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19 de dezembro de 2024, nº 95 Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca - Coluna anterior: A Faixa 8 mais Importante da História - Coluna anterior: O Dia em que a Cubango (quase) reeditou o Ita - Coluna anterior: Tem Artista no Samba - Terceiro Ato - Coluna anterior: Cadinho, uma Voz que Minha Infância Carnavalesca nunca Esqueceu RETROSPECTIVA DO CARNAVAL 2024 – PARTE 1: ALAFIOU, BRASILÉIA! DEU SERPENTE NA CABEÇA
Chegou mais um fim de ano, é tempo de retrospectivas – no plural. Aquele
tradicional momento de tirar da poeira momentos marcantes, para o bem ou para o
mal, do decorrer dos últimos doze meses. Neste 2024 que chega ao seu suspiro
derradeiro (tal como a famosa canção), o carnaval voltou a ter um ciclo normal
(depois dos calendários diferenciados dos últimos dois anos), comemorou marcas
importantes, se despediu de grandes nomes, trocou nomes nas gestões e, claro,
consagrou suas campeãs. Tantos fatos que marcaram o 2024 do carnaval. É o que
relembramos a partir de agora. Energia da vitória A serpente sagrada rastejou pra desenhar a vitória em brasa rubra.
Num desfile tecnicamente arrasador, “Arroboboi, Dangbé” deu a Viradouro
seu terceiro título no Grupo Especial carioca. E foi de goleada: sete décimos
de diferença para a vice-campeã Imperatriz, a maior distância de tabela desde
2011. Nem mesmo o polêmico recurso (rejeitado no dia seguinte à apuração) que
pedira punição por um suposto excesso de integrantes na Comissão de Frente
tiraria a vitória da vermelha e branca de Niterói. Grande Rio, Salgueiro,
Portela e Vila Isabel, tirando a Mangueira no desempate, completaram o grupo
das seis que retornaram às Campeãs – que falaremos mais a frente. Envolta de
problemas, a Porto da Pedra foi rebaixada de volta à Série Ouro – ainda que
tenha ficado a oito décimos da Unidos da Tijuca, décima primeira. No carnaval
que comemorou os 40 anos da Marquês de Sapucaí, o troféu de campeã atravessou o
mar... quer dizer, a Ponte Rio-Niterói, e ancorou novamente no Barreto.
(Pr)a vitória da Viradouro
(Foto: Ewerton Fintelman/Sambario) Bordando um bi de felicidade No Anhembi, a taça foi da Morada de novo. Narrando as expedições
do poeta Mário de Andrade pelo país, a Mocidade Alegre uniu imponência e
tecnismo para abocanhar o bicampeonato do Grupo Especial paulistano (o segundo
em 11 anos) e se isolar como a segunda maior vencedora da história, atrás
apenas do Vai-Vai (com 15 títulos, ante 12). A “Brasiléia Desvairada” da escola
do Limão venceu a queda de braço com a Dragões da Real nos critérios de
desempate após ambas chegarem aos mesmos 270 pontos ao final da leitura das
notas – Tatuapé, Gaviões da Fiel e Mancha Verde fecharam o grupo das cinco
primeiras. Como virou tradição, o julgamento mais uma vez foi criticado – e desta
vez não foi pelo festival de notas dez. Na ponta inversa da tabela, Tom Maior e
Independente Tricolor acabaram rebaixadas.
O desfile bicampeão da Mocidade
Alegre (Foto: Bruno Filandra/SAMBARIO) O milagreiro veio! De toda maneira... na quarta-feira... os anjos finalmente disseram
amém para a Unidos de Padre Miguel. Padre Cícero, retratado no enredo “O
Redentor do Sertão”, ajudou o Boi Vermelho a conquistar o título da Série Ouro
e finalmente chegar ao Grupo Especial após longos 53 anos de espera. Mas o
milagre... melhor dizendo, a vitória não veio tão fácil: apesar da pontuação
máxima, a UPM superou o vice-campeão Império Serrano por apenas dois décimos –
Estácio de Sá, a estreante União de Maricá, São Clemente e Inocentes de Belford
Roxo fecharam o grupo das seis primeiras. Como cantava o samba de 2017: “chegou
o dia na tribo da Vila Vintém”, pra alegria da comunidade e de uma eufórica
Lara Mara, diretora-revelação da escola, bradando aos quatro cantos que a UPM
“ia botar pra fu...” Padre Miguel chegou lá: campeã
e retorno ao Grupo Especial (Foto: Bruno Surcin/SAMBARIO) A nota triste fica para o rebaixamento do Império da Tijuca, que
deixou a Sapucaí após 3 décadas – o Sereno de Campo Grande foi a outra
rebaixada. Da Série Prata vieram a campeã Tradição (que retorna à
Sapucaí após 11 anos) e a vice Botafogo Samba Clube, que se tornou a primeira
agremiação ligada à torcidas de futebol a chegar no Sambódromo. Ilê da Coruja No Acesso 1 paulistano, a Estrela do Terceiro Milênio contou
com a força de Vovó Cici para conquistar o título e o direito de retornar ao
Grupo Especial em 2025, um ano após ter sido rebaixada. O enredo “Vovó Cici
Conta e o Grajaú Canta: O Mito da Criação” abordou a mitologia iorubá da
criação do mundo. Falando sobre o Mandacaru, a Colorado do Brás foi
vice-campeã e também conquistou o acesso, retornando à elite que não disputava
desde 2022. A positiva surpresa foi para o terceiro lugar da Dom Bosco de Itaquera
em sua estreia na segunda divisão, ao passo que o rebaixamento da Pérola Negra
(junto com a Torcida Jovem) é o destaque negativo.
Terceiro Milênio foi novamente
campeã do Acesso 1 (Foto: Bruno Filandra/SAMBARIO) No Acesso 2, a X-9 Paulistana fez jus ao seu samba-enredo e
deu a volta por cima: desbancando as favoritas, conquistou o título e o retorno
ao Acesso 1, pra onde também voltou a vice-campeã Unidos de São Lucas –
mantendo o histórico recente de subidas consecutivas. Aquarela do bi em terras
capixabas O leão segue rugindo alto no
Carnaval de Vitória. A Mocidade Unida da Glória pintou em aquarela o seu
bicampeonato no Sambão do Povo homenageando a obra do pintor Homero Massena. A
MUG levantou o título (nono em toda a história) com seis décimos de diferença
para a vice-campeã Boa Vista – a Piedade terminou na terceira colocação,
enquanto a Pega no Samba desceu para o Grupo A. A Imperatriz do Forte
venceu o Grupo A e retornou à elite, enquanto a Rosas de Ouro da Serra conquistou
o Grupo B.
MUG: a aquarela do bicampeonato
(Foto: Ricardo Medeiros) Um presente inesquecível Imagina você ser campeã do
carnaval no dia do seu aniversário? Foi o que aconteceu com a Acadêmicos de
Gravataí: comemorou seus 63 anos de fundação recebendo de presente o título
do carnaval de Porto Alegre – de quebra, a primeira agremiação de fora da
capital gaúcha a sair campeã do Porto Seco. Com o enredo “A Trupe da Onça Negra
Apresenta: No Palco da Fantasia Entra em Cena a Commedia Dell'Arte”, a Onça
Negra superou a vice-campeã Restinga por apenas um décimo. No Grupo Prata,
vitória da Império do Sol. Gravataí: campeã pela primeira
vez – e no dia do aniversário (Foto: Jorge Leão) Outras campeãs pelo país - Unidos dos Morros,
campeã do carnaval de Santos pela quinta vez (sendo um tricampeonato
consecutivo); - Experimenta da Ilha da
Conceição, campeã inédita do carnaval de Niterói; - Império do Morro,
campeã do carnaval de Corumbá pela trigésima quarta vez; - Vilage no Samba,
campeã do carnaval de Nova Friburgo pela vigésima nona vez (pentacampeonato
consecutivo); - Unidos da Cova da Onça,
campeã do carnaval de Uruguaiana pela décima oitava vez; - Imperatriz da Zona Norte,
campeã do carnaval de Cruz Alta pela sétima vez; - União da Ilha da Magia,
campeã do carnaval de Florianópolis pela quarta vez; - Bole-Bole e Império
Pedreirense, campeãs do carnaval de Belém Desfile das Campeãs (e de
imagens marcantes) O sábado do dia 17 de fevereiro foi reservado para Rio e São Paulo
prepararem a festa no Desfile das Campeãs – Vitória também sinalizou realizar
um evento similar, mas acabou recuando. No Anhembi, a presença de três escolas
oriundas de torcidas organizadas (pela primeira vez desde 2012) fez a bicampeã
Mocidade abrir mão de encerrar a festa, deixando a cargo dos Gaviões da Fiel.
Já na Sapucaí, o show comemorativo dos 40 anos de avenida acabou ofuscado pelo
homérico atraso de quase uma hora entre os desfiles de Imperatriz e Viradouro,
causado pela quebra da última alegoria da escola de Ramos. Sem uma solução, a escola de Niterói entrou na avenida às 6h16 da
manhã com suas alegorias passando pela avenida fora de ordem, dando ainda mais
sentido ao significado do título de seu enredo: “salve o espírito infinito da
serpente”. E antes do desfile começar, um arco-íris se formou no céu na
Sapucaí, numa das imagens mais marcantes que o carnaval de 2024 registrará para
a história.
Campeãs consagradas, o ano corrente do carnaval seguiu em frente
com mudanças de gestão do carnaval, a primeira revolução da estrutura dos
desfiles em 40 anos e a triste despedida à grandes nomes do carnaval. Mas isso
é assunto para o próximo capítulo desta retrospectiva.
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