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Samba Paulistano
    
5 de maio de 2020, nº 41

 . Coluna Anterior: Se Você não Conhece, venha Conhecer - Parte 1
SE VOCÊ NÃO CONHECE, VENHA CONHECER - PARTE 2
por Bruno Malta

Nessa série de quatro partes, o SAMBARIO apresenta um pouco da história do Carnaval de São Paulo. Falaremos dos desfiles, palcos e pavilhões da capital paulistana. Trazendo histórias, personagens, curiosidades, desfiles notáveis, sambas marcantes e o momento atual de cada uma das principais agremiações da cidade.

Rosas de Ouro

Pavilhão da Roseira e suas três Rosas de Ouro. Azul e rosa tem sete troféus do Grupo Especial. (Foto: Claudio L.Costa/SRZD)

Fundação: 18 de outubro de 1971

Madrinha: Estação Primeira de Mangueira

Títulos: 7 no Grupo Especial (1983, 1984, 1990, 1991, 1992, 1994 e 2010) e 1 no Grupo de Acesso (1974)

Cores: Azul, Rosa e Branco

Bairro: Freguesia do Ó

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=QFW9vfCOypc

A história

A Sociedade Rosas de Ouro foi fundada em 1971completará 50 anos no próximo Carnavale é mais um dos casos de escolas que moldaram sua grandeza após a oficialização da folia paulistana. A Roseira tem sete títulos no Grupo Especial. Sua origem de bairro é na Vila Brasilândia, mas desde a década de 80, a agremiação se situa na Freguesia do Ó por iniciativa de um dos seus fundadores, o eterno presidente Eduardo Basílio. A mudança de localização somada a um novo estilo de gestão mudou seu patamar.

A Roseira também é uma das entidades que pouco sentiram a mudança da Avenida Tiradentes para o Anhembi. No antigo palco foram três títulos; No novo foram quatro e, claro, muitos outros bons resultados nas duas passarelas. Além disso, é uma das agremiações, ao lado do Camisa Verde e Branco, que venceu a última disputa na Tiradentes e a primeira no Anhembi. Em 1990, com o enredo “Até que enfim…o Sábadoe em 1991 com “De Piloto de fogão a chefe da nação”, a Roseira foi bi em meio a mudança. No ano seguinte, o tri viria falando sobre São Paulo com “Non Ducor Duco, qual é a minha cara?

É, ao lado da Mocidade Alegre, uma das únicas escolas que não foi rebaixada desde que subiu, pela primeira vez, na década de 70 e, também, tem a regularidade como marca. Em toda sua existência, só ficou abaixo do oitavo lugar em uma única oportunidade. Foi em 2016, com o enredo Arte à flor da pele. A minha história vai marcar você que contava a história da Tatuagem. A Roseira correu sérios riscos de rebaixamento pela primeira e, até hoje, única vez em sua trajetória. Ao final da apuração, o décimo primeiro lugar e A ameaça do descenso, culminou no pior resultado até hoje.

Desfiles notáveis

Além do tricampeonato em 1990 (Até que enfim… “o Sábado”), 1991 (De Piloto de fogão a chefe da nação) e 1992 (“Non Ducor Duco”, qual é a minha cara?), a Roseira conquistou outros quatro títulos. O mais famoso deles é o de 1994, quando cantou a vida de Ângela Maria, renomada cantora de MPB, com o enredo Sapoti. Apesar da força da apresentação, existiram muitas polêmicas sobre a justiça da conquista por conta de uma confusa formação do júri, recheado de nomes contestáveis e pela discussão com a homenageada que era acusada de cobrar dinheiro pela participação na apresentação.

A partir desse campeonato, a azul e rosa viveu um longo período de jejum sem campeonatos, mas sempre com desfiles marcantes como nas apresentações de 1999 (A “Divina Comédia” de um folião) e 2001 (Quem plantou o palco, hoje é o espetáculo). Em 2008, após contratar o carnavalesco Jorge Freitas, viveu uma grande fase tendo como o auge o ano em que quebrou o jejum com o enredo “Cacau: um grão precioso que virou chocolate, e sem dúvida se transformou no melhor presente, mas as apresentações de 2009 (Bem-vindos à fábrica dos sonhos) e 2012 (Hungria, o Reino dos Justus) também merecem uma justa lembrança.

Curiosidade

Em 2006, o Rosas chegou ao último quesito como líder da apuração, com 0,25 de vantagem para Império de Casa Verde, Vai-Vai e Mocidade Alegre. Mas, duas notas abaixo de 10 em bateria, a tiraram da ponta e colocaram num modesto e pouco comemorado quinto lugar. Naquele ano, a azul e rosa contava com o enredo “A Diáspora africana. Um crime contra a Raça Humanaassinado pelo carnavalesco Fábio Borges.

O atual momento e o último desfile

A Roseira passa por instabilidade plástica desde a saída de Jorge Freitas (Foto: Site Carnavalesco)

Desde a saída de Jorge Freitas, a escola passa por uma fase de transição, onde falta dinheiro, mas sobra chão. Suas apresentações são marcadas pela força de sua comunidade que é, hoje, uma das mais fortes da cidade. Em 2020, com o enredo Tempos Modernos, falou da relação do homem com a modernidade. O desfile assinado por André Machadoque já deixou a agremiaçãofoi criativo e divertido, mas pecou em problemas de acabamento, especialmente em alegorias. A azul e rosa terminou em sétimo lugar, longe da briga pelo título.

Sambas marcantes

Ao contrário de outras grandes escolas, a discografia da Roseira não é considerada uma das mais inspiradas no conjunto da obra, principalmente após a ida dos desfiles para o Anhembi. Isso não impede que a agremiação tenha bons sambas, especialmente nas décadas de 80 e início dos anos 90 sempre na voz de Royce do Cavaco. O primeiro grande clássico, de autoria de Zeca da Casa Verde, nome fundamental na trajetória da azul e rosa, surge em 1977 (Ataulfo Alves, o poeta de Miraí) e soma-se aos principais destaques do período de ouro que ficam por conta da ótima obra sobre o Largo São Francisco em 1984 (A velha academia berço dos heróis) e o charmoso samba de 1989 no enredo Vera Cruz, a vedete dos anos 50. Além desse período, duas obras também marcaram sua presença de maneira positiva na discografia do Rosas. Em 2005, o famoso e consagrado “Mar de Rosas” é lembrado até hoje como um grande clássico do Anhembi. Já em 2018, com o enredo “Pelas estradas da vida, sonhos e aventuras de um herói brasileiro, a Roseira nos brindou com mais uma obra inesquecível.

Gaviões da Fiel

Pavilhão do Grêmio Gaviões da Fiel Torcida com suas quatro estrelas do Grupo Especial. (Foto: Cláudio L.Costa/SRZD)

Fundação: 1º de Julho de 1969

Madrinha: Camisa Verde e Branco

Títulos: 4 no Grupo Especial (1995, 1999, 2002 e 2003) e 3 no Grupo de Acesso (1990, 2005 e 2007)

Cores: Preto, Branco, Vermelho e Amarelo

Bairro: Bom Retiro

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=aO5mZeDXFeY

A História

Oriunda da torcida de mesmo nome, os Gaviões da Fiel foi fundado em 1969, mas passaram a desfilar como bloco oficial em 1975. Nesse período, a alvinegra venceu o festival dos blocos em doze dos treze anos que participou. Em 1989, através de um convite da prefeitura da cidade, o bloco virou escola de samba. Foi a partir desse momento que a Torcida Que Samba se tornou potência e conquistou quatro campeonatos do Grupo Especial em doze participações entre 1990 e 2003.

Acidente em 2004 é um marco na trajetória dos Gaviões (Foto: Rubens Cavallari/Acervo Folha)

Após um bicampeonato com em 2002 (Xeque-Mate) e 2003 (As Cinco Deusas Encantadas na Corte do Rei Gavião), os Gaviões eram a mais poderosa escola do Anhembi em 2004 quando tentava um inédito tricampeonato com o enredo “Ideias e Paixões: Combustível das Revoluções. Tudo ia muito bem até que, a quebra do eixo da última alegoria causou inúmeros problemas e afetou a apresentação. Com o desfile prejudicado, houve perda de pontos por estouro de tempo e notas baixas nos quesitos evolução e harmonia, o que rebaixou a agremiação para o Grupo de Acesso. Desde então, nenhum título e os dias de glória cada vez mais distantes.

Apesar disso, os Gaviões desfilam no Grupo Especial ininterruptamente desde 2008. Em 2006, com “Asas da Fascinação” fez sua última apresentação rebaixada, quando após muitas discussões na justiça, conseguiu ter direito a concorrer na elite, mas, terminou em último lugar com estouro de tempo e inúmeros problemas. Desde o retorno em 2008, jamais conseguiu sequer ficar entre as três primeiras colocadas na elite. A melhor colocação é um quarto lugar em 2009 com enredo “O sonho comanda a vida, quando o homem sonha o mundo avança. A fantástica velocidade da roda para evolução humana. É pura adrenalina!assinado pelo carnavalesco Zilkson Reis.

Desfiles notáveis

Todos as principais apresentações da escola foram realizadas no Anhembi, palco das quatro conquistas da alvinegra e que viu outros tantos momentos marcantes da agremiação. Apesar disso, sua estreia na elite foi na Avenida Tiradentes com o enredo O homem nasceu pra voarem 1990. Devido a inexperiência na elite, foi rebaixada. Um outro fato curioso sobre os Gaviões, é que por mais que sempre faça reverências ao Corinthians, a Torcida Que Samba só falou do clube de maneira direta em 1998 no e “Corinthians, meu mundo é você” e em 2010, ano do centenário, “Corinthians… Minha vida, minha história, meu amor”. Nos dois desfiles, a alvinegra terminou em quinto lugar na apuração. Para não dizer que não falamos dos títulos, a Torcida Que Samba também fez apresentações inesquecíveis em 1999 (O Príncipe Encoberto ou a Busca de Dom Sebastião na Ilha de São Luís do Maranhão), 2002 (Xeque-Mate), 2003 (As Cinco Deusas Encantadas na Corte do Rei Gavião), e sobretudo em 1995, com o enredo Coisa Boa É Para Sempre”, quando conquistou seu primeiro título do Grupo Especial. O samba é, até hoje, lembrado nos principais eventos carnavalescos de São Paulo e do Brasil.

Curiosidade

Em cinco da sete primeiras apresentações como escola do Grupo Especial, a alvinegra cantou composições de um único autor. Janos Tsukalas, conhecido como Grego, venceu a disputa de samba-enredo dos Gaviões em 1992 (Cidade Aquariana), 1993 (A Chave no Tempo), 1994 (A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente), 1995 (Coisa Boa É Para Sempre) e 1997 (O Mundo da Rua). Também foi autor da obra que ajudou no acesso em 1991 (A Dança das Horas). Um craque daqueles raríssimos no mundo da composição.

O atual momento e o último desfile

A Torcida Que Samba está longe de ser o rolo compressor que foi entre 1992–2003, onde sua ascensão foi meteórica e vitoriosa, mas os últimos resultados não refletem o desempenho satisfatório nos últimos dois anos. Existe, sim, uma evolução nítida na agremiação, desde 2018 em termos de apresentação. Neste ano, após completar cinquenta anos, e ter a contratação dos carnavalescos Paulo Barros e Paulo Menezes como grande trunfo, era esperado que a alvinegra conseguisse um bom resultado. Porém, apesar do elogiado desfile, o décimo primeiro lugar foi bastante aquém do esperado e frustrou a nação corintiana.

Sambas marcantes

O mágico quarteto de compositores reunido em uma única foto. (Foto: Arquivo Sambario)

Assim como o Camisa, a escola sabe flutuar muito bem em sua discografia. Por quase vinte anos, os autores de seus sambas se resumiram no mágico quarteto Grego, Alemão do Cavaco, Ernesto Teixeira e José Rifai. Esse pequeno grupo de compositores assinou quinze dos dezesseis trilhas da agremiação entre 1991 (Dança das Horasúltimo ano no Acesso antes dos títulos) e 2006 (Asas da Fascinaçãoano do último rebaixamento no Grupo Especial). Por terem estilos bem diferentes, os Gaviões conseguiram ter obras de maior explosão popular como em 1994 (A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente) e 1995 (Coisa Boa É Para Sempre) e de maior adequação carnavalesca e refinamento como em 1999 (O Príncipe Encoberto ou a Busca de Dom Sebastião na Ilha de São Luís do Maranhão) e 2001 (Mitos e Magias na Triunfante Odisseia da Criação). Merece menção especial, os dois sambas que deram o bicampeonato entre 2002 (Xeque-Mate) e 2003 (As Cinco Deusas Encantadas na Corte do Rei Gavião). No primeiro, assinado por Alemão do Cavaco, José Rifai e Ernesto Teixeira, um estilo mais refinado, onde cada trecho do enredo ganha um desenho melódico especial. No segundo, composto por Grego, uma obra de refrães explosivos e com uma melodia mais “fácil”. Estilos diferentes, mas igualmente bons!

X-9 Paulistana

Pavilhão da X-9 e suas “três” estrelas. Por muito tempo, se denominou tricampeã do Grupo Especial (Foto: Reprodução)

Fundação: 12 de Fevereiro de 1975

Madrinha: X-9 Santista

Títulos: 2 no Grupo Especial (1997 e 2000) e 2 no Grupo de Acesso (1994 e 2017)

Cores: Verde, Vermelho e Branco

Bairro: Parada Inglesa

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=qfhcKMCPjsU

A história

Fundada em 1975, a escola surgiu com o nome “Filhotes da X-9” em homenagem a santista “X-9”. Em 1986 virou X-9 Paulistana e após vitórias em grupos inferiores, estreou na elite em 1995. A Xis tem dois títulos no Grupo Especial.

No primeiro ano na elite, em 1995, surpreendeu o mundo do samba pela ótima estreia, que rendeu um honroso quinto lugar, além disso, também causou impacto pela contratação de Royce do Cavaco, consagrado no Rosas de Ouro, para cantor oficial. Na época, os valores pagos ao intérprete eram bem acima do mercado, o que demonstrava que a escola não estava para brincadeira. 

Nos anos seguintes, entre 1996 e 2000, a X-9 se tornou potência no samba de São Paulo, conquistando dois títulos. Em 1997, foi a segunda fora do grupo formado por Nenê de Vila Matilde, Rosas de Ouro, Camisa Verde e Branco, Vai-Vai e Mocidade Alegre, a vencer o Carnaval. Já no ano 2000, a agremiação dividiu a taça com o Vai-Vai. Uma curiosidade desse período é a denominação oficial. A entidade usou o nome “X-9 Paulistana Passo de Ouro”, como seu nome oficial e adotou o amarelo como cor, junto das tradicionais verde, vermelho e branco. Isso ocorreu pela incorporação da antiga escola ao pavilhão da Xis. Pouco antes do Carnaval que lhe daria o segundo título, a agremiação decidiu voltar ao nome e as cores “originais”. 

A X-9 poderia ter tido um terceiro campeonato na elite. Foi em 2002. Falando sobre o papel, conseguiu a pontuação máxima do júri, mas estourou o tempo de desfile, perdendo então seis pontos, terminando então em décimo lugar. Se não tivesse estourado o tempo, dividiria a taça com os Gaviões da Fiel.

Desfiles notáveis

Além dos dois campeonatos em 1997 (Amazônia, a Dama do Universo) e 2000 (Quem é você, Café!) e do desfile de 2002 (Aceito tudo, quem sou eu?…O papel), a X-9 tem outros vários momentos marcantes no seu período de ouro. O duplo vice-campeonato entre 2004 (Se vens em minha casa com deus no coração, senta-te a mesa e coma do meu pão) e 2005 (Nascidos para cantar e também sambar) é considerado a demonstração do domínio técnico da agremiação na época.

Assim como a Imperatriz Leopoldinense fazia no Rio, naquele período, a X-9 fazia por aqui. desfiles técnicos praticamente perfeitos. Mesmo sem carros grandiosos ou super luxuosos, pouca errava e conseguia grandes resultados. Isso também causou algum descontentamento entre os adversários. No seu primeiro campeonato em 1997, Solón Tadeu, presidente do Vai-Vai, proferiu inúmeras palavras de baixo calão contra a rubro-verde e acusou chegando a agredir o então presidente da X-9 e da Liga, Laurentino Marques, o Lauro, de armar o resultado para favorecer sua própria agremiação. Já na segunda conquista em 2000, a descrença entre os sambistas era tão grande que pegou até a própria Xis de surpresa. Nem mesmo seus componentes e o seu mandatário acreditavam na vitória.

Curiosidade

Por anos a X-9 adotou uma terceira estrela extra-oficial como um dos seus símbolos, para marcar o ano de 2002. Os integrantes da Xis, que estourou o tempo e perdeu o título por isso, julgavam ter sido prejudicados pela Liga por conta de possível disparo antecipado do cronômetro que fez com que a escola estourasse o tempo. 

O atual momento e o último desfile

A X-9 não conseguiu se encontrar nos últimos anos e acumulou dois rebaixamento no Grupo Especial (Foto: Jornal SP Norte)

Desde 2006, a X-9 não consegue voltar ao desfile das campeãs via elite. Também amargou dois rebaixamentos no período em 2016 (Açaí guardiã! Do amor de Iaçá ao esplendor de Belém do Pará) e 2020 (Batuques para um rei coroado). Com a morte de Laurentino (2001) e a saída de Gaspar (2013), dois comandantes de inegável contribuição para o seu sucesso, a agremiação se viu sem força financeira e sentiu falta de uma comunidade mais presente e vibrante. Devido a esses fatores, o desempenho está bem longe dos dias de glória. Nem mesmo a técnica, que foi a marca de outrora, se mantém. Em 2020, erros em vários quesitos culminaram numa apresentação abaixo da expectativa que ainda teve um carro desacoplado, resultando numa punição de 0,5 décimos antes da apuração e selando o segundo descenso de sua história. 

Sambas marcantes

Ao contrário de outras escolas de ascensão meteórica, como Império de Casa Verde e Acadêmicos do Tatuapé, a X-9 não é uma entidade de uma grande discografia, embora tenha tido bons momentos, como os sambas de 1997 (Amazônia, a Dama do Universo), 2000 (Quem é você, Café!) e 2003 (Pi, iê, rê Jeribatiba ou Pinheiros. A deusa dos rios clama pela preservação: Se ela muda o curso, pode mudar sua história) que até hoje, são lembrados com carinho pelos sambistas. Além destes citados acima, merece destaque por aqui a homenagem a Chitãozinho e Xororó em 2005 (Nascidos para cantar e também sambar), a Arlindo Cruz em 2019 (Meu lugar é cercado de luta e suor, esperança num mundo melhor! O show tem que continuar) e o bonito e animado samba sobre o Mercosul em 1999 (Laços e Abraços no Mundo do Mercosul).

Império de Casa Verde

Pavilhão da Império e suas seis estrelas; Três representam os títulos na elite e três em grupos inferiores (Foto: Erich Marinho / Amantes do Carnaval de São Paulo)

Fundação: 27 de fevereiro de 1994

Madrinha: Camisa Verde e Branco

Títulos: 3 no Grupo Especial (2005, 2006 e 2016) 

Cores: Azul claro e Branco

Bairro: Casa Verde

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=qShIHlVwazM

A história

Fundada em 1994 por dissidentes do Unidos do Peruche, a Império de Casa Verde surgiu desde o princípio com muita força, devido ao patronato do bicheiro Chico Ronda. A escola em nove anos estava no grupo principal e com doze era bicampeã na elite. Atualmente, tem três títulos no Grupo Especial. 

Entre 1995 e 1998, subiu de divisão por quatro anos seguidos, chegando ao Grupo de Acesso em 1999. O Tigre permaneceu na segunda divisão do samba por quatro anos, até conquistar a ida para a elite em 2002 sendo vice-campeã no Acesso. Estreou no Especial em 2003, chamando a atenção pela grandiosidade e o luxo de seus carros, algo incomum para uma agremiação estreante. Mesmo assim, o primeiro resultado não foi bom. Com um décimo primeiro lugar, ao lado do Águia de Ouro, esteve envolvida em uma polêmica, que resultou na última virada de mesa do Carnaval Paulistano.

Com a controversa permanência na elite garantida, nos anos seguintes, virou potência. Com carros enormes, fantasias luxuosas e temas diferentes do habitual até então, a Império viveu um período de ouro entre 2004 e 2009. Foram dois títulos, em 2005 (Brasil: Se Deus é por nós, quem será contra nós?) e 2006 (Do Boi Místico ao Boi RealDe Garcia D´Ávila na Bahia ao NeloreO Boi que come capimA Saga pecuária no Brasil para o Mundo) e outros três retornos (2004, 2007 e 2009) entre as cinco melhores em um intervalo de seis anos.

A partir de 2010, a Império entrou numa fase mais modesta de desfiles e resultados. Com enredos patrocinados e sem a empolgação de outrora, se tornou coadjuvante do grupo e participou lamentavelmente como protagonista, da confusão de 2012. Em 2016, com a chegada do carnavalesco Jorge Freitas, voltou a ser forte e ganhou o Carnaval novamente. O artista que assinou três apresentações entre 2016 e 2018 resgatou a auto-estima do Tigre e mostrou o quão forte pode ser essa comunidade.

Desfiles notáveis

A Império, apesar da pouca idadesão apenas vinte e seis anosé uma escola marcante na Era Anhembi. Por vários anos chamou a atenção com sua imponência, especialmente entre 2003 e 2009. Na estreia, com o enredo sobre Nhô João (Nhô João, Preto Velho Milagreiro e Profeta de Todos os Deuses, lá pelas bandas do Cafundó), a apresentação ficou marcada pela grandiosidade incomum para uma estreante. Nos anos seguintes, todas as apresentações até 2009 são marcantes. Em 2004 (O Novo Espelho de Narciso. Um Delírio Sobre os Heróis da Mitologia Paulistana), delirou ao falar de São Paulo. No ano seguinte, uma crítica (Brasil: Se Deus é por nós, quem será contra nós?) irreverente sobre o mundo moderno garantiu a taça. Já em 2006, (Do Boi Místico ao Boi RealDe Garcia D´Ávila na Bahia ao NeloreO Boi que come capimA Saga pecuária no Brasil para o Mundo) a história do boi garantiu o bicampeonato. No auge, em 2007, o sonhado desfile sobre os Impérios (Glórias e ConquistasA Força do Império está no salto do Tigre) redefiniu o conceito de grandeza e luxo na cidade. Já em 2008 (Sambando, cantando e seguindo a canção. Vem, vamos embora para a festa da MPB) e 2009 (É festa, é feriado, é celebração. O tigre comemora na avenida e exalta seu pavilhão. São 15 anos de paixão!) quando falou de MPB e dos feriados, também passou seu recado com competência.

Com Jorge Freitas, a Império conseguiu deixar sua marca em três ótimas apresentações. Em 2016 (O Império dos Mistérios), quando falou dos mistérios, quebrou o jejum de dez anos sem títulos. No ano seguinte cantou a paz (PazO Império da Nova Era) com muita competência e foi a que mais somou pontos contando todos os jurados. Por fim, em 2018 (O Povo, a Nobreza Real), fez uma inesquecível exibição sobre a revolução francesa, onde o luxo se uniu a criatividade proporcionando uma marcante passagem pela pista do Anhembi.

Curiosidade

Chico Ronda, patrono da agremiação que foi assassinado em 2003, teve duas homenagens explícitas nos dois anos seguintes. No samba de 2004, o verso “mistério! Tudo o que toca vira ouro, mas morre sem aproveitar” fazia alusão ao presidente que não conseguiria ver o “auge” da agremiação que montou. No ano seguinte, a última alegoria fazia referência a saudade do patrono.

O atual momento e o último desfile

Império ainda não se achou após a saída de Jorge Freitas. (Foto: Site Carnavalesco)

Após a saída de Jorge Freitas em 2018, a Império voltou a fazer desfiles de nível mediano nos últimos dois anos. Em 2020, com um enredo sobre o Líbano, mostrou força nos grandes segmentos que tem. O intérprete Carlos Júnior, o casal formado por Rodrigo Antônio e Jéssica Gioz e a bateria comandada por Mestre Zoinho brilharam no Anhembi. Faltou chão e sem dúvida nenhuma, enredo e samba melhores para obter um resultado superior ao nono lugar. A esperança por uma melhora em 2021 passa pela chegada de Mauro Quintaes, carnavalesco que estava na Dragões da Real.

Sambas marcantes 

Diferentemente da X-9 Paulistana, a Império apresentou suas credenciais de grande, baseada em uma ótima discografia. Desde que chegou a elite até 2009, construiu uma imagem de grandes sambas, formados por letras longas e melodias de variações interessantes, fazendo com que o Tigre costumeiramente defenda bem o quesito samba-enredo. Mesmo com algumas obras menos inspiradoras em alguns anos, como em 2012 (Na ótica do meu Império, o foco é você!) e 2015 (Sonhadores do mundo inteiro: uni-vos!), o conjunto da obra é bem positivo. Os principais destaques dessa discografia, são as trilhas de 2003 (Nhô João, Preto Velho Milagreiro e Profeta de Todos os Deuses, lá pelas bandas do Cafundó), 2005 (Brasil: Se Deus é por nós, quem será contra nós?), 2007 (Glórias e ConquistasA Força do Império está no salto do Tigre), 2008, (Sambando, cantando e seguindo a canção. Vem, vamos embora para a festa da MPB), 2016 (O Império dos Mistérios) e 2019 (O Império contra-ataca) onde a riqueza melódica de cada obra chama a atenção, especialmente por contemplar letras de muito refino.

Águia de Ouro

Pavilhão do Águia de Ouro já com sua estrela de campeã do Grupo Especial

Fundação: 9 de maio de 1976

Madrinha: Nenê de Vila Matilde

Títulos: 1 no Grupo Especial (2020) e 3 no Grupo de Acesso (1998, 2009 e 2018)

Cores: Azul, Ouro e Branco

Bairro: Pompeia

Hino e exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=PTGbaMcdtzo

A história

Fundada em 1976, a escola é oriunda de um time de futebol chamado “Faísca de Ouro”. Dos fundadores originais, a grande maioria segue presente até os dias atuais na agremiação, sendo que Sidnei Carrioulo, um dos presentes na fundação, é o atual presidente. O Águia tem uma taça do Grupo Especial.

Estreou nos desfiles em 1977 (A Bahia de Jorge Amado). Chegou ao Grupo de Acesso pela primeira vez em 1980 (Raízes da Amizade). A partir disso, (até 1998), demorou para se firmar como integrante do Grupo Especial. Foram poucas participações na elite nesse período e uma grande gangorra em resultados. Em 1999, com a ampliação do grupo que até então tinha dez agremiações e depois passou a ter catorze, o Águia soube se aproveitar disso para, enfim, se estabelecer na elite. Com enredos extravagantes, causava choque em suas apresentações. Os resultados quase sempre foram de meio de tabela, mas o povo da Pompeia passou a ser aguardado. Um dos momentos que mais causou polêmica nesse período foi o de 2006. Falando sobre a Pedofilia (Não tem Desculpa!), a escola tratou do assunto de maneira séria, leve e carnavalesca, surpreendendo o samba paulistano. A azul e branco terminou em sétimo lugar, melhor posição de sua história até então.

Além disso, sua bateria de alto nível também chamava atenção com enorme destaque para a apresentação de 2007 (Deus fez o homem de barro e a Águia de Ouro… o Brasil Feito a Mão), onde o público foi a loucura com um show dos comandamos de mestre Juca. Em 2008 (A taça da Felicidade, Uma Viagem pelos Sentidos às Delícias do Sorvete), falou do Sorvete e foi rebaixada pela primeira vez em dez anos. A partir desse rebaixamento, a Pompeia começou a traçar um caminho que a fez mudar de patamar nos anos seguintes. Com grandes desfiles, como em 2011 (Com todo gás a Águia de Ouro é fogo), 2013 (Minha missão. O canto do povo. João Nogueira) e 2014 (A velha Bahia apresenta o centenário do poeta cancioneiro Dorival Caymmi), o Águia se afirmou mais do que uma escola de Especial, entrando definitivamente para o grupo das grandes. O auge, até então, tinha sido em 2013, onde falando de João Nogueira, a azul e branco teve a maior pontuação do júri, perdendo a taça pelo estouro do tempo.

Desfiles notáveis

O Águia de Ouro construiu sua história com apresentações ousadas e impactantes. Na Era Anhembi, o primeiro grande choque causado pela Escola da Pompeia veio em 2000 (A imagem e semelhança dos Deuses: Terra Brasilis) onde causou polêmica com a Igreja Católica. No Carnaval temático sobre a cidade de São Paulo a agremiação homenageou Ana Maria Braga (Sou mais São Paulo… Ana Maria Braga conta os 450 anos da culinária paulistana) e conseguiu empolgar com seu samba-enredo. Já em 2006 (Não tem Desculpa!) e 2007 (Deus fez o homem de barro e a Águia de Ouro… o Brasil Feito a Mão), impactou de duas maneiras diferentes. No primeiro, chocou com seu enredo sobre a Pedofilia. No segundo, com o show inesquecível de sua bateria.

Já nos últimos anos, a azul e branco surpreendeu com a inesquecível apresentação sobre João Nogueira (Minha missão. O canto do povo. João Nogueira), onde apenas um estouro de tempo impediu a conquista do campeonato. No ano seguinte, novamente homenageando um músico, a agremiação exaltou a figura de Dorival Caymmi (A velha Bahia apresenta o centenário do poeta cancioneiro Dorival Caymmi) com mais um lindo desfile. Por fim, é merecido citar os anos de 2016 sobre Maria (Ave Maria cheia de faces), 2019 sobre a história do Brasil (Brasil, eu quero falar de você! Que país é esse!) e 2020 (O Poder do SaberSe Saber é Poder Quem Sabe Faz a Hora, Não Espera Acontecer) sobre a sabedoria, onde o inédito título finalmente apareceu pelas bandas da Zona Oeste.

Curiosidade

Entre 1991 e 2020, somente em um ano, o microfone principal do Águia não contou com Douglinhas ou Serginho do Porto. Em 2005, teve como voz oficial, o cantor Paulinho Mocidade, de grande sucesso no Rio na Mocidade Independente de Padre Miguel e na Imperatriz Leopoldinense.

O atual momento e o último desfile

Após anos de tentativas, o Águia de Ouro, finalmente, conquistou o inédito título do Grupo Especial (Foto: Reprodução/Facebook)

Depois do insólito rebaixamento em 2017 (Amor com amor se paga. Uma história animal!), o Águia conseguiu voltar com gás total. Em 2019 (Brasil, eu quero falar de você! Que país é esse!), conseguiu o melhor resultado de uma escola vinda do Acesso desde o Camisa Verde e Branco em 1998. Nesse ano (O Poder do SaberSe Saber é Poder Quem Sabe Faz a Hora, Não Espera Acontecer), a taça desembarcou na Pompeia. Na estreia de Sidnei França como seu carnavalesco, a azul e branco conquistou o inédito título. Com um desfile técnico, onde os quesitos foram bem defendidos, levou a taça pela primeira vez falando sobre o poder da sabedoria. 

Sambas marcantes

O Águia de Ouro é uma escola de poucos grandes sambas em sua história, mas construiu uma marca de ousadia em suas composições. Praticamente todas as obras que compõem sua discografia possuem surpresas e, acima de tudo, estilos variados. As principais trilhas estão em anos bem pontuais. Em 1984, com Royce do Cavaco como intérprete, cantou com muita competência a história do Teatro (Mil vidas, o Teatro Através dos Tempos). No ano de estreia do Anhembi, em 1991, a saga dos italianos com uma emoção pra lá de inesquecível (São Paulo, Pátria mia).

Já no século XXI e afirmada no Grupo Especial, conseguiu inesquecíveis apresentações com grandes sambas em 2007 (Deus fez o homem de barro e a Águia de Ouro… o Brasil Feito a Mão), 2013 (Minha missão. O canto do povo. João Nogueira) e 2016 (Ave Maria cheia de Faces). O Águia, sem dúvida, tem uma discografia de poucas grandes obras, mas quando isso acontece, transcende pro além da pista, deixando sempre sua marca na história do Carnaval de São Paulo.