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Os sambas de 2018 - Série A por Carlos Alberto Fonseca

Os sambas de 2018 - Série A por Carlos Alberto Fonseca
Twitter: @eucarlosfonseca


As avaliações e notas referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile
Carlos Alberto Fonseca é o apresentador do Carnaval Show na Rádio Show do Esporte, toda quarta-feira às 20h

Veja também o último editorial com a análise de alguns sambas eliminados para 2018 (e 2017 também)

A GRAVAÇÃO - Após o excelente disco de 2017, Leonardo Bessa e companhia foram mantidos na produção da bolacha digital. Nada mudou no estilo de gravação a não ser a entrada da bateria na primeira passada só que com menos força, num expediente semelhante aos discos do Grupo Especial em 2001 e 2002. Com uma escola a menos do habitual no grupo, a produção sentiu mais liberdade para inserir introduções - na verdade, apenas uma, na faixa da Renascer aberta com as Bachianas n° 5, de Villa Lobos. Num geral, o resultado saiu melhor que o esperado, embora com a sensação de faltar um algo a mais. O único senão foram as baterias que, entrando com força total, deram uma caída no clima de alguns sambas. No ano da "Série A das encomendas", onde quatro escolas decidiram não realizar disputa seja por opção ou contenção de gastos, destacam-se os ótimos sambas de Renascer, Unidos de Bangu e Padre Miguel, com Rocinha e Alegria da Zona Sul (que teria disputa mas voltou atrás já que o samba foi o único inscrito) vindo logo depois. A meu juízo é impossível apontar uma obra que seja disparada o "samba do ano". E antes que o escriba esqueça, parece que as críticas que fiz ao projeto gráfico do ano passado chegaram nos ouvidos da LIERJ, já que para o CD de 2018 a mesma providenciou um encarte bem mais fácil de ler. Ademais, há de se comemorar o fato de felizmente não haver nenhum samba no nível de Curicica 2017, o que nos remete a um senhor disco de samba-enredo. - NOTA: 9.9

1 - VIRADOURO - "É de arrepiar, a nossa emoção". Respirando novos ares, a vice-campeã de 2017 aposta num samba todo pra cima para falar dos "Loucos gênios da criação" mas infelizmente o resultado foi abaixo do que se esperava. A primeira parte da obra peca muito em trocadilhos de gosto bem duvidoso como "'E ter na mente' o dom da criação", "'Une verso' a melodia" e "Nos sonhos meus, "Vinci" fazer acreditar" - este então beira o inacreditável. A obra começa a crescer no único refrão e tem passagens interessantes dali pra frente em trechos como "Quem foi que falou algum dia que o homem iria se aventurar/Nas telas, nos livros, tantos moinhos derrubar" até o momento de clímax do samba ("Artista de uma escola de verdade/Orgulho de ser comunidade") que desagua no bom e empolgante falso refrão que contém o recurso do "É de enlouquecer/Já enlouqueceu". Zé Paulo Sierra, que perigou a sair da escola no último carnaval, arriscou cantar num tom bem alto para o seu padrão, e mesmo ido bem no registro, deu algumas derrapadas nas subidas de tom - uma delas, a dobrada de voz no "A cabeça desse povo" na segunda passada. A Furacão Vermelho e Branco tem atuação convencional, com três bossas. Não acho um samba ruim como dizem, mas poderia ter sido bem melhor. - NOTA: 9.6

2 - ESTÁCIO DE SÁ - "Bate no peito, desce o São Carlos". Mais um samba horrível vindo do Berço do Samba. Depois de anunciar enredo sobre Singapura e ter voltado atrás por motivos da grana não ter pingado, o Leão aposta num tema convencional sobre o comércio popular do Rio de Janeiro - entre eles o Saara, que foi enredo da agremiação em 1994. O resultado foi um samba todo genérico, melodia reta que tenta ser lírica, sem brilho e pra variar começando com um jogo de palavras "preço/apreço" mal resolvido de métrica, além de um falso refrão na segunda parte ("E no “me dê me dá”, comércio popular/Na feira livre tem desconto pra você/E no “me dá me dê”, no “toma lá, dá cá”/Bom e barato, tem de tudo pra vender") numa tentativa de encaixar uma vaga lembrança do clássico hino de 1992. Fora que a letra ainda contém as costumeiras rimas engessadas e batidas relativas ao enredo como "Quem vai querer? Quem quer comprar?/Tem alegria, amor, pode chegar" e "Eu sou mercador dessa folia". De volta a escola após passagem pelo Salgueiro, Serginho do Porto bem que tentou, mas não conseguiu salvar o samba que com justiça é o mais fraco da safra. A única coisa boa da faixa foi a homenagem ao saudoso Luiz Melodia (cria do São Carlos e torcedor da escola) citando o famoso verso de "Estácio, Holly Estácio". E só. - NOTA: 9.3

3 - UNIDOS DE PADRE MIGUEL - "A noite tece o véu pro boi vermelho de Padre Miguel". A cada ano a Unidos apresenta suas credenciais com força máxima, e para 2018 não é diferente. Narrando "O Eldorado Submerso" baseado no livro de Milton Hatoum, a encarnada da Vila Vintém nos brinda com um sambaço do primeiro ao último verso. Os primeiros versos ("O dia vai raiar/A Unidos vem contar, que ouvindo o chamado do pajé/Saí do beiradão entre o real e a ilusão/Pra mergulhar nas águas do igarapé") são um belo cartão de visitas. A obra tem outra ótima passagem ainda na primeira parte: "Senhor... me responda o que preciso entender?/Irmão... há um mistério que habita cada ser!/Você renasceu com a missão de se encontrar". O samba vai crescendo ainda mais em seu refrão central ("Clareou cidade dourada/No fundo das águas a encantaria") encerrando sua primeira metade num falso refrão que tem em destaque a repetição do "Oh Yara! Oh Yara!". Aliás, gostei muito da sacada de uma voz feminina fazendo o canto da Yara neste trecho. Na segunda, a retirada de um verso que bisava na versão concorrente ("As margens da floresta eu vi brotar") que eu temia que deixaria a melodia burocrática, acabou funcionando. Por fim, o belo refrão principal que desperta uma curiosidade ao ter um trocadilho interessante: "A vida caprichou, se garantiu em mim". Mesmo em tom idêntico a "Ossain", Pixulé tem correta atuação, apresar de ter se dedicado mais aos cacos na segunda passada. Em sua totalidade, a bateria passou bem, fazendo algumas convenções. Em termos de samba, Padre Miguel vem forte mais uma vez. - NOTA: 10

4 - PORTO DA PEDRA - "Meu Tigre vem coroar as divas da canção". O samba que mais me surpreendeu. Falando sobre as dez estrelas que brilharam como as eternas rainhas do rádio, o pavilhão vermelho e branco de São Gonçalo apresenta um samba que não é tão longo, mas passa seu recado com competência, sem contar que ficou uma primazia no disco. A primeira parte segue fielmente o enredo mas não me impressiona muito. Gosto muito do refrão central "A alma do Brasil ecoou, reluziu/Ao som da Rádio Nacional" e do trecho que antecede o principal: "Um súdito aos teus pés eu sou/No meio da rua cantando eu vou/Ao baile da consagração/Ser mais um fã em devoção/Meu Porto da Pedra num cortejo triunfal/Faz o seu carnaval" - apesar de não gostar da rima "eu sou/eu vou" que também se encontra no refrão principal com "emoção/canção". De volta a escola após sete anos, Luizinho Andanças tem interpretação segura e solta. E os comandados de Mestre Pablo mais uma vez roubaram a cena na faixa. - NOTA: 9.8

5 - ROCINHA - "Deixa a Borboleta te encantar". Mais um sambão desta safra. Contando a história da Xilogravura, a azul, verde e branca de São Conrado recorreu a compositores da casa para fazer um samba de melodia suave e uma letra fidelíssima ao tema e com belas passagens. Destaco por exemplo a cabeça do samba "Um olhar acende a luz da inspiração/Vem ilustrar em preto e branco o meu agreste". O melhor momento do samba fica na última parte, destacando principalmente seu trecho final: "Tem batuque pra Xangô no pé da serra/Maracatu, bumba-meu-boi, Papangu da minha terra/Nesta ciranda todo mundo vai chegar/Este cortejo tem frevo e cantoria/Fiz de papel colè/As máscaras desta "fulia"" - em tempo, para o leitor não pensar que é um erro do escriba, a palavra "colè" é escrita com acento grave. O refrão principal é muito leve e fácil de se aprender, além de conter um desafio com a repetição do "viola" já que este recurso causou perda de pontos no quesito em 2017. Leléu nos brinda uma bela interpretação, bem ao seu estilo, mostrando de vez sua identificação forte com a escola. A Ritmo Avassalador rouba a cena na faixa com bossas criativas indo do forró ao frevo. Samba bem "arretado" da Borboleta Encantada. - NOTA: 9.9

6 - IMPÉRIO DA TIJUCA - "A magia do velho não falha". Voltando aos enredos cem por cento afro, a verde e branca do Morro da Formiga aposta num samba valente (apesar de denso) do jeito que o enredo sobre o orixá Olubajé pedia. A primeira parte, contudo, destoa da obra toda ao apostar em excesso nas palavras rimadas - Iemanjá/Mar, Manhã/Nanã, guerra/terra. Aliás, Nanã é lembrada duas vezes apenas na primeira parte. Na segunda, destaco um trecho que gosto muito: "Eu quero ver omolu dançar/No opanijé com o seu xaxará/Tem pipoca no alguidar, mandigueiro/Sinfonia imperial chegou no terreiro/Atôtô baluaiê, meu pai vem nos valer/O banquete para o rei vamos te oferecer" que sucede aos últimos versos, que força uma rima que não me soou bem - "no suor da LABUTA/E faz Olubajé no Império da TIJUCA". Os refrães, com destaque para o principal ("Araloko, araloko pajuê") são fortíssimos, sendo o ponto alto da obra. Daniel Silva, em seu primeiro registro pela escola (ele foi contratado para fazer dupla com Rogerinho após este já ter gravado o CD de 2017) faz uma interpretação correta e segura. - NOTA: 9.7

7 - CUBANGO - "Eu sou o rei que bordou o mundo". A Academia mais famosa de Niterói buscou na história de Arthur Bispo do Rosário um bom samba. Destaco aqui os primeiros versos: "Velas ao mar que o vento leve.../Dos mares da insanidade navegue/Delírios, sonhos, devaneios/Por sete anjos me guiei/Num sopro divino, segui peregrino... andei". Destaco também bom refrão central ("O bem e o caos, rainha ou peão/No bispo senhor a salvação"). A segunda parte (e o segundo refrão) segue narrando o enredo mas com a melodia se tornando cansativa, apesar de ser bem raro encontrar a palavra chegança num samba-enredo. O melhor trecho do samba é sua terceira parte, terminada em um verso lindo demais: "Nas páginas brancas da memória/Tingi de verde a minha história". Este, aliás, antecede ao bom refrão principal, que tem como cartão de visitas o "Resgata Cubango... o meu grande amor". Em voo solo após a gloriosa passagem pela Renascer, Evandro Malandro nos brinda com uma grande interpretação, demonstrando que tem um grande valor e uma bela carreira pela frente. A título de curiosidade, o "Resgata Cubango" no refrão principal é em alusão ao nome da chapa da atual diretoria que venceu as eleições de maio passado e que puseram fim a Era Pelé a frente da presidência verde e branca. - NOTA: 9.8

8 - INOCENTES - "Sai o trem da estação, pra trilhar esta canção". Encomendado aos craques Cláudio Russo e André Diniz, a tricolor belforroxense aposta num samba muito bom para retratar a história de Magé, município da baixada fluminense e o segundo mais antigo do estado do Rio. Embora a melodia seja falha em alguns trechos (como em "Benta água, ritos tão divinos") a letra, seguindo fielmente o enredo, é muito boa. Destaco boas passagens da obra como na segunda parte ("Se a festa é de Pedro não demora/Nossa fé, senhora desta oração") e o que considero o melhor trecho do samba: o primeiro refrão ("Auê Auê, na riqueza da pingueira/Pra escorrer a doçura brasileira") e a terceira ("Caminho do nobre metal/Pavio de fogo e fé/Da luta contra o marechal/Aos dribles na vida, Mané/Folia de todos os reis/E o samba desabrochando em flor/Nas cores do pintor") onde cita as riquezas históricas e culturais da cidade e filhos ilustres da cidade, Mané Garrincha e Heitor dos Prazeres. Gosto muito do refrão principal, em especial ao jogo de palavras em "Querem pemba, querem guia, querem figa de guiné" e aos versos finais - "Sinfonia de tambores, hoje a gira vai girar/Ê mojubá! Ê mojubá!". A dupla de intérpretes formada pelo estreante Ricardinho Guimarães e o experiente Anderson Paz - contratado no apagar das luzes - deu um bom caldo. - NOTA: 9.7

9 - RENASCER - "Ao bailar a batuta do maestro, renasce a tribo Jacarepaguá". A caneta não falha nunca pelas bandas do Largo do Tanque. Pelo quinto ano consecutivo encomendando à Claudio Russo e Moacyr Luz, a vermelha e branca traz um sambaço mais uma vez, desta vez para retratar "A Floresta do Amazonas" obra do maestro Heitor Villa-Lobos. O cartão de visitas está logo nos primeiros versos: "Eu vou pedir à iluminada lua/Que no azul flutua, pra compreender/Minha floresta, mãe de toda mata/Já é madrugada, o dia vai nascer". A obra vai seguindo até chegar em outro lindo trecho, particularmente o meu preferido: "As bachianas são ubirajaras/Imaginando um coral de sacis/Sob o céu repleto de araras/Vitória rege a orquestra de tupis/Festa na aldeia o índio pede bis" que antecede o fechamento desta parte ("Laiá laiá... sou de flecha") até chegar no fortíssimo refrão ("Canoeiro, canoeiro/O velho candieiro alumia/Villa Lobos, brasileiro/Faz da Renascer a sua sinfonia"). O samba que já era ótimo ganhou um toque especialíssimo com o arranjo de ninguém menos que Rildo Hora, que inseriu as Bachianas n°5 na introdução, ao som de um violoncelo e fez uma honrosa participação tocando seu velho realejo - gaita não, realejo! Agora sozinho no microfone da escola, Diego Nicolau (também no time de compositores) tem uma bela interpretação, casando perfeitamente com a obra. A bateria passa reta, sem fazer qualquer convenção ou bossa. Que esta linda obra seja a trilha sonora de um desfile de superação da escola, atingida por dois incêndios em seu barracão no pré-carnaval. - NOTA: 10

10 - SOSSEGO - "Brasil, mais tolerância, súplica de esperança". Felipe Filósofo e seus blue caps trazem mais uma inovação para o carnaval. Após o samba sem rima para Manoel de Barros e o samba em diálogo exaltando Zezé Motta, a aposta da vez é o samba sem verbo para falar dos diversos rituais. O resultado a meu juízo foi bem satisfatório: uma letra bem criativa (com ressalvas) que sai um pouco do lugar comum e uma bela melodia. A primeira parte tem uma passagem muito interessante: "Aliança aos filhos de Abraão/Alvorada, Oriente em oração/Ó Cordeiro de Deus/Reino do Céu, Rei dos Judeus". Logo em sequência, a obra dá uma caída ao utilizar de uma sequência de vírgulas, sendo o ápice no refrão central ("Sangue, sacrifícios, crânios no altar/Culto ao sol, banho de rosas, maracás/Espíritos da floresta, feiticeiros/Corpo e alma em equilíbrio, curandeiros") que dá a impressão que está sendo entoada uma lista de supermercado. Na segunda, uma mensagem de tolerância, recurso usado desde Alabê de Jerusalém (Viradouro/16), para chegar no refrão principal que sauda as mães de santo, aos orixás e exalta o "Sossego, ritual de amor!". De volta à Sapucaí, Nêgo dá um toque especial ao samba com sua conhecida categoria, bem como os ritimistas da Swing da Batalha, com destaque para os "agogôs de Átila" e a bossa com as caixas na segunda parte. Em suma, outra inovação bem sucedida. - NOTA: 9.8

11 - SANTA CRUZ - "Deu Santa Cruz, pode acreditar!". Antes de falar do samba, registra-se aqui a minha imensa felicidade pela volta de Quinho ao carnaval carioca. Afastado da Sapucaí há quatro carnavais depois da polêmica saída do Salgueiro, Melquisedeque regressa ao solo carioca defendendo a verde e branco da Zona Oeste ao lado de Roninho - que já foi cantor de apoio da Mocidade. Ambos até foram bem no registro (o Quinho até melhor) mas infelizmente jogaram uma ligeira bomba para os dois. Um enredo engessado resultou em mais uma irregular obra, onde a melodia se destaca de longe. A letra tem refrões de pouca força, repleto de lugares comuns e é um festival de clichês batidos como "A esperança vai me guiar", "Despertar o sentimento lá no fundo/Pois sou filho do dono do mundo", "Pode acreditar, minha fé não costuma 'faiá'" e afins. O único bom momento do samba são seus versos finais: "Quem dera eu escrever o meu futuro/Que o planeta fosse um lugar mais puro/E o amor o combustível para caminhar/Que meu Brasil, se torne o país das maravilhas/Tão belo como contam as poesias/No verde e branco, é só acreditar" que retrata fielmente o que tanto desejamos. De resto, tristemente, nada se salva. - NOTA: 9.4

12 - ALEGRIA DA ZONA SUL - "Mesmo traída não me calarei jamais". Outro grande samba-enredo! Narrando a vida de Luiza Mahim, ex-escrava de origem africana radicada no Brasil e que tomou parte na articulação das revoltas e levantes de escravos na Província da Bahia no século XIX, a obra (que acabou aclamada por ser a única inscrita na disputa) é bem aguerrida, de refrões muito bons e com trechos bem fortes, como no começo ("Jejê-nagô ôôô ilumina meu caminhar/Diziam meus ancestrais, na infinita imensidão / Voduns são a matriz da criação") e no final ("A raça não se curva à chibata/Poesia eternizada nos meus ideais"). Outra parte que gostei muito é no começo da segunda: "Lutar, para sempre lutar/À luz de Allah, a insurreição/Na pele, a força que inflama a negritude/Na revolta, atitude, pela libertação", onde, inclusive, se nota um toque de derbake, instrumento tradicional na música árabe. Com a ajuda da vovó pra cegar todo mundo, Igor Vianna, melhorando a cada ano, mantém o alto nível de interpretações do álbum. A zona sul provou que é resistência e faz o sonho florescer! - NOTA: 9.9

13 - UNIDOS DE BANGU - "Tem festa no quariterê". De volta à Sapucaí após três anos, a vermelha e branca da Zona Oeste nos brinda com esta pedrada. Por mais irônico que pareça (não era a palavra ideal pra usar, mas enfim) a obra originalmente em tom de lamento ficou com uma melodia mais "pra cima" no registro. A letra é uma maravilha de linda, contendo trechos muito bons ainda na primeira parte como "Olhar de serpente, nobreza da raça/Que quebra a corrente/E não se entrega não/Tem a valentia de um leão" por exemplo. Mais lindo ainda o falso refrão central do "Ôôôô, calunga é dor, é um clamor por piedade..." que é encerrado por versos diferentes ("Velho prisioneiro da desigualdade" na primeira, "Oceano inteiro é pranto de saudade" na segunda). A obra ainda nos reserva o seu trecho mais forte: "Seguindo em devoção eu vou/Ao ébano altar da “ginga”/Toque de cabaça enfeitiçado/Eu quero ver o negro ser coroado/No porão da fé ôôô/Leva afefé, meu afã (pro mar)" para depois eternizar o canto iorubá, como diz a letra, terminando com o "Eabadeiaia Iaia aiê/Eabadeiaia eiaiá/Eabadeiaia Iaia aiê/Eabadeiaia/Bangu vai cantar!". Estreantes na escola, Thiago Brito e Leandro Santos (pelo segundo ano consecutivo fechando o CD da Série A) conduziram muito bem o samba. A Caldeirão da Zona Oeste passa sem fazer grandes bossas, a não ser uma no refrão ao fim da faixa, ao qual gosto bastante. No mais, o disco é encerrado em grande estilo. - NOTA: 10

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