Bem, amigos do Sambario! Quem vos escreve é Túlio Rabelo. Nesta nova coluna, irei trazer pra vocês a história de um Concurso de Samba Exaltação ao Rio de Janeiro vencido pela Imperatriz Leopoldinense em 1977.

O Concurso, em questão, foi organizado pela RIOTUR com o propósito de descobrir novos valores, contando com a participação das 46 escolas de sambas do Rio de Janeiro (RJ), dos Grupos 1, 2 e 3 de 1977. Listado como o primeiro concurso de samba exaltação a ser realizado nesse formato (talvez o único até hoje), o público ali presente viu uma maratona de muito samba para definir quais seriam os 10 finalistas. Antes de comentar sobre os 10 finalistas, bem como o campeão, o vice e o terceiro colocado, compartilho com vocês alguns vídeos.

Primeiramente, segue uma reportagem do Fantástico, gravada direto do Teatro João Caetano, no dia em que se encerrou a fase de definição dos 10 finalistas. No vídeo é mostrado trechos da Beija-Flor (0:18), Mangueira (1:50), Mocidade Independente (3:20), e da que seria campeã Imperatriz Leopoldinense (5:04). Uma pena, que a finalista Independentes de Cordovil, do Grupo 2, foi menosprezada pela reportagem, sendo apenas citada.


Já a reportagem do Arquivo Nacional, contem um erro de divulgação no YouTube. Lá consta como se fosse de 1970, mas na verdade é de 1977. Na reportagem é detalhado o concurso, mostrando trechos da apresentação de diversas escolas de sambas e informando que a Imperatriz Leopoldinense foi a campeã, o Salgueiro vice e a Em Cima da Hora terceira colocada. Noel Rosa de Oliveira, do Salgueiro, foi escolhido como o melhor intérprete do festival. Na reportagem também é detalhado a premiação que as vencedoras levaram para casa.


A seguir, escute o LP 1º FESTIVAL DE SAMBA-EXALTAÇÃO À CIDADE DO RIO DE JANEIRO (1977) que reuniu os 10 finalistas. Confira mais abaixo, curiosidades sobre os sambas:


LADO A
00:00 - Faixa 1 - "Rio Patropi" - Imperatriz Leopoldinense (Tuninho/Guga/Sereno/Zé Catimba) - Intérprete: Tuninho
02:25 - Faixa 2 - "Aquarela do Rio de Janeiro" - Mocidade Independente (Gilson Loiola) - Intérpretes: Maika e T. B. Samba
06:26 - Faixa 3 - "Exaltação ao Rio" - Vila Isabel (Irani/Paulo Brazão/Guadalupe) - Intérprete: Barbinha
09:16 - Faixa 4 - "Rio dos meus amores" - Mangueira (Pelado da Mangueira) - Intérprete: Pelado da Mangueira
13:14 - Faixa 5 - "Este Rio que eu amo" - Em Cima da Hora (Baianinho/Chiquinho) - Intérprete: César

LADO B
16:58 - Faixa 1 - "Meu Rio de Janeiro" - Beija-Flor (Neguinho da Beija-Flor) - Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
19:40 - Faixa 2 - "Conheça o Rio" - Salgueiro (Iracy Serra) - Intérprete: Noel Rosa de Oliveira
22:35 - Faixa 3 - "Rio, convite ao turista" - Jacarezinho (Rode/Nonô/Jonas) - Intérprete: Rode
26:12 - Faixa 4 - "Cidade do Rio de Janeiro" - Independentes de Cordovil (Anelito Martins/Tatá 77) - Intérprete: As Gatas
29:39 - Faixa 5 - "Postais do Rio" - Império Serrano (Ary Lage/Jorge Lucas) - Intérprete: Fernando Madureira

Curiosidades:

Campeã: Imperatriz Leopoldinense

Vice-Campeã: Salgueiro

3º Lugar: Em Cima da Hora

Demais finalistas: Mocidade Independente, Vila Isabel, Mangueira, Beija-Flor, Unidos do Jacarezinho, Independentes de Cordovil e Império Serrano

“Este Rio Que Eu Amo” da Em Cima da Hora é o mesmo nome do enredo de 1971, quando a agremiação foi campeã do Grupo 2. Entretanto, são sambas diferentes, de compositores diferentes. O que pode indicar que o samba levado ao festival de 1977 possa ter sido um samba concorrente de 1971.

A Independentes de Cordovil surpreendeu e ficou entre as 10 finalistas com "Cidade do Rio de Janeiro", de Anelito Martins e Tatá 77. Mas o que pouca gente sabe, e que foi revelado pelo compositor André Poesia, folião da extinta agremiação, é que a Independentes de Cordovil tinha na verdade dois sambas entre os finalistas, pois a faixa “Postais do Rio” do Império Serrano tinha como um dos compositores Ary Lage, que era da Independentes de Cordovil. Ou seja, os dois sambas eram cantados na quadra da Independentes, em plenos pulmões.

Gravadora: Top Tape - Catálogo: TT-129 - Ano: 1977.

Digitalizado por Bruno Lemos Surcin e publicado por mim no canal TR - Sambas de Enredo.

Em documento disponível no Sistema de Informações do Arquivo Nacional, é possível encontrar documentos da censura referente às faixas do LP, registrados em 8, 9 e 10 de Agosto de 1977, o que nos leva a crer que tal festival ocorreu no meio do ano.

Tuninho Professor, vitorioso no concurso como compositor e intérprete ao lado de Zé Katimba, declarou ao Sambario que "foi um dos dias que viu Seu Luiz (Luiz Pacheco Drumond) mais feliz".

Finalizando esta coluna, caros leitores, me permitem analisar as obras e fazer minhas considerações sobre cada samba exaltação. Trata-se da minha opinião, não refletindo necessariamente o posicionamento do site Sambario. Darei notas entre 9 e 10.

LADO A

Faixa 1 - "Rio Patropi" - Imperatriz Leopoldinense: Samba espetacular. Curtinho, mas muito emocionante. Versos lindos, uma boa interpretação do Tuninho. Destaque para os versos “Não te afastes Rio / Dos versos que faço / Talvez sem compasso / Só pra te exaltar”. Nota: 10.

Faixa 2 - "Aquarela do Rio de Janeiro" - Mocidade Independente: Samba que merecia estar no top 3 deste festival. Não sei se é um samba que agrade a todos. Mas a mim muito encanta. Fruto, é claro, de uma excelente interpretação feminina. Destaque para os versos: “Deus... ah deixou que os séculos sonhassem / Depois pediu que acordassem / E uma paisagem linda / O olhar do tempo vislumbrou / Oh que rica aquarela / Que tela mais bela / É preciso uma festa pra marcar o esplendor”. Nota: 9,9.

Faixa 3 - "Exaltação ao Rio" - Vila Isabel: Um samba que com o tempo certamente ficou datado, com argumentos que hoje em dia já não colam tanto. Diz que não há preconceitos e que tudo é paz. Fala de progresso. Os refrões não empolgam. Os versos: “Quanto mais o progresso te aperta / Uma coisa é certa... vem a piada de novo” são sofríveis. Nota: 9,2.

Faixa 4 - "Rio dos meus amores" - Mangueira: Refrão principal (“Meu Rio tem… / Muito sol, muito calor / Meu Rio tem... / Noites lindas de esplendor”) muito gostoso de ouvir. Me surpreende o uso do termo “alcatifada” na letra, que embora de difícil canto, é interessante. Não é um samba espetacular, mas passa bem. Nota: 9,7.
 
Faixa 5 - "Este Rio que eu amo" - Em Cima da Hora: Refrão curtinho, que por mais que seja bom, não me empolgou tanto. Foi o terceiro lugar, ao meu ver, por detalhar musicalmente muito bem diversos pontos turísticos do Rio. Eu daria esse terceiro lugar para a Mocidade ou Beija-Flor, mas tá bem entregue. Nota: 9,8.

LADO B

Faixa 1 - "Meu Rio de Janeiro" - Beija-Flor: Outro samba que merecia estar no top 3 do festival. Neguinho da Beija-Flor, além de cantar, é um excelente compositor. Anos depois, ele regravou esse samba, que certamente marcou um dos momentos iniciais de sua longa carreira na Beija-Flor. Samba gostoso de ouvir. Nota: 9,9.

Faixa 2 - "Conheça o Rio" - Salgueiro: Com uma abordagem diferente dos demais sambas, este samba lista o que tá perdendo aqueles que não conhecem o Rio. Destaque para os versos: “Você... / Que ainda não conhece o Rio / É o mesmo que ter nascido / Não viveu, só vegetou”. De letra muito marcante e reflexiva, este samba podemos dizer que obriga a pessoa a ir ao Rio de Janeiro. Se você não for, não vai viver, só vegetar. Lindo, lindo! Noel Rosa de Oliveira, melhor intérprete do festival. Nota: 10.

Faixa 3 - "Rio, convite ao turista" - Jacarezinho: “Eu sou... carioca da gema / Carioca da gema do ovo / Eu canto este poema... / Para exaltar esta cidade do povo”... assim começa o samba do Jacarezinho, com um lindo refrão! O restante do samba não é tão bom, como o refrão, mas detalha bem o tema proposto. Nota: 9,7.

Faixa 4 - "Cidade do Rio de Janeiro" - Independentes de Cordovil: Muito envolvente, o refrão “O carioca tem / O carioca tem razão / Em dizer que o Rio é... / Do Brasil o coração”, certamente foi o carro-chefe para Cordovil chegar entre os 10 sambas finalistas. O restante mantém uma boa qualidade musical. Mesmo sem conhecer os sambas que não foram à final do concurso, considero justo Cordovil estar aqui. Nota: 9,8.

Faixa 5 - "Postais do Rio" - Império Serrano: Finalizando o LP, o Império Serrano apresenta um samba que não empolga tanto. Há versos bonitos aqui, sem dúvida. Mas o refrão “A carioca é brejeira / Seu olhar é feiticeiro / Tem ginga no andar / A mulata faceira” é considerado datado para a atualidade. Nota: 9,5.

Encerrando com uma polêmica vazia, podemos pedir à LIESA o reconhecimento deste título da Imperatriz como se fosse um Carnaval? Um abraço a todos!!!