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RETROSPECTIVA DO CARNAVAL 2022 – PARTE 2: O CARNAVAL DA VOLTA, DA QUEDA DE TABUS E DE BOAS NOVIDADES
 
   
RETROSPECTIVA DO CARNAVAL 2022 – PARTE 2: O CARNAVAL DA VOLTA, DA QUEDA DE TABUS E DE BOAS NOVIDADES

22 de dezembro de 2022, nº 72

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O carnaval da vida. O carnaval da vitória. O carnaval do reencontro. O carnaval da volta. Chame você como quiser, o que importa é o momento: o carnaval voltou! Ainda que tenha sido dois meses após o planejado, como mostramos no primeiro capítulo, o espetáculo não deixou de ser tão brilhante quanto aqueles das datas tradicionais. A volta das escolas de samba aos principais sambódromos do país após dois anos é, sem dúvida, o grande momento do carnaval em 2022. Uma festa que poderia ser ainda maior não fosse o cancelamento dos desfiles de Santos, Uruguaiana, Florianópolis e Belém. O carnaval do retorno que trouxe de volta o brilho, a alegria e em suas campeãs reservou quebra de tabus e consolidações. Como vamos relembrar a partir de agora na segunda parte da retrospectiva do carnaval de 2022 aqui neste espaço.



Exu é quem abre caminho pra cair tabu

O carnaval carioca em 2022 pode ser definido em uma expressão: Exu venceu. O Ifá das entrelinhas do enredo “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu” dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora guiou o Acadêmicos do Grande Rio, aos 33 anos e 5 meses de vida, para um desfile impecável de ponta a ponta que entraria na galeria de grandes apresentações do século na Sapucaí e terminaria na conquista do tão sonhado inédito título para a escola de Caxias. A taça que poderia ter ido pra Beija-Flor, que mostrou um desfile imponente mas teve problemas com destaques em uma alegoria. Poderia ter sido da Viradouro (e seu samba-carta que dividiu opiniões, mas gabaritou o quesito) que prometeu muito e entregou abaixo do esperado. Talvez seria da Vila Isabel, que homenageando Martinho promoveu um encerramento apoteótico.

Mas a taça de campeã, que por vezes hesitou e chegou perto por 4 vezes, finalmente tomou o caminho da Rua Almirante Barroso número 5. Grande Rio campeã com 269.9 pontos, 0.3 a mais que vice Beija-Flor. Viradouro, Vila Isabel, Portela e Salgueiro fecharam o grupo das seis primeiras, deixando Mangueira (em sétimo) e Mocidade (em oitavo, com um desfile repleto de problemas) de fora das campeãs. Considerada uma das postulantes a ficar entre as seis, a Tijuca repetiu o nono lugar de 2020, ficando a frente de Imperatriz e Tuiuti. Com uma problemática apresentação sobre a vida do humorista Paulo Gustavo (1978-2021), a São Clemente terminou em décimo segundo lugar e acabou rebaixada, deixando o Grupo Especial após 11 anos.

Caxias enfim sorriu. Fazendo da terra um templo de fé. No toque da macumba. Exu venceu.



A Barca dos Exus, abre-alas do desfile campeão da Grande Rio (Foto: Cláudio Carvalho/Sambario)



Na patente de Ogum… mas sem fugir das faíscas

Além do bom espetáculo, o que não faltou na Série Ouro foi polêmica. É claro que a depender do que foi visto na pista e somente nela, o Império Serrano e seu Mangangá teve todos os méritos pra conquistar o título e o acesso de volta ao Grupo Especial após 3 anos de ausência. Porém, ah porém, as críticas ao julgamento foram a milhão, do inexplicável sétimo lugar da Unidos de Bangu (e o refrão-chiclete “Vai dar Bangu na cabeça”) a despeito de todos os problemas que a alvirrubra enfrentou no desfile aos ainda mais inexplicáveis rebaixamentos de Santa Cruz e Cubango, de apresentações bem superiores – União de Jacarepaguá e Arranco, vencedoras da Série Prata, ocupam os respectivos lugares. Onde há faísca, há fogo.

Teve polêmica antes, durante e também depois: em setembro, sem muitas explicações, a Acadêmicos do Sossego (sexta colocada) se despediu do carnaval carioca ao ceder seus direitos de desfile para a novata Acadêmicos de Niterói – que repatriou, digamos assim, todos os segmentos da antiga escola, dos símbolos à diretoria.

A Série Ouro em 2022 passou no modo “se entra no jogo é pra incendiar”.



O desfile campeão do Império Serrano na Série Ouro (Foto: Cláudio Carvalho/Sambario)



Água de benzer, purificar...


No Anhembi, a taça foi verde de novo. Em mais um julgamento que criticado de ponta a ponta – graças a mais um show de notas dez, a Mancha Verde levantou o segundo campeonato embalado no enredo “Planeta Água”. A escola empatou em pontos (269.9) com Mocidade Alegre (e a homenagem à Clementina de Jesus), Império de Casa Verde (e o controverso enredo sobre a comunicação e o influenciador Carlinhos Maia) e Tom Maior (com O Pequeno Príncipe no Sertão) e superou-as nos critérios de desempate. A Vila Maria fechou em quinto lugar, completando o grupo das campeãs e deixando de fora a então defensora do título Águia de Ouro (em sexto). Considerada uma das favoritas ao campeonato, o Rosas de Ouro terminou em nono lugar. Penalizada em 0,5 por conta do uso de uma empilhadeira, o Tatuapé escapou do rebaixamento por dois décimos. Também punida em meio ponto, mas por uso de merchandising, a Colorado do Brás não teve a mesma sorte: foi rebaixada em décimo terceiro para o Acesso junto do Vai-Vai, décimo quarto.

No Acesso I, a Estrela do Terceiro Milênio conquistou o título e o direito de estrear na elite do samba paulistano em 2023 com um enredo que homenageou as mulheres sambistas. Sem estar entre as favoritas, a Independente Tricolor surpreendeu ao ser vice-campeã e garantir o retorno ao Especial. Última colocada, a Leandro de Itaquera foi rebaixada para o Acesso II, dando lugar à Nenê de Vila Matilde, que venceu o terceiro grupo com a reedição do clássico “Narciso Negro”.



O desfile campeão da Mancha Verde (Foto: Felipe Araújo/LigaSP)



Taça nas bençãos de Santo Antônio

A bênção! Conceda meu último pedido / A sétima estrela em meu pavilhão / Soltar o grito: é campeão”. E o pedido foi atendido: 33 anos depois, a taça de campeã do desfile capixaba voltou a tomar o caminho do bairro de Caratoíra. Com um desfile de muita fé, a Novo Império conquistou o título do carnaval de Vitória (o primeiro a ser realizado depois da pausa de 2 anos) e quebrou a hegemonia de MUG e Boa Vista, que desde 2010 monopolizavam os troféus dos desfiles no Sambão do Povo.



Imperiano, matuto, versador: o desfile campeão da Novo Império (Foto: Sim Notícias)



Minidesfiles: chegaram pra ficar

Formato consagrado em terras paulistas há quatro carnavais, os minidesfiles chegaram com tudo ao Rio de Janeiro. No Grupo Especial, a Cidade do Samba foi palco das duas edições tanto da Abertura Rio Carnaval (em fevereiro e no início de dezembro) quanto do lançamento do CD da Série Ouro, há quase duas semanas. É um formato que, com os devidos ajustes, tende a melhorar.



Boas (e velhas) novidades

Na tela da TV, no meio desse povo, o carnaval ganhou seu destaque nos canais abertos. A Globo exibiu entre 12 de novembro e 17 de dezembro a segunda temporada do “Seleção do Samba” com um novo formato, agora apresentado por Milton Cunha, mostrando de forma mais documental os bastidores das agremiações e de suas escolhas de samba. Antes, a emissora reprisou um episódio da temporada passada no fim de semana de carnaval. Por outro lado, a Band estreou o programa “Samba Coração”, apresentado por Evelyn Bastos e Selminha Sorriso, com direção de Caíque Nogueira e roteiro de Aydano André Motta, que é exibido nas tardes de sábado desde o dia 10 para os telespectadores fluminenses. A emissora do Morumbi, aliás, fechou acordo para transmitir os desfies da Série Ouro em 2023, substituindo a Globo - que para renovar o contrato com a LigaSP (que chegou a negociar com o canal dos Saad) aceitou a exigência de transmitir os desfiles no Anhembi para toda rede, inclusive o Rio de Janeiro, deixando o Acesso carioca sem espaço na grade após 10 anos.



Samba Coração: programa que a Band exibe para o Rio de Janeiro (Foto: Sergio Bittencourt)



O samba também chorou

Nem só de alegrias vive um samba. O coração se parte quando um de nós vai embora. Em 2022, o carnaval se despediu dos intérpretes Bakaninha (tido como sucessor de Neguinho da Beija-Flor e que partiu precocemente num acidente automobilístico enquanto voltava de um ensaio da escola), Grillo (voz marcante da Unidos da Ponte nos anos 80 e 90) e Edson Bombeiro (cantor do Império da Tijuca entre 1993 e 1996); dos compositores Zé Di (autor de três sambas no Salgueiro), Demá Chagas (autor de seis sambas do Salgueiro, entre eles “Peguei um Ita no Norte”, em 1993), Bombril (autor de “Sou da Vila e Não Tem Jeito” e de dois sambas da escola – 1990 e 1994) e Beto Aquino (autor dos sambas de 2019 e 2020 da Portela e do de 2023 da União de Jacarepaguá); dos carnavalescos Severo Luzardo (que teve a União da Ilha como última escola da carreira), Sylvio Cunha (de passagens por Portela, Império Serrano, Vila Isabel, Unidos da Tijuca entre outras), Wany Araújo (assistente de Joãosinho Trinta em vários carnavais) e Luiz Guilherme Alexandre (de cinco passagens pelo Boi da Ilha); da porta-bandeira Maria Helena (que fez inesquecível parceria com o filho Chiquinho na Imperatriz); dos dirigentes Nésio Nascimento (fundador da Tradição), Nilo Figueiredo (ex-presidente da Portela), José Manuel Gaspar (ex-presidente da X-9 Paulistana), Ito Machado (ex-presidente da Viradouro e da União das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Niterói) e Birão (presidente da Em Cima da Hora); do cantor e ex-jurado Ruy Maurity; do jornalista e ex-jurado Carlos Pousa; do escritor Jorjão Mendes; e do diretor de carnaval Thiago Lepletier.



Reencontros e despedidas

A montagem das equipes visando 2023 nos reservou alguns grandes reencontros. Como o do carnavalesco Mauro Quintaes, que em maio anunciara seu retorno ao carnaval carioca e à Porto da Pedra, escola que o projetou para o carnaval na segunda metade dos anos 90. Assim como o mestre-sala Phelipe Lemos, saído da Unidos da Tijuca para voltar a dançar com Rafaela Theodoro na Imperatriz Leopoldinense. Além de Thiaguinho e Amanda Poblete, que reeditam a exitosa parceria dos tempos de Renascer de Jacarepaguá em jornada dupla na Sapucaí - defendendo União da Ilha e Viradouro.

Mas a dança das cadeiras também reservou despedidas. Ito Melodia deixou a União da Ilha após 20 anos ao aceitar proposta do Império Serrano, ao passo que Wander Pires encerrou sua quinta passagem pela Mocidade e rumou para defender o Tuiuti. E ainda teria espaço para uma pendurada de talabarte: em junho, Squel Jorgea anunciou não só sua saída da Mangueira como também sua aposentadoria como porta-bandeira, encerrando assim uma brilhante carreira de 23 anos no posto, tendo passagens, antes da Estação Primeira, por Grande Rio e Mocidade.



Squel antes de entrar na avenida: porta-bandeira faria em abril seu último carnaval (Foto: Carlos Fonseca/Sambario)



Um culto às campeãs do ano

A missão de todo sambista é aplaudir todas as escolas de samba não importa o lugar. Por isso, fazemos aqui uma reverência a algumas escolas campeãs pelo país nesta temporada:

- Folia do Viradouro, campeã do carnaval de Niterói pela quinta vez;

- Imperadores do Samba, campeã do carnaval de Porto Alegre pela vigésima primeira vez;

- Mocidade Independente de Nova Corumbá, campeã do carnaval de Corumbá pela quarta vez;

- Vilage no Samba, campeã do carnaval de Nova Friburgo pela vigésima sétima vez;

- Unidos do Beco, campeã do carnaval de Cruz Alta pela terceira vez;

- Deixa Falar, campeã do carnaval de Campo Grande pela quarta vez



Foi tão bom cantarolar que o mundo renasceu. Apesar de tudo, o samba renasce e o carnaval segue firme. Que 2023 seja ainda melhor e a esperança siga rodeando nossa gente cheia de batuque e samba no pé. Evoé!



O apoteótico encerramento do desfile da Vila Isabel (Foto: Carlos Fonseca/Sambario)