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Os sambas de 1972 - Grupo 2 (por Luiz Carlos Rosa)

Os sambas de 1972 - Grupo 2 (por Luiz Carlos Rosa)

A GRAVAÇÃO DO LP - 1972 marca os150 anos da Independência do Brasil. Devido a esse fato comemorativo, a maioria das agremiações do Segundo Grupo resolveu abordar o tema histórico.  Entretanto, mais da metade das escolas apresentou sambinhas incrivelmente ruins. Por isso não tenho dúvidas de afirmar que a safra de sambas deste BOLACHÃO é uma das piores de TODOS OS TEMPOS. A tentativa dos compositores de embarcar no sucesso do samba "Pega no Ganzê" foi de um fracasso retumbante. Os sambas também ficaram muito curtos. Apenas três agremiações se destacaram positivamente: Manguinhos, Beija-Flor e a campeã do ano Tupy de Brás de Pina. Lins Imperial (Salve Independência), União da Ilha (A Festa da Cavalhada) e Unidos da Tijuca (Ganga Zumba) não gravaram suas obras neste LP. NOTA DA GRAVAÇÃO: 2,5

TUPY: A campeã do Segundo Grupo de 1972, abre o bolachão com um belo samba carregado de emoção que homenageia a maestrina Chiquinha Gonzaga. A obra em si é curtíssima,  praticamente a segunda parte é inexistente. Porém sua melodia é tão comovente que sustenta o samba num todo. E é isso que faz a diferença: o samba tem SENTIMENTO. O reflexo disso é quando as pastoras entoam na segunda passada. Maravilha! NOTA 9,1

BEIJA-FLOR: No penúltimo ano de sua história no Grupo de Acesso, a escola apresentou um BAITA samba, dotada de letra bem construída, descrevendo poeticamente a Bahia e uma melodia de ótimo gosto com variações bem interessantes. O refrão central "Olha o mugunzá(2x)/olha o doce ioiô/olha o doce iaiá" é extremamente contagiante. Infelizmente, nos anos seguintes a Beija-Flor acabaria apostando em sambas de gosto duvidoso. Mas ESTE aqui só perde para o de 1978 em relação ao melhor samba da escola dos anos 70. NOTA 9,4

SANTA CRUZ: Depois de ter saboreado o gostinho de desfilar no Grupo Principal em 1970, a Santa Cruz desceu ladeira abaixo, e foi um dos rebaixados de 72, desfilando assim no Terceiro Grupo do ano seguinte. Com relação à obra, "Brasil Folclórico" é o único samba-lençol do LP, composto por Waldir Cruz que também interpreta o samba. Possui letra longa e conta o enredo com precisão sobre o nosso folclore, festejos e tradições. Alterna bons e maus momentos de melodia, mas que não compromete.  NOTA 8

CABUÇU: A azul e branco do Lins apresentou um enredo sobre a amizade entre Brasil e Portugal aproveitando a temática dos 150 da Independência. É um samba apenas correto de boa melodia e letra simples. Destaco a parte "Hoje somos irmanados/e lutamos pela paz/Dando o exemplo ao mundo/que guerra jamais". Mas acho que faltou alguma coisa pra torna-lo um BOM SAMBA... Pela impressão que deixou. NOTA 7.1

TUIUTI: Quando a escola não levava sambas de Noca da Portela, o resultado era quase sempre o mesmo: sambas simplórios e sem poesia. É um samba bem animado, mas pecou demais pela letra, detalhada nos versos "No céu, no mar, na terra/tua armada impera/Transamazônica, obra orgulho da nação" só pra "puxasaquiar" o regime militar.  Mesmo com esse sambinha, o Tuiuti quase subiu para o Especial ficando em terceiro lugar. Mas o sambinha é burocrático até o talo. NOTA: 6.8

JACAREZINHO: Uma obra apenas razoável. Possui uma boa melodia e suas variações são boas, mas a letra deixa muito a desejar. A impressão é que a segunda parte do samba foi feita nas coxas, talvez por falta de inspiração dos compositores. Outro ponto negativo é a interpretação de Gina, que desnecessariamente berra ao cantar o samba. A escola tida como grande promessa da época mais uma vez conseguiu subir ao Grupo Especial com o vice-campeonato do Acesso 72. NOTA 7

SÃO CLEMENTE: Mais um sambinha animado, porém tecnicamente ruim. A melodia é de gosto bastante duvidoso e não há uma variação interessante. O tom melódico é o mesmo tanto na primeira quanto na segunda parte do samba. De bom apenas os refrões e só. NOTA 6,2

MANGUINHOS: Se tivessem criado a premiação Estandarte de Ouro para o melhor samba do Grupo de Acesso em 72, certamente iria para a Unidos de Manguinhos. "Rei Zumbi" talvez seja o GRANDE SAMBA da escola, por possui uma letra que conta o enredo de forma clara e direta e uma formidável melodia, valente e com variações irresistíveis. Somado a isso, a excelente interpretação de Júlia. Grande momento do LP! NOTA 9,8

UNIÃO DE JACAREPAGUÁ: A partir dessa faixa, o rendimento do Bolachão em relação aos sambas é absurdamente fraquíssimo. Este sambinha - literalmente falando mesmo - tem APENAS 10 LINHAS e um bis que qualquer criança de dois aninhos sabe cantar: "Ô ô ô/a hora da alegria chegou" . A letra é muito simplória e a melodia não possui nenhum momento marcante. Tambem pudera... quando parece que o samba vai tentando te convencer... PRONTO! ACABOU... E VAMOS QUE VAMOS PRA SEGUNDA PASSADA. Sinceramente é até difícil avaliar... Mas esse sambinha foi um divisor de águas, pois, a partir de 73, a agremiação de Jacarepagua atravessaria uma fase espetacular em sambas enredos com destaques para os de 1976 (Estandarte de Ouro), 1977 e 1978. NOTA 4,8

CORDOVIL: O nosso colunista João Marcos não teve dúvidas: "O PIOR SAMBA-ENREDO DE TODOS OS TEMPOS" no seu artigo de número 21. Eu concordo em parte com ele. Na minha opinião o sambinha da Unidos da Zona Sul de 1981 divide essa HONRARIA. Até porque possui o registro fotográfico mais IRRITANTE e TRASH da história. Mas voltando a falar nesse sambinha da Cordovil, a letra é repleta de desconexões. Não há um verso condizente a nível de samba de enredo. A melodia não existe, tampouco variações melódicas. Você não consegue ficar ligado no samba porque é bastante SONOLENTO. E a intérprete Zilda Riqueza estava numa má vontade danada de canta-lo. Talvez porque sabia que era muito ruim ou estava de TPM. Enfim, mesmo com esse BOIZÃO de quinta categoria, a escola conseguiu permanecer no Grupo de Acesso. NOTA 1,7

BANGU: Por ter chegado atrasada ao desfile devido a contratempos na Avenida Brasil, a escola foi desclassificada e caiu para o Terceiro Grupo em 73. Quanto ao samba, o título do enredo é "Um dos Motivos Da Independência". Mas aí eu pergunto: QUAL FOI UM DOS MOTIVOS DA INDEPENDÊNCIA? Sinceramente não consegui desvendar esse MISTÉRIO na letra do samba absolutamente sem nexo. É uma mistura de NADA com COISA NENHUMA. A melodia é burocratica. Em termos de conteúdo um total desastre. Muito fraco. NOTA 4,6

CAPRICHOSOS: A escola foi a campeâ do Terceiro Grupo de 71 embalado pelo melhor samba de sua história  na minha opinião. Infelizmente em 72 e em 73 apresentou os piores sambas de sua galeria. O problema é qual dos dois é o PIOR. Talvez a diferença está na letra. O samba de 73 é um TRASH CONVICTO além de muitos clichês da época. O de 72 a letra é praticamente um jingle da ditadura militar. O enredo "Brasil, Flor que Desabrocha" pedia uma linguagem mais poética assim como o GRANDE SAMBA de 1971 e o compositor Pisca preferiu exaltar a "Transamazonica" e que pra ele a base de uma nação é "Cultura, ciência e arquitetura". Por tudo isso que ratifico: o sambinha da Caprichosos de 72 é o PIOR de sua história. NOTA 4

VILA SANTA TEREZA: Quando o samba apresenta o MESMO VERSO duas vezes ao longo da letra é por que a coisa está feia. Tá constatado que não foi lapidada e faltou inspiração.  "Em defesa de nossa nação" aparece tanto na primeira quanto na segunda parte do "sambéco". Outra coisa absurda é o verso "solto" "O imperador D.Pedro I/que confiou/um dia a liberdade raiou". E AÍ. .. D.PEDRO I CONFIOU EM QUEM? NA LIBERDADE QUE RAIOU? O sambinha é tão ruim que até o "Lalaiá" é genérico das antigas obras-primas do Império Serrano. É mais um pula-faixa do Acesso 72. NOTA 4,3

GRANDE RIO: Logo após o carnaval de 1971, como tinha três agremiações de Caxias desfilando na cidade do Rio, houve uma fusão entre a Cartolinhas de Caxias, Capricho do Centenário, União do Centenário e mais a escola local Unidos da Vila São Luís e assim transformaram na Grande Rio que consequentemente se juntou com a Academicos de Caxias e atualmente é a atual Academicos do Grande Rio. Com relação ao samba é apenas razoável. Possui uma boa letra, apesar de constar a Petrobrás alem de exaltar um Brasil progressista. A melodia é razoável e o seu único refrão que fica no meio da obra é bastante envolvente. NOTA 7,2