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A NOITE EM QUE O CARNAVAL SAMBOU NO RITMO DO TRI DE SENNA
                   

14 de novembro de 2025, nº 106


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A NOITE EM QUE O CARNAVAL SAMBOU NO RITMO DO TRI DE SENNA

No último fim de semana aconteceu o Grande Prêmio do Brasil (desde 2021 chamado oficialmente de Grande Prêmio de São Paulo) de Fórmula 1, com o britânico Lando Norrispiloto da McLaren – vencendo a etapa do sagrado circuito de Interlagos. É o encaixe perfeito pra mostrar carnaval e automobilismo tem uma longa relação de intercâmbios e coincidências – e não, dessa vez não estamos falando do “Acelera, Tijuca!”, desfile do quarto campeonato tijucano, até hoje alvo de discussão.

Na madrugada de domingo, dia 20 de outubro de 1991, cinco escolas do Grupo Especial carioca escolheriam seus sambas para o carnaval de 1992. Até aí, nada anormal, seria mais uma noite decisiva qualquer. A não ser por uma coincidência.


Salgueiro, Tradição, Beija-Flor, Viradouro e Unidos da Tijuca escolheram seus sambas para 1992 em meio ao tricampeonato de Ayrton Senna (Foto: Reprodução/Acervo O Globo)

Na mesma madrugada, simultaneamente, aconteceria o Grande Prêmio do Japão, penúltima etapa daquela temporada e corrida que poderia sacramentar o tricampeonato mundial de Ayrton Senna – que à época, vejam só, guiava uma McLaren. Novos sambas estariam surgindo para a posteridade da avenida enquanto os olhos do mundo estavam voltados para o que acontecia no circuito de Suzuka. “Carnaval desfalca torcida de Senna”, era o que manchetava o Jornal O Globo no dia seguinte à aquela noite. Mesmo com a expectativa de mais uma grande conquista pro esporte brasileiro (que acabou acontecendo), o samba seguiu sua normalidade em cinco cantos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Mas nem por isso a conquista do eterno tricampeão passou despercebida. A quadra do Salgueiro, por exemplo, só atingiu a lotação máxima para a escolha da trilha que embalaria o enredo “O Negro Que Virou Ouro nas Terras do Salgueiro” apenas quando a corrida terminou - com a vitória do austríaco Gerhard Berger e o título do brasileiro. O motivo: “Muitos componentes ficaram assistindo à corrida pelos aparelhos de TV instalados nos bares nos arredores da quadra.”, relatou a reportagem do Globo. Passada a euforia da vitória, a vermelha e branca fez sua final e consagrou a obra de Bala, Efe Alves, Preto Velho, Sobral e Tiãozinho do Salgueiro, até hoje considerada um dos clássicos da discografia salgueirense.

Bem longe da Silva Teles, não se falava de outra coisa a não ser decisão de samba-enredo. No Campinho, a Tradição (que retornava ao Grupo Especial naquela temporada) escolhia o samba de Moisés Santiago, Luizinho Professor e Toninho para cantar “O Espetáculo Maior... As Flores”. Na Baixada Fluminense, a Beija-Flor consagrava a obra de Dinoel Sampaio e Itinho como a vencedora do concurso na agremiação – posteriormente, Neguinho da Beija-Flor também assinaria o samba sobre a televisão, num carnaval que seria de memória esquecível para os nilopolitanos e, principalmente, Joãosinho Trinta. No outro lado da Baía de Guanabara, a Viradouro também realizou sua final: de quadra lotada e ainda sob a batuta de Mestre Marçal cuja passagem relatamos na coluna anterior – o samba de Heraldo Faria, Flavinho Machado, Gelson e Rubinho foi o escolhido pra cantar “E a Magia da Sorte chegou”.

Por fim, a quinta escola a definir seu samba pra 92 foi a Unidos da Tijuca. E uma final que só aconteceu naquele momento por obra do acaso: inicialmente programado para a noite anterior, o evento foi adiado para a virada do sábado pra domingo sem maiores explicações da presidência, já comandada por Fernando Horta, e sob protestos da moçada. E a chiadeira aumentou quando a obra de Gilmar Silva, Vicente das Neves e Beto do Pandeiro (este último recentemente falecido) foi escolhida para embalar “Guanabaran, o seio do mar”. Ironias dessa festa: não demorou muito pra obra se tornar um dos clássicos da discografia azul-amarela...

Na contagem final daquela noite, o carnaval acelerou e chegou na frente da Fórmula 1. Por um capricho dos deuses da velocidade e do samba, foi naquele 1992 que o já tricampeão Ayrton foi a presença ilustre na Sapucaí durante o desfile das campeãs. E, convenhamos, até que se divertiu bem.

 

Ayrton Senna na Sapucaí, ao lado de um ritmista da Estácio de Sá durante o desfile das campeãs de 92 (Foto: Ivo Gonzalez)


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Carlos Fonseca
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