com a inédita conquista do Tatu, que superou a Tricolor da Vila Anastácio no desempate graças ao quesito samba-enredo. Outros destaques do ano foram a Unidos de Vila Maria (Nossa Senhora) e Império de Casa Verde (Paz). Na parte musical, além de Vai-Vai, Tatuapé, Dragões e Vila Maria, também mereceram destaque os sambas de Peruche (Salvador) e Mocidade Alegre, que apesar de um desfile decepcionante, teve um ótimo samba sobre seu Jubileu de Ouro.

Grego, de camisa branca, é o autor do samba dos Gaviões da Fiel reeditado em 2019 (Foto: Leonardo Dahi)

Nos últimos três anos, uma intensa mudança no manual, os resultados geraram três campeãs diferentes. Tatuapé (Maranhão), Mancha (Aqualtune) e Águia (sabedoria). Com muita técnica, as três apresentações conquistaram o campeonato com desfiles corretos e que seguiram o rigoroso manual de julgamento da Liga. Apesar disso, o Anhembi presenciou grandes apresentações de Império de Casa Verde (Revolução Francesa), Gaviões da Fiel (reedição do Tabaco) e Mocidade Alegre (Yabás) que conquistaram o público e a crítica e merecem serem lembradas por aqui. Durante esse período, os grandes sambas ficaram em número mais restrito mas surgem em Rosas de Ouro (Caminhoneiros), Colorado do Brás (Hakuna-Matata), Tom Maior (Grande Negros da História) e Barroca Zona Sul (Tereza de Benguela). 

Referências e dicas de conteúdo

Como a intenção dessa série é compartilhar conteúdo, apresento aqui uma série de links que trazem um pouco mais da história do Carnaval de São Paulo. 

Referências Musicais 

CD Ensaio de Escola de Samba—Leandro Lehart

 

Leandro Lehart e sua coletânea de grandes sambas de São Paulo

Produzido pelo artista Leandro Lehart que chegou a ser comentarista de Carnaval na TV Globo, o CD é um daqueles elementos essenciais para quem está chegando agora no Carnaval Paulistano. Composto por obras históricas, a audição é mais uma delícia, sem momento de baixa. A produção é feita por nomes conhecidos das escolas como Zoinho (Império de Casa Verde) e Moleza (Unidos de Vila Maria)

CD de 38 anos do Rosas de Ouro

Rosas de Ouro e seus grandes sambas; CD foi feito em 2009

Esse CD feito em 2009 apresenta uma sequência de alusivos e exaltações da escola na voz de cantores consagrados na agremiação como Royce do Cavaco, Polengue e Darlan Alves, além de uma sequência de grandes sambas na vozes de conhecidos cantores da cidade como Vaguinho e Carlos Júnior. Vale a pena ouvir!

CD de 40 anos do Águia de Ouro

CD dos 40 anos do Águia de Ouro foi produzido em 2016

Na linha seguida pelo Rosas de Ouro, o Águia comemorou seus 40 anos com um CD com seus grandes sambas, seu exaltação e seu hino. Com grandes cantores como Douglinhas, Royce do Cavaco e Serginho do Porto, a audição é uma delícia e vale muito. É mais uma coletânea necessária. 

CD Gaviões da Fiel 1997

Playlist traz a coletânea feita pelos Gaviões da Fiel em 1997

Em 1997, os Gaviões produziram um CD daqueles raros. Além de contar com seus sambas em ótima qualidade, o disco traz inúmeras vozes marcantes do gênero samba-enredo para a interpretação das obras. Tem Wander Pires cantando Mundo da Rua, Royce do Cavaco em A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente e até Jamelão cantando o clássico Coisa Boa É Para Sempre. Imperdível.

Coletânea de grandes sambas concorrentes derrotados

 

Coletânea traz grandes sambas que não foram pra avenida

Uma excelente pedida para conhecer um pouco mais do nosso Carnaval é conhecer o estilo de cada agremiação. Com essa ótima reunião de obras que não foram pra avenida, você consegue entender melhor o estilo de cada escola e o perfil de cada comunidade. Vale!

Referências para conteúdo

Acervo/SASP: http://www.carnavalpaulistano.com.br/

É impossível falar de Carnaval de São Paulo sem acessar a SASP. O maior acervo de conteúdo sobre a festa da capital está neste link acima. Quem quiser encontrar sambas concorrentes de outros anos, saber por onde anda determinado carnavalesco ou até, mesmo, ver uma justificativa. Tudo está neste lugar. Essencial.

Acervo Folha: https://acervo.folha.com.br/

O riquíssimo acervo da Folha é gratuito e você consegue olhar tudo sobre as reportagens (excelentes) do jornal relacionada aos carnavais. Basta pesquisar pela data e o conteúdo estará por lá. 

SRZD Carnaval/SP: https://www.srzd.com/carnaval/sao-paulo/

O trabalho do SRZD, especialmente do Raul Machado, é fantástico. Muitas das histórias contadas nessa série surgiram após horas assistindo o ótimo programa “No Mundo do Samba”. É justo mencionar o trabalho desse site que me fez aprender muito. 

Bodas de PrataOuro de Tolo: http://www.pedromigao.com.br/ourodetolo/category/inativos/bodas-de-prata/

Assinada pelo jornalista Leonardo Dahi, um estudioso do Carnaval Paulistano, o Bodas de Prata é mais uma série fantástica que traz detalhes riquíssimos de cada um dos primeiros vinte e cinco desfiles da Era Anhembi. Além de uma visão crítica e de um levantamento histórico, há curiosidades e detalhes para quem quiser conhecer mais daquele período. Série espetacular!

Canal O Ritmista: https://www.youtube.com/user/crsrob

O canal é mais que produz, imensamente, conteúdo sobre o Carnaval Paulistano mostrando as diferenças de cada bateria da cidade. É um mergulho dentro do coração de cada agremiação que comprova a identidade única de cada uma. 

Podcast Tudo Que Cai, Volta (SASP): https://open.spotify.com/show/6jt8mXX4HTeO8bKozz5OOf

Mais um conteúdo produzido pelo mais antigo site de Carnaval em São Paulo. Formado por sambas concorrentes que perdeu nas disputas internas das agremiações, o podcast é um conteúdo daqueles fundamentais para se aprender mais sobre o samba paulistano.

Variados

DocumentárioZeca da Casa Verde

 

Filme sobre Zeca da Casa Verde relembra a história de um grande compositor paulistano

O maior compositor da história do Rosas de Ouro é o personagem principal de um documentário que mostra muito do Carnaval de São Paulo, especialmente nas décadas de 70 e 80.

DocumentárioGeraldo Filme

É mais uma produção que valoriza uma figura fundamental do samba de São Paulo

Outro sambista muito famoso e muito importante na história de uma grande escola de São Paulo é o mote dessa bela película que retrata bem as origens negras do samba paulistano.