PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

EDITORIAL SAMBARIO

Edição nº 10

OS SAMBAS DO GRUPO ESPECIAL DE SÃO PAULO 2008 - No ano passado, o nosso colunista João Marcos, em um de seus textos escritos para o SAMBARIO, comentou os sambas-enredo de São Paulo para 2007 (acessível aqui). As opiniões acabaram gerando uma grande repercussão entre os bambas paulistas, tanto em elogios como em críticas. Este ano, pioneiramente, eu me arriscarei a comentar as obras da Terra da Garoa para 2008. Foi muito boa a iniciativa do CD duplo com os sambas do Especial e do Acesso (sobretudo com a padronização de um estilo de gravação para todos os sambas no álbum), só uma pena que a distribuição seja restrita às quadras das agremiações paulistas. E dá para notar, na gravação, que as escolas de São Paulo estão insistindo no excesso de teclados, como ocorreu nos CD's do Rio de 1996 a 99. Cá pra nós, acho um instrumento um tanto desnecessário na execução de um samba-enredo. A gravação é cadenciada, mas ainda assim é notória a sua artificialidade, com baterias sintetizadas (embora bem mais pesadas em relação à gravação do CD carioca). O CD ainda conta com a participação de Quinho nos cacos do samba da Vila Maria, além de Belo, que divide os vocais do samba do Império de Casa Verde com Bruno Ribas. Este ano teremos, além de enredos históricos e em homenagem a personalidades, também temas inusitados, como o cabelo a ser exaltado pela Camisa Verde e Branco, de volta ao Grupo Especial, e o sorvete, que já é um enredo curioso, e se torna ainda mais pelo fato de ser desenvolvido por duas escolas: Águia de Ouro e Acadêmicos do Tucuruvi. Os destaques da safra de São Paulo, que não possui nenhuma obra-prima mas também não tem aquele dito boi-com-abóbora, são os sambas de Império de Casa Verde, Nenê de Vila Matilde e Camisa Verde e Branco. A tradicional característica dos refrões alusivos nas agremiações de São Paulo, que procuram apenas exaltar a figura da escola sem citar o enredo, permanece com toda a força. NOTA DA GRAVAÇÃO: 7 (Marco Maciel).

MOCIDADE ALEGRE - A introdução da faixa lembra o início do samba do Império Serrano de 1999 no CD. Para exaltar São Paulo, a atual campeã do carnaval paulista aposta numa obra de boa qualidade, cuja principal característica é a sua funcionalidade. Na primeira parte, o tom menor prevalece, e do refrão central até o fim da segunda parte o lirismo toma conta, dando gancho para a explosão no bom refrão principal, apesar de ser um tanto difícil digerir a falsa rima "emoção/bom", a última a fim de enfatizar o título do enredo. Mas a Mocidade vem com um bom samba, muito bem defendido pelo intérprete Clóvis Pê, de volta ao carnaval paulista após defender a Caprichosos nos últimos dois carnavais. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Marco Maciel).

VILA MARIA - Para falar do centenário da Imigração Japonesa, a Unidos de Vila Maria aposta numa obra com refrões fortes e de excelentes variações melódicas principalmente na segunda parte. A escola conta com um reforço de peso na gravação do CD, que é a presença do irreverente Quinho soltando seus famosos cacos, enquanto Fernandinho canta o samba-enredo. O tema está gerando bons sambas, já que no Rio de Janeiro a Porto da Pedra também vem com uma bom obra. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Marco Maciel).

VAI-VAI - A escola da Bela Vista trará um enredo abstrato para o Anhembi, estilo bastante corriqueiro nas agremiações virtuais com a clássica mensagem de acreditar no ideal para ter um mundo melhor. O conjunto melódico do samba é todo feliz, tendo como bandeira o seu lirismo, presente em toda a obra. A primeira parte é formidável, bem como o seu valente refrão principal. Excelente no CD a atuação do intérprete Carlão, um dos melhores da atualidade no carnaval paulista. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel).

ÁGUIA DE OURO - Uma das duas agremiações a falar sobre o sorvete no Anhembi em 2008, parece que os compositores da Águia sofreram para fazer um bom samba sobre o tema. A letra possui muitos clichês, com o excesso de rimas terminadas em "ar", e por isso a escola aposta na melodia repleta de trechos em tom maior, explorando os agudos do intérprete Serginho do Porto, que está desde 2002 na Águia e sempre costuma cumprir expediente duplo no carnaval, cantando também no Rio (defenderá a Estácio no Acesso e será apoio de Quinho no Salgueiro). Embora eu considere um tanto "trash" a participação de crianças numa gravação de samba-enredo, até que o coro infantil cumpre um bom papel no final da faixa entoando a melhor parte do samba em termos melódicos (a partir de "Voltar a ser criança e ter a emoção"). A limitação do tema obrigou a escola a fazer um refrão alusivo sem nenhuma relação com o enredo, embora hoje isso seja corriqueiro até nos mais ricos temas. NOTA DO SAMBA: 8,6 (Marco Maciel).

IMPÉRIO DE CASA VERDE - A introdução do samba no CD com um piano é um tanto esquisita, já que não é comum o instrumento numa gravação de samba-enredo (embora apareça também no fim da faixa da Gaviões). Mas Bruno Ribas, outro que cumprirá duplo expediente no carnaval defendendo também a Mocidade no Rio, tem uma segura intepretação neste belíssimo samba, de letra inspiradíssima pra falar sobre a música brasileira citando títulos e trechos de vários clássicos da MPB, com melodia que varia muito bem trechos em menor (que dominam o samba) e maior. O samba-enredo, que apresenta uma raríssima estrutura de refrão central ausente, até pode parecer um pouco arrastado para uma escola que fechará os desfiles no Sambódromo do Anhembi (daí o seu único refrão "Vem comigo ver o sol nascer..."), mas ainda assim é espetacular graças ao seu lirismo, à sua poesia e também às interpretações de Bruno e de Belo que, mesmo eu tendo uma particular aversão ao estilo de samba romântico que o ex-vocalista do Soweto costuma trabalhar, consegue fazer um bom trabalho na gravação de um samba-enredo. Vale lembrar que, na gravação do samba de 1999 da Beija-Flor ao lado de Neguinho, Belo também não compromete. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Marco Maciel).

ROSAS DE OURO - Com um samba de três refrões, a escola traz um enredo sobre o perfume, que condiz bem com o seu nome. Com boas variações melódicas, alternando bem tons maiores e menores, o samba-enredo da Rosas apresenta características bem funcionais, o que pode ser fundamental para um bom desfile. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Marco Maciel).

NENÊ DE VILA MATILDE - O melhor samba-enredo do carnaval paulista em 2008. De melodia gigantescamente valente e com magistral interpretação do veterano Royce do Cavaco, a agremiação de Vila Matilde traz uma obra com excelentes variações, refrões fortíssimos, e tem, sem dúvida, seu melhor momento no trecho "Que som é esse/que cadência diferente/protegida pelos Deuses/me responda quem vem lá", gancho para a apoteótica explosão "Eu sou Nenê". Excelente samba-enredo! NOTA DO SAMBA: 9,6 (Marco Maciel).

TOM MAIOR - O samba possui uma excelente primeira parte e um refrão central formidável, para mim o melhor estribilho do carnaval paulista de 2008 ("O grão-café selou..."). A segunda parte e o refrão principal valorizam o nome da agremiação, ou seja, possuem trechos em "tom maior" bem executados pelos agudos do intérprete Renê Sobral. Bom samba! NOTA DO SAMBA: 9,2 (Marco Maciel).

ACADÊMICOS DO TUCURUVI - Mais uma escola que falará sobre sorvete. Primeiramente, é de se espantar a semelhança vocal do intérprete Freddy Vianna com Wander Pires. Assim, é fácil deduzir que os tons maiores e agudos prevalecem no samba do Tucuruvi, que é mais inspirado do que o da Águia de Ouro, pois tem letra mais descritiva, contando a história do sorvete, desde sua criação na China até sua chegada ao Brasil, embora a melodia em alguns momentos deixe a desejar. O refrão principal é bom, o central não causa tanto impacto, mas o samba parece ser bom o suficiente para falar sobre o tão inusitado (porém onipresente) tema. NOTA DO SAMBA: 8,7 (Marco Maciel).

X-9 PAULISTANA - A X-9 canta um samba de letra coloquial e variações melódicas interessantes, com os trechos em tom menor prevalecendo durante toda a obra (apenas no refrão central o agudo se sobressai), cujo enredo fala sobre os perigos dos mau tratos à natureza. A interpretação de Daniel Collête é correta. NOTA DO SAMBA: 8,9 (Marco Maciel).

PÉROLA NEGRA - A escola traz um samba valente, mas de melodia retilínea em alguns momentos, com algum destaque para os últimos versos da segunda parte. Samba-enredo discreto! NOTA DO SAMBA: 8,8 (Marco Maciel).

MANCHA VERDE - O samba-enredo da Mancha é defendido por Waguinho, ex-Unidos da Tijuca e São Clemente, e que está há alguns anos na agremiação palmeirense. A obra é boa, com competentes variações melódicas e alternando bem tons maiores e menores, e com dois bons refrões, sobretudo o principal que é de bastante explosão. Destaque para a constante participação do acordeon na faixa. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Marco Maciel).

GAVIÕES DA FIEL - A escola corintiana está de volta ao Grupo Especial, onde tenta permanecer e espantar a má fase que perdura desde o acidente com o carro alegórico no catastrófico desfile de 2004. O samba cantado pelo intérprete Ernesto Teixeira é competente, com boas variações sobretudo na segunda parte, características funcionais e bons refrões. O hino corintiano ainda é tocado no teclado no final da faixa. NOTA DO SAMBA: 9 (Marco Maciel).

CAMISA VERDE E BRANCO - Num samba-enredo envolvente, de dois refrões extraordinários e as demais partes de melodia que alia com categoria lirismo e valentia, a Camisa, uma das mais tradicionais agremiações do carnaval paulista, traz uma das melhores obras do ano após ficar um ano no Grupo de Acesso em 2007. Apesar dos dois refrões serem alusivos, sem relações com o enredo, a letra fala bem sobre o cabelo, tema que a Unidos do Cabuçu também utilizou no Acesso em 1999. Excelente samba, bem como a atuação do intérprete Celson Mody. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Marco Maciel).

Os sambas podem ser escutados através do site www.spcarnaval.com.br (onde consta também as respectivas letras) ou baixados através deste link. O SAMBARIO deseja a todos um Feliz Carnaval!