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PUNINDO QUEM DEVE PUNIR Recebi a lista de jurados do carnaval do Grupo
Especial do Rio de Janeiro. Muitas modificações. Partindo da
suposição de que há lisura no julgamento, a renovação do
júri é sempre interessante porque muda as regras do jogo.
Seguir o modelo vitorioso no passado não é garantia de sucesso
- e isto é muito bom. O que me incomodou nisso tudo foi o método
utilizado. As escolas indicaram os nomes que deveriam ser
cortados. É hora da vingança – deu nota 9,5 para mim? Não
quero saber se seu julgamento foi correto. Fora! No primeiro
artigo aqui no SAMBARIO, analisei os jurados de samba-enredo. Os
dois que eu classifiquei como “bonzinhos” ficaram. O
melhor dos quatro jurados, o músico Ruy Mauriti, provavelmente
foi cortado por uma das escolas que apresentaram sambas horrendos
e, de forma justíssima, receberam notas baixas. Então, meus amigos, preparem-se – este será
o carnaval do 9,8, 9,9, e (muitos) 10,0! Quem quiser julgar
separando o joio do trigo será punido. Tem de nivelar todo
mundo, tentar agradar todas as escolas. O resultado fica
imprevisível. Tudo pode acontecer, uma vez que a diferença
entre as notas tende a cair com o medo dos jurados de perderem
seus “postos”. E o resultado pode ficar na mão de um
jurado doido, tipo o “Bafo de Bode”, que resolver sair
detonando as escolas a seu bel prazer, sem qualquer critério
técnico. O pior de tudo, porém, é ver a coisa ser
nivelada por baixo. Um samba ruim terá notas semelhantes a um
samba de boa qualidade. A conseqüência é que, sem sofrer o
ônus pelas escolhas mal feitas, as escolas continuarão fazendo
das disputas o verdadeiro circo de horrores dos últimos anos,
onde as nefastas “firmas” reinam e impedem a evolução
do gênero, impondo suas fórmulas de “sucesso”. Ou,
pior, onde panelas impõem vitórias com base em influência
extra-samba – inclusive, do tráfico. Ou seja, sendo a renovação do júri feita dessa
forma, com relação ao quesito samba-enredo, perdeu-se uma
grande oportunidade de sacudir os compositores e as escolas,
exigindo que os mesmos busquem a qualidade. Esses jurados, com
medo, vão dar nota alta para todo mundo. Portanto, é só manter
o esquema, rapaziada, que a vitória nas eliminatórias de
samba-enredo vai estar garantida. ***** O SAMBARIO se dedica aos Sambas-Enredo das escolas
do Rio de Janeiro. Porém, o amante de samba-enredo não pode
deixar de acompanhar o que está acontecendo nos outros lugares
do Brasil. Em razão disso, aproveitando que estamos próximos do
carnaval, falaremos um pouco sobre os sambas enredos de outro(a)s
estados/cidades. A idéia é aproveitar a visibilidade do site
para traçar um pequeno panorama do gênero no Brasil todo. Em mãos, tenho o CD de São Paulo de 2007. É um
CD caótico porque a produção é totalmente descentralizada,
sendo cada faixa produzida pela própria escola. Se por um lado
isso atrapalha a unidade do produto, por outro o torna menos
monótono. A qualidade da produção varia bruscamente de faixa
para faixa. A maioria das escolas optou por encher suas
gravações com fru-frus desnecessários. Uma tendência que vem
se consolidando, e que me preocupa muito, é a dos intérpretes
cantando os sambas como se fossem “pagode mauricinho”,
o que acaba tirando a força das obras. Entretanto, é
interessante notar que os compositores de São Paulo estão
arriscando muito mais do que os do Rio - errando muito, mas
também apontando caminhos interessantes para o gênero. Uma pena
o samba da Gaviões da Fiel, rebaixada ano passado, não estar no
CD - é o melhor do ano. Mais lamentável ainda é o encarte do
CD, horroroso. NOTA: 5,0. IMPÉRIO DA CASA VERDE – A atual bicampeã do carnaval
paulista tem um samba com muita pegada e um belo refrão de
cabeça. A letra, entretanto, é pobre e confusa, resumindo de
forma bruta a sinopse. Não tem qualquer poesia. Os tópicos
abordados no enredo, sobre os Impérios ao longo da história,
são jogados sem muito critério. Os compositores, inclusive,
utilizaram expressões como “dando um salto para tal lugar”
para tentar conectar os assuntos. Vários versos soam esquisitos
pela forma como o conteúdo da sinopse foi transformado VAI-VAI – O enredo de Chico Spinoza, sobre os três
reinos naturais e o quarto reino – o do absurdo – gerou
um samba burocrático, que causa indiferença em sua totalidade.
Vaguinho, intérprete da escola, não consegue trazer qualquer
sentimento. Passa em branco no CD. NOTA: 7,6. MOCIDADE ALEGRE – O melhor samba do ano VILA MARIA – Este samba vem sendo injustamente tachado
de trash por causa do refrão de cabeça, em especial pelo verso
“Advinha quem é? Vila Maria!”. Apesar de não ser
grande coisa do ponto de vista técnico, o samba não é trash -
é bem interessante e ousado. A letra tenta ser poética, mas em
momentos soa forçada e vazia – dificilmente seria diferente
já que o enredo é Cubatão. Pelo menos, não tenta vender
pacote turístico, como geralmente ocorre nos enredos desta
linha. A produção da faixa é um meio bizarra e precária.
Interessante é que parte do samba é cantada por Baby, um dos
poucos intérpretes de São Paulo que canta com personalidade,
sem frescura, e a outra parte por Fernandinho. O samba acaba
ficando esquizofrênico, parece uma colagem de gravações
totalmente diferentes. Acredito que, por incrível que pareça,
isso tenha dado uma energia estranha e viciante ao samba.
Destaque para o refrão do meio, que é levíssimo, totalmente
diferente do restante da obra. NOTA: 8,6. ROSAS DE OURO – Uma das produções mais cheia de
fru-frus do CD, com teclados e efeitos sonoros de todas as
espécies. O enredo sobre a “Mãe Terra” gerou um samba
com algumas variações melódicas interessantes e, infelizmente,
extremamente mal exploradas pelos compositores. A letra acaba
travando o samba. É um samba que não é inferior ao de 2006,
mas não pode ser comparado a “Mar de Rosas” e outros
clássicos da escola, uma das maiores fábricas de grandes sambas
de São Paulo. Este fica devendo. NOTA: 7,5. X-9 PAULISTANA – Bom samba, com variações
melódicas ousadas, apesar dos refrões burocráticos. A letra é
bonita apesar de não passar bem o enredo. Lamento que o
intérprete, muito limitado, não tenha valorizado partes do
samba que mereciam uma interpretação com mais força e
sentimento. NOTA:
8,5. ÁGUIA DE OURO – Com Serginho do Porto no
microfone, a escola vem com um samba ousado. Aliás, é uma das
escolas mais ousadas de São Paulo. De cara, temos dois refrões,
um ligado ao outro. A melodia tem variações arrojadas. A letra
é simples, conta o enredo sem grandes pretensões. É quase o
oposto do samba da Mocidade Independente de Padre Miguel, que tem
enredo semelhante. NOTA: 8,2. TUCURUVI – Esse samba é a prova de como o
intercâmbio entre o carnaval de São Paulo e o do Rio é
prejudicial para todo mundo em termos de samba. Parece que estou
escutando o samba da Mocidade Independente. A chatice é a mesma.
Até a voz do intérprete é a mesma, com aquele estilo de cantar
meio de cantor de pagode, meio de Wander Pires. Comparado ao da
Mocidade, este aqui flui melhor, mas não tem qualquer trecho que
sobressaia. NOTA:
7,4. TOM MAIOR – É um samba interessante, mesmo tendo de
refletir um enredo árido e panfletário. Se for levado na
cadência correta, é o que tem melhores condições de dar
“caldo” no Anhembi. Tem variações melódicas muito
bem pensadas e desenvolvidas e só peca quando incorpora traços
de pagode mauricinho. Infelizmente, o intérprete é mais um
imitador de Wander Pires. Mesmo assim, é uma das faixas mais
agradáveis do CD. NOTA: 9,1. PERUCHE – O grande problema do samba perucheano é
que o tratamento dado ao enredo, sobre Maurício de Souza, é
muito parecido com os da Cabuçu do final dos anos NENÊ DA VILA MATILDE – Talvez seja o samba que melhor
sintetize as características do samba-enredo de São Paulo
dentre os da safra de 2007. É um samba leve, alegre, com
andamento acelerado e estrutura incomum. São cantados
seguidamente os dois refrões principais - o que apresenta a
escola e o da comemoração dos setenta anos da Rede
Bandeirantes. Depois, o samba fala de João Jorge Saad quase que
de uma tacada só, com um refrão curtíssimo no meio. Apesar de
alguns erros de técnica – o mais claro é o erro de
métrica na entrada do refrão de cabeça “São 70 anos de
tradição... no ar” – o samba é um dos que mais me
agrada justamente por ser ousado, mas não ter a influencia
negativa do pagode mauricinho que prejudica muito os
sambas-enredo de São Paulo. Destaque para o intérprete da
escola, o excepcional Royce do Cavaco, um dos mais importantes da
história do carnaval da terra da garoa. NOTA: 9,0. MANCHA VERDE – A escola fez um desfile emocionante em
2006, quando cantou um enredo sobre os injustiçados.
Interessante notar que a escola foi injustiçada também ao longo
da preparação de seu carnaval, quando teve de enfrentar
uma série de problema para desfilar, desde um imbróglio
judicial absurdo (que acabou excluindo-a da competição no Grupo
Especial) até um incêndio que destruiu dois de seus carros, que
já estavam estacionados nas proximidades do Anhembi. Os
componentes cantaram com garra e desfilaram como poucas vezes se
viu, embalados pelo belo samba da escola. Para IMPERADOR DO IPIRANGA – O samba é fraco e passaria em
branco no CD se não fosse por um detalhe – o refrão de
cabeça é IDÊNTICO ao do samba da Portela deste ano. Os autores
não são os mesmos – pelo menos, oficialmente. Será
coincidência? Não sei. Todo mundo é inocente até que se prove
o contrário. Entretanto, fica um “gosto ruim na boca”,
principalmente levando-se em conta a verdadeira farra das
parceiras clandestinas e das firmas no carnaval. Tais firmas
estão saindo do Rio e invadindo outros centros, na sua busca
incessante por vitórias, esmagando o talento dos compositores
locais. Enfim, seja qual for a razão dos refrões dos dois
sambas serem iguais, o fato é que este refrão é a única coisa
que presta no samba, que é sonolento, indigente e lamentável em
todos os aspectos. NOTA: 5,9. PÉROLA NEGRA – O enredo de Jorge Freitas,
ex-carnavalesco da Portela e responsável por “Gosto que me
enrosco”, sobre o comércio, deu origem a um samba que segue
bem a fórmula utilizada pela maioria das escolas de São Paulo
nos últimos anos – tom menor, um refrão de cabeça sem
ligação com o enredo, duas partes separadas por um refrão
longo e sem força, sendo a primeira com mais pegada e a segunda
mais melódica. É uma pena porque se percebe, principalmente na
primeira parte, variações melódicas interessantes. Na segunda
parte, os versos “Quem quer comprar...eu vou vender / Só
não vendo meu amor, jóia rara por você” poderia ter sido
um refrão muito mais interessante dos que o que o samba
efetivamente apresenta. As estruturas rígidas que as escolas
impõem aos compositores acabam os levando o a não valorizar
aspectos que tornariam os sambas muito mais interessantes. Mesmo
assim, este é bem razoável e fecha relativamente bem o CD. NOTA: 8,3. Abraços a todos! João
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