PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Seis Ótimas Gravações para Sambas nem tão Ótimos Assim

SEIS ÓTIMAS GRAVAÇÕES PARA SAMBAS NEM TÃO ÓTIMOS ASSIM

7 de junho de 2022, nº 66


Que o carnaval é uma caixa de surpresas depois que se cruza a faixa amarela, inegável. É uma velha máxima que conhecemos desde quando nos entendemos por gente. Tem samba que não é tão cotado e "acontece" na avenida, tendo um grande desempenho. E tem samba que gera grande expectativa e acaba decepcionando. Faz parte do show. No Manual do Julgador está explícito que deve-se considerar no samba-enredo a sua riqueza poética, beleza e bom gosto, em letra e melodia.

Mas não é a riqueza poética e melódica que vamos abordar dessa vez. A vibe é inversa a esta lógica.

Aqui pra nós: sabe aquele samba-enredo que é muito ruim mas que você, caro leitor, adora ouvir porque a gravação é muito boa, que você dá repeat uma, duas, três, quatro vezes? É deles que vamos falar hoje. Quem nunca teve o seu "trash" preferido ou aquela simpatia por aquela obra que não é lá tão boa. Podíamos aqui falar de muitos bois-com-abóbora que os registros dos discos oficiais deixaram escutáveis, mas seria papo para três ou quatro textos. Por isso, esta coluna separou seis sambas do carnaval carioca em que onde faltou qualidade poética sobrou dela na gravação oficial - e nessa lista o samba não precisa ser exatamente trash: pode ser ruim, limitado e até o mediano é aceitável.

Solta o play e vem com a gente!



Discos de samba-enredo (Foto: Reprodução)



DO VENTRE DA TERRA, RAÍZES PARA O MUNDO (UNIDOS DE BANGU 2019)

Começamos pela Zona Oeste, num carnaval mais recente. Em seu segundo ano de Sapucaí, a Unidos de Bangu teve a inglória (e intragável, porque não dizer) missão de falar sobre a batata. Como este escriba analisou à época neste Sambario, é um samba que não diz nada com nada e tem versos bem previsíveis. Porém, ah porém, a gravação (comandada pela equipe de Leonardo Bessa) é muito boa, destacando os detalhes melódicos bem presentes no arranjo e a competente e entrosada interpretação da dupla Tem-Tem Jr e Luís Oliveira - que no desfile oficial ganhariam a companhia de Daniel Collête.





NÃO SE META COM MINHA FÉ! ACREDITO EM QUEM QUISER (SOSSEGO 2019)

Ainda na Série A de 2019. Na faixa seguinte à Bangu, aparece a azul e branca de Niterói, que juntou seus expedientes de sambas diferentes (à la Molejo) dos anos anteriores para falar sobre Jesus Malverde. A meu juízo, é a melhor gravação de todo o CD, dos detalhes melódicos à interpretação da dupla Guto e Juliana Pagung. Mas a beleza propriamente dita fica só na gravação mesmo: o resultado dessa fusão rendeu um resultado bem longe do eficiente - e isto foi assumido por um dos compositores da obra, Felipe Filósofo, quando entrevistado pelo Sambario no ano passado.




LINDA, ETERNAMENTE OLINDA! (PORTELA 1997)

Falando sobre a pernambucana Olinda, a águia altaneira apresentou um samba curto mas nem tão eficiente, de melodia reta e letra pouco original de criatividade. Mas a gravação no disco, bem arranjada, deixou a obra bem envolvente, muito ajudada pelo belo arranjo imposto, o vozerão do "Pavarotti" Rixxa e a convencional atuação da bateria portelense.

Abaixo a versão do LP, mais estendida.





AS SOMBRAS DA FOLIA EM ALTO ASTRAL (UNIDOS DA PONTE 1996)

Este, sem dúvida, é um dos trashs prediletos do carnaval. Em sua última participação no Grupo Especial, a tradicional agremiação de São João de Meriti falou sobre o guarda-chuva, um enredo que por si só não renderia lá algo extraordinário em termos musicais. Ao menos no CD, o samba tem um ótimo registro, com um arranjo que o deixou bem balanceado e agradável de ouvir - destaque à interpretação de Serginho do Porto e a boa atuação da bateria, então defensora do Estandarte de Ouro que conquistara no carnaval anterior.

Quanto a (falta de) qualidade poética e melódica... bom, vamos ouvir o samba que é melhor:





TRINCA DE REIS (MANGUEIRA 1989)

Um trash pintado em verde e rosa. Vinda de um bicampeonato (86/87) e do vice em 88, a Estação Primeira exaltou a "Trinca de Reis" representada nas figuras de Walter Pinto, Carlos Machado e Chico Recarey (Re-ca-rey!). O resultado, poeticamente falando, é um daqueles que... veja bem! Só não passou despercebido por completo graças à excelente gravação do disco daquele "carnaval que não terminou", que colocou o samba num ritmo bem agradável.

Vai na roleta ou no bacará?





OS ENCANTOS DA COSTA DO SOL (TRADIÇÃO 2002)

O CD de 2002 é um dos mais bem gravados na história cinquentenária da discografia de samba-enredo. A forma como a produção tratou o produto como um todo não deixou qualquer samba com ar de "pula-faixa", nem mesmo aqueles em que a qualidade em letra e melodia é, digamos... questionável. Como é o caso da obra que fecha a lista: naquele ano, o Condor levou à Sapucaí os encantos da Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Mesmo com a longuíssima introdução, remetendo a região homenageada, a qualidade do registro da faixa 8 mascara - e bem! - a pobreza poética da obra (olha a ooooonda!) que dispensa qualquer comentário mais extenso.

Pra finalizar, vamos todos cantar: olê lê lê, tem areia no ganzá...




Coluna anterior: O (Agitado) Mercado do Carnaval 2023
Coluna anterior: No Ifá das Entrelinhas, um Resumo do que se viu na Sapucaí


Se inscreva no canal SAMBARIO no YouTube

Carlos Fonseca
Twitter: @eucarlosfonseca