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23 de dezembro de 2024, nº 96 Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca - Coluna anterior: Retrospectiva do Carnaval 2024 - Parte 1: Alafiou, Brasiléia! Deu Serpente na Cabeça - Coluna anterior: A Faixa 8 mais Importante da História - Coluna anterior: O Dia em que a Cubango (quase) reeditou o Ita - Coluna anterior: Tem Artista no Samba - Terceiro Ato - Coluna anterior: Cadinho, uma Voz que Minha Infância Carnavalesca nunca Esqueceu RETROSPECTIVA DO CARNAVAL 2024 – PARTE 2: MUDANÇAS E DESPEDIDAS
Depois de consagrar suas campeãs da temporada, o carnaval seguiu
girando sua roda em 2024 e passou a olhar pra frente. Isto é, deu “start” no
planejamento do desfile do ano que vem – e até mesmo dos próximos. E no meio do
caminho tinha... mudança de gestores e, principalmente, estruturas. O misto de
esperança e controvérsia preencheu o pós-desfiles dos 40 anos. Porém, nem tudo
são flores e há dissabores: grandes nomes da folia saíram de cena neste ano,
deixando o coração do sambista ferido. É o que relembramos aqui e agora na
segunda parte desta retrospectiva. Sob nova direção Foi a 25 de abril que Gabriel David entrou para a história: eleito
presidente da LIESA, sucedendo o mandato de Jorge Perlingeiro, e o mais jovem comandante
do carnaval do Rio de Janeiro – com 27 anos de
idade. Favas contadas: o empresário se amparou no sucesso à frente da direção
de marketing da Liga nos últimos três anos – impulsionado pela criação da marca
Rio Carnaval – e na promessa de modernizar e profissionalizar o desfile das
escolas de samba. A composição da nova diretoria da LIESA está mais diversa:
mulheres negras passaram a ocupar cargos pela primeira vez na história – caso
de Evelyn Bastos, rainha de bateria da Mangueira, nomeada para a direção
cultural da entidade. As demais ligas carnavalescas também mudaram seus executivos:
ex-presidente da Acadêmicos de Niterói, Hugo Júnior assumiu a presidência da
LigaRJ – seu antecessor, Wallace Palhares, foi para seu lugar na novata
agremiação. Na Superliga, Luiz Vinícius Macedo substituiu Pedro Silva no cargo. Gabriel David: o novo
comandante da LIESA (Foto: Roberto Filho/Brazil News) A polêmica revolução dos 3 dias O décimo primeiro dia da nova
gestão trouxe a primeira mudança significativa nos desfiles da Sapucaí em 40
anos: a mudança para 3 dias de apresentações no Grupo Especial, com a inclusão
da terça-feira de carnaval e a divisão de 4 escolas por cada noite. Anunciada
após a plenária do dia 6 de maio, a decisão feita às pressas (ainda que as
especulações tenham começado na semana anterior) e a base da canetada tomou
conta dos debates, sofrendo ampla rejeição do público. Gabriel, o novo
presidente, justificou que a mudança para 3 dias beneficiaria a parte
financeira da festa, como o barateamento dos ingressos por exemplo. Ao
justificar que a nova divisão também daria equilíbrio maior à disputa (com um
novo modelo de julgamento incluso) e evitaria incidentes como o que ocorreu com
a Viradouro no desfile das campeãs – como relatamos no capítulo anterior – as
críticas foram ainda maiores. Com a nova estrutura, o desfile das escolas
mirins foi remanejado para a sexta-feira pós-carnaval. Outra manobra para
adequar a mudança foi o aumento do tempo de desfile para 80 minutos máximos.
Aproveitando o embalo da discussão, a Superliga também optou por dividir a
Série Prata em 3 dias e desfilar nas mesmas datas do Especial. E sem mais
aquele recurso de “campeã do dia”: 30 escolas disputarão uma vaga na Série
Ouro-2026. Vale a pena rasgar a tradição
pelo buss? Festa pra gente Este ano foi especial também para este site dos sambas-enredo: em
2024 o SAMBARIO comemorou 20 anos no ar. Uma marca histórica. Duas décadas
levando até você o melhor do Carnaval e das escolas de samba através de textos,
análises e lives, sempre com independência, seriedade e um pouco de leveza
quando é possível. Fazemos menção também aos 25 anos de fundação dos primeiros
sites especializados de Carnaval, também completados este ano. Evidentemente
que não comemoramos do jeito que gostaríamos (e a festa ainda foi tristemente
ofuscada pelo fatídico maio de 2024 marcado pela tragédia climática no Rio
Grande do Sul, sede do site), mas todo carinho que recebemos no dia 29 de maio através
de tantas mensagens, sobretudo vindas de nomes importantes do Carnaval, é pra
guardar no coração. Apesar de ser voltado exclusivamente ao samba-enredo, o SAMBARIO foi
responsável por noticiar a grande bomba do pré-carnaval até aqui: o veto aos
tripés da Comissão de Frente no carnaval carioca, conforme publicamos em 21 de
maio. Após a publicação (e grande repercussão) da matéria, escolas e LIESA se
articularam e a proposta foi descartada. Esperança pro carnaval Dois projetos importantes foram apresentados no segundo semestre e
deram esperança de findar velhos problemas crônicos do carnaval do Rio: em setembro,
foi lançada a pedra fundamental da Fábrica do Samba Rosa Magalhães, a Cidade do
Samba para as escolas da Série Ouro. Prevista pra ser concluída em 2026, o
primeiro passo para o início das obras foi acompanhado de perto por agremiações
e autoridades – o prefeito Eduardo Paes (PSD) não esteve presente no evento por
estar à época disputando a reeleição ao cargo, que conseguiu, sendo
representado por aliados. Um sonho antigo – como já relatado nesta coluna
uma vez – que enfim pode estar virando realidade. Mais recentemente, a prefeitura do Rio anunciou uma proposta de
revitalização da área do Sambódromo, nos moldes do Porto Maravilha (região
central), que prevê a derrubada do Viaduto 31 de Março, tão temido por
atrapalhar as escolas de samba na concentração. O projeto ainda inclui a
construção de 12 mil habitações e um Museu do Samba numa área de
aproximadamente 700 mil metros. Folia rima com ousadia? O carnaval verá um
lindo amanhã no horizonte? A aguardar as próximas tramas dessa novela... Escolas e autoridades no
lançamento da pedra fundamental da Fábrica do Samba (Foto: S1 Comunicação) O adeus ao irreverente da
avenida Os primeiros dias de 2024
começaram tristes, com a saída de cena daquele que era o puro significado de
alegria: Quinho do Salgueiro. O lendário intérprete faleceu em 3 de
janeiro, aos 66 anos, de insuficiência respiratória causada por um câncer de
próstata que lutava desde 2022 e o afastou da avenida. Apesar de levar a
Academia do Samba no coração (e em seu nome artístico), Melquisedeque Martins
Marques foi sinônimo de carnaval brasileiro, ao emprestar o talento e a
irreverência à União da Ilha, Grande Rio, Rosas de Ouro, Peruche, Vila Maria,
Santa Cruz e outras tantas agremiações. A voz que deu vida a sambas clássicos
do Carnaval, como Festa Profana (Ilha 1989) e Peguei um Ita no Norte (o
popularíssimo Explode Coração do Salgueiro 1993), não foi apenas alguém que conduzia
o samba: foi um animador do público. Com carisma, irreverência, trejeitos e
cacos inesquecíveis. Pimba! Pimba! Quinho, a irreverência que
arrepiou o carnaval (Foto: Guito Moreno/Agência O Globo) A
Rosa eterna e mais bela do carnaval Quantas aulas de Brasil tivemos com Rosa Magalhães? Os
jegues, a cachaça, os búfalos, a Rua do Ouvidor, o Marquês de Sapucaí, Catarina
de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajeres, Bum Bum Paticumbum Prugurundum...
tantos enredos lendários que a Professora nos proporcionou a cada carnaval. Um
talento que foi pra além da avenida – e rendeu um Emmy. Em 50 anos de carreira
ela teve passagens por Império Serrano, Estácio, Portela, São Clemente, Vila
Isabel e outras, mas foi a Imperatriz Leopoldinense seu casamento mais
vitorioso, nos 17 anos e 5 títulos da fase áurea e no breve retorno em 2022. A
maior campeã do Sambódromo nos deixou na noite de 25 de julho, aos 77 anos,
vítima de um infarto. Se existe um consenso entre as escolas de samba, ele se
dá na definição do que é Rosa Magalhães: incomparável. Se o carnaval além do
valor cultural é um lugar de conhecimento de histórias, professora Rosa
Magalhães cumpriu muito bem esse papel. Rosa: a maior do Sambódromo (Foto:
Leo Martins) Outros nomes que se despediram Neste 2024, o samba também se despediu de outras grandes figuras
de sua história. As cortinas se fecharam para os compositores Jonas
Rodrigues (baluarte da Vila Isabel e um dos autores de “Kizomba”, de 1988),
Domenil Santos (de três sambas na Mocidade Independente de Padre
Miguel), Elias Bililico (de um samba assinado na Grande Rio, 2019), Biro-Biro
(maior vencedor de sambas na Mocidade Alegre) e José de Souza, o Maria Preta
(autor de “Alabê de Jerusalém” – Viradouro 2016), o intérprete e também
compositor Cadinho da Ilha (de marcante passagem pelo Boi da Ilha do
Governador), o mestre-sala Chiquinho (de uma inesquecível e vencedora
parceria com a mãe, Maria Helena, na Imperatriz Leopoldinense), os mestres de
bateria Beto (também multicampeão na Imperatriz), Mug da Portela,
Paulão (de quase uma década na Renascer de Jacarepaguá) e Tião Belo,
da São Clemente, os ex-dirigentes Rogério Belisário (presidente da
Cubango entre 2017 e 2021) e Buiu (presidente da Imperador do Ipiranga
entre 2011 e 2014), o diretor de harmonia Jô Calça Larga e os jornalistas
Cláudio Vieira e Sérgio Cabral. A despedida do ídolo No 20 de novembro que marcava a primeira vez que o Dia da
Consciência Negra era um feriado nacional, Neguinho da Beija-Flor surpreendeu o
mundo ao anunciar, em entrevista à TV Globo, a sua aposentadoria dos desfiles
após 50 anos como intérprete oficial, fazendo sua despedida após o carnaval de
2025. “Em 2025, cantarei a exaltação de meu parceiro Laíla – a quem conheci
ainda antes do primeiro Carnaval, na lendária roda de samba do Bola Preta –,
como epílogo dessa odisseia que durou meio século de folia e felicidade.
Superou muito meus melhores sonhos. E continuarei lhe amando. Você pode contar
comigo por toda a eternidade.”, disse o cantor numa carta publicada nas
redes sociais horas após o derradeiro anúncio. Em recente entrevista à Revista
Veja, Neguinho afirmou que a despedida estava sendo ensaiada há cinco anos e
que agora só vai “atuar nos camarotes, como fazem meus amigos do samba,
nesses cinco a dez anos que me restam”, além de uma turnê pela Europa em
sua carreira solo. Privilegiados seremos de testemunhar um histórico 3 de março
de 2025. Até lá, vamos seguir curtindo cada momento... Outra marcante despedida dos microfones aconteceu no início do
ano: Zulu deixou de ser o locutor da apuração de São Paulo depois de 32 anos,
se aposentando da função. Desde o último carnaval, a encarregada pela leitura
das notas passou a ser a radialista Eloise Matos. Neguinho: o último desfile em 2025 (Foto: Reprodução/TV Globo) Assim foi 2024 no carnaval brasileiro. Um ano de marcas,
despedidas, mudanças, polêmicas e consagrações. De tudo um pouco. O tempo foi
embora sem a gente perceber. Agora, o futuro nos espera. Que o ano novo possa
trazer novas emoções, novas histórias, novos capítulos para o carnaval
escrever. Onde tiver samba, onde tiver avenida, estaremos lá para aplaudir e
batucar. Pra você, amado leitor do SAMBARIO, um 2025 cheio de paz,
esperança e muito samba no pé!
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